EPISISÓDIO
03: E AGORA?
CENA 01: ESTADOS UNIDOS/ NOVA IORQUE/ CASA DE
EVA/INT./DIA
Eva e Joana se abraçam emocionadas.
Vilma chega com o marido Rafael e seus
filhos.
VILMA– Minhas irmãs!
As três se abraçam.
JOANA – Quem diria que apenas em um momento como esse
poderia fazer com que nos uníssemos novamente.
EVA – Agora não dá mais para reparar o erro. Mamãe está
morta.
RAFAEL– Dona Eurides era uma mulher fantástica, a única pena
que sinto é de não ter tido muito convívio com ela.
MARY – Lembro da vovó. Ela era sim muito bacana,
brincamos e nos divertimos tanto naquelas férias quando eu tinha 8 anos.
EVA – E de lá para cá já se passaram 15 anos!
Pequena pausa seguida de um profundo silêncio.
JOANA – O que fazemos agora?
VILMA – Iremos ao Brasil para o velório, sim?
EVA – Sim. Temos que comprar passagens urgentemente,
isso não vai ser fácil, logo na véspera de natal.
Rafael se aproxima.
RAFAEL – Quanto a isso não precisam se preocupar, acabo de
comprar as passagens pela internet. Chegamos ainda hoje no Brasil.
JOANA – Ótimo. Temos que ligar para tia Vânia.
EVA – Isso mesmo! Alguém tem que cuidar dos preparativos
do velório. Telma não conseguirá cuidar de tudo sozinha, ela deve estar muito
abalada também.
VILMA – Eu ligarei agora mesmo.
Vilma pega o telefone.
A cena escurece.
RIO DE JANEIRO...
CENA 02: RIO DE JANEIRO/EXT./DIA
É mostrado uma sequência de imagens da cidade
maravilhosa, O Cristo Redentor, O Pão de açúcar, A praia do Leblon, ao som de -
GAROTA DE IPANEMA – TOM JOBIM
CENA 03: CASA DE VÂNIA /SALA DE ESTAR
/INT./DIA
Vânia ouve o cantor Roberto Carlos na sala de estar
enfeitada com mimos de natal, ela dança e diverte-se enquanto prepara a ceia
que logo mais será degustada por seu neto que logo chegara de viagem,
juntamente com seu filho, Atenor e sua nora, Isabela. De repente a campainha
toca. Vânia abre a porta. É Eurides.
VÂNIA – Eurides, minha irmã! Que surpresa mais
agradável.
EURIDES – Digo o mesmo, minha querida!
VÂNIA – Telma não acompanhou você?
EURIDES – Não, não. Ficou em casa. Não vai me convidar para
entrar?
VÂNIA – Claro, que distraída eu sou. Entre, por
favor!
Eurides adentra.
VÂNIA – Sabe minha irmã, acho que estou precisando de uma
empregada e cuidadora como você, não sou mais a mesma.
EURIDES – A Telma não é minha empregada e cuidadora apenas,
ela é minha amiga. Mas sim, eu recomendo uma ajudante, na nossa idade então.
VÂNIA – Claro. Olhe só a distração novamente, esqueci de
te oferecer algo, aceita uma água, um chá?
EURIDES – Não, obrigada. Na verdade, eu queria falar com
você sobre hoje à noite, véspera de natal.
VÂNIA – Claro. Até peço perdão minha irmã por não ter te
convidado para ceia desse natal, Atenor é muito reservado, queria uma ceia
apenas comigo, minha nora e meu neto, eu não entendi muito bem o porquê.
Confesso que estou morrendo de saudade dele e quero matar toda essa saudade.
EURIDES – Não precisa se desculpar, na verdade, eu queria
falar sobre outra coisa e espero que você esteja ciente e me ajude.
Nesse momento, o telefone toca.
VÂNIA – Quem será?
EURIDES- Espera!
O telefone continua tocando.
VÂNIA – Eu irei atender o telefone minha irmã!
EURIDES – Você não pode fazer isso.
VÂNIA – E eu posso saber, o porquê? Pode ser meu filho.
Atenor chega hoje de viagem.
EURIDES – São minhas filhas, tenho certeza! Eu preciso que
você me escute antes.
Vânia olha fixamente para Eurides.
ESTADOS UNIDOS...
CENA 04: ESTADOS UNIDOS/ NOVA IORQUE/ CASA DE EVA/
INT./DIA
Vilma desliga o telefone.
VILMA – Ninguém atende!
JOANA – Normal, ela assim como todos nós, deve estar em
transe com a notícia.
RAFAEL – Sim. Deveríamos ligar para Telma, ela sim poderia
nos dar notícias mais contundentes.
EVA – Sei não! Eu preciso falar com vocês, é que ontem
mesmo, Telma ligou para mim.
VILMA – E o que ela queria?
EVA – Que visitássemos mamãe! Ela estava com saudade de
todas nós, Telma relatou tudo. Já havia tentado ligar para vocês também, porém
não conseguiu. Eu ainda não acredito que fui tão grossa.
JOANA – Você foi rude com ela?
EVA – Acho que sim. Aonde eu estava com a cabeça meu
Deus. Eu poderia ter feito tudo diferente, quem sabe até ter falado com ela
pelo menos pelo telefone.
Eva chora, as irmãs tentam tranquilizar seu choro a
abraçando.
BRASIL...
CENA 05: CASA DE VÂNIA/SALA DE ESTAR/INT./DIA
O telefone continua tocando.
VÂNIA – Desculpe, minha irmã. Mas eu tenho que
atender.
O telefone para.
EURIDES – Tenho certeza que eram elas.
VÂNIA – Quem? Suas filhas, é isso?
EURIDES – Sim. Telma estava certa. Elas iriam ligar pra
você.
VÂNIA – Juro que não estou entendendo nada. (CONFUSA)
EURIDES – Eu irei te explicar tudo.
As duas se sentam.
A Cena escurece aos poucos.
CENA 06: APARTAMENTO DE EURIDES /INT./DIA
Telma anda de um lado para o outro, aflita. O
telefone toca. Ela atende.
POR TELEFONE:
TELMA – Alô!
JOANA – Telma?
TELMA – Sim, é ela.
JOANA – Sou eu, Joana.
TELMA – Claro, oi dona Joana. Como a senhora está?
JOANA – Nada bem depois da notícia horrível de hoje.
TELMA - Imagino sim.
JOANA – Na verdade nós todos estamos fragilizados e você
então que cuidara dela, não é mesmo?
TELMA – Sim. Não está sendo nada fácil para mim também.
(DISFARÇANDO)
JOANA – Tentamos ligar para tia Vânia, para ela te
ajudar com os preparativos do velório, mas não estamos conseguindo.
TELMA – Não precisa! (RAPIDAMENTE E OFEGANTE). Quer
dizer, dona Vânia está muito abalada também, eu mesma estou resolvendo
tudo.
JOANA – Tem certeza que consegue sozinha realizar todos
os preparativos?
TELMA –Sim. A senhora não precisa se preocupar.
JOANA – Chegamos no Brasil ainda hoje.
TELMA – Eu irei buscar vocês no aeroporto então.
JOANA – Certo. Obrigado por tudo Telma.
TELMA – De nada, dona Joana.
Telma desliga o telefone e respira aliviada.
ESTADOS UNIDOS...
CENA 07: ESTADOS UNIDOS/ NOVA IORQUE/ CASA DE EVA/
INT./DIA
Joana desliga o telefone, parece confusa. Eva se
aproxima.
EVA – E então?
JOANA – Consegui falar com Telma, ela disse que tomaria
conta de tudo, inclusive de buscar a gente no aeroporto.
EVA – Telma realmente é muito forte.
JOANA – Não sei. Sabe, achei ela tão estranha ao
telefone. Não parecia abalada como imaginávamos que estivesse.
EVA – Deve ser apenas impressão sua. Vamos, apesar de
toda dor temos que nos preparar para viagem.
JOANA – Sim. Você tem toda razão. Vamos!
BRASIL...
CENA 08: SÂO PAULO/DIA
São mostradas várias paisagens e ruas da cidade de
São Paulo, ao som de -SINA - DJAVAN.
CENA 09: CASA DE VÂNIA/ SALA DE ESTAR/ INT./DIA
Vânia levanta do sofá.
VÂNIA – Eu não acredito que você foi capaz de bolar uma
sujeira dessa, minha irmã. (INCRÉDULA)
EURIDES – Tudo o que fiz foi por amor. Não aguentava essa
saudade que sinto da minha família. Eu precisava fazer isso.
VÂNIA – E a mim? Eu sou sua família também, sou sua
irmã.
EURIDES – É diferente, você sabe que é diferente. Você
deve sentir muita saudade de Atenor, eu sei.
VÂNIA – Sim.
EURIDES – Pois então, não vejo elas há mais de 15 anos.
Minhas Filhas não têm tempo para mim. Eu precisava fazer isso.
Vânia coloca as mãos na face, receosa.
VÂNIA – Embora ache essa ideia sem nexo algum, acredito
que tudo o que você fez foi por amor sim. Somente uma mãe consegue entender
outra, não adianta.
EURIDES – Você vai me ajudar, então?
VÂNIA – Ainda pergunta? Claro. Pode contar comigo.
Eurides e Vânia se abraçam.
EURIDES – Eu sabia que poderia contar com você, minha
irmã.
CENA 10: SÃO PAULO/NOITE
A noite cai na capital paulista, os carros se
movimentam no trânsito caótico. As estrelas brilham no céu e a lua ilumina o
anoitecer ao som de – ÁGUAS DE MARÇO – ELIS REGINA
CENA 11: APARTAMENTO DE EURIDES/ INT./NOITE
Eurides anda de um lado para o outro pelo
apartamento, aflita.
Telma se aproxima.
TELMA – Elas vão ligar a qualquer momento.
EURIDES – Estou nervosa, Telma.
TELMA – Calma. Dará tudo certo. A ceia já está pronta?
EURIDES – Sim. O peru já está no forno.
TELMA – Ótimo.
EURIDES – Sabe minha amiga, não vejo a hora de rever
minhas filhas, meus netos...
TELMA – Será uma noite de natal inesquecível, dona
Eurides.
De repente o telefone toca.
TELMA – Acho que chegou a hora!
Eurides e Telma se entreolham nervosas.
CENA 12: AEROPORTO DE SÃO PAULO/ INT./NOITE
Telma segura uma placa de identificação. Joana
avista Telma e se aproxima com as irmãs, filhos e sobrinhos.
TELMA – Meus pêsames a todos vocês.
Joana abraça Telma.
JOANA – Como é bom te ver, Telma.
EVA – Desculpa Telma.
TELMA – Por que tenho que te desculpar senhora?
EVA – Eu devia ter deixado tudo quando você me ligou
naquela noite, eu fui egocêntrica, eu só pensei em mim. Veja agora, perdi minha
mãe. Perdemos nossa mãe. (CHORANDO)
TELMA – Calma. Não precisa se desculpar. Temos que nos
acalmar. Vamos ao apartamento, o velório está acontecendo lá. Eu aluguei uma
Kombi, Vamos?
RAFAEL – Vamos!
Eva e Vilma estranham o semblante de Telma, que
parece conformada.
CENA 13: AEROPORTO DE SÃO PAULO/ EXT./NOITE
Todos entram na Kombi que logo fica cheia e sem
muito espaço.
TELMA – Ponham o cinto de segurança, por favor!
VILMA – Claro! Telma...
TELMA – Sim?
VILMA – Você está com a certidão de óbito?
TELMA – Sim. Está aqui. Espere um pouco, senhora.
Telma retira a certidão de óbito falsa da bolsa e
entrega a Vilma.
Eva e Joana observam a certidão.
EVA – Como mamãe morreu, Telma?
TELMA – (GAGUEJANDO) – Ela...
EVA – Suponho que você esteve com ela nos últimos
momentos de vida.
TELMA – Sim. Eu estava com ela. Ela morreu de enfarte.
Foi muito rápido.
Eva, Vilma e Joana se entreolham assustadas.
EVA – Mas não é isso que diz a certidão de óbito.
TELMA – Não? (NERVOSA)
EVA – Não. Segundo consta, mamãe teve uma forte
infecção intestinal. Tem certeza que você está certa?
Telma fica sem reação, perplexa.
A cena congela e torna-se em uma estrela no céu.
CONTINUA...
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