DESTINO - Capítulo 10: Desconfiança






Ellen, que assistiu atônita toda aquela cena pergunta à mãe o porquê do silêncio.
Ellen: Mãe, por que vocês pararam de discutir quando falaram da vovó?
Bárbara: Filha. Algo estranho aconteceu. O seu pai nunca falou mal da sua vó. Não neste tom. Não com essas palavras. Alguma coisa ele ficou sabendo para falar desse jeito.
Ellen: O que será?
Bárbara: Não sei, minha filha, mas eu vou descobrir.
Bárbara sabia de tudo o que Odete tinha feito no passado para afastar Manoel da filha bastarda, mas não sabia do fim dado à menina. Seu temor era que a menina aparecesse e tivesse direito a herança da família de Manoel, além da atenção que até então era exclusiva de Ellen.
Bárbara: Não é possível! Não, esta história está encerrada.

Manoel não dormiu em casa naquela noite.
Ellen: Tem certeza de que não vai ficar em casa?
Manoel: Ao menos por hoje não, filha. Fique bem.
Ellen: O senhor também. Precisando é só chamar.

Manoel dormiu num hotel no centro da cidade e bem cedo saiu para trabalhar. Ao andar pela Rua Marechal Deodoro ele esbarra numa senhora e derruba sua pasta com arquivos do trabalho.
Manoel: Meu Deus! Não pode molhar, se não estou perdido.
Vera: O senhor me desculpe, eu tentei desviar, mas o senhor estava andando meio torto.
Vera e Manoel se olham e por alguns segundos não conseguem tirar o olho um do outro.



Manoel: Tudo bem, eu fui o culpado, estou com a cabeça nas nuvens.
Vera: Eu vou lhe ajudar.
Manoel: Obrigado. Você sabe onde tem um lugar pra tirar xerox por aqui?
Vera: Sim, tem um lugar próximo ao armarinho aonde eu vou, se quiser posso te mostrar onde é.
Manoel: Eu aceito ajuda. Eu quase não ando à pé pelo centro, então não conheço as coisas por aqui.
Vera: Sem problemas. Eu venho pra cá com frequência pra pegar alguns temperos que uso no meu restaurante.
Manoel: A senhora tem um restaurante? Que legal. É comida típica ou comida normal?
Vera: Comida normal mesmo. Faço muita marmita pra fora. Estou aqui, mas a minha cunhada está lá cuidando de tudo. Antes das dez da manhã eu volto pra lá.
Manoel: É longe daqui?
Vera: Não acho. Já ouviu falar do Capão da Imbuia?
Manoel: Sim, realmente não é longe.
Vera: De carro é rápido, mas eu ando só de ônibus, então demora mais até lá. Olha, chegamos.
Manoel: Obrigado pela ajuda. Qual seu nome?
Vera: Vera.
Manoel: Prazer em conhecê-la, Vera. Me chamo Manoel. Você tem cartão do seu restaurante?
Vera: Tenho, mas não aqui na bolsa. Faz o seguinte, anota meu telefone.
Manoel: Pode me passar o celular?
Vera: O celular não, moço.
Manoel: Desculpa, a senhora deve ser casada e eu sendo evasivo.
Vera: Não, não sou casada. Sou viúva. É que celular é tão pessoal, né?
Manoel: Eu pensei em anotar para ter seu whatsapp. É mais rápido. Você tem whats?
Vera: Tenho sim, me embaralho toda pra mexer nele, mas meus filhos me ajudam. Anote aí então.
Manoel anota o número de Vera e os dois se despedem.
Manoel: Tenha um bom dia.
Vera: O senhor também.
Vera acha graça em toda a situação e Manoel sente uma leveza na alma em ter conversado com aquela mulher simples, tendo a impressão de que todo o transtorno da noite anterior foi superado por aqueles breves sete minutos.

Voltando para casa Vera encontra Mateus a esperando.
Vera: Ué, filho. Por que tão cedo aqui? Eu nem abri o restaurante ainda.
Mateus: Eu levei a Lívia pra uma consulta no Alto da XV e resolvi passar aqui enquanto ela fica por lá.
Vera: Não pode. Deveria ficar com a sua esposa.
Mateus: Eu sei, mas eu já estava com saudades da senhora.
Vera: Que bonitinho! Você faz esta mesma cara desde que era criança. A mesma cara que seu pai fazia.
Mateus: Pois é. Eu sinto falta dele.
Vera: Eu também, meu filho, mas temos que ficar com as lembranças boas.
Mateus: Meio difícil.
Vera: Mas temos, a vida não pode ficar estacionada enquanto o tempo passa. Você é tão jovem, bonito, inteligente, agora bem sucedido. Não deixe que o passado impeça você de viver o presente.
Mateus: Eu sei, mãe. É difícil. Daqui alguns meses meu filho vai nascer e eu fico pensando se vale a pena desistir de tudo por ele.
Vera: Eu acho que vale. E agora que você sabe que ele nem tem o sangue daquele desgraçado do Eugênio é mais um motivo pra você recomeçar.
O celular de Mateus toca e ele se levanta.
Mateus: A Lívia me mandou mensagem no whats. Preciso ir buscá-la.
Vera: Tudo bem, já que você não vai conseguir almoçar aqui, toma uma porção de sobremesa pra vocês dois. Pudim de coco, que você tanto gosta.
Mateus: Obrigado, mãe. Mãe, posso te fazer uma pergunta?
Vera: Claro, meu filho.
Mateus: Você me acha uma má pessoa?
Vera: Mateus, eu sei que várias vezes já te disse palavras duras, mas quero que você saiba que eu acho você um ser humano incrível. Acho que você faz tanta coisa errada na vida justamente por ter um sentimento de justiça muito forte. Eu só não quero que você acabe pagando por isso ou outros inocentes paguem também. Pense nisso, meu filho.
Mateus: Te amo mãe.
Mateus dá um abraço em Vera e se despede. Somente com Vera ele deixava seu lado fraco aflorar, na relação entre mãe e filho não havia mentiras, segredos ou enrolações, tudo era cru, puro e verdadeiro.

Já naquele mesmo dia, voltando para casa, Manoel é confrontado por Bárbara.
Bárbara: Onde você passou a noite, Manoel.
Manoel: Boa noite pra você também, Bárbara.
Bárbara: Manoel, ficamos preocupadas. Você não atendeu os nossos telefonemas.
Manoel: Você acha mesmo que eu acredito que você se preocupa comigo? A Ellen eu até acredito, mas você, com certeza não. E outra, já ouviu falar no ditado de que “notícia ruim corre rápido”? Se tivesse acontecido algo comigo você já estaria sabendo.
Bárbara: Manoel, posso conversar com você um negócio sério?
Manoel: Diga. Aproveite que eu estou de bom humor e paciente pra te ouvir.
Bárbara: Por que você falou com tanta agressividade ontem quando eu toquei no nome da dona Odete?
Manoel balbucia umas palavras na mente e fala.
Manoel: Porque você me deixou nervoso. Só por isso.
Bárbara: Não, você nunca se referiu à sua mãe como você se referiu ontem. O que está acontecendo?
Manoel: Simples, ela ficou me empurrando pra você e eu cai nesta armadilha dela. É só isso. Agora com licença que você já esgotou a minha cota de bom humor do dia. Santo Deus, quanta energia pesada!
Manoel sobe para o quarto e Bárbara pensa consigo mesma na sala.
Bárbara: Eu vou descobrir o que ele está escondendo de mim. Se não eu não me chamo Bárbara Pierini.

No dia seguinte Manoel vai discretamente ao escritório e liga para Iná sem citar o nome dela e combina de se encontrar com ela na casa dela.
Manoel: Já estou indo, logo chego aí. Até logo.

Quando estava saindo de casa Bárbara percebeu a movimentação e para não ser percebida por Manoel acaba chamando um Uber para segui-lo. Quando ela chega ao local de destino fica perplexa com o que vê.
Bárbara: Eu não acredito. Era isso mesmo. Ele descobriu, com certeza. Esses dois estão tramando pra encontrar a bastardinha!

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