Paraíso Perdido | Capítulo 01 (Estreia) #ParaísoPerdidoNoWebMundi

uma webnovela de JAIR VARGAS
produção de LABIRINTO RADICAL

Brasil, 2008
CENA 1: CIDADE DE PARAÍSO AZUL | EXTERIOR | MANHÃ
O Sol desponta no horizonte, avisando à todos que mais um dia se inicia. Pela praia, alguns pescadores já passam com seus apetrechos, eles seguem até os barcos que estão enfileirados lado a lado. Não demora muito para que cada barco, um por um siga rumo à alto mar fazendo uma imagem inesquecível, contratando com o nascer do sol. Um pouco longe da praia, em uma casa toda feita de pau está um velho senhor sentado em uma cadeira, parecendo admirar tanto o espetáculo diário da natureza como também a luta dos pecadores desse local.

CENA 2: PARAÍSO AZUL | CASA DOS LIMA | VARANDA | EXTERIOR | MANHà
O mesmo senhor da cena anterior ainda se mantêm sentado olhando para o horizonte, admirando toda a beleza do mar no qual já navegou muitas vezes. Ele abre um sorriso que revela a felicidade por viver em um lugar tão paradisíaco.

JOEL: – Saudades que eu tenho de estar neste mar, de navegar por essas águas e trazer os mais belos exemplares de peixes. Ah! Saudades, muitas saudades. – Ele diz saudoso enquanto respira profundamente.
De repente, atrás de Joel aparece uma bela jovem, sorridente. Ela abraça o avô e demonstra todo seu carinho, beijando a bochecha dele, é Manuela.
MANUELA: – Mas foi esse mesmo mar que fez isso tudo com o senhor, meu avô. Ele pode ser lindo, mas também é perigoso demais. – Ela comenta saindo do abraço apertado.
Manuela fica de frente para o avô, que abre um pequeno sorriso como se confirmasse o que sua neta disse, mas havia algo mais.
JOEL: – Não foi culpa do mar, Manuela, acredite. Foi culpa minha por ser muito ignorante e estar todos os dias praticamente nele. Eu deveria ter seguido os conselhos dos meus amigos. – Ele afirma com a voz um pouco embargada por se lembrar mais uma vez da doença que carrega.
MANUELA: – Mas não se entristeça, vovô. – Ela segura em uma das mãos dele. – Eu vou fazer de tudo para conseguir que o senhor faça o tratamento que tem de fazer, prometo. – Ela diz antes de beijar as mãos dele.
JOEL (Pensando): – Eu sei que você pode ter um futuro melhor, Manuela, sei disso, mas isso não vai ser aqui. – Ele pensa enquanto mantêm o olhar no de sua neta.
MANUELA: – Bom, agora vou preparar o nosso café da manhã para que a gente tenha bastante energia para esse dia. – Ela diz entre sorrisos. – E só pense em coisas boas vovô, só em coisas boas. – Recomenda já seguindo para dentro da casa novamente. Joel sorri.
A brisa do mar sopra junto com o vento frio, os cabelos de Joel se mechem um pouco, o que parece causar uma sensação boa no velho homem.

CENA 2: CIDADE DE TEMEDO | CASA DOS TERRAFORTE | EXTERIOR | MANHà
A movimentação é grande no pátio da mansão dos Terraforte. O helicóptero da família está bem visível, o que sempre causa alguns olhares curiosos de quem passa na calçada ou até mesmo de carro. Uma mulher mais velha junto de um homem está parada diante da cabine do transporte. O dia acabara de amanhecer.


CENA 3: TEMEDO | CASA DOS TERRAFORTE | EXTERIOR | MANHà
A mulher em questão da cena anterior olha para a casa, de onde sai dois homens bem vestidos, é Aura. Ela olha rapidamente para o marido, João, que por sua vez olha para o relógio.

AURA: – Andem rapazes! – Ela apressa. – Não temos todo tempo do mundo, não. – Afirma fazendo uma expressão séria.
Os dois rapazes se aproximam. Um tem a cara de poucos amigos, passa pela mãe sem nem mesmo dizer bom dia, é Carlos. O outro larga o celular apenas para dar um beijo no rosto da mãe, que sorri, é Rodrigo. Os dois filhos de Aura e João estão no helicóptero. Aura se aproxima da porta que continua aberta.
AURA: – Eu quero um serviço bem feito, ouviu bem, Rodrigo!? – Ela indaga mantendo um olhar sério.
RODRIGO: – Não irei decepcionar a senhora, mãe. Eu prometo, mas garanto que será um pouco difícil de trabalhar com essa cara feia do meu lado. – Ele olha para o irmão.
Carlos demonstra não estar nem um pouco feliz com a viagem que tem de fazer. Ele olha de soslaio para a mãe e o irmão.
CARLOS: – Não sei por qual motivo estou indo nessa viagem, afinal como a senhora sempre deixa claro, nunca servi para nada. – Diz revoltado. – Isso mudou agora? – ele questiona tentando não mostrar quanta raiva está sentindo.
AURA: – Deixe de drama, Carlos. – Ela pede enquanto se afasta um pouco. – Você está indo pelo simples fato de ser um fotógrafo excelente e por ser meu filho, então não terei custos nenhum com as fotografias que forem tiradas. – Responde secamente. Ela se afasta, dando de ombros e seguindo para perto de João.
Não demora muito e as hélices do helicóptero começam a se movimentar, e logo o veículo se levanta do chão, começando a voar. Aura e João observam o piloto dar meia volta e passar praticamente bem em cima da casa.
JOÃO: – Você não deveria tratar o Carlos com tanta frieza, Aura, afinal ele é nosso filho também (pausa) não é como o Rodrigo, que sempre faz tudo o que você pede, mas é nosso filho. – Adverte já caminhando em direção da casa sem dar chances para que a esposa diga alguma coisa.
Aura observa o marido entrar na casa, ela então começa a caminhar devagar e com altivez.
AURA: – Um dia o Carlos irá me agradecer por ser tratado assim, ah se vai. – Afirma seguindo para dentro da mansão.
A porta se fecha. Imagens aéreas mostram como é a mansão vista de cima, um espetáculo de arquitetura que encanta.

CENA 4: TEMEDO | HELICÓPTERO | INTERIOR | MANHà
Carlos observa a cidade vista de cima, um tédio para ele que já viu isso várias e várias vezes. Ele fica pensativo por alguns minutos até Rodrigo tocar seu ombro. Os irmãos se olham rapidamente.

RODRIGO: – Você deveria ficar animado, Carlos, afinal é a última vez que você fará uma viagem contra sua vontade, não é? – Diz como se soubesse de algo que o irmão tenta esconder.
Carlos olha diretamente para Rodrigo que mantêm um sorriso cínico.
CARLOS: – Pelo visto você andou mexendo nas minhas coisas de novo, não é? Que mania idiota é essa que você tem, Rodrigo. – Ele diz sem tirar os olhos de Rodrigo.
O sorriso de Rodrigo se desfaz completamente enquanto se ajeita no assento.
RODRIGO: – Na boa, você não ia conseguir esconder isso de mim por muito tempo. – Afirma voltando a sorrir de uma forma nada confiável. – Vai abrir uma agência e o nosso pai está ajudando… fico feliz por você, mas a nossa mãe não ficará nada feliz quando souber. – Conclui lançando um olhar ameaçador para Carlos.
CARLOS: – Quem tem que ficar feliz sou eu e não ela, e nem adianta me olhar assim, se quiser contar, conta. Não me importo. – Ele é taxativo.
Carlos volta a olhar pela janela do helicóptero, deixando Rodrigo pensativo.

CENA 5: PARAÍSO AZUL | PRAIA | EXTERIOR | MANHà
Manuela caminha pela areia da praia, está descalça com as sandálias na mão, os cabelos estão ao vento. Ela caminha um pouco mais para perto da água que está gelada o que faz seu corpo se arrepiar. Os pensamentos dela estão longe e só desperta quando sente um estranho calafrio, logo olha para o lado da terra firme e vê que chegou bem em frente a casa que todos da pequena cidade dizem morar uma velha bruxa. Destemida, Manuela caminha para a tal casa.


CENA 6: PARAÍSO AZUL | CASA DOS LIMA | VARANDA | EXTERIOR | MANHÃ
Joel caminha devagar pela varanda quando sente um estranho calafrio. Ele para, parecendo que viu uma assombração. Joel se senta em sua velha cadeira, fechando os olhos rapidamente. Cochila por alguns minutos até ser acordado por um homem descamisado, é Talles.

TALLES: – Ô seu Joel, desculpa acabar assim com seu cochilo, mas é que eu precisa conversar rapidamente com sua neta. – Ele diz entrando devagar na varanda.
Joel se ajeita na cadeira enquanto Talles se senta em um banco comprido feito de madeira.
JOEL: – Por acaso é sobre aquele assunto? – Indaga, parecendo curioso.
TALLES: – É sim seu Joel! Aparentemente o homem que vai fazer negócio, que vai comprar tudo isso aqui está chegando hoje, então por isso eu queria falar com a Manuela, ela é muito importante, é uma líder para nós todos, mesmo com pouca idade. – Ele responde demostrando um certo receio. – Estamos todos com medo de sermos expulsos daqui e depois não termos onde morar. – Revela, cabisbaixo.
JOEL: – Não tenha medo, homem. – Ele pede enquanto se levanta. – No que depender de mim, e também de minha neta, ninguém vai sair daqui. – Conclui confiante.
Joel se senta ao lado do jovem Talles, que começa a ouvir histórias contadas pelo velho sempre que ele aparece.

CENA 7: PARAÍSO AZUL | CASA | EXTERIOR | MANHÃ
Manuela olha a casa dita ser de uma velha bruxa, parece curiosa com o local, ela olha pela janela, mas não vê ninguém. Quando a moça dá meia volta, fica cara a cara com uma velha, meio suja e maltrapilha. Manuela fica paralisada sem saber o que fazer.

SORAIA: Ora! Faz tempo que eu não recebo nenhuma visita. – A velha senhora diz abrindo um sorriso amigável. – Não quer entrar? – Indaga levando a mão dentro da sacola de pano que segura.
Manuela ainda se encontra sem reação. Ela esboça um sorriso para a senhora e não recusa o convite. Ela entra na pequena casa assim que Soraia também entra. Soraia segue até o fogão à lenha que está aceso, pega uma chaleira de barro e coloca no fogo, depois olha rapidamente para a moça.
SORAIA: – Pode se sentar, filha… não precisa ter medo de mim. – Ela diz esboçando um leve sorriso. Ela caminha até Manuela. – Não sou nenhuma bruxa como costumam dizer pelas redondezas. – Comenta enquanto observa Manuela se sentar.
Manuela se senta e passa a olhar para Soraia, parecendo não temer a quase desconhecida na sua frente, mas respeita.
MANUELA: – Eu sei disso, mas o povo fala demais, muitos não a conhecem nem um pouco, assim como eu e já saem julgando. – Ela diz um pouco cabisbaixa.
SORAIA: – Mas o que a traz para essa parte da praia? Sei que você é neta do Joel. – Indaga também se acomodando em um banco de madeira.
MANUELA: – Eu estava só passeando, distraindo um pouco minha cabeça, mas a senhora conhece meu avô? – Ela fica intrigada por saber que Soraia sabe quem é o avô.
SORAIA: – Conheço e não conheço, minha querida. Ninguém conhece totalmente alguém nessa vida, é preciso mais, muito mais para que aí sim passamos dizer quem é a pessoa de verdade. – Responde mantendo um certo tom misterioso. – Você se conhece? – Questiona, mas logo recua. – Que pergunta boba a minha, tão jovem, com certeza ainda não se descobriu totalmente, ainda mais vivendo em um mundo tão pequeno. – Soraia comenta e se levanta com uma certa dificuldade. Ela segue para perto do fogão novamente onde destampa a chaleira e respira profundamente sentindo o aroma do chá que prepara. Ela se volta para Manuela, assim que coloca a tampa na chaleira.
SORAIA: – Há muita coisa para acontecer na sua vida, um destino repleto de sofrimento, mas também de muito amor, você deve ficar atenta às pessoas que vão cruzar seu caminho, algumas querem seu bem acima de tudo, outras só querem aproveitar de você, de quem você se tornará. – A senhora revela de maneira espontânea sem ao menos piscar os olhos.
Manuela sente um estranho calafrio ao olhar nos olhos de Soraia, e pela primeira vez desde que entrou na casa, sente medo. A jovem se levanta rapidamente seguindo para a saída, um tanto atordoada pelo pouco que Soraia disse sobre seu destino.

CENA 8: PARAÍSO AZUL | FAZENDA ARCO VERDE | EXTERIOR | MANHà
Um homem entra pela porteira que está aberta, ele anda à cavalo de maneira impressionante, desviando do que tem de desviar, e seguindo o caminho, chegando ate mesmo a levantar poeira. A fachada da sede da fazenda e mostrada, logo vemos que ha um homem parado na varanda olhando para o horizonte, e o dono da propriedade. a imagem volta a se afastar, mostrando o outro homem que chega a cavalo.


CENA 9: PARAISO AZUL| FAZENDA ARCO VERDE| SEDE| VARANDA| EXTERIOR| MANHÃ
Diógenes dá alguns passos até chegar na escada de entrada para a sede. Ele espera o outro homem descer do cavalo para então continuar descendo pelos degraus.

DIÓGENES: – Então, conseguiu apurar alguma coisa? Sabe se eles ja vão chegar por esses dias mesmos, Leopoldo? – indaga se aproximando um pouco mais.
LEOPOLDO: – Eles estão chegando hoje mesmo, patrão. – Responde, abrindo um pequeno sorriso. – O povo todo na cidade está so aguardando a chegada deles, e você sabe pra quê, não sabe, patrão? – diz desviando o olhar rapidamente para o cavalo.
DIÓGENES: – Esse bando de ignorante acha que vão impedir que eu feche meus negócios, estão todos perdendo o tempo deles. Boa parte de tudo isso aqui é meu, logo eles terão de arranjar outro local para viverem. Não vou permitir que me atrapalhem. – diz olhando para Leopoldo. – Acho bom que você tenha tirado aquelas ideias tortas da cabeça de seu filho. – Adverte encarando seu funcionário.
LEOPOLDO: – Ele já está avisado das consequências, patrão. Fique tranquilo, pois o meu filho não vai atrapalhar o senhor, mas eu não garanto o mesmo daquela atrevida da neta do velho Joel. – Afirma, dando a volta no cavalo.
DIÓGENES: – Você fala tanto dessa moça que eu já estou começando a ficar com medo, pois está me parecendo que ela é capaz de tudo para defender esse povo burro dessa cidade. Eu devo me amedrontar? – Questiona levantando uma das sobrancelhas.
LEOPOLDO: – Não se preocupe, ela só é uma atrevida mesmo, não vai ameaçar coisa alguma de seus negócios, patrão. – Responde de forma séria. – Só disse isso, pois as atitudes dela são bastante imprevisíveis. – Conclui, desviando o olhar para outro ponto da fazenda.
DIÓGENES: – Acho bom mesmo que você esteja certo, Leopoldo. – Completa, dando de ombros.
Diógenes volta a subir pela escada, logo se encontra na varanda. Ele se senta em uma cadeira de maneira enquanto Leopoldo o observa.
LEOPOLDO: – Eles não vão se instalar aqui quando chegarem, patrão? – Indaga, subindo no cavalo novamente.
Diógenes retira o cigarro da boca e olha para seu funcionário com uma cara de poucos amigos.
DIÓGENES: – O que não falta é hospedaria nessa cidade, Leopoldo. Deixe isso bem claro para eles, ouviu? – Ele diz, voltando a colocar o cigarro na boca e dando uma boa tragada.
LEOPOLDO: – Certo, Patrão. – Acata antes de partir à galope.
O velho Diógenes observa com um sorriso estranho estampado. Seus pensamentos só estão no negócio que quer fechar com a família Terraforte. Ao longe, Leopoldo cruza a porteira depois de passar em meio à grandes quantidades de coqueirais que ficam em ambos os lados do caminho que leva até a sede da fazenda. O capataz abre um pequeno sorriso.


CENA 10: TEMEDO | MANSÃO DOS TERRAFORTE | SALA | INTERIOR | MANHà
Aura bate a porta assim que entra na casa. João que ia subindo pela escada, para ao ouvir o barulho e logo deduz que a esposa deve estar com raiva. Ele volta a descer, parando aos pés da escada, logo Aura aparece.

AURA: – Você disse aquilo somente para me ver irritada, não foi? Eu trato os meus dois filhos como iguais, sempre fiz isso e nunca mudarei. – Ela diz de maneira enraivecida sem olhar para João.
JOÃO: – Está certo, não vou discutir, até por estar sem paciência para isso, Aura. Eu sei muito bem que você não gosta nem um pouco de ser contrariada e antes que isso vire uma guerra, me dou por vencido. – Ele não diz mais nada, apenas se vira e volta a subir degrau por degrau.
AURA (pensando): – É assim que eu gosto!
Longe do campo de visão de João, Aura abre um sorriso, toda contente por acreditar que o marido não tem coragem de enfrentá-la.

CENA 11: PARAÍSO AZUL | PRAIA | EXTERIOR | MANHà
Manuela corre pela praia, ainda com o que Soraia dissera ecoando pela mente. Ela corre tão distraída que não percebe Talles vindo ao seu encontro. Manuela trompa em Talles, e só aí para em definitivo, meio ofegante, reconhece o amigo.

TALLES: – Que pressa toda é essa! – Ele diz admirado de ver Manuela cansada. – Parece que viu um fantasma. – Continua, tocando no rosto dela rapidamente.
Manuela levanta o olhar já um pouco recuperada da corrida que fez.
MANUELA: – Quase isso, Talles. – Ela respira com um pouco mais de normalidade, e continua. – Eu estive na casa da Soraia. – Conta com um certo receio.
TALLES: – Meu Deus, Manuela! Seu avô não vai gostar nem um pouco de saber disso. – Comenta, intrigado.
MANUELA: – Ele não vai gostar se chegar a saber e por enquanto eu contei só pra você. – Diz com um olhar ameaçador. – Não quero que meu avô aborrecido com tão pouca coisa, Talles, entende? Eu só fui lá de curiosa que sou, mas já me arrependi, juro. – Diz beijando os dedos indicadores.
Talles sorri, pois sabe o que Manuela quer. Ele o abraça.
TALLES: – Eu não vou contar nada, pode deixar, Manu. – Afirma entre sorrisos.
MANUELA: – Você é o melhor amigo do mundo, ouviu? – Ela diz beijando o rosto dele rapidamente.
Manuela sai do abraço e sai correndo em direção a sua casa. Talles fica passando a mão de forma leve no lado em que ela o beijou. Ele abre um sorriso bobo. Um pouco distante de Talles, no mar arrumando um dos barcos se encontra Mirela que ao ver tal cena fica com uma expressão taciturna. Ela pega uma pedra pequena e arremessa contra Talles, que por sua vez desperta dos pensamentos e olha para trás, visualizando Mirela.
MIRELA: – Deixe de ser besta, Talles. Não vai achando que esse abraço e esse beijo significa alguma coisa. – Quase gritando, ela diz, depois volta a organizar as coisas no barco.
Talles fica olhando para Mirela por alguns minutos até começar a caminhar na direção oposta que seguia. Mirela o acompanha com os olhos, bem atentamente. Ela muda o olhar em direção da casa de Manuela, ficando totalmente séria.

CENA 12: PARAÍSO AZUL | HELICÓPTERO | INTERIOR | MANHà
A aeronave voa por cima da pequena cidade. Homens, mulheres e crianças saem de suas casas para observarem.
Rodrigo olha para Carlos que parece está dormindo, ele abre um sorriso travesso.

RODRIGO: – Você não engana absolutamente ninguém, Carlos. Sei que está acordado e para sua alegria já chegamos nesse fim de mundo. – Ele diz, cutucando o irmão.
Carlos, sem alternativa, abre os olhos e olha pela janela, ficando extasiado com a beleza do lugar visto de cima, não demora para pegar a câmera e tirar algumas fotos.
RODRIGO: – Quem vê assim nem parece que não estava querendo vir para cá. – Comenta, olhando pela janela assim que desvia o olhar do irmão.
Carlos para de fotografar e olha para Rodrigo.
CARLOS: – Esse lugar é lindo, não está vendo? Faz esquecer de qualquer problema ou chateação. – Diz, analisando as fotos que conseguiu.
Rodrigo torce o nariz como se isso não significasse nada para ele. Ele fecha os olhos, aguardando o momento em que a aeronave vai pousar.

CENA 13: PARAÍSO AZUL | CASA DE SORAIA | INTERIOR | MANHÃ
Ao ouvir o barulho do helicóptero, Soraia deixa a xícara que tem em mãos cair e se quebrar toda. Ela então sai na janela e observa a aeronave voar baixo.

SORAIA: – O destino dela chegou. – Afirma, levando uma das mãos à cabeça. – Que as coisas boas fiquem e que as coisas ruins se vão, meu Deus! – Deseja enquanto leva a outra mão ao coração. – Tão jovem com tantas coisas pela frente, um destino gigantesco, uma onda que vai arrastar e arrasar tudo o que ela conhece, tudo que ela sabe até hoje. – Conclui, fechando os olhos.
Um vento frio começa a soprar vindo do mar, os panos feitos de cortina, tremulam. A velha senhora abre os olhos que parecem estar perdidos, vasculhando o horizonte misterioso.

CENA 14: TEMEDO | MANSÃO DOS TERRAFORTE | COZINHA | INTERIOR | MANHà
Aura está em pé na cozinha, acompanhando o trabalho da cozinheira e de sua ajudante. Ela olha tudo com muita atenção quando repentinamente vê sua visão ficando turva, logo perde o equilíbrio, fazendo a ajudante correr até ela e apoiá-la.

AURA: – Tudo bem, tudo bem, só foi uma leve tontura, pode voltar ao seu trabalho agora. – Ela diz puxando uma das cadeiras da mesa. A senhora se senta enquanto a ajudante da cozinheira volta ao serviço. – Meu Deus, o que foi isso? – Ela se pergunta enquanto leva as mãos à cabeça. – Isso nunca aconteceu comigo. – Afirma enquanto se recupera do mal estar repentino.
João entra na cozinha e estranha ao ver Aura sentada com um olhar distante. Ela se da esposa.
JOÃO: – Aconteceu alguma coisa, Aura? – Ele pergunta, intrigado, pois nunca viu Aura sentada enquanto supervisionava as coisas na cozinha.
Aura levanta o olhar devagar e encara o marido por poucos segundos.
AURA: – Não aconteceu nada que você deva se preocupar, João. Só senti um mal estar passageiro, mas já estou bem novamente. – Responde se levantando.
Aura passa pelo marido e segue para a sala. João fica pensativo enquanto segue até a geladeira, abrindo abrindo pegando uma garrafa com água. Ele olha para o corredor que leva até a sala, pensando que certamente houve algo errado.


CENA 15: PARAÍSO AZUL | CASA DOS LIMA | EXTERIOR | FIM DA MANHÃ
Joel sai de casa, incomodado com o barulho gigantesco que o som do helicóptero faz. Ele olha para todos os lados e vê Talles se aproximando parecendo bem apressado.

TALLES: – São eles ‘seu’ Joel. – Se aproxima e diminui as passadas. – Os homens que querem fazer negócio com o patrão do meu pai. – Ele para ao lado de Joel.
JOEL: – Agora o Diógenes está com essa ideia absurda. Onde já se viu querer vender tudo isso aqui? – Indaga se mostrando um pouco alterado. Ele olha para Talles. – Isso não pode acontecer. – Afirma encarando o rapaz.
TALLES: – Eu sei disso, por isso organizei junto dos meus amigos, um protesto, não vamos deixar isso barato, e pelo mesmo motivo vim até aqui pra saber se a Manuela vai se juntar à nós. – Ele olha diretamente para Joel. – Ela está aí? – Pergunta, olhando rapidamente para a casa.
JOEL: – Sim, bom eu vi ela aí até agora pouco, mas do jeito que minha neta é, não garanto nada. – Responde caminhando em direção da casa com Talles ao seu lado.
Um pouco longe ainda da casa, o pai de Talles vem montado no cavalo, reconhecendo o filho como o rapaz que está acompanhando Joel, então ele faz com o que o cavalo vá um pouco mais depressa, ele para perto da casa, saindo muito rápido de cima do cavalo.
LEOPOLDO: – Eu deveria saber que você estava por essas bandas de cá, Talles. – Diz, fazendo Talles voltar o olhar para o pai. – Vamos já para casa, não quero você metido com esse tipo de gente. – Ordena olhando para o velho Joel.
Joel dá alguns passos à frente e encara Leopoldo.
JOEL: – Esse tipo de gente! Deveria eu dizer isso pra você, Leopoldo, mas ainda bem que seu filho é bem diferente. – Ele volta o olhar para Talles. – Agora vá, e pode deixar que eu aviso a Manuela que você procurou por ela. – Diz, tocando no ombro de Talles.
Talles balança a cabeça afirmativamente e segue com o pai enquanto Joel os observa, balançando a cabeça de um lado para o outro.

CENA 16: PARAÍSO AZUL | EXTERIOR | FIM DA MANHà
O helicóptero pousa em um descampado. Rodrigo e Carlos saem da aeronave. Carlos oberva o litoral, ficando ainda mais deslumbrado com a beleza da cidade. Ambos com uma mochila seguem por uma trilha que leva até o local onde ficam as casas, pousadas e outros estabelecimentos. No meio do caminho Rodrigo para repentinamente, fazendo com que Carlos também pare.

RODRIGO: – Faça o seguinte, eu vou procurar qualquer condução que me leve até a Fazenda do Diógenes Assunção, e você enquanto isso arranje uma pausada pra que fiquemos até que tudo termine. – Ele diz com um tom calmo enquanto pega o celular do bolso.
CARLOS: – Isso tudo aqui vai demorar muito? – Ele indaga se mostrando impaciente.
RODRIGO: – Se tudo correr bem, amanhã mesmo já está terminado e poderemos partir, meu irmão. – Responde dando início a uma nova caminhada.
CARLOS: – Tudo bem, eu faço isso. – Diz um pouco mais conformado.
Não demora muito e eles entram na cidade, passam por pessoas que os olham com certa estranheza. Carlos é quem percebe os olhares mais raivosos, outros amedrontados e outros indecifráveis. Rodrigo nem liga para à sua volta, só olha com mais atenção quando avista uma pequena pousada.
RODRIGO: – Está aí, Carlos. – Diz mostrando o estabelecimento. – Agora eu vou em busca de um veículo que me leve até a fazenda Arco Verde.
Rodrigo vai saindo quando é segurado no braço por Carlos. Rodrigo olha para o irmão tentando entender o que aconteceu.
CARLOS: – Toma cuidado, viu? As pessoas daqui não parecem tão felizes em nos ver. – Ele adverte, soltando o braço do irmão.
Rodrigo apenas abre um sorriso e continua seguindo sem se importar muito com o que Carlos disse. Carlos por sua vez entra na pousada.

CENA 17: TEMEDO | MANSÃO DOS TERRAFORTE | QUARTO DE AURA E JOÃO | INTERIOR | TARDE
Aura anseia por notícias de seu filho mais velho, ela anda de um lado para o outro no quarto. Vai da porta até a janela e à todo instante olha para o telefone. Ela não vê a hora de conseguir fechar negócio e dar início à construção de mais um empreendimento. Ela enfim se aquieta, logo se senta em uma poltrona próxima da janela e bem ao lado do telefone, que começa a tocar assim que ela se senta, e distraída não vê o número no identificador de chamadas, pensando ser Rodrigo.

AURA (Ao Telefone): – Então, conseguiu fechar negócios, filho? – Questiona demostrando uma ansiedade imensa.
PESSOA (Do Outro Lado da Linha): – Qual deles? O mais velho ou o mais novo? – Indaga, dando uma risada que vai sumindo aos poucos, a voz não é identificável pelo fato da pessoa estar com um pano cobrindo uma parte do telefone. – Você sabe muito bem quem está aqui e o que posso fazer se a verdade não aparecer. – Diz soltando outra risada amedrontadora.
Quando Aura vai dizer alguma coisa, a ligação é encerrada. É possível vê-la trêmula enquanto olha para o telefone.
AURA: – Isso de novo, não! – Grita, parecendo transformar o medo em raiva enquanto aperta o aparelho.
Ela olha para o identificador de chamadas, mas não vê nada que possa ajudá-la. Ela se levanta, parando diante da janela e ficando com um semblante todo misterioso.

CENA 18: CASA DOS TERRAFORTE | SALA | INTERIOR | TARDE
João coloca o telefone no gancho e olha para o alto da escada, demostrando estar preocupado após ouvir a conversa rápida que tal pessoa misteriosa teve com sua mulher.

JOÃO: – Então essa pessoa voltou a ligar. – Constata se encaminhando para o sofá. – Há verdades que não podem ficar escondidas por muito tempo. – Conclui se sentando no sofá e pensando no passado.

CENA 19: PARAÍSO AZUL | EXTERIOR | TARDE
Manuela sai sem que Joel note, ela entra na mata que já conhece como a palma de sua mão. A jovem faz uma boa caminhada até chegar no local que deseja. Manuela sabe que ninguém vai no local em que está, mas ela sempre olha duas vezes antes de fazer o que sempre faz. Enquanto olha para a belíssima lagoa à sua frente, ela retira toda a roupa, as deixando próximas de uma árvores frondosa. Manuela entra na água e mergulha, nadando entre os peixes.
Um pouco longe de onde Manuela está, Carlos anda por entre a mata, parecendo um tanto perdido. Ele olha para trás e não consegue identificar o caminho que fez para se chegar até ali.

CARLOS: – Fui dar uma de desbravador e olha só o que aconteceu. – Comenta sozinho enquanto olha para cima. – Não vou ficar aqui parado esperando ser devorado por qualquer coisa faminta que possa existir por aqui. – Conclui, olhando para os lados.
Carlos caminha mais um pouco pela mata, sempre tentando ficar atento à tudo que o rodeia. Então para rapidamente e fica ouvindo o que parece ser água correndo, então segue para a esquerda onde acaba deslizando e escorregando até parar próximo de uma árvore. Assim que ele se levanta, vê roupas de uma mulher bem ao seu lado e o barulho na água faz com que Carlos olhe para a lagoa à sua frente, ficando paralisado ao ver a jovem que se banha de costas para ele. A jovem é Manuela, que se vira devagar, se assustando de imediato com o homem que parece hipnotizado.
A imagem se congela em um de frente para o outro.

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