DESTINO - Capítulo 01 : Sangue misturado



CENAS INICIAIS DA NOVELA: IMAGENS AÉREAS DA CIDADE DE CURITIBA ONDE O DESTINO RESERVOU SURPRESAS QUE MUDARÃO PARA SEMPRE A VIDA DE NOSSOS PERSONAGENS...




No café da manhã da família Pierini numa luxuosa casa no bairro Jardim Social em Curitiba sentam-se à mesa a matriarca, Odete e seu único filho, Manoel:

Odete: Bom dia, Filho.
Manoel: Bom dia, mãe. Dormiu bem?
Odete: Sim, tirando aquela dor nas costas que tem me atacado há dias, foi uma noite tranquila.
Manoel: Já foi ao médico este mês? Não adianta apenas reclamar.
Odete: Sim, fui no começo, mas penso em adiantar minha próxima consulta, pois as festas de fim de ano estão chegando e eu não quero passar o natal que nem uma velha com dor nas costas. Eu acabei de fazer 50 anos e não 70.
Manoel dá uma risada e fala:
Manoel: A senhora está ótima, dá de dez à zero em muita menina mais nova por aí.
Neste instante entra pela porta da sala de jantar a empregada Iná:
Iná: Bom dia dona Odete e Manoel. Fiz vitamina de mamão como vocês me pediram ontem. Espero que gostem.
Odete: Obrigada, minha filha. Pode se retirar.
Iná: Com licença.
Iná se desequilibra por conta de uma tontura e quase cai no chão. Manoel a segura e Odete questiona:
Odete: Você está bem? Já é a segunda vez esta semana que pego você com mal estar. Por favor, se não estiver se sentindo bem me avise que lhe dou alguns dias de férias.
Iná: Não, senhora. Não se preocupe. Estamos tendo um fim de ano muito quente e por isso estou desse jeito. Vou lavar o rosto e tudo ficará bem.

Iná sai da sala de jantar e neste instante Odete fala ao filho:
Odete: Bom, Manoel. Preciso sair. Tenho um compromisso.
Manoel: Mas, mãe, a senhora nem tocou na comida?
Odete: Pois é, mas me lembrei de que tenho uma reunião urgente às 8h com um dos acionistas da imobiliária. Depois que seu pai faleceu eu tenho que ver tudo isso, filho. Não vejo a hora de você se formar em Direito para eu poder ter sua ajuda.
Manoel: Ok, mãe. Boa reunião.

Odete pega o carro e se dirige ao centro da cidade, mas ao invés da imobiliária ela se dirige a um escritório de arquitetura. Lá ela encontra Bárbara, filha de um antigo casal amigo da família que também é sua afilhada:
Odete: Bárbara, precisamos conversar.
Bárbara: Mas agora, madrinha? Tenho um projeto urgente pra terminar até o fim da tarde de hoje. Os negócios da minha família estão péssimos e todo dinheiro que entra é bem vindo! 1991 não tem sido um ano fácil!
Odete: Está bom então, fica com o projeto de arquitetura e esqueça seu noivo.
Bárbara: Como?
Odete: Menina presta atenção no que eu vou te dizer: Não tenho mais dúvidas sobre a Iná. Aquela golpista está grávida e o filho muito provavelmente é do meu filho!
Bárbara: A senhora tem certeza? Como sabe disso?
Odete: Essa menina vive passando mal. Foram duas vezes na minha frente, mas a Vânia, a outra empregada, já me disse ter visto-a vomitar algumas vezes esta semana. Se o Manoel souber que a Iná está grávida vai querer casar com ela, pois ainda gosta daquele estrupício!
Bárbara: Não acredito! Eu lutei tanto pra ter o Manoel de volta pra mim! Já até noivamos! Não acredito que aquele espanador ambulante vai querer dar o golpe mais sórdido que uma mulher pode dar!
Odete: Calma, ainda podemos ter o controle da situação. Preciso dar um jeito de convencer a Iná a abortar esta criança.
Bárbara: Esquece, madrinha. Aquela matuta nunca faria isso. Pelo pouco que conheço dela ela seria capaz de criar a criança sozinha, mas nunca abortaria.
Odete: Então vou ter que usar o outro plano que pensei. Já sei o que farei e com quem contarei para isso. Logo entro em contato com você para falar da próxima etapa do meu plano de acabar com essa palhaçada de uma vez por todas.
Bárbara: Tudo bem esperarei ansiosa. Madrinha, você não tem algum amigo que precise de algum projeto de reforma?
Odete: Querida os meus amigos de verdade já estão longe dessa tentativa mal sucedida de país chamada Brasil. Se precisarem tem arquitetos franceses, ingleses e japoneses a disposição deles. Beijos, linda.

Odete se despede de Bárbara.
Sozinha, Bárbara fala para si mesma: Essa galinha caipira mal temperada não vai acabar com os meus planos!

Enquanto isso, na casa da família Pedroso, Vânia questionava Iná:
Vânia: Quando você vai contar para o Manoel que está esperando um filho dele?
Iná: Não sei se farei isso. Ele já demonstrou que não gosta mais de mim e possivelmente não vai gostar dessa criança.
Vânia: Sim, pode até ser, mas ela tem direitos. Hoje tudo se resolve com um exame de DNA. Não é sobre amor, mas sim sobre os direitos que esta criança vai ter.
Iná: A dona Odete vai me matar. Eu sei o quanto ela faz gosto do casamento do Manoel com a Bárbara e se eu soltar essa bomba na família agora eu vou colocar todo esse plano dela água abaixo.
Num repente Manoel entra na cozinha e pergunta:
Manoel: Que bomba você disse que vai soltar, Iná?



Iná fica pálida com a presença de Manoel e diz:
Iná: Estou falando sobre os direitos trabalhistas que a sua mãe me deve.
Manoel: Claro, minha mãe sempre disse que em caso de dúvidas você poderia procurá-la para esclarecimentos, mas você como uma boa oportunista prefere o caminho mais problemático.
Iná: Olha, Manoel, não estou aqui para discutir com você, até porque você não cuida de nada financeiramente e vive às custas da sua mãe e da herança do seu pai.
Manoel: Mas bem que você queria se aproveitar dessa herança, não?
Iná: Não estou a fim de ouvir mentiras. Com licença.
Vânia: Aonde você vai, Iná? (Pergunta Vânia)
Iná: Vou pra minha casa, Vânia. Avise a dona Odete que não estou bem. Se ela precisar eu volto depois.

Ao final da manhã, quando Odete volta para casa Manoel avisa a mãe sobre as pretensões de Iná.
Manoel: Ainda bem que a senhora chegou. A Iná está prestes a exigir os direitos trabalhistas dela.
Odete: Como assim? Ela te disse algo?
Manoel: Disse sim. Na verdade eu a peguei e a Vânia cochichando e ela acabou confessando.
Odete: Bom, não vou me precipitar, vai que ela está nervosa. Vou conversar com ela pra chegarmos num acordo, ela deve estar nervosa.
Manoel: A senhora é muito boazinha, eu já tinha demitido e pago logo esses direitos a ter que aguentar alguém que nem quer mais estar aqui com a gente. Ainda bem que a senhora e a Bárbara me abriram o olho antes a respeito dela.
Odete: Calma, filho. Também não é assim. Ela deve estar nervosa, vou falar com ela.

Odete prefere encontrar a empregada em sua casa, no Bairro Alto:
Odete: Com licença, Iná. Posso entrar.
Iná: Pode, dona Odete. Não repare a bagunça, mas eu não tenho tido tempo de arrumar isso esta semana.
Odete: Sem problemas. O Manoel me disse que você não estava bem e que também reclamou de direitos trabalhistas. Posso lhe ajudar em algo?
Iná: Dona Odete, me perdoe, mas eu desviei do assunto falando sobre direitos trabalhistas para que o Manoel não desconfiasse. Tem algo que eu preciso contar à senhora, pois sempre me tratou bem e acho injusto eu não abrir meu coração para você.
Odete: Pois então, minha filha, o que seria?
Iná: A senhora sabe que há alguns meses eu e o Manoel tivemos um caso, mas terminamos por conta das desconfianças dele em relação a minha honestidade. Mas, há alguns dias eu descobri que estou grávida e o filho só pode ser dele, pois ele foi meu único namorado desde que cheguei em Curitiba.
Odete: Santo Deus! Você tem certeza disso? (Odete finge-se de surpresa para Iná não desconfiar)
Iná: Sim. Fiz um exame de farmácia e um com um médico. Estou grávida de quatro semanas. Desculpa por tudo, juro que não quero ser uma oportunista na vida de vocês.
Odete: Por favor, minha querida, ninguém está lhe acusando disso.
Iná: A senhora não, mas o seu filho sim! Pretendo criar esta criança sozinha se for o caso.
Odete: Nunca! Essa criança é minha neta! Têm direitos! Não deixarei-a desamparada.
Iná: A senhora é uma santa mesmo! Ainda bem que Deus lhe colocou no meu caminho.
Odete: Conte comigo, meu anjo. Eu tenho uma ideia. Você se afasta lá de casa até a hora que o neném nascer. Neste meio tempo eu arcarei com tudo: médicos, exames, aluguel da sua casa, comida, etc. Quando a criança nascer nós contamos para o Manoel e fazemos o exame de DNA. Não que eu desconfie de você, mas quero que o Manoel tenha certeza para ele não reclamar. Registramos a criança e ela terá todos os direitos.
Iná: Será? Não seria melhor ele saber antes?
Odete: Sim, seria, mas ele já está de casamento marcado com a Bárbara e não quero que ele pense que você quer atrapalhar os planos dele. Podemos combinar assim?
Iná: Posso pensar e te responder em alguns dias?
Odete: Claro minha filha. O tempo que você precisar.
Odete se despede de Iná e vai para a casa.

Ao chegar ela se dirige à cozinha e pressiona Vânia:
Odete: Você já sabia, não é?
Vânia: Do que?
Odete: Da gravidez da Iná.
Vânia: Sim, mas achei que ela deveria falar com vocês sobre o assunto e não eu.
Odete: Tudo bem. Você vai me ajudar a convencê-la a manter esta gravidez escondida até o nascimento desta criança.
Vânia: E por que eu faria isso, dona Odete?
Odete: Porque você será muito bem recompensada por isso. Lembra daquele dinheiro que você precisa pra terminar a sua casa? Você pode tê-lo bem mais rápido e fácil do que imagina, caso aceite ser minha aliada.
Vânia: E porque isso?
Odete: Essa criança será trocada por outra no hospital em que eu escolherei para Iná dar à luz. Assim, quando o exame de DNA for feito será apontado que o filho não é do Manoel e nós nos livraremos daquela caipira pra sempre! E você terá sua casa pronta e quem sabe, se fizer tudo certinho, mobiliada também?
Vânia não resiste à proposta de Odete e faz a cabeça de Iná para que ela aceite a proposta da megera.
Vânia: Como prova de que sou uma funcionária fiel à sua patroa eu aceito.
Odete: Você é esperta. Sabe reconhecer uma boa oportunidade. Vem que eu te explico o que você fará...

Após a explicação, Vânia começou a fazer a cabeça de Iná.
Vânia: Amiga, eu se fosse você aceitava a proposta da dona Odete. Ela é a única que pode te ajudar a exigir do Manoel que ele assuma os deveres de pai e também a dobrar aquela tal de dona Bárbara.
Iná: Será, Vânia? Estou em dúvida!
Vânia: Ela está propondo custear todas suas despesas mesmo você se afastando do serviço aqui da casa dela. Essa mulher é uma santa!
Iná: Isso é verdade, ela tem me tratado tão bem, tem sido uma mãe pra mim.
Vânia: Então, menina! Aceita logo e dê um futuro melhor pro seu filho que vai nascer.

Os dias passavam e Iná, já não trabalhando mais na casa de Odete, vê sua barriga crescer faz planos para o seu filho e também recebe constantes visitas de Odete.
Iná: Mas o Manoel, por pior que seja, deveria saber que está pra ser pai. E a Bárbara, por mais idiota que seja, não merece receber essa notícia de que vai ter uma enteada.
Odete: Eu concordo com você, mas o Manoel está realmente convencido de que você é uma mentirosa e interesseira. Eu já te defendi varias vezes, mas ele é cabeça dura igual ao finado pai dele. Espere a criança nascer, assim nós faremos um teste de DNA e logo fica comprovado a paternidade dele e ele não terá o que questionar, até porque eu exigirei que ele seja presente na vida do meu netinho.
Iná: A senhora acredita em mim, né, dona Odete?
Odete: Claro, minha filha. Você é uma das melhores pessoas que conheci. Uma filha para mim.

Entre novembro de 1991 e junho de 1992, Manoel casa-se com Bárbara.
Bárbara: Vou te fazer muito feliz, Manoel. Eu prometo.
Manoel: Vamos ser muito felizes. Não vejo a hora de termos um filho juntos.
Odete: Isso mesmo. Quero logo netinhos correndo por aqui.
Vânia (resmungando): Nossa, que emocionante, escorreu uma lágrima de tanta verdade.
Odete: Disse algo, Vânia?
Vânia: Não, dona Odete, estou contando os talheres para a sobremesa.
Bárbara: Vem cá, cadê aquela empregada que trabalhava aqui? Aquela tal de Iná.
Odete: Nunca mais a vi, sabe? Saiu daqui chateada com questões trabalhistas, mas resolvemos tudo e acho que ela já deve estar em outra casa. Apesar de tudo a indiquei para um antigo amigo do seu pai, delegado de polícia.
Manoel: Não deveria. Deveria deixar aquela interesseira na sarjeta. A senhora é boa demais.
Odete: Filho! Não podemos ser vingativos. Temos que amar aos que nos ofendem, assim como Cristo nos ensinou.
Vânia: Eu fico tão emocionada com a sua devoção cristã, dona Odete.
Bárbara dá uma risadinha e Odete olha feio para Vânia que pede perdão e se retira.
Manoel: Essa tal de Vânia também é bem inconveniente, não é?
Odete: Meu filho, está cada vez mais difícil encontrarmos empregadas hoje em dia. Só o fato da Vânia não ser aquele tipo de empregada cheia de querer ter direitos já é motivo suficiente pra mantê-la aqui.
Bárbara: Daqui a pouco elas vão querer até carteira assinada! Imagina, somos uma família e não uma empresa, não podemos arcar com estas questões trabalhistas!
Odete: Espero estar morta quando este dia chegar.
Manoel: Credo, mãe. Bate na madeira!
Odete: Bem, agora que já almocei eu vou deixar vocês e vou visitar uma amiga. Até mais.
Manoel: Até, mãe.
Bárbara: Tchau, madrinha.

Odete cuida para que Iná mantenha a gravidez em sigilo.
Odete: Você está precisando de algo, Iná?
Iná: Não, dona Odete. Obrigada por tudo.
Odete: Não precisa agradecer, você está carregando sangue do meu sangue em seu ventre. Merece o melhor de mim.
Iná: Obrigad...aaaai.
Odete: O que foi, minha filha?
Iná: Acho que chegou a hora, dona Odete. Sua neta vai nascer!

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