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Lívia: Pois então conte.
Mateus: Quando eu tinha 4 pra
5 anos o meu pai conseguiu um emprego muito bom de zelador no hospital da sua
família. Aquele emprego veio em ótima hora, pois minha mãe não conseguia
emprego e há algum tempo meu pai também havia perdido o emprego porque algumas
empresas faliram na época do Collor e uma delas foi onde meu pai trabalhava de
operador de empilhadeira.
*FLASHBACK*
Marcos: Vera, eu consegui! Começo no hospital semana que vem
mesmo. Tenho que correr com as coisas agora, os documentos pra contratação e
tudo mais.
Vera: Que benção, meu amor! Nossa, vou avisar à dona Rosa que
vamos pagar os meses atrasados de aluguel.
Mateus: Vou poder comprar carrinho, pai?
Marcos: Claro, meu filho. Vamos voltar a ter uma vida digna.
*FIM DO FLASHBACK*
Lívia: Você matou meu pai
porque ele deu um emprego pro seu pai? Entendi...
Mateus: Não seja sonsa, Lívia!
Claro que tem muito mais coisa.
Lívia: Você nunca me disse que
teu pai trabalhou no hospital. Que história é essa agora?
Mateus: Você vai ver que tem
muita coisa que eu não te contei e tenho como provar. Deixa eu continuar.
Lívia: Fala logo então.
Mateus: Quando o meu pai
começou a trabalhar no hospital, ele logo de cara se simpatizou com a sua mãe,
a dona Helena.
Lívia: Minha mãe?
Mateus: Sim. O meu pai pelo
jeito era uma pessoa agradável de se conversar. Simples, mas sabia como tratar
uma mulher. O seu pai sempre foi seco e frio com a sua mãe. Como meu pai ficava
muito tempo no hospital e sua mãe também, eles acabaram tendo um caso.
Lívia: Minha mãe traiu meu
pai? Não! Nunca que isso teria acontecido! Minha mãe era uma mulher de
respeito! O que você está falando é invenção e mentira!
Mateus: A sua mãe era sim uma
mulher boa, mas ela não aguentava a merda que era ter se casado com o seu pai.
Lívia: Minha mãe não ia se
envolver com um homem tão mais novo que ela, Mateus. Se teu pai tivesse vivo
ele teria quase 50 anos e minha mãe morreu com mais de 60.
Mateus: Por que não? Da onde
você tirou isso?
Lívia: Não sei. Eu... eu...
Mateus: Deduziu errado, Lívia.
A sua mãe engravidou do meu pai.
Lívia: O que? Não me diga que
o bebê que minha mãe perdeu era filho do Marcos?
Mateus: Não. O Eugênio
descobriu a traição e obrigou a sua mãe a abortar a criança. Essa outra
gravidez que teoricamente era a sua, o bebê era filho do Eugênio.
Lívia: Minha mãe disse que
tinha perdido um filho alguns meses antes de descobrir que estava grávida de
mim, mas nunca imaginei que fosse isso.
Mateus: O seu pai tentou
acabar com o casamento do meu pai contando para a minha mãe o que aconteceu.
*FLASHBACK*
Eugênio: Vera?
Vera: Eu mesma.
Eugênio: Sou Eugênio Veloso, dono do hospital Ângela Veríssimo e
patrão do seu marido.
Vera: Sim, ele já me falou do senhor. No que posso ajudar.
Eugênio: Você sabia que o seu marido e a minha esposa tiveram um
caso?
Vera: O que? Que loucura é essa agora?
Eugênio: Enquanto você se mata de trabalhar em casa fazendo
empadão pra vizinhança e cuidando do filho de vocês ele fica mexendo com a
mulher dos outros.
Vera: Não é possível. O Marcos é um marido excelente e...
Eugênio: E a senhora é uma chifruda.
Vera: O senhor me respeita! Eu não sei nem porque ainda estou lhe
ouvindo. Com licença!
*FIM DO FLASHBACK*
Mateus: Minha mãe voltou
possessa pra casa.
Lívia: Eu imagino. E entendo o
lado dela.
Mateus: Mas ela e o meu pai
fizeram as pazes e, pelo que me lembro ele terminou o caso com a sua mãe. O seu
pai ficou furioso com isso e quando eu era criança a única coisa que me lembro
é de uma briga entre meu pai e minha mãe e ela desesperadamente pediu para o
meu pai não fazer algo contra o seu, mas ele não ouviu minha mãe e acabou
espancando o seu pai.
FLASHBACK
Vera:
Marcos, por favor, você vai destruir a sua vida e a nossa!
Marcos:
E o que você quer, Vera? Que eu deixe isso passar em branco?
Vera:
Eu sei que é doloroso pra você, mas por favor faça isso por mim e pelo Mateus!
O doutor Eugênio nunca deixaria isso ficar barato!
Marcos:
Isso é o que vamos ver!
Marcos pega as chaves do carro e vai em
direção ao hospital em que trabalha. Ele entra sem bater na sala de Eugênio.
Sem cerimônias ele vai direto ao ponto:
Marcos:
Seu filho da puta, quem você pensa que é?!
Eugênio:
Olha lá, rapaz, você está se dirigindo ao dono deste hospital, seu patrão e não
aqueles faveladinhos que vivem com você!
*FIM DO FLASHBACK*
Mateus: Meu pai foi preso por
isso e o seu pai mandou matar ele na cadeia. O meu pai morreu a mando do seu
pai, Lívia!
Lívia: Como é que você lembra
de tudo isso se só tinha 4 anos?
Mateus: Algumas coisas eu
lembro mesmo e outra é porque eu peguei a minha mãe e a tia Terezinha
conversando sobre isso anos mais tarde, quando eu já era adolescente!
Lívia: Não. Não é possível
isso, esse não é o Eugênio que eu conheço!
Mateus: Mas é o Eugênio
verdadeiro!
Lívia: O seu pai também não é
nenhum santo. Por que se sujar por esta briga entre os dois?
Mateus: Meu pai não matou
ninguém! Meu pai não obrigou a sua mãe a ter um caso com ele! A única pessoa
que meu pai realmente ofendeu foi a minha mãe, mas ela o perdoou. O seu pai
ficou com raiva por que ele achou que ia destruir a nossa família e viu que só
a fortaleceu mais!
Lívia: Isso não pode ser
verdade! É por isso que você me escolheu? Pra tomar posse do que era do meu
pai?
Mateus: Talvez.
Lívia: E aí você prejudica uma
pessoa que não tem nada a ver com a história.
Mateus: Confesso que te odiava
mais quando achava que você tinha o mesmo sangue daquele bosta. Depois eu
apenas fiquei indignado.
Lívia: Indignado com o que?
Mateus: Com o fato de que você
não merecia nada daquela fortuna. Você não era herdeira legítima dele.
Lívia: Você é burro ou se faz?
Ele me adotou e eu tenho todos os direitos de filha!
Mateus: Até a sua adoção foi
errada. Cadê o documento? Você saiu do hospital como se tivesse sido parida
pela Helena.
Lívia: E quem é você pra
contestar o meu direito ao que era do Eugenio e da Helena?
Mateus: Realmente, eu não sou
a melhor pessoa pra contestar nada, mas num mundo como esse acho que certo e
errado são conceitos bem maleáveis, não são?
Lívia: Pra pessoas sem caráter
como você sim.
Mateus: Se você tem tanto
caráter, por que não doa o seu patrimônio para a caridade, já que tu não tem
direito a nada? (gritando)
Lívia: Eu já disse que tenho
direito! Você fica se fazendo de burro, Mateus? (gritando)
Mateus: Então já que você é a
senhora da justiça, pega a merda desse patrimônio todo e divide com a Tatiana e
com o Tiago!
Lívia: O que você falou?
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GANCHO: MEMÓRIAS (Pitty) ---------------------------------------------
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