Paraíso Perdido | Capítulo 07 (Joel revela para Manuela quem é seu pai biológico) #ParaísoPerdidoNoWebMundi


Brasil, 2008
CENA 1: PARAÍSO AZUL | POUSADA | QUARTO DE RODRIGO | INTERIOR | TARDE
Rodrigo olha parao o irmão, parecendo tentar entender o que acabou de ouvir. Ele leva uma das mãos à cabeça, demostrando estar nitidamente confuso.
RODRIGO: – Como assim não vai, Carlos? – Indaga, desacreditando da decisão do irmão.
CARLOS: – É isso mesmo que você ouviu, Rodrigo. Eu não vou voltar para casa, não vou, pelo menos agora. – Afirma, encarando o irmão mais velho. – Tenho ainda muita coisa pra fazer aqui, não posso simplesmente pegar o helicóptero e ir embora. – Conclui, certo da decisão que toma.
Após abaixar a mão, coça um pouco da barba, desviando o olhar rapidamente de seu irmão.
RODRIGO: – Eu entendi, entendi tudo. – Ele afirma voltando a encarar Carlos. – Você vai ficar por causa dessa tal de Manuela, pensei que só fosse uma pequena distração, mas pelo visto… – Carlos o interrompe.
CARLOS (Interrompendo Rodrigo): – Ela nunca foi e nunca será só uma distração, Rodrigo e eu achei que você já tinha entendido isso. – Diz, sério. – Desde o dia que eu conheci ela, desde aquele dia que me perdi nessas matas, me sinto uma nova pessoa, ms sinto melhor, não vou embora. – Conclui dando meia volta e seguindo para fora do quarto do irmão.
Rodrigo fica sem reação, observando o irmão se afastar. Assim que Carlos sai, Rodrigo volta seu olhar para a mochila já toda pronta, então chacoalha a cabeça de forma negativa.

CENA 2: TEMEDO | MANSÃO DOS TERRAFORTE | EXTERIOR | TARDE
Aura caminha por entre as flores, bastante pensativa. Ela coloca a mão no bolso da calça que usa e retira o celular. Aura fica observando a agenda telefônica por um certo tempo até guardar o celular novamente.
AURA: – Essa demora me deixa de cabelo em pé. – Ela diz visivelmente nervosa.
Ela volta a caminhar devagar até ficar de frente para o jardineiro, que por sua vez sorri para ela novamente de forma maliciosa. Aura disfarça, mas assim que se afasta, volta o olhar para o jardineiro, um olhar um tanto suspeito.

CENA 3: PARAÍSO AZUL | CASA DOS LIMA | VARANDA | EXTERIOR | TARDE
Manuela está sentada na varanda de casa, bem no último degrau, observando o vai e vem das ondas ao longe. Ela olha um pouco para trás ao ouvir passos se aproximando e constata ser o avô. Joel se aproxima da neta e devagar se senta ao lado dela. Ele olha para o mar e depois para a neta, abrindo um pequeno sorriso. Manuela também olha para o avô e logo depois sorri.
JOEL: – Eu conheço você e não é de hoje, Manuela. – Afirma olhando bem para a neta. – Tem algo que queira me dizer e não está conseguindo? – Indaga, curioso.
Manuela fica em silêncio por alguns minutos, silêncio esse que faz com que seu avô confirme que há algo pra ser dito.
MANUELA: – Hoje o Talles me mostrou uma coisa, vô… algo que eu jamais poderia imaginar que pudesse ser verdade e realmente nem sei se é verdade ainda. – Responde cabisbaixa. – Ele me mostrou um documento que diz claramente que sou filha desse homem que quer nos atirar para fora daqui (pausa) como isso é possível? – Indaga, voltando seu olhar para o avô.
Joel está cabisbaixo, não sabe mesmo o que dizer. Ele nunca imaginou que sua neta fosse descobrir o segredo que ele jurou não contar. Manuela continua a olhar para o avô, procurando uma confirmação ou uma negação, e não demora para que o silêncio seja rompido.
JOEL: – Ele é seu pai, sim, Manuela. – Afirma olhando nos olhos da neta. – Mas a única coisa que você deve realmente saber é que ele enganou sua mãe, ele prometeu felicidade para ela, mas o que deu mesmo foi tristeza e uma morte lenta e sofrida. – Continua se levantando devagar. – Se esse segredo foi revelado, não há motivos para eu dizer que o Diógenes nunca valeu nada, a morte de sua mãe foi e sempre será culpa dele, somente dele. – Conclui se levantando e deixando a neta sozinha.
Joel dá alguns passos na direção da praia quando se sente mal e cai desacordado na areia, chamando a rápida atenção de Manuela que se levanta e corre desesperada até o avô.

CENA 4: TEMEDO | HOTEL | EXTERIOR | NOITE
Um carro luxuoso estaciona à um grandioso hotel. Do veículo sai primeiro, João, logo ele dá a volta pela frente e abre a porta do lado do passageiro. Uma senhora distinta coloca as pernas para fora do veículo e com a ajuda de João, sai. O rosto de tal senhora não é revelado. Ela segue sendo acompanhada por João.
JOÃO: – Tenha uma boa noite, senhora. – Deseja, sorrindo para ela que se encontra na frente dele. – E não se esqueça de que não importa o tempo, a gente vai conseguir fazer tudo direitinho, fazer com que tudo dê certo. – Afirma, se despedindo da senhora.
Enquanto João caminha de volta para o carro, fica na frente da senhora, impossibilitando de identifica-la. João sorri enquanto entra no carro.

CENA 5: PARAÍSO AZUL | POUSADA | QUARTO DE CARLOS | INTERIOR | NOITE
O quarto parece vazio até a porta do banheiro se abrir e Carlos sair enrolado em uma toalha, está bastante pensativo. Com uma outra toalha, ele enxuga os cabelos e se senta na cama e fica olhando para a câmera fotográfica. Ele pega o aparelho e passa a ver cada foto que tirou ao lado de Manuela, então esboça um sorriso sincero e de apaixonado. Enquanto olha para uma das fotos, se levanta.
CARLOS: – Eu nunca tive tanta certeza na minha vida, nunca. Você é o que eu quero e vou enfrentar o que preciso for para que fiquemos juntos. – Ele diz, pensando em Manuela. – Eu não vou voltar para a capital, nada me fará voltar para lá depois que eu conheci você, nada. – Encerra, sorrindo para a foto que tem em sua câmera.

CENA 6: TEMEDO | MANSÃO DOS TERRAFORTE | SALA | INTERIOR | NOITE
Aura anda de um lado para o outro, se encontra com o telefone no ouvido e aparenta estar bastante nervosa enquanto fala. Ela finalmente para perto da porta em determinado momento.
AURA (ao telefone): – Você não pode sequer cogitar essa possibilidade, Rodrigo. E nem pense em ficar do lado do seu irmão nessa loucura que ele está aprontando ou você sofrerá as mesmas consequências que ele. – Ela diz visivelmente nervosa. – Era só o que me faltava, o Carlos deixar tudo o que tem aqui simplesmente para viver uma aventurazinha com uma qualquer.
RODRIGO (do outro lado da linha): – Ele está certo de que não é uma aventurazinha somente, mãe e foi por isso que liguei, pois já não sei mais o que fazer, afinal temos de voltar já que fechamos negócio, e esse era nosso objetivo principal aqui. – Comenta enquanto caminha pelo quarto.
AURA (ao telefone): – Faça o que preciso for para que seu irmão tire essa história mirabolante da cabeça, o que preciso for, Rodrigo e sem mais. – Diz já sem paciência, encerrando a ligação em seguida.
Aura está virada para a janela e assim que se vira, fica de frente para o marido.
JOÃO: – O que houve dessa vez? – Indaga, percebendo a raiva de Aura.
AURA: – Simplesmente o fim do mundo, João, o fim do mundo. – Responde seguindo para perto do sofá. – O Carlos resolveu se envolver com uma qualquer dessa mísera cidade onde estão e agora nem mesmo cogita um retorno. – Conta, se sentando no sofá e ficando de frente para João.
João dá de ombros para Aura e para já próximo da escada.
JOÃO: – Você tem que parar de se intrometer na vida dos nossos filhos, Aura ou isso vai fazer que você os perca para sempre. E nem sempre o que é melhor para você também é melhor para eles, pense nisso. – Ele diz olhando rapidamente para ela.
João sobe pela escada enquanto Aura quase bufa de raiva. Ela fica olhando para o telefone mas sem deixar de pensar no que João disse.

CENA 7: PARAÍSO AZUL | CASA DE LEOPOLDO | SALA | INTERIOR | NOITE
Talles está sentado à mesa, estudando como pode, pois não deixa de pensar no que descobriu mais cedo. Ele sabe como é o pai, mas não quer pensar que ele seja capaz de estar metido em coisas erradas. Talles segura a caneta entre os dedos e fica olhando para a porta enquanto relembra como encontrou tal documento que levou para sua melhor amiga. De repente a porta se abre e Leopoldo entra calado, o capataz da fazenda Arco Verde fecha a porta e olha para o filho, que por sua vez desvia o olhar.
LEOPOLDO: – Tenho uma coisa para você, filho. – Diz parecendo totalmente sério. Ele caminha até perto da mesa em que Talles está.
Talles pensa que o pai descobriu que ele encontrou o documento e levou para Manuela, logo espera uma tremenda bronca ou coisa pior.
LEOPOLDO: – Você sempre quis viajar para Europa, não é mesmo? Me lembro bem de você falando isso para mim quando terminou o colégio e é por isso que o meu patrão te deu essa viagem de presente. – Conta, fazendo Talles ficar um tanto boquiaberto.
Talles parece não acreditar no que acabou de ouvir, então se levanta, incrédulo.
TALLES: – É sério isso, pai? – Indaga sem acreditar no que o pai disse.
LEOPOLDO: – Eu jamais iria brincar com algo assim, filho, então trate de arrumar suas coisas. Você vai realizar seu sonho. – Afirma, chegando mais perto de Talles.
Pela primeira vez depois de muito tempo, Talles abraça o pai, agradecendo imensamente por tal oportunidade que está tendo.

CENA 8: PARAÍSO AZUL | EXTERIOR | NOITE
Manuela caminha pela praia, um tanto desconsolada. A noite de lua ilumina os passos lentos dela. Ela para ao ver Carlos se aproximando, logo vai má direção dele e o abraça, demonstrando uma grande fragilidade. Carlos abraça Manuela na tentativa de conforta-la.
CARLOS: – Eu vim assim que você me deu a notícia. – Diz enquanto abraçada à ela. – O seu avô vai ficar bem? – Pergunta, preocupado.
Manuela começa a chorar no ombro de Carlos que a abraça mais forte como forma de dizer que ele está ali com ela.
MANUELA (enquanto chora): – O médico não sabe dizer ao certo como será a recuperação dele, Carlos. Eu não quero que meu avô morra, ele é tudo o que eu tenho de mais precioso. – Conta, debruçada no ombro dele.
Carlos não sabe a dor que Manuela sente, mas tenta entender, ficando ao lado dela. Um vento frio sopra lentamente, causando até mesmo, arrepios. Carlos e Manuela se sentam na areia da praia, ela coloca a cabeça na coxa dele e tenta manter a esperança de que o avô ficará bem.

CENA 9: PARAÍSO AZUL | POUSADA | QUARTO DE RODRIGO | INTERIOR | NOITE 
Rodrigo está com o celular no ouvido e a conversa parece ser séria. Ele sai da varanda e entra para o quarto, parecendo um pouco mais calmo.
RODRIGO (ao celular): – … você não vai se complicar coisa alguma, rapaz. Embarca no helicóptero da minha mãe hoje mesmo e logo você estará aqui e aí poderá fazer o que eu pedi. – Diz se sentando na cama.
HOMEM (do outro lado da linha): – Então eu vou, Rodrigo, mas quero estar bem longe daí o mais rápido possível, não quero complicações para cima de mim.
RODRIGO (ao celular): – Você será bem pago, garanto. – Afirma entre sorrisos.
Rodrigo encerra a ligação e deixa o celular em cima da cama, se deitando em seguida e pensando no que o irmão disse mais cedo sobre não retornar para a capital.
RODRIGO: – Eu não vou ficar preso nesse fim de mundo só por conta de seus caprichos, meu irmão, não vou. – Afirma, colocando as mãos embaixo da cabeça e respirando fundo. – Tudo isso não vai passar de meras lembranças quando acabar. – Conclui, esboçando um sorriso ardiloso.

CENA 10: PARAÍSO AZUL – TEMEDO
Uma nova manhã se inicia. Em Paraíso Azul, Manuela espera no hospital por notícias de seu avô, ela está acompanhada de Carlos que não pensa em deixá-la sozinha.
Rodrigo vai de encontro ao homem que contratou assim que o helicóptero pousa, logo acertam as últimas coisas que há para serem acertadas.
Leopoldo, na fazenda Arco Verde, age como se fosse o dono, se aproveitando da ausência de Diógenes que aparentemente não pensa em voltar tão cedo. Demonstra estar feliz pelo filho ter aceitado a viagem.
Talles arruma as malas, está bastante feliz com a viagem que vai fazer para a Europa. Ele pensa em Manuela, decidindo que antes de viajar em definitivo, vai falar com ela para se despedirem.
Em Temedo, João continua com as saídas misteriosas, mas dessa vez não desperta a curiosidade de sua mulher que anda ocupada demais pensando na possiblidade de ter que ir até Paraíso Azul para trazer os filhos de volta.
Bárbara tenta manter a paciência depois de dias sem nenhuma ligação de Carlos. Catarina incentiva a filha a procurar pela mãe dele, mas o pai dela rechaça essa possibilidade, dizendo para a filha saber esperar
A tarde chega e em Paraíso Azul, a calmaria se faz presente, porém o silêncio nunca foi tão amedrontador. Um temporal de chuva se arma e logo a chuva forte chega, avançando pela noite e parando somente na manhã seguinte.
UMA SEMANA DEPOIS

CENA 11: PARAÍSO AZUL | CASA DE SORAIA | INTERIOR | MANHà
Soraia espreme algumas ervas em um pequeno pilão quando batem insistentemente na porta, ela então olha para o relógio e vê que ainda cedo, deixa o que está fazendo em cima da pequena mesa e segue para atender a porta. Ela fica surpresa ao ver Manuela entrando na casa e junto dela está Carlos. Soraia percebe que a jovem se encontra triste demais.
MANUELA: – Eu não sei mais o que fazer, dona Soraia. – Afirma deixando as lágrimas caírem. – Meu avô parece que nunca vai se recuperar, parece que estou há uma eternidade naquele hospital e nada. – Continua, chorando.
Soraia olha rapidamente para Carlos que está com o semblante caído, logo volta seu olhar para Manuela. A velha senhora abraça a jovem aflita.
SORAIA: – Todos nós temos nosso tempo aqui na terra, filha e não adianta a gente lutar contra isso. Eu sei que você vai sofrer muito quando seu avô partir, mas é a lei natural da vida, e melhor que estejamos preparado para tudo e também para nada. – Ela diz tentando trazer a jovem à realidade. Manuela por sua vez continua a chorar.
Carlos observa, também está bastante triste com o que acontece com sua amada, ele queria poder ajudar mais, porém não faz a mínima ideia de como fazer isso.
MANUELA: – Se o meu avô se for, ficarei sem ninguém nesse mundo, sem ninguém. – Ela diz, nervosa e bastante aflita. As lágrimas caem.
SORAIA: – Não diga isso, Manuela. – Ela olha para Carlos. – O destino se encarregou de colocar no seu caminho uma pessoa que vai ajudá-la no que preciso for, não se desanime, mesmo com toda tristeza ainda há felicidade. – Afirma, solidária.

CENA 12: PARAÍSO AZUL
Alguns turistas se banham no mar belíssimo. As ondas em seu vai e vem, as aves sobrevoando o mar, o sol tímido após uma noite de chuva. Algumas ondas batem com força em pedras, jogando água para cima e lados. A manhã não demora a passar, logo vem a tarde com o céu mais nublado e não tarda para a noite chegar. As luzes da casa de Manuela estão todas acesas, clareando até uma pequena faixa de areia.

CENA 13: PARAÍSO AZUL | CASA DOS LIMA | EXTERIOR | NOITE 
Talles para em frente a casa e chama por Manuela que reconhece a voz do amigo e sai, seguindo até ele.
MANUELA: – Por onde você andou esses dias? – Ela pergunta assim que se aproxima.
TALLES: – Estava arrumando algumas coisas. – Responde olhando nos olhos dela. – Esses dias que se passaram eu não tenho sido um bom amigo, não é mesmo? – Indaga meio envergonhado.
Manuela sorri rapidamente, parece achar graça do que seu melhor amigo diz.
MANUELA: – Você nunca deixou de ser um excelente amigo, Talles. – Afirma, partindo para um abraço caloroso.
Talles sorri com abraço recebido e não consegue disfarçar o choro contido.
TALLES: – Eu vou ter que viajar, Manuela. – Revela, temeroso. – Desculpa só contar isso agora, mas é que eu sabia que você estava passando por uma situação difícil e não queria incomodar. – Completa.
Manuela desfaz o abraço e olha bem para Talles, que por sua vez não consegue encarar ela. Ele levanta a cabeça devagar e vê Manuela a chorar. Os dois se abraçam novamente, tristes por terem de se separar.
MANUELA: – Eu não posso dizer que não quero que você vá, pois não quero impedir sua vida, assim como você não impediria mim, mas vou sentir muita falta de estar com você, Talles. – Afirma abraçado à ela.
Talles olha para Manuela, olhos nos olhos. Ele pensa em tudo que sentiu por sua melhor amiga, logo abre um pequeno sorriso.
TALLES: – Eu preciso fazer uma coisa antes de ir, Manuela e espero mesmo que você não tenha raiva de mim. – Ele diz dê mostrando um certo medo.
Talles olha para Manuela com outros olhos, um olhar iluminado e repleto de amor, e não resistindo mais, ele a beija, um beijo verdadeiro de despedida. Ele mesmo interrompe o beijo ao se dar conta do que fez e se afasta sem dar tempo para Manuela dizer qualquer coisa. Um pouco distante dali, Mirela observa tudo com lágrimas nos olhos, mas não é somente ela que vê tal cena.

CENA 14: PARAÍSO AZUL | POUSADA | QUARTO DE RODRIGO | INTERIOR | NOITE 
MAIS TARDE
Rodrigo sorri enquanto recebe um envelope das mãos de um homem desconhecido. Ele se levanta da cama e abre tal envelope no qual contêm algumas fotos, logo sorri novamente.
RODRIGO: – Bom trabalho, mas isso não acaba aqui e você sabe muito bem do que estou falando, agora vá! – Ele diz se levantando.
O homem então segue para a porta e sai rapidamente, logo Carlos entra, deixando o irmão paralisado enquanto tenta esconder o envelope para que seu irmão não veja.

CENA 15: PARAÍSO AZUL | HOSPITAL | INTERIOR | NOITE
Manuela se encontra ao lado do avô, pensando no beijo que Talles deu nela, ela abaixa a cabeça e se debruça sobre Joel, que por sua vez toca os cabelos dela, fazendo com que ela levante o olhar vagarosamente.
MANUELA: – Vovô! – Ela diz parecendo não acreditar no que vê.
Manuela abraça o avô, um abraço caloroso, repleto de amor e saudades de ver um sorriso em Joel. O momento se estende por alguns minutos, minutos esses, emocionantes já que ela pensava que seu avô não iria se recuperar. A felicidade é tanta que eles chegam a chorar.

CENA 16: PARAÍSO AZUL | POUSADA | QUARTO DE RODRIGO | INTERIOR | NOITE 
Carlos chuta e soca quase tudo que vê pela frente, está com bastante raiva. Na cama em que seu irmão dorme se encontra algumas fotos em que Talles e Manuela estão se beijando. Carlos se aproxima do irmão, está possesso de raiva.
CARLOS: – Como é que você arranjou essas fotos? – Indaga, enraivecido.
RODRIGO: – Eu só fiz um favor pra você, pois já desconfiava dos dois e também de que você estava fazendo papel de idiota. Ela traiu você e aposto que não foi só uma vez, meu irmão. – Responde, tocando no ombro dele.
Carlos afasta a mão do irmão e sai do quarto, parecendo transtornado. Assim que o irmão sai, Rodrigo sorri, vitorioso do que conseguiu fazer.

CENA 17: PARAÍSO AZUL | CASA DOS LIMA | EXTERIOR | NOITE 
Um homem encapuzado rodeia a casa de Manuela, jogando algum tipo de líquido desde o fundo até a frente. Ele para assim que o galão que carregava, fica vazio. O homem retira do bolso da jaqueta que usa, uma caixa de fósforo, riscando um atrás do outro enquanto sorri. Logo as chamas sobem e começam a consumir toda a casa que é de madeira. Carlos vê o que está acontecendo de longe e se aproxima correndo, ficando de cara com o incendiário. Uma briga se inicia, eles rolam pela areia da praia trocando vários socos até que o homem consegue desmaiar Carlos. Antes de sair, o incendiário deixa a caixa de fósforo próxima de Carlos, e desaparece na direção da mata, sorrindo. De longe, próximo de sua casa, Mirela observa tentando entender o que acontece, ela então se aproxima correndo a ponto de ver o outro homem saindo correndo, assim que ela olha para o lado, reconhece Carlos. Ela fica assustada assim que ouve vozes por perto e se afasta, desaparecendo na escuridão. A casa de Manuela aos poucos é consumida pelas chamas.
Alguns trovões são ouvidos, logo uma chuva forte se inicia, seguindo pela madrugada. O novo dia amanhece chuvoso.

CENA 18: PARAÍSO AZUL | PRAIA | EXTERIOR | MANHà
Assim que sabe do que aconteceu, Manuela corre para a praia, ela não se importa com a chuva que a deixa ensopada em poucos minutos. Manuela se ajoelha na areia diante do que restou da casa, ela chora muito enquanto vê tudo o que seu vô fez, queimado. Mirela se aproxima ao ver sua amiga aflita. As duas se abraçam mutuamente.
MANUELA (chorando): – Como isso aconteceu? – Indaga sem conseguir conter o choro.
MIRELA: – Parece que foi criminoso, Manuela. – Responde abraçada à ela.
Manuela chora um pouco mais diante do que acabou de saber. Ela sai do abraço e se levanta, seguindo para o mais longe dali.

CENA 19: PARAÍSO AZUL | CASA DE LEOPOLDO | MANHÃ
Talles fica a saber do que aconteceu com a casa de Manuela e já está se aprontando para seguir até lá quando Leopoldo o interrompe ainda na sala.
LEOPOLDO: – Você nem pense nisso, Talles! Você tem que ir comigo para a Fazenda e de lá tomar o avião que vai levar você para a capital, não há tempo para mais nada. – Ele diz segurando o braço do filho. – E já estamos atrasados (pausa) eu prometo que não deixo você sem notícias daqui. – Completa, sério.
Talles acaba por concordar com o pai e o segue para fora de casa assim que pega as malas. Talles olha na direção da praia, inevitavelmente pensando em Manuela.

CENA 20: PARAÍSO AZUL | DELEGACIA | INTERIOR | MANHÃ
Rodrigo para o carro que alugou bem em frente à delegacia, ele não demora para sair do veículo e fica olhando para todos os lados. Rodrigo entra na modesta delegacia e logo é levado por um dos dois policiais até a cela em que seu irmão se encontra. Carlos está sujo e ainda se encontra um pouco molhado por causa da chuva. Ele se levanta assim que vê Rodrigo.
RODRIGO: – No que você foi se meter, Carlos? – Questiona se fazendo de desentendido.
CARLOS: – Não fui eu, Rodrigo. Não fui eu quem colocou fogo naquela casa, jamais faria uma coisa dessa na minha vida. Quando eu cheguei lá tinha outra pessoa, mas eu não faço ideia de quem seja. – Diz, bastante aflito. – Mas o que mais me dói é saber que era a casa da Manuela, eu nunca faria isso, nunca. – Esbraveja, encarando o irmão.
RODRIGO: – Mas você foi a única pessoa que encontraram perto da casa e pra piorar, acharam uma caixa com fósforos perto de você, Carlos (pausa) mas eu já consegui fazer com que eles tirem você daqui, mas nós teremos de partir imediatamente para a capital, sem olhar para trás. – Comenta também olhando nos olhos do irmão.
Carlos pensa na foto que viu, foto essa onde Manuela era beijada por Talles, e com a cabeça à mil, decide por voltar à capital. Longe do campo de visão do irmão, Rodrigo sorri.

CENA 21: DELEGACIA | EXTERIOR | MANHÃ
Manuela vem caminhando toda molhada, mas sem se importar com esse fato. Ela anda cabisbaixa. A imagem de sua casa destruída pelo fogo não sai da cabeça. Quando ela chega perto da delegacia, vê Carlos saindo junto com o irmão. Manuela apressa o passo e os alcança, e já sabendo do que Carlos foi acusado, ela o segura pelo braço.
MANUELA: – Você é um infeliz, Carlos! – Ela grita com a voz embargada. – Destruiu tudo o que eu tinha, tudo. – Continua, mas já sem forças, cai no chão de joelhos, em prantos.
Sem dar tempo do irmão sentir pena ou qualquer coisa que amolecesse o coração de Carlos, Rodrigo abre a porta do carro e empurra Carlos para dentro. Rodrigo olha rapidamente para Manuela, que por sua vez não tem mais forças pra nada, a chuva volta a se intensificar. Rodrigo entra no carro e acelera. Manuela está ferida, mas não é nenhuma ferida aparente, e sim na alma. Enquanto a chuva cai, ela se lembra dos dias que passou ao lado de Carlos, e então chora pensando que tudo não passou de uma brincadeira, de uma ilusão que destruiu a sua vida. A imagem escurece enquanto se afasta de onde Manuela chora.

SEMANAS DEPOIS
CENA 22: PARAÍSO AZUL | EXTERIOR | MANHà
Manuela está sentada diante de uma lápide que contêm a foto do avô, ela derruba algumas lágrimas enquanto passa as mãos na terra em que Joel foi enterrado, um pequeno cemitério improvisado.
MANUELA: – Você vai fazer tanta falta, vovô. Eu deveria ter escutado o senhor e não ter repetido o mesmo erro que minha mãe cometeu, mas agora é tarde demais. – Ela diz enxugando as lágrimas. – Mas eu prometo para o senhor, onde quer que esteja, que não vou deixar ninguém mais pisar em mim, ninguém mais vai me enganar como eu fui enganada. – Promete se levantando do local.
Manuela olha para o lado e esboça um leve sorriso para Soraia, que chega mais perto e a abraça de forma carinhosa.
SORAIA: – Seu avô, ele tinha as economias dele guardadas, filha, algo que só ele e eu sabíamos, nem sei como ele confiou em mim, mas em todo caso, você deve ficar com tudo e recomeçar. – Ela diz segurando na mão de Manuela, frente a frente. – Recomeçar longe daqui e ser feliz de verdade. – continua, voltando a abraça-la. – A vida não acabou, o destino também não se encerrou, há uma longa jornada pela frente. – Completa se colocando lado a lado com Manuela.
Manuela e Soraia caminham lado a lado até entrarem na rua da pequena cidade. Manuela parece olhar bem para todas as casas, como uma forma de se despedir do lugar em que nasceu e cresceu. As duas mulheres seguem até onde um ônibus já surrado está parado, Soraia entrega a mala para Manuela, que por sua vez entra no ônibus. Antes do veículo partir, ela acena para Soraia.
SORAIA: – Há tanto para se saber, há muito para se escolher mesmo parecendo não ter nada. A verdade por mais perdida que possa parecer, chega o momento em que é encontrada. No paraíso o amor foi perdido, no paraíso ele será reencontrado, nada é por acaso. – Ela diz enquanto observa o ônibus seguir o rumo.
A imagem se congela no ônibus partindo de Paraíso Azul.
CONTINUA

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