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Lívia passa a maior parte da madrugada seguinte chorando, tanto de tristeza quanto de ódio por tudo que Mateus fez com ela. Porém, tentando entender melhor a situação, ela volta à casa da sogra no dia seguinte.
Lívia bate na
porta de Vera.
Vera: Lívia? Bom, não era surpresa que você voltaria, mas não
imaginei que tão cedo.
Lívia: Podemos entrar?
Vera: Sim, coloque o Bernardo naquela poltrona que era do Marcos.
Foi uma das poucas coisas que salvei da casa onde morava no Fazendinha antes de
me mudar pro Capão da Imbuia.
Lívia entra e Vera fecha a porta.
Lívia: Olha, apesar de toda a história, eu gostaria de conversar
só com a senhora. O Manoel está em casa? Se estiver eu volto outra hora...
Vera: Não, ele não mora mais aqui. Nós estamos separados, dentre
outros motivos, por causa do Mateus e dessa história toda. Eu fui acusada de
ser negligente, quase uma cumplice, por ter demorado demais a dizer. E se você
também pensa isso eu não vou te questionar e...
Lívia: Vera, escuta. Sim, eu estou com raiva de tudo e de todos
agora, mas não quero ser injusta com você. Você está tentando consertar as
coisas... (Lívia faz uma pausa e lacrimeja) por mais difíceis que ela estão...
(Lívia chora de vez).
Vera: Lívia, vem aqui. Me dá um abraço.
Lívia: Agora eu entendo o porquê de a senhora sempre ter um pé
atrás com o meu casamento com o Mateus. A senhora sabia.
Vera: Eu nunca achei certo a maneira interesseira como o Mateus se
aproximou de você desde o momento em que ele começou a estagiar no Ângela
Veríssimo. Mas eu achei que ele veria o que estava fazendo. Eu tentei várias
vezes conversar com ele.
Lívia: Ele tinha uma amante, não é? Eu nunca vi, mas uma mulher
sempre sabe quando está sendo traída. O Mateus me tratou mal muitas vezes nesta
época em que eu desconfiava disso.
Vera: Tinha. A Fernanda. Eles namoravam antes mesmo de você
aparecer na vida dele. Ela realmente a amava muito, eles planejavam se casar.
Mas, quando ele percebeu que você estava próxima ele resolveu convencer a
namorada dele a ser amante.
Lívia: Amante? Com ela se sujeitou a isso?
Vera: Lívia, uma pessoa, seja mulher ou homem, quando apaixonada
faz coisas impensáveis. Eu também pensava que a Fernanda era uma burra, uma
desmiolada e sem amor próprio. Mas, ela é como a maioria das pessoas: achava
que podia mudar o outro. Pessoas não mudam pessoas, as situações é que mudam as
pessoas. Talvez se tudo tivesse dado certo no plano do Mateus ele nunca teria
cogitado revelar a verdade e estaria até hoje mantendo você como esposa e ela
como amante. Ou pior, ter esperado o Bernardo nascer para te arrancar dinheiro
e depois ter se casado com a Fernanda.
Lívia: Tudo isso é tão repugnante. Tão asqueroso. E onde está essa
amante dele? Deve ter se cansado, não é?
Vera: Ela morreu.
Lívia: Como?
Vera: Numa briga com o Mateus ele acabou a puxando pelo braço, mas
ela se desequilibrou, caiu e morreu.
Lívia: O Mateus matou a própria amante? Com que tipo de monstro eu
me casei. Que horror, todas as noites que ele dormia do meu lado. Ele precisa
pagar por tudo! Onde ele está agora.
Vera: Ele vai pagar por tudo, ele vai pra cadeia, mas antes
precisamos garantir que a Bárbara pague também. Ela tem culpa em muitas coisas
que aconteceram, a começar pela Vânia. Parece-me que a Vânia foi assassinada
pela Bárbara.
Lívia: E como vai acontecer isso?
Vera: Amanhã, em um apartamento onde o Mateus está instalado, ele
vai atrair a Bárbara e eles vão falar sobre todos os crimes. O Mateus vai
fingir que está a fim de encontrar uma maneira de se livrar da culpa, mas já há
câmeras pelo apartamento. A Ellen, filha do Manoel e sua meia-irmã fez isso. O
Mateus vai pagar por tudo, mas antes ele vai atrair a Bárbara também.
Lívia: Vera, te peço uma coisa. Até que saia o exame de DNA, não
fique falando com certeza que a Iná e o Manoel são meus pais. Eu já me feri
muito com isso.
Vera: Te entendo. Pode deixar, não farei mais isso.
Lívia: Obrigada. Posso ir com vocês amanhã ao local?
Vera: Bom, não é um local muito adequado pra alguém com criança
e...
Lívia: A enfermeira Alice vai cuidar dele amanhã no horário.
Aliás, que horas vai ser isso?
Vera: Na hora do almoço. Você acha que está preparada pra isso?
Lívia: Eu não estava preparada pra muita coisa. Não é agora que
vou fugir de uma situação difícil.
Já no banco...
Manoel: Bom dia.
Gerente: Bom dia, que surpresa boa, senhor Manoel Pierini. No que
posso lhe ser útil?
Manoel: Eu preciso fazer uma transferência para uma moça e por
isso resolvi lhe procurar.
Gerente: Bom, o senhor poderia usar o caixa eletrônico ou ainda
nosso aplicativo. É seguro e mais rápido também.
Manoel: Compreendo e já uso o aplicativo de vocês, mas a quantia é
muito alta e por isso achei mais seguro fazer isso pessoalmente.
Gerente: Está certo, segurança em primeiro lugar, ainda mais
quando a quantia é alta. Bom, antes do valor, me diga se esta senhora tem conta
aqui também ou em outro banco.
Manoel: Não, ela tem aqui com vocês também.
Gerente: Qual o nome dela?
Manoel: Vera de Souza. Olha, neste papel tem o nome completo, CPF,
RG, valor a ser depositado e o número da
conta dele.
Gerente: Vamos ver... encontrei. Nossa, que quantia alta.
Manoel: Sim, mas pelas circunstâncias que me levaram a fazer isso
ela merecia mais. O senhor me garante que até o final do dia esse dinheiro
cairá na conta dela?
Gerente: Imediatamente. Assim que o senhor digitar a senha.
Manoel: Muito obrigado. É sempre bom contar com gente que
simplifica a nossa vida.
Gerente: Estamos aqui pra isso.
Enquanto
aguardava o dia em que se reuniria com Bárbara, Mateus ficava pensativo em seu
esconderijo. Em um de seus muitos pensamentos, lembrou-se do dia em que foi
apresentado por Lívia a Eugênio e Helena.
FLASHBACK
Lívia: Mãe?
Pai?
Eugênio: Minha
filha, que surpresa boa essa visita à tarde! Você não deveria estar na
faculdade? Não é por que é o último ano antes do internato que você deve
relaxar.
Lívia: Não se
preocupe, pai, hoje à tarde era final de uma disciplina que eu passei direto.
Tudo bem, mãe?
Helena: Melhor,
minha filha, as dores diminuíram depois que eu comecei a tomar remédio.
Lívia: E vai
melhorar cada vez mais, eu acredito! Bom, mas eu tenho uma pessoa para
apresentar a vocês?
Eugênio: Deve
ser um namorado, não é? Você anda muito feliz e distraída nas últimas semanas.
Lívia: É mesmo,
pai. O senhor tem razão. Esperem que eu vou buscá-lo, ele está lá na sala.
Lívia sai e
volta com Mateus.
Lívia: Pai,
mãe, esse é o Mateus, meu namorado.
Mateus: Olá,
boa tarde. Prazer em conhecer vocês.
Helena: Seja
bem vindo, rapaz.
Mateus:
Obrigado, dona Helena.
Eugênio:
Prazer, Mateus. Vem cá, nos conhecemos?
Mateus: Bom, eu
faço estágio na área de administração do Ângela Veríssimo. Deve ser de lá.
Eugênio: Claro!
Me lembrei. Esse setor eu não acompanho diretamente, mas me lembro de você.
Seja bem vindo, mais uma vez.
Mateus:
Obrigado. É um imenso prazer conhecer pessoalmente o senhor.
FIM DO
FLASHBACK
Depois de
lembrar desse dia, Mateus fala para si mesmo.
Mateus: Maldito dia. Deveria ter parado com esse plano ali mesmo!
Iná conversava
com Priscila sobre os acontecimentos do dia anterior.
Iná: E foi isso que aconteceu...
Priscila: Ai, mãe. Que situação.
Iná: Sabe, eu sabia que ela não iria receber toda aquela notícia
assim tão bem. Mas agora comecei a ficar com um medo.
Priscila: Qual?
Iná: Que depois de tanto trauma a Lívia acabe não me aceitando. E
outra coisa, eu sou uma mulher simples, não tenho essa educação refinada que a
Lívia recebeu.
Priscila: Mãe, calma. Vamos por partes...primeiro, é natural que a
Lívia crie esse afastamento depois de tantas decepções em relação não apenas a
busca pelos pais verdadeiros, mas também pela perda de confiança em relação ao
Mateus. Dê tempo a ela que ela vai procurar saber mais sobre você e o Manoel.
Segundo, aquela tal de Vânia que se passou por mãe dela não era uma faxineira
também?
Iná: Sim, era.
Priscila: Então! Não faz nenhum sentido o que a senhora está
temendo. Ela já tinha aceitado essa “mãe” dela sem DNA mesmo sabendo que era
uma faxineira. Imagina sabendo que você é uma mulher honrada, batalhadora e que
sempre a amou mesmo achando que ela estava morta?
Iná: Sabe, filha. Você tem razão. As vezes é preciso alguém falar
o óbvio pra gente. Obrigado, minha filha, sua palavras me acalmaram.
Priscila: De nada, dona Iná. Vê se fica menos nervosa. Até por que
amanhã temos que estar bem para desmascararmos a Bárbara.
Iná: Nem me fale. Minha vontade é de dar uns tapas na cara daquela
mulher.
Priscila: Pelo menos este gostinho você já teve, não é?
Iná: Por você, mas agora tem que ser pela Lívia também. Vou parar
de pensar nisso por enquanto.
Priscila: Faz bem, mãe. Faz bem...
Vera estava
checando sua conta corrente no celular quando se assustou com o valor alto do
seu saldo.
Vera: Que dinheiro todo é esse?
Terezinha: Que foi, comadre?
Vera: Caiu uma quantia muito grande de dinheiro na minha conta.
Não sei quem pode ter cometido esse engano.
Terezinha: Deixa eu ver o valor transferido...nossa, que valor
alto, Vera. Liga pro banco que eles vão saber te informar.
Vera liga para
o banco e fica sabendo que foi Manoel que transferiu.
Vera: Não acredito nisso! O que ele quer com isso?
Terezinha: E aí? Quem transferiu o dinheiro?
Vera: O Manoel! Ele quer me comprar com dinheiro! Só pode. Mas eu
vou devolver esse dinheiro. Aproveitar que foi no mesmo banco, vou devolver
tudinho!
Terezinha: Não vai devolver nada, não senhora!
Vera: Como assim, Terezinha? Claro que vou! Ele acha que eu vou
voltar pra ele por causa de dinheiro?
Terezinha: Você é lesada, comadre? Esse dinheiro que ele
transferiu é por causa do prejuízo que a Bárbara deu aqui pro nosso
restaurante. Esqueceu do que vocês viram na tal gravação da casa da Bárbara no
dia em que ela discutiu com o Mateus?
Vera: Será que é isso?
Terezinha: Claro que é! O valor que ele transferiu pra você é
pouco maior do que o prejuízo que a gente teve.
Vera: Bom, mas ele não fez nada para nos prejudicar, mas sim a
Bárbara fez. Vou devolver esse troço.
Terezinha: Eu também sou dona desse restaurante e não quero que
você devolva. Pode não ter sido ele, mas a falta de pulso dele em lidar com a
ex-mulher sim. Se você devolver, eu vou pessoalmente até o hotel em que ele
está hospedado e peço pra ele transferir pra minha conta.
Vera: Tá bom, comadre. Você tem razão. Depois eu agradeço ele pelo
dinheiro. Que saco!
No dia
seguinte, finalmente é chegada a hora de desmascarar Bárbara.
Iná: Filha, vamos?
Priscila: Sim, mãe. Só estamos esperando o Vitor.
Iná: Quem vai no nosso carro?
Priscila: Eu, a senhora, a Ellen dirigindo e o Vitor.
Iná: Tudo bem. O Vitor chegou, vamos lá.
Já na casa de
Vera, Manoel passava para dar carona.
Manoel: Já podem entrar.
Vera: Vai eu, você, o Tiago, a Tatiana e a Lívia. Cabe todo mundo
no carro?
Manoel: A Lívia vai?
Vera: Sim, passamos para buscar ela na casa dela. Pode ser?
Manoel: Claro. Cabe todo mundo. Você me guia até a casa dela?
Vera: Sim. Manoel, só uma coisa antes de entrarmos no carro.
Manoel: O que?
Vera: Obrigada pelo dinheiro. Você não tinha obrigação nenhuma,
mas eu agradeço. Acho que vamos reabrir na terça o restaurante. Você pode comer
de graça sempre que quiser aqui.
Manoel: De nada, Vera. Você sabe que eu me sinto culpado pelo que
a Bárbara fez. Mas, de qualquer maneira, aceito sim seu convite. Seu tempero é
único.
Vera e Manoel
sorriem e entram no carro, partindo para buscarem Lívia e em 20 minutos chegam
à casa dela.
Lívia: Bom dia pra todos. Bom dia, Manoel (diz ela, totalmente sem
graça).
Manoel: Bom dia, Lívia. Olha, venha aqui na frente. Você ainda
deve estar se recuperando do parto e...
Lívia: Não, estou bem já. Fiz parto normal justamente pra me
recuperar mais rápido. Mas vou ficar aqui mesmo.
Manoel: Bom, vamos lá.
Todos chegam ao
local combinado. Vera liga para Mateus.
Vera: Filho, estamos aqui no estacionamento já. Estamos te vendo
pelas câmeras e vamos subir assim que ela tiver confessado tudo.
Mateus: Tudo bem. Ela me ligou e já está no prédio, já liberei pra
ela subir.
Vera: Sim, ela está subindo agora, acabamos de ver ela entrando.
Vou desligar.
Mateus: Ok. Tchau.
Lívia fica
visivelmente irritada ao saber que Mateus está do outro lado da linha e ao
mesmo tempo nervosa por ver Bárbara.
Lívia: Essa é a tal Bárbara?
Tiago: Ela mesmo. Um capeta.
Já alguns
metros acima do estacionamento, finalmente Bárbara se encontrava com Mateus.
Mateus: Olá, Bárbara.
Bárbara: Olá, Mateuzinho. Posso entrar?
Mateus: Não seja ridícula, você sabe que deve.
Bárbara: Bom, espero que a conversa de hoje seja bem mais atrativa
pra mim do que a última que tivemos.
Mateus: Olha, Bárbara. Eu queria te pedir desculpas. Eu me
exaltei.
Bárbara: Aham...
Mateus: Fiz coisas que não devia.
Bárbara: Aham...
Mateus: Nós precisamos encontrar uma solução para sairmos dessa enrascada.
Quanto à morte da Vânia, já sabemos que a Lívia vai acabar levando a culpa...
Bárbara: Pois é, não é? Eu tive que dar um jeito numa situação que
você não soube controlar dentro da sua própria casa.
Mateus: Quem trouxe a Vânia pro nosso plano foi você! Mas, enfim,
nada disso importa agora.
No carro...
Ellen: Ela confessou! Confessou que matou a Vânia.
Manoel: Ouviram o que a Ellen disse no celular? A Bárbara
confessou que matou a Vânia!
Lívia: Ainda bem! Disso ao menos eu me livro.
Vera: Vamos ouvir o resto da conversa.
No
apartamento...
Bárbara: Como você vai se livrar do caso do Bruno?
Mateus: Como nós vamos, não é?
Bárbara: Como assim? Mateus, não banque o inocente, sabemos muito
bem que foi você que matou o Bruno, já que ele sabia que você matou o doutor
Eugênio.
Mateus: Não foi só isso! Você sabia que ele espancava a minha
irmã? Ninguém mexe com alguém da minha família, especialmente as mulheres! Eu
nem sabia que o Bruno tinha me caguetado pra você em troca de alguns reais.
No carro...
Lívia: O Mateus matou o meu pai? Não, ele morreu num latrocínio! O
que ele está falando, Vera?
Vera: Eu não sabia disso, Lívia. Juro pra você! Disso eu não
sabia!
Lívia: Meu Deus, ele é pior do que eu pensei algum dia que ele
pudesse ser. Matou o meu pai, que sempre o tratou bem!
No
apartamento...
Bárbara: Ele que me procurou, eu nem sabia da existência dele. O
fato é, a corda esta arrebentando mais para o seu lado do que pro meu. O que
você pretende fazer?
Mateus: Sobre o Bruno eu realmente não sei. Precisamos chegar numa
solução.
Bárbara: Você ainda tem a morte da Fernanda!
Mateus: Isso já está resolvido, não tem o porquê de tocarmos
nisso! Foi um acidente, você bem sabe.
Bárbara: Eu sei, mas e o resto das pessoas? A família dela e a sua
família?
Mateus: Só vai acontecer algo se você der com a língua nos dentes.
Bárbara: Se você me ajudar a empurrar a culpa da morte da Vânia
para a Lívia, eu te ajudo. Tenho conhecidos influentes que podem me ajudar.
Mateus: Bárbara, não é justo. Precisamos encontrar uma outra
saída!
Bárbara: Sabe, Mateus, não sei se vai dar tempo de fazer alguma
coisa pra salvar a mãe da sua cria.
Bárbara diz
isso retirando uma arma de dentro da bolsa.
Mateus: O que é isso, Bárbara? Tá ficando louca, mulher!?
Bárbara: Acho que está na hora de você fazer uma visita à sua
amada Fernanda no inferno e quem sabe já ficar por lá.
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GANCHO: DON’T LOOK BACK IN ANGER (Oasis) -----------------------------------------
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