DESTINO - Capítulo 09: Troca de farpas







Mateus larga o braço de Fernanda que assustada vai embora, enquanto Mateus também sai resmungando, mas pela direção oposta. Manoel comenta com Iná a cena.
Manoel: Você viu aquele cara? Pegando a menina pelo braço como se fosse uma mercadoria! Pena que ela foi embora, pois estimularia ela a denunciar ele na delegacia da mulher, com certeza deve ter deixado o braço dela roxo. Isso é agressão.
Iná: Nossa, você mudou mesmo. Quando te conheci você seria igual a ele, tão metido quanto. Pelo jeito você mudou mesmo.
Manoel: Eu vi algumas coisas na minha profissão que me deixaram um pouco estarrecido.
Iná: "Estarre" o que?
Manoel: Estarrecido. Perplexo, admirado. Coisas realmente horríveis, inclusive cheguei a trabalhar com mulheres vítimas de maridos violentos. Enfim, cenas bem lamentáveis.
Iná: Que bom que você se humanizou. Queria ter conhecido você desse jeito, mas enfim, se o Destino quis assim agora não adianta chorar pelo leite derramado.
Manoel: Eu só queria ter sido menos trouxa na vida.
Iná: Nós dois fomos. Agora temos que correr atrás do que é possível. Passado é passado.
Manoel: Você tem razão.

Mateus chega irritado no hospital para trabalhar e é surpreendido por Bruno, diretor de relações jurídicas do hospital:
Bruno: Mateus, você precisa falar com a Lívia.
Mateus: O que aconteceu com a minha esposa?
Bruno: Ela está fazendo uma lista enorme com pessoas que nasceram no mesmo dia em que ela nasceu e ela quer ligar para todas as famílias. O problema é que se isso vazar pode pegar mal pra imagem do hospital.
Mateus: Eu não acredito que ela está chegando neste nível. Pode deixar que eu vou falar com ela. Antes disso, só mais uma coisa, conseguiu preencher aquela vaga de assistente que você precisava?
Bruno: Tinha conseguido, mas o piá que ia trabalhar comigo conseguiu um emprego melhor e não assumiu a vaga. Pensei em chamar a segunda colocada na entrevista, mas ela também já conseguiu um emprego. Estou sem opções e vou abrir um novo processo.
Mateus: Não abra. Talvez eu consiga resolver este problema. Bom, vou lá falar com a Lívia.

Mateus passa correndo pelo corredor da ala administrativa e adentra a porta da sala de Lívia.
Lívia: Oi, meu amor. Deixa eu te mostrar uma coisa...
Mateus: Lívia, o que você acha que está fazendo?



Lívia: Por que esta grosseria, Mateus?
Mateus: Você acha que é assim que se faz? Pega e sai por aí ligando para as famílias?
Lívia: Mateus, você não entende, eu...
Mateus interrompe.
Mateus: Eu entendo que você quer passar a noção de que neste hospital a incompetência rola solta. É isso? Pensa bem, olha o escândalo! A própria dona do hospital foi vítima da incompetência. Por que se não conseguirmos chegar de maneira direta em quem te abandonou aqui é isso que vai dar a impressão.
Lívia: Você acha?
Mateus: Tenho certeza. Amor, vamos fazer o seguinte: faça a sua lista e aí vamos pesquisar por conta, mas sem ligar para as pessoas. Tudo bem? Pode ser assim?
Lívia: Pode ser. Na verdade eu estou pensando em tirar uma semana de férias longe daqui.
Mateus: Eu acho ótimo. Você está gravida. Precisa repousar. Olha, eu cuido de tudo por aqui e quando você voltar a gente começa juntos, pode ser? Você acabou de se formar em Medicina e acabou de perder a sua mãe. Você está exausta. Acho que você deveria ficar ao menos dez dias fora.
Lívia: Sabe, Mateus. Você tem razão. Acho que vou ficar um tempo na casa da minha prima em Buenos Aires.
Mateus: Isso. Vai te fazer bem. Tudo pela sua saúde e do nosso filho.
Lívia é convencida por Mateus a passar um tempo fora de Curitiba, o que lhe deixou muito confortável para fazer toda a pesquisa sozinho e poder evitar o encontro dela com seus verdadeiros pais.

Enquanto isso, o ambiente na casa de Manoel não era nada agradável e o jantar era algo torturante para este homem que havia mudado tanto nos últimos vinte e quatro anos.
Bárbara: Manoel, eu estava planejando as férias deste ano com a Ellen e queríamos saber o que você nos sugeriria.
Manoel: Não sei, vocês podem escolher qualquer lugar. Eu não vou viajar este ano.
Bárbara: Não vai por que?
Manoel: Por que não quero, Bárbara.
Bárbara: Ultimamente você tem ficado bem insuportável.
Manoel: E você sempre foi. E eu não vou passar férias com você. Ano passado você deu chilique no metrô de Nova Iorque. Me fez passar a maior vergonha.
Bárbara: A culpa não é minha! Aquele homem esbarrou em mim e eu pensei que ia ser assaltada.
Manoel: Você só fez barraco por que ele era negro, Bárbara! Da mesma maneira que você em 2010 reclamou do professor de Matemática da Ellen na escola só porque ele era gay.
Bárbara: Não era isso, ele estava querendo fazer apologia à viadagem para alunos tão novos!
Manoel: E qual é a sua justificativa para ter arranjado confusão com os vizinhos quando eles se mudaram pra cá ano retrasado?
Bárbara: Eles faziam muito barulho com aquela música horrenda.
Manoel: Horrenda por que era ruim ou por que você não gosta de pagode? Ou melhor, por que não gosta de ver que tem gente que pode crescer na vida e acabar dividindo muro com você?
Bárbara: Eles ouviam música muito alta, você sabe disso!
Manoel: A gente vivia ouvindo rock dos anos 80 e 90 no último nesta casa e você nunca se importou.
Bárbara: É diferente.
Manoel: Diferente...sei...
Bárbara: Claro que é.
Manoel: Bárbara, admita que você é racista, classista, homofóbica e tudo de ruim que eu posso citar. Que você afugentou a maioria dos amigos da Ellen com esse seu jeito estúpido.
Bárbara: Você se casou comigo sabendo como eu era, não sei o porquê da surpresa.
Manoel: EU MUDEI, BÁRBARA! AS PESSOAS MUDAM! SÓ VOCÊ SE COMPORTA COMO SE AINDA TIVESSE VINTE E POUCOS ANOS (diz Manoel gritando).
Bárbara: Não grita comigo, pois eu não sou uma qualquer. Você me respeita, Manoel!
Ellen: Parem os dois de gritar, por favor! (sendo ignorada pelos pais)
Manoel: Então você passe a respeitar os outros! Eu não aguento mais ouvir e ver tanta futilidade de você. Será que não é possível nada de bom sair de dentro de você?
Bárbara: Eu pensei que quando a dona Odete morreu tinha sido a fase mais chata da sua vida, mas parece que você está pior hoje.
Manoel: Não fala daquela desgraçada!
Neste momento Bárbara fica chocada com a maneira como Manoel se referiu à Odete e olhou fixamente para Manoel que abaixa a cabeça e sai da mesa de jantar.

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