Porto de Pedras: Terceiro Capítulo - Madalena encontra o filho!



Anteriormente em Porto de Pedras:

Anos se passam e Madalena se encontra com Mariela, que diz que precisa ver Pedro João.

José, pai de Pedro, viaja para a cidade vizinha em busca de trabalho.

Pedro João chega em Porto de Pedras, e lá conhece Fernanda e Daniel, que dizem que cuidaram do garoto.

Fique agora com o capítulo de hoje:



Mariela - Camila Rodrigues 
Madalena - Adriana Esteves 
Fernanda - Alice Braga
Daniel - Rodrigo Santoro
Marieta - Marieta Severo
Joana - Tatá Werneck 

Artista Convidado:

Cléber - Tony Ramos
Dalton (Pai) - Antônio Fagundes

Cena 1/ Casa dos Oliveiras/ Sala principal/ Interno

Pedro João e Fernanda entram na casa.

Pedro João – Aqui é tão lindo... bonito!

Fernanda – Ah... você não sabe o quanto eu fico feliz em saber que gostou. Olha, não é a melhor casa daqui de Porto de Pedra, mas é modesta.

Pedro João – Ela é diferente.

Fernanda – É? Meu pai que fez.

Pedro João – Seu pai construiu essa casa?

Fernanda – Foi. Foi ele que fez isso aqui tudo. Os detalhes de madeira, os móveis com essa cor de vinho, o piso de tábua. Ah, meu pai foi um bom homem. Ele não parava quieto, rondando essa cidade. Todo mundo chamava ele de Seu Zé. Arrumava tudo, concertava tudo. Mas a hora dele chegou, como sempre ah de chegar.

Pedro João – Que barulho foi esse?

Fernanda – Que barulho?

Pedro João – Esse... esse barulho de algum carro... algum carro bateu em alguma coisa? Você não tá ouvindo?

Fernanda – Não...

O barulho de um carro freando ecoa pela sala.

Close rápido em Fernanda/

Cena 2/ Rua principal/ Externo/ Dia

Fernanda e Pedro João saem apressados de casa pela porta lateral.

Cléber está jogado no meio da rua, e o carro de Dalton quase em cima do corpo.

Marieta – (Gritos) Você matou o meu marido!

Dalton – Eu não matei ninguém, senhora! Este homem se meteu na frente, e eu não tive culpa. Ou acha que meu carro poderia saber que um retardado ultrapassaria o sinal vermelho?

Marieta – Você matou o meu marido! Acabou com a vida dele. Joana, olha bem pra ele, fala se ele tá vivo... o meu Cléber não pode morrer... ele não pode!

Joana ajoelha em frente ao corpo do pai.

Joana – (Emocionada) Não tem o que fazer, mãe, o meu pai tá morto...

Pessoas se aproximam.

Marieta – (Chorando) Não! Não. Não, pelo amor de Deus, não! Não pode ser... (Para Dalton) Seu monstro! Seu merda! Olha bem para o que você fez, olha pra mim, e vê se coloca de uma vez por todas nessa tua cabeça. Você acabou com a vida de um pai de família, de uma pessoa que votaria... que daria o voto pra você! E você fala como se fosse um qualquer? Como se ele fosse um dos dinheiros que você tira dos cofres da gente? De nós? Hein?

Dalton – Senhora... me perdoe, mas as pessoas estão se aproximando. O que seria uma discussão casual, vai se tornar um palanque?

Marieta – Você cala essa boca! Eu quero mesmo que todo mundo aqui escute, ouça. Você matou o meu marido, e isso jamais vai ter volta. Eu sempre soube que você nunca foi uma das pessoas mais iluminadas, mas o que é teu tá guardado.

Dalton – O que você quer pra calar a boca?

Marieta – Que você morra. Mas tenha uma morte lenta, sofrida. Eu quero que você morra, e apodreça até onde consiga. Que seu corpo definhe, se torne tão fino quanto linha de costureira. Mas antes de tudo isso acontecer, quero que pense, que pense sobre a vida que teve... que saiba sobre o quanto de sofrimento que foi capaz de fazer aos outros!




Cena 3/ Ruas de Vila Dourada/ Externo  

Madalena e Mariela caminham pelas ruas.

Mariela – Senhora, você viu esta criança? Esta da foto!

Figurante – Eu queria lhe ajudar, mas eu não conheço.

Cena 4/ Igreja de Vila Dourada// Interno

Madalena – Padre, o senhor viu ou ouviu falar desta criança, desta foto?

Padre – Infelizmente não. Mas Deus ai de lhe entregar um bom caminho!

Cena 5/ Estação Ferroviária/ Interno

Madalena – Nada! Eu não tenho nem palavras pra descrever o quanto isso é frustrante... andar por essas ruas, esta cidade que eu nem conheço, e não achar nada do meu filho!

Mariela – A gente não pode desistir. A gente não pode.

Madalena  - Eu acho que eu não posso desistir do meu filho... saiu daqui de dentro, saiu de mim. Mesmo eu o tratando de um jeito...

Mariela – Que jeito?

Madalena – Deixa pra lá...

Mariela – Não! Agora me conta... qual o jeito que você o tratava?

Madalena – Você não precisa saber de tudo, certo? Ele é o meu filho, e você apenas quer achar pra beneficiar poucas horas da sua vida, minutos que o seu marido antes de morrer, pediu para que usasse com apreço. Já eu... ora, já eu preciso dele pra vida. Por tanto tempo eu e José, o pai dele, fizemos tanta coisa ruim pra minha criança, pra ele, pro Pedro João. E agora que está longe, tão distante, eu sinto a falta dele. De quando chegava tarde em casa, com os pés sujos, enlodados de lama, depois de brincar com os meninos na rua. Agora eu sinto saudades. Como eu sinto...

Mariela – Desculpe por não entender.

Madalena – Não... não se culpe. Se existe algum 
culpado, esse sou eu. Eu sou a culpada... eu sou a culpada por ele ter fugido de mim, dos meus braços. A culpada sou eu!

Mariela abraça Madalena.

Mariela – A gente vai achar o seu menino. Certo? Eu estou junta com você. Não importa o que aconteça, mas a gente vai encontrar o seu menino. Eu não tive filho. Mas eu acho que eu sei sobre o que você tá passando.

Madalena – Eu vou encontrar a minha criança, o meu menino. Eu vou encontrar.

Mariela – Nós...

Madalena – Não!

Mariela – Como assim, não, Madalena? A gente vai...

Madalena – Essa é uma coisa minha, pra mim. Eu sei que você quer ajudar, que quer fazer parte disso, mas não. Isso é uma coisa que eu vou fazer. Mas obrigado por tudo. Obrigado mesmo...

O telefone de Mariela toca.

Mariela – Oi pai. O que foi?

Otávio – (Angustiado) A sua mãe deu entrada no pronto socorro, na emergência, ou sei lá... ela cuspiu uma quantidade absurda de sangue enquanto a gente tomava café na varanda... ela cuspiu sangue, Mariela. Ela caiu no chão, pedindo por socorro, por ajuda! Você precisa vir, eu não sei mais quanto tempo a Marlene pode durar, pode aguentar. Você precisa vir pra cá!

Close lento em Mariela, que começa a chorar.

Cena 6/ Casa dos Oliveiras/ Sala principal/ Interno

Fernanda conforta Marieta.

Fernanda – Vai ficar tudo bem... eu espero que fique.

Marieta – A gente precisa enterrar o corpo.

Fernanda – Mas agora? Hoje?

Marieta – A nossa família sempre foi assim. E vai ser assim até hoje, dona Fernanda. Esse é o seu menino?

Fernanda – É... é a minha luz... esse menino é a minha luz.

Pedro João – Eu acho que o padre chegou.

Padre Silveira se aproxima.

Padre Silveira – Bem, como você disse, Marieta, mais cedo, que tinha uma urgência para o corpo ser enterrado, então vamos. O caixão, o cemitério, e até as pessoas já estão aguardando em frente a sua casa, Marieta. Chega a hora de dar adeus ao seu marido!

Cena 7/ Hospital/ Corredor/ Interno

Mariela chega apressada e procura por Otávio.

Mariela – Enfermeira! Você sabe onde está a minha mãe? Marlene!

Enfermeira – Não sei, senhora!

Mariela – Meu Deus!

Otávio – Filha! Oh, filha...




Mariela – Pai! Graças a Deus. Como tá a mamãe? Como tá a minha mãe? Fala pai. Fala logo! Fala logo!

Close em Otávio/

Cena 8/ Estação Ferroviária de Porto de Pedra

Madalena encara o letreiro da estação.

Madalena – Porto de Pedra! É aqui que você tá, meu filho! É aqui que você tá!

Cena 9/ Porto de Pedra/ Externo

O caixão sai de dentro de casa e começa a andar pelas calçadas da cidade.

Marieta segue, junto de sua filha, Joana.

Vizinhos e amigos seguem a troça.

Joana – A gente vai superar isso, mãe, a gente vai aguentar.

Marieta – Deus te ouça, minha filha! A gente vai passar por isso juntas... a gente vai superar, a gente vai conseguir! Que Deus tenha piedade de nós.

Fernanda e Daniel seguem.

Daniel – Com quem ficou o Pedro?

Fernanda – Aqui é tranquilo. Ninguém vai mexer com o nosso menino não!

Cena 10/ Cemitério/ Externo

O caixão é colocado na cova.

Marieta se ajoelha com o terço nas mãos.

Marieta – (Chorando) Vai com Deus, meu único amor. Você merece um descanso. Pelo menos um descanso você merece... vai com Deus!

Cena 11/ Cemitério/ Externo

O carro do prefeito para em frente ao Cemitério. Dalton desce do carro e adentra o local.

Cena 12 Porto de Pedra/ Externo

Madalena caminha pelas ruas, alisando a foto do filho em suas mãos.

Ela para em frente a casa dos Oliveiras, e encara com apreensão a porta aberta.

Cena 13/ Cemitério/ Externo

Dalton interrompe a cerimônia do padre.

Marieta – (Sussurrando) (Para Joana) O que esse homem tá fazendo aqui?

Joana – Não sei, mas espero que ele seja breve.

Fernanda – O que o senhor está fazendo aqui, seu prefeito?

Dalton – Eu vim saber se tudo estava em ordem.
Marieta se levanta bruscamente.

Marieta – Saber se o que está em ordem? Se o homem que você matou está sendo enterrado corretamente?

Dalton – Não vamos começar... não vamos falar sobre isso, pelo amor de Deus! Eu quero apenas falar com os meus eleitores, apresentar a minha versão dos fatos! Apenas isso!

Marieta – Vai embora daqui. Vai embora agora! Você não tem direito de nada!

Dalton – Pelo o que eu saiba eu ainda tenho plenos direitos nesse inferno de cidade, ou não tenho? Vim comprovar a versão dos fatos, e dizer para vocês que eu sou inocente. Que este homem que se meteu na minha frente. Não tive culpa alguma... jamais terei. Essa culpa, minha gente, não me pertence! Eu não matei ninguém! Não matei!

Daniel – É melhor você ir embora!

Dalton – Não... eu não vou. Eu vou ficar até o fim. Deus precisa que as duas versões sejam dadas.

Daniel – Não mete Deus nisso.

Dalton – E eu...

Dalton começa a tossir descontroladamente.

Daniel tenta ajudar, mas Dalton cai no chão, apertando o peito, tossindo ainda mais forte.

Fernanda – Chamem um médico! O que está acontecendo?

Dalton cai por completo no chão. Seus membros encolhem, as roupas se tornam folgadas.
Dalton – É o meu fim...

Off:

A voz de Marieta ecoa: Que você morra. Mas tenha uma morte lenta, sofrida. Eu quero que você morra, e apodreça até onde consiga. Que seu corpo definhe, se torne tão fino quanto linha de costureira. Mas antes de tudo isso acontecer, quero que pense, que pense sobre a vida que teve... que saiba sobre o quanto de sofrimento que foi capaz de fazer aos outros!

On:

Close em Marieta, que chora.

Cena 14/ Casa dos Oliveiras/ Sala principal/ Interno

Madalena entra na casa.

Madalena – Alguém? Eu não deveria ter feito isso, mas é que eu vi a porta aberta. E é que eu estou procurando pelo meu filho. Eu acho que essa casa pode conter alguma coisa, enfim, eu não sei, mas acho que eu devo entrar.

Madalena cruza o arpão da casa e entra na sala principal.

Madalena – Alguém? Alguém aqui, meu Deus? Por favor...

Pedro João desce as escadas.

Pedro João – Mãe?

Madalena – Meu filho... você está aqui! Meu filho!
Madalena corre até Pedro João, o abraçando.

Pedro João – Mãe...

Madalena – Você não sabe o quanto eu sai por aí, procurando por você, meu bem... você não sabe!

Daniel e Fernanda entram na sala.

Fernanda – Pedro... eu posso saber o que tá acontecendo aqui? Quem é você, senhora? Não é daqui, é forasteira, é de outra cidade. Quem é você? Quem é essa, Pedro? Ia roubar a criança?

Madalena – Quem roubou criança foi você! Foram vocês! E eu vou levar ele comigo, junto pra minha casa. Pra nossa casa! Lugar de onde ele jamais deveria ter saído. Jamais!

Fernanda – Não! Você não vai fazer nada! O filho é meu, e daqui de dentro você não leva nada! Nada!



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