Capítulo 4:
Cena 1: Apartamento de Gilberto e
Monalisa// Sala// Interior// Noite//
A porta se abre lentamente.
Leandro fica surpreso ao ver seu pai com uma cara de bêbado segurando uma
garrafa de pinga na mão. As mãos do menino soam.
Gilberto- {diabólico}: Ainda bem que encontrei você, seu viadinho mimado!
Monalisa levanta-se e Leandro
fica com muito medo de seu pai encarando-o.
Monalisa- {enfrenta}: Já chegou desse jeito? Por que não ficou por lá
mesmo?
Gilberto- {furioso}: Olha como você fala comigo, mulher..... Eu acabo
com você.
Gilberto vai até Monalisa e pega
a mulher pelos cabelos. Leandro começa a chorar e fica com muito, enquanto sua
mãe clama de dor.
Gilberto: Você se intrometa no que é da sua conta.
Gilberto joga a mulher no chão,
que olha para o homem com fúria.
Leandro- {aterrorizado/grita}: Para, pai, por favor.
Gilberto: Eu te ensino a ser home, seu baitola!
Gilberto tira o cinto e o menino
corre para se esconder. Gilberto vai atrás, mas ele tropeça na perna de
Monalisa e cai no chão.
Monalisa-
{levantando-se/exaltada}: Eu juro,
Gilberto, que se você encostar no meu filho, você vai se arrepender.
Gilberto-
{debochando/gargalhando}: Vai fazer o
quê? Chamar a polícia?
Monalisa: Se você não parar com isso, eu desço lá na favela
agora e chamo os bandidos para te matar!
Gilberto fica perplexo com o que
Monalisa diz.
Cena 2: Apartamento de Monalisa e
Gilberto// Quarto de Leandro// Interior// Noite//
Leandro está escorado na porta e
chora, ele escorrega até sentar-se no chão.
Leandro- {chora compulsivamente}:
Por que isso acontece comigo, meu
Deus? Por que eu não morro de uma vez?
Em seu psicológico, Leandro ouve
vários gritos dele quando criança, sua mente cria uma imagem de ranger de
dentes, enquanto ele chora compulsivamente. Os gritos começam a aumentar em uma
freqüência avassaladora, e a medida que isso acontece seu coração vai batendo
cada vez mais rápido.
Leandro- {gemendo baixinho}: Por que esse demônio é meu pai? O que eu fiz para
merecer uma pessoa assim na minha vida?
Leandro respira com mais força.
Leandro- {grita}: Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...........
Monalisa bate na porta e grita
pelo filho, que ignora-a e deita no chão e avista o céu da janela, enquanto
suas lágrimas escorrem.
Cena 3: Mansão D’Ávilla// Quarto
de Beatriz// Interior// Noite.
Bárbara acaricia o rosto de sua
filha, que está deitada na cama.
Bárbara: O que foi isso, hein meu neném?
Beatriz permanece calada e sua
mãe chora com o silêncio.
Bárbara: Filha, eu não posso adivinhar o que está
acontecendo se você não falar.
Beatriz levanta-se aos poucos e
senta frente a frente com sua mãe, deixando uma lágrima cair.
Beatriz: Agora você quer saber o que eu sinto?
Bárbara- {confusa}: Do que você está falando?
Beatriz- {chora compulsivamente}:
Esse seu amante.... Esse
divórcio... Isso não dói em vocês, isso dói em mim. Agora você quer realmente
saber o que eu sinto, mãe? –{lágrimas
escorrem com muita freqüência}- Ou será que você não quer amenizar a sua
culpa? Porque se realmente se importasse com o que eu sinto, você pensaria um
pouquinho em mim!
Bárbara- {marejando}: Filha, tente me entender, voc....
Beatriz: Não era você quem queria me entender? Viu como as
coisas mudam? Ninguém se importa com a minha dor, vocês só se importam com
vocês mesmos! Essas brigas que vocês têm, vocês demonstram que se importam com
o que eu sinto?
Bárbara fica sem resposta.
Beatriz: Foi o que eu pensei... Sem resposta! Dá licença do
meu quarto, por favor.
Bárbara vai dar um beijo na filha
e ela esquiva-se. A mulher sair chorando. Beatriz coloca a cabeça no
travesseiro e desaba em lágrimas ao ver sua mãe fechando a porta.
Cena 4: Mansão Riccari// Quarto
de Renato// Interior// Noite//
Renato está deitado no seu quarto
mexendo no celular. Isabela chega ao quarto do pai e ele fica surpreso.
Renato- {levanta-se/preocupado}: Filha, aconteceu alguma coisa?
Isabela- {sentando na cama}: Não, papai. Eu apenas queria conversar.
Renato: Pode dizer, senta aqui do meu lado, minha
princesa.
Isabela sorri e senta ao lado do
pai, que abraça a filha e mexe no cabelo dela com carinho.
Isabela: Pai, eu não sei nem como dizer isso, mas não me
pergunte sobre quem estou falando. Só quero que me ajude.
Renato: Ok, então pode contar o que está acontecendo, meu
amor.
Isabela: Ai que vergonha, papai. Mas vamos lá. É porque
como senhor sabe, eu namoro com o Fagner, mas eu estou gostando de outra
pessoa.
Isabela cala-se esperando uma
resposta de seu pai.
Renato: Pode continuar. Conta tudo para eu te aconselhar,
minha flor.
Isabela: Digamos que essa pessoa não faz o meu tipo. Não é
que ela seja feia ou algo do tipo, é porque eu teria vergonha de sair com ela
algum dia.
Renato: Ela é pobre?
Isabela: Sim, mas eu não quero falar sobre isso.
Renato: Já acabou?
Isabela- {sorrindo}: Sim, agora pode falar, papai.
Isabela senta-se em frente ao
pai.
Renato: Olha, filha, você está namorando o Fagner já deve
ter uns dois anos, você precisa conversar e ser transparente com ele. Eu acho
que esse namoro seu com ele é apenas porque ele é um menino popular, aquele que
todas as garotas querem e principalmente porque ele tem dinheiro e você sabe
que eu não estou mentindo. Esse outro menino sabe que você gosta dele?
Isabela: Eu não sei, pai. Eu faço tudo errado. Acho que eu
afastei ele com minhas atitudes.
Renato: Filha, ser muito rico é muito bom, mas o dinheiro
não compra pessoas, não compra felicidade, você acha que se fosse assim eu e
outras pessoas teríamos problemas? Você tem que encarar a vida como ela é,
independentemente do que vão pensar ou falar de você.
Isabela: Eu tenho medo de perder o que eu conquistei até
agora, pai.
Renato: Status? Você acha que ele vai te acompanhar a vida
toda?
Isabela: O senhor tem razão.
Renato: Filha, resolva a sua situação com o Fagner e tente
não ferir ele. Seja feliz com quem você gosta. Se for recíproco entre você e
esse outro rapaz, aproveita, não perde tempo com coisas que vão te satisfazer
em momentos. Esse rapaz pode não ser rico em dinheiro, mas talvez seja em
caráter.
Isabela- {sorri}: É... Isso ele tem de sobra.
Renato: Olha pra você ver os nossos empregados, são
pessoas simples, mas de um caráter invejável.
Isabela sorri e abraça seu pai.
Isabela: Obrigada, papai.
Renato: De nada, bebê!
Renato beija sua filha.
Cena 5: Amanhece. Mansão
D’Ávilla// Sala de jantar// Interior//
Beatriz e seus pais estão
sentados à mesa tomando café.
Beatriz: Eu não estou acreditando que eu vou pro colégio
depois daquela vergonha que eu passei.
Bárbara: Vai sim, e depois do colégio você sabe que nós
vamos à psicóloga. A sua consulta é 14:00 hrs.
Felipe: Precisa que eu vá com vocês?
Bárbara: Hoje não, ela ainda vai conversar com a Beatriz,
mas quando ela disser que precisa de nós, eu te falo.
Felipe: Ok, mas se quiser eu posso levar vocês e trazer.
Beatriz: Eu adoraria que fossemos juntos como a família que
somos.
Bárbara: Olha, eu não vou intervir em nada, se você quiser
nos acompanhar, pode ir.
Beatriz: E eu vou indo para a escola, beijo pra vocês.
Beatriz dá um beijo nos pais e
vai embora. Felipe e Bárbara olham-se.
Felipe: Quem sabe não podemos marcar algumas consultas
para nós dois?
Bárbara: A minha palavra permanece a mesma, Felipe.
Cena 6: Colégio Nivelar// Pátio//
Exterior// Manhã//
Os alunos entram no colégio e encontram-se, eles
conversam com seus respectivos grupos. Isabela chega e vai até suas amigas.
Isabela: Olá, amigas.
Natiely
está mexendo no celular e não responde. Jasmín abraça a amiga.
Isabela: O que deu nessa
menina?
Natiely: Espera, eu estou
brigando com o Henry.
Isabela: Eu não estou
acreditando nisso. Já não basta ser fake e ainda em que brigar.
Natiely: Ele está desconfiando
de mim, amiga. Eu tenho que ir no instagram da menina e pegar fotos dela, ele
está querendo uma selfie agora.
Jasmín: Você só pode ser
louca, fica usando foto de outra pessoa, você sabia que pode dar problema para
seus pais?
Natiely-
{ignorando}: Eu preciso comprar um celular e um chip para fazer outra conta no
whatsapp.
Isabela-
{chocada}: Natiely, você só pode ser louca. Olha aonde você está chegando por
causa de uma mentira.
Jasmín: Amiga, você precisa
urgentemente de uma ajuda psicológica, isso está mexendo com a sua mente.
Natiely-
{estressada}: Me deixem em paz! Que saco, já não basta essa briga e agora vêm vocês?
Natiely
sai andando. Isabela e Jasmín ficam chocadas com a atitude da menina em relação
ao fake.
Cena
7: Rua// Manhã//
Bárbara
está saindo de um prédio e fazendo uma ligação.
Renato-
{atende/feliz}: Oi, meu bem. Como vai?
Bárbara: Renato, sinceramente
eu não estou bem e quero conversar com você. Eu não posso falar isso
pessoalmente, prefiro falar por telefone.
Renato-
{preocupado}: Mas o que está acontecendo?
Bárbara: Ontem a minha filha
teve um ataque, não sei o que foi que aconteceu na escola, o médico não disse
ao certo o que foi porque ela não estava conseguindo falar, mas hoje vamos ao
psicólogo.
Renato: Entendi, mas era isso
que você não tinha coragem de me dizer?
Bárbara: Não, Renato, o que eu
quero dizer é que não dá mais para continuar o nosso caso. Eu quero um tempo
pra pensar.
Renato-
{desesperado}: Não, eu não aceito isso.
Bárbara: Eu peço que respeite a
minha decisão. Eu não estou terminando nada, eu estou pedindo um tempo para
pensar na minha vida, no que eu vou fazer. Me perdoa fazer isso por telefone,
mas eu não quero falar pessoalmente.
Bárbara
desliga o telefone e deixa Renato aflito.
Bárbara:
Foi
melhor assim, vai ser melhor para todos.
Bárbara
coloca os óculos e uma lágrima escorre.
Cena
8: Colégio Nivelar// Sala de aula// Manhã//
Beatriz
faz um trio com suas amigas para fazer um trabalho.
Beatriz:
Eu não
sei o que ela vai fazer depois dessa conversa que tivemos, mas acredito que
deixou ela pensando em terminar o caso com esse cara. Minha mãe é uma mulher
compreensiva.
Mariana:
Tomara
que ela termine, amiga. Vocês formavam uma família tão bonita e feliz.
Gabriela:
E o
seu pai?
Beatriz:
Eu não
conversei com ele sobre a situação. Nós vamos à uma psicóloga hoje.
Mariana:
Ai,
amiga, eu já fui, é uma coisa bem normal, ela vai te perguntar as coisas e vai
te aconselhar. Bom, pelo menos foi o que aconteceu comigo.
Gabriela:
Cada
caso é um caso, né Mariana? –{Olha para
beatriz}- Mas tomara que dê tudo certo, amiga. Vamos torcer por você.
Mariana:
Amiga,
e o Nicolas? O que aconteceu com ele que não chegou até hoje?
Beatriz:
Eu não
sei, eu não liguei pra ele com todos esses problemas, já tem uma semana que nos
falamos, ele estava viajando.
Gabriela:
Mas
será que não aconteceu nada?
Beatriz
se preocupa. Do outro lado da sala está Fernando e Leandro conversando.
Fernando:
Quem
nós vamos chamar pra fazer o trio com nós, mano?
Leandro:
Eu não
sei, eu não tô com cabeça pra isso, depois daquela DR da minha mãe e do meu
pai, eu tô daquele naipe.
Fernando:
Vei,
você não pode deixar isso te atrapalhar. Conversa com seu pai pra ele
participar dessas casas anônimas que ajudam as pessoas.
Leandro:
Esquece,
ele não vai querer.
Fernando:
Você
está estranho, só aconteceu isso que você me contou mesmo?
Leandro:
Foi,
cara, não enche.
Fernando
desconfia de Leandro. Enquanto isso, Isabela e suas amigas estão sentadas
juntas. Natiely está conversando no telefone.
Isabela:
Ai que
saco, no segundo dia de aula essa peste dessa professora me vem com trabalho.
Jasmín:
Mas
temos que fazer, não temos outra opção. Vocês viram que absurdo os pontos desse
trabalho? Ele é difícil e ainda vamos ganhar umas esmolas.
Mensagem
de Natiely: Eu não acredito que você vai continuar desconfiando de mim, eu te amo
tanto.
Mensagem
de Henry: Você me deu motivos para desconfiar, ainda vem aquela menina e fala que
você é fake.
Mensagem:
Olha,
eu não vou discutir com você, isso está me fazendo mal. Tchau.
Natiely
desbloqueia o telefone e assusta-se quando vê a professora de português ao seu
lado.
Professora:
Que
lindo, hein, Natiely? Agora me dê o celular.
A
professora estende a mão para Natiely, que entrega o aparelho.
Professora:
Amanhã
se a sua mãe não estiver aqui na escola, você não entra e não pega esse
celular. Ok?
Natiely-
{desesperada}: Ai prof, por favor, eu prometo que não faço isso mais.
Professora:
Temos
um livro de normas do aluno, ele é para você. Acredito que não tenha lido e
sugiro que leia antes de tomar atitudes.
A
professora vira as costas e Natiely fica com raiva.
Natiely-
{com suas amigas}: Por que não me avisaram?
Isabela:
Pelo
menos assim sai do celular!
Natiely
fica com muito medo e fica emburrada.
Cena
9: Tarde//
Fade in- New Rules- Dua Lipa//
Imagem
de prédios da cidade de São Paulo// Parque Ibirapuera// Jardim botânico//
Pavilhão japonês// Catavento cultural.
Fade out- New Rules- Dua lipa.
Cena
10: Carro// Interior// Rua// Tarde//
Felipe
está dirigindo o carro, ao lado está sua esposa e atrás sua filha.
Beatriz:
Será o
que essa mulher vai perguntar?
Bárbara:
Eu não
sei filha, já é a milésima vez que você pergunta isso pra nós. Você está
escondendo alguma coisa?
Beatriz:
Mas é
claro que não.
Felipe:
Fica
tranquila, minha princesa, ela não deve perguntar nada demais. Psicólogo não é
bicho nenhum.
Beatriz:
Ah,
mas eu estou nervosa, eu nem faço ideia de como vai ser. Se aquele povo da
escola souber que eu estou indo num psicólogo, eles vão achar que estou ficando
maluca.
Felipe
estaciona o carro e eles saem. Beatriz encara o consultório por um bom tempo
com medo.
Beatriz-
{com medo}: Eu não vou entrar.
Bárbara:
Você
só pode estar ficando louca. Você vai sim. Deixa de paranóia, Beatriz!
Felipe
aproxima-se de sua filha e segura a mão dela.
Felipe:
Vai
dar certo, meu amor.
Felipe
dá um beijo na mão da filha, que suspira e decide entrar.
Cena
11: Consultório de psicologia// Recepção// Interior// Tarde//
A
psicóloga já estava esperando Beatriz e cumprimenta todos. Ela chama a jovem
para sua sala.
Cena
12: Consultório de psicologia// Sala da psicóloga// Interior// Tarde//
A
psicóloga chama Beatriz para sentar-se na poltrona. A menina encara o lugar com
bastante receio e fica constrangida.
Psicóloga:
Não
precisa ficar com medo. Pode se sentar.
Beatriz
senta na poltrona e a psicóloga senta na outra que está em frente.
Psicóloga-
{gentil}: Boa tarde, Beatriz. Eu me chamo Rebeca Valadares e vou iniciar a nossa
conversa nesse momento.
Beatriz
encara a psicóloga com muita resistência e seu coração quase sai pela boca.
Seus nervos estão a flor da pele.
A imagem congela e
o rosto de Beatriz é fixado em um quadro preto e branco...