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Na casa de
Lívia e Mateus:
Lívia: Alice, que horas são?
Alice: Passou das 17h, dona Lívia.
Lívia: Nossa, estou atrasada para ir à casa da minha sogra. Você
arruma o Bernardo? Vou me arrumar rapidinho e sair com ele.
Alice: Claro, pode deixar.
Lívia: O Mateus ligou?
Alice: Ele está no seu quarto, não? Ele veio de tarde, mas não o
vi sair.
Lívia: Deve ter voltado pro hospital. Bom, deixa eu me arrumar
logo.
Vera: Cadê me celular? Eu vivo perdendo esse troço! Ah, está aqui.
Alô?
Mateus: Mãe?
Vera: Mateus? Onde você está?
Mateus: No apartamento que eu disse que alugaria. Paguei mês
adiantado pra não suspeitar que eu sairia tão cedo.
Vera: Ok e que horas você vai encontrar a cobra?
Mateus: Sábado na hora do almoço.
Vera: Ok, ligarei para o Manoel avisando. Depois a filha dele vai
aí pra instalar as câmeras. Não precisa de nada pra ela, ela já tem tudo.
Certo?
Mateus: Certo. Bom, só liguei pra isso mesmo. Até depois.
Mateus desliga,
senta no chão e começa a pensar no que seriam seus próximos dias. Pega uma foto
de Bernardo, tirada ainda na maternidade e deita no chão duro do apartamento.
Vera liga para
Manoel.
Vera: Manoel, o Mateus está num apartamento. A partir de hoje não
ficará mais com Lívia e Bernardo. Ele marcou um encontro com a Bárbara na hora
do almoço no sábado e acho que seria a hora ideal para pegarmos essa mulher.
Manoel: Que notícia excelente, Vera! O que acha de instalarmos as
câmeras e ficarmos atentos para não deixar ela escapar de lá? Posso ver com a polícia
e fazer uma denúncia. Ela vai tentar fazer algo contra o Mateus e precisamos
pensar na segurança dele.
Vera: Sim, estou te ligando justamente para vermos isso. Fale com
a Ellen.
Manoel: Certo. Bom, depois te mando uma mensagem confirmando tudo.
Beijos.
Vera: Abraço. (Diz Vera, com a voz séria).
Ellen liga para
Tiago.
Ellen: Ti, recebi uma mensagem do meu pai mandando um endereço
onde seu irmão está morando para que eu instale câmeras. Precisamos dar um
basta na minha mãe.
Tiago: Estou sabendo. Minha mãe está péssima. Passou o dia inteiro
abatida. Claro que a separação do Manoel ajuda, mas o Mateus é o principal.
Ellen: Sabe, estou tão chateada. Gosto dos dois juntos. Queria
poder fazer algo.
Tiago: Melhor deixar eles se resolverem, minha mãe mesmo odeia se
meter nas nossas vidas privadas e odeia o contrário também, que nos
intrometamos na vida dela.
Ellen: Sim, você está certo. Bom, mas eu gostaria de saber se você
não iria comigo. Não sou intima do seu irmão e acho que seria menos
constrangedor ter alguém em comum lá e você é a pessoa perfeita.
Tiago: Vou sim, eu passo aí na sua casa e aí vamos lá.
Ellen: Combinado. Beijo.
Tiago: Outro. Tchau.
Na casa de
Vera, Lívia chega.
Lívia: Olá, Vera. Tudo bem?
Vera: Tudo. E com você?
Lívia: Estou ótima. Me recuperando ainda.
Vera: Veio dirigindo?
Lívia: Não, estou pegando taxi apenas. Vou deixar a recuperação
ser completa.
Vera: Que bom. Olha, meu netinho, que coisa mais linda. Vamos
entrar?
Lívia: Claro.
Vera fecha a
porta.
Lívia adentra a
casa de Vera e se depara com Manoel e Iná na sala.
Lívia: Olá, boa noite.
Manoel: Boa noite.
Iná: Olá.
Lívia: Quem são vocês?
Vera: Esses são Manoel e Iná, Lívia. O Manoel é meu namorado. Quer
dizer... bem a Iná é uma amiga nossa e uma antiga conhecida do Manoel.
Lívia: Me lembro desse nome, Manoel. Deve ter sido o Mateus que
falou algum dia. Iná eu não me lembro, mas seu rosto me é familiar.
Iná: Nos vimos no hospital um dia em que meu filho foi internado
porque teve uma intoxicação com glúten.
Lívia: Sim, acho que foi no hospital. Ele está bem?
Iná: Está sim.
Lívia: Que bom. Foi bem atendida? Sério, eu prezo muito pelo bom
atendimento no hospital. Sabe, meus pais me deixaram o hospital, mas eu nunca
fui muito boa em administrar, quem cuida mais desta parte é o Mateus, meu
marido, filho da Vera. Mas, eu sempre procuro saber como está sendo o
atendimento e...
Vera: Bom, vamos sentar?
Lívia: Vamos. Está tudo bem, Vera? Está com uma cara estranha.
Como vamos falar sobre o aniversário do Mateus, pensei que era pra ser algo
mais alegre.
Vera: Lívia, não viemos para falar sobre isso. Na verdade
precisávamos ter essa conversa antes, mas aí você deu a luz ao Bernardo e
acabei adiando.
Lívia: Algum problema com o Mateus? Ele está bem?
Vera: Também é com ele, mas é principalmente sobre você. Sente-se.
Lívia senta com
uma cara de medo e desconfiança.
Vera: Lívia, você nasceu em junho de 1992 no hospital Ângela
Veríssimo mesmo, não foi?
Lívia: Sim. Foi lá que eu fui abandonada pela minha mãe e adotada
pelos meus pais.
Vera: Está certo. Bom. Manoel, você quer falar?
Manoel: Lívia, quando eu era jovem, tive um namoro com a Iná e foi
algo de alguns meses. Ela trabalhava na minha casa e lá nos conhecemos. Nos
separamos, brigamos muito antes e depois disso. Depois de um tempo ela
descobriu que estava grávida.
Iná: A mãe do Manoel, dona Odete, me convenceu a não contar logo
pra ele e que na hora certa eu iria fazer valer os direitos da criança que eu
estava esperando, então, eu nunca comentei com o Manoel isso. Quando minha
filha nasceu, ela nasceu morta.
Lívia: Nossa, que pesado. Mas, desculpa, eu queria saber o que
isso tem a ver comigo.
Manoel: Alguns meses atrás uma enfermeira que trabalhava no Ângela
Veríssimo me mandou um e-mail dizendo que a minha filha com a Iná não tinha
morrido. Eu nem se quer sabia do que se tratava no e-mail e descobri tudo indo
visitar essa senhora num asilo. Só que ela morreu antes mesmo de me contar
tudo, mas o que ela me contou foi o suficiente pra eu procurar a Iná depois.
Minha mãe na verdade de alguma maneira fez com que a minha filha saudável fosse
trocada por um bebê que tinha nascido morto, de outra mulher.
Lívia: Espera, agora estou entendendo. Vocês estão querendo me
dizer que...
Iná: Escuta, nós não estamos afirmando nada. Estamos contando a
nossa história para ver se ela bate com a sua. Se você está reconhecendo é
porque bate!
Lívia: A Minha mãe adotiva tinha perdido um bebê com poucos
minutos de vida no mesmo dia em que eu nasci.
Iná: E ele tinha síndrome de down, não tinha?
Lívia: Isso eu já não sei, ela não me deu detalhes antes de
morrer. Não faz muito tempo que ela morreu e ela só me contou quando estava
prestes a morrer. Olha, eu ainda não consigo digerir isso. Vocês realmente
estão afirmando que...
Vera: Lívia, me escuta. A Iná e o Manoel podem ser os seus verdadeiros
pais.
Lívia fica de
boca aberta.
Ellen: Sabe, não estou bem indo ao encontro do seu irmão. Só de
imaginar que ele pode ter atrasado tanto o encontro do meu pai e da Iná com a
filha deles e ter me privado de ver minha possível irmã.
Tiago: Acho que você fez certo em me chamar. Não pense que é fácil
pra mim. Eu sempre achei estranho essa relação do Mateus com a Lívia, mas tem
algo de bom nessa história agora.
Ellen: O que?
Tiago: Já percebeu que o Bernardo é sobrinho de todo nosso grupo?
O mesmo grupo que ajudou a Lívia a ir para o hospital?
Ellen: Nossa. É verdade, nem tinha parado para perceber. Eu, você,
Priscila e Vitor somos tios do Bernardo de um jeito ou outro.
Tiago: Tem a Tatiana ainda, apesar de não ser do nosso grupo é
mais uma tia.
Ellen: Olha, chegamos.
Ellen interfona
para o apartamento de Mateus se identificando e é autorizada por ele a subir.
Mateus: Olá, Ellen. Pode entrar... Tiago?
Tiago: Olá, Mateus.
Mateus: Vamos. Entre também.
Tiago: Ellen, enquanto você vai colocando as câmeras eu vou
conversar um pouco com o meu irmão.
Ellen: Tudo bem. Mateus, só peço que quando a minha mãe vier, você
converse com ela só na sala ou no máximo no seu quarto. No banheiro é
impossível instalar uma câmera que tenha um bom campo de visão, pois ele é
pequeno.
Mateus: Pode deixar. Vem cá, foi você que instalou as câmeras na
casa da sua mãe?
Ellen: Sim.
Mateus: Onde você colocou a câmera do banheiro de lá?
Ellen: No aparelho de odorizador de ar. Eu tirei ele e aproveitei
a carcaça.
Mateus: Nossa. Bom, faça o seu trabalho.
Mateus puxa
Tiago para conversar em seu quarto.
Tiago: E então, Mateus?
Mateus: E então o que?
Tiago: Como você está se sentindo?
Mateus: Encurralado. Eu não tenho saída. Ao menos quero levar essa
vadia junto pra cadeia.
Tiago: Como que você foi se envolver com essa mulher, cara?
Mateus: Ela me abordou um dia, ouviu uma conversa minha e entendeu
que eu não queria que a Lívia encontrasse os pais dela. Daí a gente fez uma
aliança. Foi isso.
Tiago: E o Bruno? Por que o Bruno, cara?
Mateus: Tiago, na hora certa você vai saber de tudo e o porquê.
Tem muito mais coisa, meu irmão, que vocês não sabem. Eu não sou tão sem motivo
como a Bárbara é. Tudo o que eu fiz tem uma razão. Pode não ser a mais justa,
mas tem!
Tiago: A mãe está destruída, Mateus. Um caco. Ela brigou com a Iná
por causa de você. Se separou do Manoel por causa disso também.
Mateus: Tiago, eu sei! Mas, o que eu posso fazer agora? Já estou
me entregando e puxando a Bárbara também. Em breve a Lívia vai ficar sabendo de
tudo. Ela vai me odiar! Eu não vou ver meu filho crescer porque estarei na
cadeia. Eu juro que estou tentando, mas não sei o que fazer mais.
Tiago: Você está certo, não há mais o que se fazer. Boa sorte,
Mateus. Apesar de tudo eu te amo, embora eu ainda estou sem acreditar que tu
fez aquilo com o Bruno.
Mateus: Escuta, Tiago! Eu não vou sair livre dessa, mas te peço
uma coisa: Cuide da nossa mãe, cuide da
Tatiana e olhe pelo Bernardo por mim. Não quero te jogar responsabilidades, mas
você sempre foi um cara responsável e ponta firme. Cuida da nossa família. Do
seu jeito, certinho e dentro das regras, mas cuide.
Tiago: Você sabe que nem precisava me pedir isso, não é?
Mateus e Tiago
dão um abraço e choram. Ellen fica mal vendo a cena, embora não consiga totalmente
se desprender da raiva que estava sentindo de Mateus.
Ellen: Bom, terminei de instalar.
Mateus: Já?
Ellen: Eu trouxe tudo pronto nesses vasos aqui. Cuidado pra não
quebrar. Vamos, Tiago. Ah, Mateus, meu pai pediu pra eu te entregar isso.
Mateus: O que é?
Ellen: Um colete a prova de balas. Não me pergunte como ele
conseguiu, mas esteja preparado, minha mãe não está pra brincadeira.
Tiago: Vamos. Mateus, até algum dia. Te amo, irmão.
Mateus: Até algum dia, Tiago. Até algum dia...
Lívia confronta
Vera.
Lívia: Vera, você tem noção da gravidade do que você está falando?
Isso é sério! Não brinca com isso!
Vera: Claro que eu tenho. E mesmo tendo tanta certeza, eu não
estou afirmando nada. A gente vai ter que conversar melhor ainda e fazer o tal
do DNA, mas eu sei que o que estou falando é com lógica.
Manoel: Lívia, tente se acalmar.
Lívia: Se isso tudo é verdade, como que vocês nunca me procuraram
depois que descobriram da minha existência? Que tipo de pais são vocês?
Iná: Nós a procuramos sim! Mais de uma vez e naquele mesmo
hospital.
Manoel: Nós falamos diretamente com o Mateus, seu marido!
Lívia: Impossível, o Mateus me falaria. Ele sabia o quanto eu
estava atrás dos meus pais biológicos.
Vera, Iná e
Manoel se olham constrangidos.
Lívia: Por que estão se olhando assim? O que vocês querem me
dizer?
Vera: Lívia, durante todo este tempo o Mateus te omitiu a busca de
Manoel e Iná pela filha desaparecida.
Lívia: O que?
Vera: Sim, ele queria continuar tendo um controle sobre você, sem
pais biológicos por perto. Lívia, é com muito pesar que eu te afirmo que o
Mateus nunca te amou realmente.
Lívia: Vocês estão brincando com a minha cara! O Mateus sempre me
amou, ama o nosso filho, sempre fez de tudo. A história de vocês é
inconsistente. Se fosse assim ele não teria deixado a Maria do Socorro que na
verdade era aquela tal de Vânia ter entrado na minha vida e me feito de idiota
fingindo ser a minha mãe, por algum motivo.
Manoel: O Mateus e a Bárbara colocaram a Vânia na sua vida. Não
foi por acaso e nem foi ela que arquitetou isso!
Lívia: Quem é Bárbara? Do que vocês estão falando?
Manoel: Bárbara é a minha ex-esposa, com quem eu fui casado por
mais de duas décadas. Ela pelo jeito sabia que você existia, mas nunca me
contou e quando eu fiquei sabendo ela deu um jeito de evitar também que eu a
encontrasse, primeiro por ciúmes e depois por raiva quando eu a larguei para
ficar com a Vera.
Iná: Lívia, o Mateus agiu junto com a Bárbara para evitar nosso
encontro. A Vânia ganhava para se fazer passar pela sua mãe, mas algo deu
errado.
Lívia: Eu descobri que ela era uma mentirosa que nunca se quer
tinha ficado grávida. Foi isso.
Vera: Não, apenas. O Mateus me contou hoje pela manhã que a Vânia
possivelmente foi morta pela Bárbara por que algo deu errado do que eles tinham
planejado. Acho que era pra Vânia ter desaparecido depois que você achou que
ela era sua mãe.
Lívia: Eu não acredito nessa coisa toda do Mateus estar tramando
por trás de mim. Eu vou embora e vou contar a ele que a própria mãe está o
difamando. Você sempre foi contra o meu casamento com ele. Pensei que tinha
mudado com a vinda do Bernardo, mas pelo jeito continua. Passar bem, Vera e não
me procure.
Manoel: Lívia, fique.
Iná: Lívia, pense no que falamos.
Vera: Se você está achando que estou mentindo, quando chegar em
casa veja o bilhete que o Mateus deixou para você embaixo do colchão do berço
do Bernardo. É só isso que eu te falo. Vá com Deus, Lívia.
Lívia sai
atordoada da casa de Vera com Bernardo e desde que pegou o taxi até chegar em
casa chorava baixinho, para não chamar atenção.
Em casa,
Bárbara abria uma caixa e de dentro dela tirava uma arma sem numeração.
Bárbara: Mateus, meu garotão. Você não sabe o presente que eu
tenho para depois de amanhã. A Vânia foi fichinha para o que vai acontecer com
você, seu moleque.
Já na sala da
casa de Vera...
Iná: Ela não acreditou na gente. E agora?
Vera: Iná, calma, ela apenas está em choque. Olha o quanto de
coisa despejamos nela sem ela se quer suspeitar.
Manoel: Concordo com a Vera, acho que tão breve ela vai voltar a
falar com a gente, principalmente depois que ela ver o bilhete do Mateus. Você
sabe o teor deste bilhete, Vera?
Vera: Teor?
Manoel: É. O que o Mateus escreveu especificamente?
Vera: Não. Só ele e depois a Lívia que saberão. Mas o que importa
é que isso vai fazer com que ela acredite na gente.
Lívia chega em
casa e diretamente vai ao berço de Bernardo. Dentro, como Vera havia combinado
com Mateus e dito à nora, estava o bilhete de despedida de Mateus.
“Lívia, quando ler este bilhete já estarei longe daqui e fora da
sua vida como marido. O que minha mãe contou a você hoje é verdade, eu nunca
realmente te amei, não do jeito que você gostaria ou merecia. Amo nosso filho e
é por ele que eu vou tentar corrigir toda a merda que fiz e impedir que algo de
ruim aconteça com você. Você não vai ser penalizada pela morte da Vânia, a
Bárbara vai pagar por tudo, assim como eu. Tenho certeza que o Manoel e a Iná
são seus pais, mas desta vez faça o teste de DNA antes. Não te peço perdão,
pois sei que você nunca me perdoará e nem deve. Uma hora você vai entender meus
motivos por ter escolhido você. Não foi apenas uma questão financeira, mas
olhando hoje eu vejo que você também foi tão vítima do destino quanto eu fui
quando meu pai começou a trabalhar no hospital da sua família a mais de 25 anos
atrás. Cuide do Bernardo por nós, possivelmente eu não verei ele crescer como
gostaria. Seja feliz do jeito que der.
Assinado: Mateus.”
Lívia cai no
chão, fraca pelo choque que acabara de sofrer e começa a gritar e chorar.
Lívia: Mateeeeeeeeus! Nãããão!!!!!!
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