Porto de Pedras: Segundo Capítulo - Pedro Foge de Casa



Anteriormente em Porto de Pedras:

Êmanuel leva um tiro no palco, e morre. Mariela, sua esposa, chora enquanto percebe a perda. A alma do sábio sai do corpo, e conversa com o Mentor.

Pedro João nasce, e Madalena e José comemora. 

Mariela é presa injustamente pelo crime, e posta em uma sela. Marlene e Otávio brigam com o delegado, e exigem ver a filha.

Quando entram na sala, se deparam com o Encapuzado, que após acabar com a vida de Êmanuel, vai acabar com a de Mariela. Marlene faz uma proposta:

Marlene – Eu já disse, ora, mate a mim, mas não a minha filha!

Encapuzado – Eu vou acabar com vocês três! Com todos vocês! Acha mesmo que vou deixar cada um aqui pra contar história? Nunca!

Fique agora com o capítulo de Hoje!





Primeira Fase:

Mariela - Camila Rodrigues 
Marlene - Elizabeth Savalla
Otávio - Lima Duarte

Participação Especial: 

Delegado Moreira - Alexandre Nero

Segunda Fase:

Madalena - Adriana Esteves 
José - José Mayer
Pedro João - (Criança) João Bravo
Fernanda - Alice Braga
Daniel - Rodrigo Santoro

Cena 1/ Delegacia/ Selas/ Interno

Marlene – Desgraçado... você é um desgraçado! Como alguém como você consegue deitar na cama, apoiar a cabeça em um travesseiro e dormir sossegado? Vai tirar a vida de tanta gente... desgraçado.

Encapuzado – Eu trabalho na base de ordens! Agora você fica caladinha e vai ajoelhando. Ajoelha!

Marlene – Me mata em pé! Não quer honrar o teu nome? Então vai, atira no mesmo tom de olhar que eu tenho. Atira em pé! Vai, logo! (Grita) Desgraçado!

Otávio saca lentamente a sua arma, enquanto observa o Delegado se movimentando.

Mariela – Mãe, não faz isso, mãe. Não faça isso!

Marlene – Cala a boca, Mariela, deixa que eu me resolvo com essa gente!

Mariela – Não existe nada pra se resolver, meu Deus. Ele vai acabar com as nossas vidas!

Otávio – Ela não vai fazer nada, meu querido. Já fui capitão, sei como funciona essas coisas. A gente não pode vacilar quando o assunto é família... e eu não vou vacilar com você!

Otávio saca a arma e atira na direção do Encapuzado, que desvia.

O Delegado se levanta, e atira duas vezes. A bala perfura de raspão o braço do Encapuzado, que atira na sela.

Marlene – (Grito) Você atirou na minha filha!

Policiais entram na cabine e prendem o Encapuzado.

Mariela – Eu estou viva! Mãe, a bala não me atingiu!

Marlene – Minha filha... isso é um milagre, meu amor... isso é um milagre! Um milagre!

Cena 2/ Delegacia/ Sala escura/ Interno

A câmera é ligada.

Close lento na feição do Encapuzado.

Delegado – Pra quem é que tu trabalha?

Encapuzado – Não sei!

Delegado – Quem te mandou acabar com a Mariela, e o marido? Quem?

Encapuzado – Eu não sei!

Delegado – Almeida, pode tirar a máscara! A gente vai saber de uma vez por todas quem é o monstro que teve nome nesse país. Vai, Almeida, tira a máscara dele!

Almeida entra no eixo da câmera, e puxa a máscara.

(Não revela)

Close no Delegado.

Delegado – Meu Deus! Como pode?



Onze anos depois


Cena 3/ Cemitério/ Externo

Pedro João enxuga as lágrimas em cima de uma lápide.

Pedro João – (Chorando) Vovó... vovó... por que precisou me deixar...

Uma menina se aproxima. Uma luz amarela emana do seu corpo

Luz – Por que está chorando?
Pedro João – (Segundos de silêncio) Já perdeu alguém de importante?

Luz – Sim.

Pedro João – Então deve saber porque estou chorando. A minha vó... ela se foi.

Luz – Eu sinto muito. Mas eu acho que eu entendo.

Pedro João – Você perdeu a sua vó?

Luz – Uma vez sim.

Pedro João – Como assim, uma vez?

Luz – Já vivi muitas vezes.

Pedro João – É?

Luz – Sim!

Pedro João – Como é viver muitas vezes?

Luz – É a certeza que ainda podemos acreditar no futuro de onde vivemos...

Pedro João – Eu não quero voltar pra casa.

Luz – Eu sei que não quer.

Pedro João – Sinto saudades da minha vó. Sinto saudades dela!

Cena 4/ Casebre Família Silva/ Interno

Madalena prepara a mesa.

José empurra Pedro João pra dentro de casa, abrindo bruscamente a porta.

Pedro João cai.

José – Eu já falei pra tu não chegar fora da hora, desgraçado! Eu já te falei!

Pedro João – Pai...

José – Pai o escambau, seu...

José pega Pedro João pela orelha e leva até a mesa principal

Pedro João – Para, pai, tá doendo! Para! Por favor! Para!

Madalena – Ele não vai parar, tá, querido? Ele não vai parar! Se chegou tarde, era porque tava fazendo alguma coisa de errado. Pelo menos alguma coisa fez de errado. Agora engole essa comida, antes que eu me estresse ainda mais e te coloque de castigo, Pedro João. Vai!

Todos se sentam diante da mesa.

José – Esse menino precisa entrar na linha! Ele precisa entrar na linha, Madalena. Eu vou trabalhar longe, trabalhar fora. Eu sou um homem vívido, forte, do campo, ficar nessa cidade que sufoca a gente, vai faltar comida nessa mesa. Tu vai ter que trabalhar também, dá uma renda pra tua mãe...

Pedro João – Se a vovó tivesse aqui...

José – (Gritos) Aquela velha foi pro saco! Morreu! Tá agora na boca do sapo, no limbo, na morte. Esquece aquela mulher, menino, foca na droga da tua vida.

Madalena – Querido... era a minha mãe, eu também sofri com tudo isso.

José – (Gritos) Cala essa boca! Eu dou graças a Deus por essa mulher ter cantado pra subir! Ela todo dia alimentava a frangalhice dessa criança! Espírito, plano, luz, glória. Vai tudo é pro inferno!

Pedro João – Não fala assim dela! Não fala assim dela!

José – Para de comer. Vai pro quarto, e me espera com a luz acesa, e com o guarda-roupa aberto. Tu vai aprender de uma vez por todas que não é assim que a banca toca! Vai aprender na marra! Vai aprender é na surra! Vai! Passa! Passa logo!

Pedro João sai da sala e vai para o quarto.

Madalena – Querido...

José – E você cala a boca. Nunca mais levanta voz pra mim. Trata de ficar quietinha no teu canto! Trata...

José sai da sala.

Close lento em Madalena.

Ela abre um pacote, retirando de dentro um papel com um número.

Cena 5/ Casebre Família Silva/ Quarto de Pedro João/ Interno

Off:

Deitado na cama, Pedro João sonha:

Um vagão.

Um trem.

Pedro João corre em um matagal, ainda de manhã.

On:

Pedro João acorda desesperado.

Amanhece/

Cena 6/ Casebre Família Silva/ Externo

Madalena dá um beijo em José, que se despede e entra no carro.

Close lento no papel em sua mão.

Cena 7/ Parque Central/ Dia/ Externo

Madalena se aproxima lentamente de uma estátua, com o papel em mãos.

Ela observa o ambiente, em busca do que está descrito na folha.

Mariela e Marlene chegam.

Mariela – Madalena?

Madalena – Oi... oi! Sim, e você deve ser a Mariela?

Mariela fica emocionada.

Mariela – Você não sabe o quanto eu esperei pra ver você, pra saber quem era a pessoa que o meu marido tanto procurava quando ainda era vivo...

Madalena – Eu anotei o seu número, também estou ansiosa. Você não me disse muita coisa na ligação... o que quer com o meu filho?

Marlene – A minha filha tem muita coisa pra falar pra você, querida, mas acho que este ambiente não é um dos melhores. Precisamos ir para algum lugar mais reservado.

Madalena – Eu não acho! Eu apenas queria que vocês fossem mais diretas. O que querem com o meu filho? Han?

Mariela – Me leve até ele. Por favor, me leve até ele!

Cena 8/ Casebre Família Silva/ Interno

Mariela e Madalena entram na casa.

Madalena vai até uma carta em cima da mesa de jantar.

Narração de Pedro João: Mãe, eu sei que quem está lendo isso é você. O homem que diz que é o meu pai, e me bate nas noites frias, partiu para o trabalho. A gente poderia ser feliz, longe dele, mas sei que jamais isso seria possível. A senhora sempre soube que não nasci para viver algo como isso, e espero que acredite em mim. Serei grato por toda vida que tenho, pela mulher que se tornou e por acreditar em mim. Estou em um lugar novo, onde os meus sonhos seguros me guiaram, distante desta realidade, próximo do que eu preciso viver ainda neste plano. Mãe, eu te amo!

Mariela – Você tá chorando, Madalena? O que tem aí escrito? Fala pra mim!

Madalena – Vai embora da minha casa!

Mariela – Por quê? Nós estávamos...

Madalena – Meu filho escreveu uma carta. Você tem noção do que é uma criança de onze anos escrever uma carta, falando que tomou um rumo na vida?

Mariela – Eu poço ajudar.

Madalena – Como?

Mariela – Eu tenho dinheiro. Eu posso te ajudar. Da mesma forma que você quer encontrar o seu filho, eu preciso falar com ele. Nós duas iremos nos ajudar! Certo? Madalena, você pode confiar em mim!

Cena 9/ Estação Ferroviária de Porto de Pedra

Pedro João sai do trem passando mal, tonto e zonzo.
Ele caminha e tenta pedir ajuda, mas é ignorado. Percebe sua visão ficar embaçada, e então desmaia.

Cena 10/ Igreja Centralina/ Interno

Pedro João abre os olhos.

Padre Silveira – Ele está acordando! Ele está acordando!

Fernanda e Daniel se aproximam.

Daniel – Então é este o menino que o senhor teve a ideia?

Fernanda – Ele parece livre, sadio, ávido!

Pedro João – Onde estou? O que tá acontecendo? Quem são vocês?

Fernanda – Querido, você está em Porto de Pedra, eu sou a Fernanda, esse do meu lado é o meu esposo, Daniel. Queremos saber de onde que você veio. Trouxa nessa bolsa pequena apenas algumas mudas de roupa. Qual é o seu nome...

Pedro João – Pedro João!

Padre Silveira – Oh, é um belo nome!

Fernanda – Nós perdemos o nosso único filho. O médico perguntou a ele, ao Daniel enquanto eu estava presa em algum lugar. Era algo longe de sonhos, um ambiente claro, onde eu nunca me senti tão viva. Por incrível que pareça eu conseguir ouvir a voz dele, a voz de alguma pessoa que jamais eu serei capaz de reproduzir, ou escutar outra vez ainda viva nesta terra. Eu via meu corpo preso a uma maca, os médicos envoltos, olhando, encarando, e no corredor, o Daniel e o doutor conversavam. Eu tive certeza que eu precisava agir, mesmo sem ter alguém falando que eu estava morta, ou morrendo, eu sabia que precisava tomar uma decisão, uma resposta para ele.

Daniel – Fernanda...

Fernanda – O Daniel esperava tanto por este filho, passamos muito tempo até comprar uma casa, e ter condições para criar uma criança. Ele escolheria o filho, escolheria ficar com o filho. Me salvar era arriscado, com chances nulas, quase impossível. Eu sabia que aquele era Deus, que aquela pessoa do outro lado era algo muito maior. Mas o Daniel me escolheu... o Daniel gritou pelo meu nome, ele queria que eu voltasse. Mas antes de partir dali, dar adeus a algo que eu sempre acreditei que existisse, eu tive um segredo contado no ouvido, como em um sopro.

Pedro João – E esse sopro dizia que um dia você iria conhecer o seu filho, nem que não fosse de sangue, mas que seria o seu filho. Ele teria...

Fernanda – (Chorando) Ele teria um nome bonito... Pedro João. Ele seria o destino de nossas vidas. Seria a luz de uma imensidão de tristeza e vida... ele seria o nosso...

Pedro João – Filho!



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