Terceiro Capítulo - Nova São Paulo: A morte de Tony






Tony - Tuca Andrada
Hebeta - Adriana Esteves
Michael - Vladimir Brichta 
Carmem - Christiane Torloni
Sílvia - Thaila Ayla

As crianças... 

Laura - Mel Maia (Ainda criança)
Marcelo - Igor Jansen (Ainda criança)

Participação especial:

Mateus Solano - André

Anteriormente em Nova São Paulo...


 Tony vai até a empresarial Marinho, e recebe uma notícia que vai mudar toda a sua vida. O empresário André confirma que a família que o metalúrgico deixou para trás, fundou a empresa Marinho, há anos atrás. E agora, após a morte do pai, o único herdeiro da empresa é o próprio Tony.

Luciana é despejada de casa. Sem emprego, sem a filha que tanto amava, e sem rumo, vai até o lixão, pedir abrigo para sua irmã. E confirma que jamais vai querer ver Laura, a filha não poderá vê-la naquelas condições.

Hebeta e Michael maculam o golpe a ser dado em Tony:

Michael – Isso é arriscado... 

Hebeta se aproxima de Michael e o beija.

Hebeta – Aceita, nada vai dar errado, fica calmo. A gente vai ter um filho, o dinheiro vai pintar solto, eu vou te dar dinheiro, você ajeita essa espelunca, lucra mais, alcança mais clientes. Eu vou ter a vida dos sonhos. Três meses, apenas isso é necessário... Três meses!

Três meses se passam, e o grande dia chega. Hebeta diz que está grávida de Tony. O golpe está oficialmente dado. 

Fique agora com o capítulo de hoje.



Cena 1/ Casarão Sales/ Quarto de Laura/ Dia /Interno

Hebeta – Fala alguma coisa, querido. Não tá alegre? A gente vai ter um filho. Um irmão ou uma irmãzinha pra Laura, não vai ser ótimo?

Tony – É claro que vai... Teremos um filho. Eu vou ter um filho. A gente, nós teremos um filho, um filho... (Sorri) Um filho!

Hebeta – É, querido. Um filho nosso. Pra trazer alegria pra essa casa. Imagina eles correndo por esses corredores, alegres, junto do pai e da mãe.

Tony – Agora sim, somos uma família!

Hebeta – Somos uma família!

Silvia – Tá vendo aí, Laurinha? Você vai ter uma irmã. Uma irmãzinha tá chegando aí. 

Tony – Agora eu acho que é a hora pra isso acontecer...

Hebeta – Acontecer o que?

Tony – Três meses se passaram desde que eu te conheci. E agora você tá grávida. Então nada mais justo e fiel de que eu te pedir em casamento. Hebeta, você aceita se casar comigo?

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Close lento em Hebeta, que sorri para Tony. Os dois se beijam ardentemente.

Corta para/




Cena 2/ Agência/ Interno

O espaço é reformado em câmera rápida.

Narração de Hebeta: Quando o bananão me pedir em casamento, aí que o dinheiro vai começar circular nas nossas mãos. Você reforma essa espelunca, a nossa vida vai tá ganha, a nossa vida vai tá ganha!

Corta para/

Cena 3/ Igreja/ Dia/ Interno

O casamento acontece. Hebeta e Tony se beijam.

Narração de Hebeta: A minha barriga já vai tá bem grandinha quando esse momento chegar, Michael. Todo mundo tirando foto do Tony. Mas ele é tão pé no saco, que prefere guardar a informação que ele é o dono da empresa... diz que quer ter experiência... Lixo de marido! 

Corta para/

Cena 4/ Hospital/ Interno

Hebeta faz força, e o bebê nasce.

Narração de Hebeta: Quando esse filho sair daqui de dentro, golpe já vai ter sido dado. Aí vai ser apenas barranco a dentro. É a virada da minha vida. Durante todos esses anos eu esperei por isso, agora é hora que isso acontece. Que tudo muda e a minha vida ganha novos rumos. Quando essa criança sair, pode dar os últimos anos pro ricaço. A gente mata ele e fica com todo esse dinheiro!

Médico – É um menino!







Corta para/

Cena 5/ Casarão Sales/ Jardim/ Dia/ Externo

Laura e Marcelo brincam no jardim.

Marcelo – Eu te peguei, eu que te peguei.

Laura – Você não me pegou nada, vai ter que correr atrás de mim de novo!

Marcelo – Então é melhor correr!

Laura – Para. Eu acho que já tá bom dessa brincadeira. Que tal a gente parar um pouco e descansar?

Marcelo – Ah, não...

Laura – Então você vai brincar aí sozinho.

Hebeta surge na varanda.

Hebeta – Meninos, venham... O pai de vocês tem visita e ele que falar os dois. Venham logo, venham!

Corta para/

Cena 6/ Casarão Sales/ Sala/ Dia/ Interno

Hebeta chega acompanhada de Laura e Marcelo. Tony e André estão diante da mesa principal, com um bom vinho no centro.

Tony – Olha lá eles, veja se não estão lindo, as coisas mais fofas do mundo.

André – É, meu chapa, parece que o DNA deu sorte, hein. Muito bonitos!

Hebeta – Eu que cuido deles, a Silvia também cuida. Bem, ela cuida mais que eu. Mas meu amor é por todos eles. Laura é um presente. Já o meu filho de sangue, esse que é especial, o prendado da família Sales.

André – Ah, é? Então por que vocês não se apresentam? Hãm? Venha, Laura, quem é você? (Risos)

Laura dá alguns passos a frente.

Laura – Meu nome é Laura, eu tenho sete anos, e... E eu tiro notas boas em matemática e ciências. A professora me elogiou, disse que eu era uma das melhores alunas da sala.

Tony – E não mentiu. Precisa ver, André, o boletim dessa menina é verde, uma flora. Não é a toa que o meu futuro é dela, e é por isso que eu te chamei aqui.

André – Agora é a vez do Marcelo. Quem é Marcelo?

Marcelo não fala nada, olha para baixo e fica calado.

Hebeta – Vai, filho, o tio André tá falando com você. Quem é o Marcelo, hein? Anda, Marcelo, fala! Quem é o Marcelo de mãe, hein?

Tony – Deixa ele, Hebeta. Ele não quer falar agora. Leva eles pro quarto, eu tenho um assunto sério a tratar. O futuro da empresa, e sobre a festa de amanhã. Amanhã é dia.

Hebeta – (Estressada) Eu não posso cuidar de ninguém agora, eu tenho que sair, eu tenho que ir embora, vou me encontrar com amigas no shopping. Chama a Sílvia pra cuidar deles. Sílvia! (Grita) Cuida das crianças.

Sílvia – Eu cuido. Vamos tomar banho, coisinhas fofas?

Sílvia leva os dois para o banheiro. Hebeta pega a bolsa em cima do sofá e sai de casa.

Tony – A gente precisa arrumar algumas coisas pra amanhã. Tem que tá tudo nos perfeitos conformes, bebidas, cervejas, convidados, tudo...

Corta para/

Cena 7/ Agência/ Escritório/ Dia/ Interno

Michael está transando com uma de suas “meninas” na cama do escritório.

Forte batidas vem da porta, e antes que Michael saísse de cima da prostituta, Hebeta entra no escritório.

Michael – Que palhaçada é essa, Hebeta?

Hebeta – Palhaçada eu que digo, você aí fazendo papai e mamãe com essa menina, tão jovem, tão lúdica, não merece um simples papai e mamãe.

Michael – Olha o que você tá falando...

Hebeta – Estou falando a verdade nua e crua, Michael. Elas só transam com você porque você tem poder sobre elas, e não porque gostam, quer dizer, você é gostoso, contínua bonito, mas papai e mamãe, por favor... (Risos)

Michael – Olha, Raquel, desculpa, depois a gente contínua.

Hebeta – Se você quiser voltar pra ter um papai e mamãe, meu Deus, a que ponto chegamos. Já basta os velhos que você tem que aturar, e mais os desejos fora do comum do seu chefe? A que ponto chegamos, não é?

Raquel se veste e sai rapidamente. Hebeta vai até a cama de Michael e se senta na borda.

Michael – O que tu veio fazer aqui? Atrapalhar o meu momento?

Hebeta – Eu falei aquilo porque tava com inveja mesmo. Enquanto ela pega você, eu tenho que aturar o velho na cama. Perdi as contas de quantas vezes eu tive que dizer que estava com dor de cabeça, que estava triste. Perdi.

Michael – Eu sei.

Hebeta – Olha, Michael, eu cheguei em um ponto que eu não aguento mais olhar na cara dele. Eu não aguento mais ouvir aquela voz horrenda. Também aquela filha dele não ajuda, chata, incrivelmente chata. Aquela voz infeliz, desgraçada, fina. Ok, eu estou reclamando de barriga cheia, tenho dinheiro pra dar e vender, mas não ainda não é o suficiente.

Michael – Tudo acaba amanhã, gata.

Hebeta – Tudo acaba amanhã. E pra variar ele insistiu durante todos esses anos esconder que era o dono da Marinho, colocando o amiguinho dele como dono de fachada, escondendo a própria identidade.

Michael – Ele fez isso por um bem maior...

Hebeta – Ele não queria era pagar de burro. Uma metalúrgico da ralé, de meio de favela, como que iria aprender do dia pra noite a comandar aquilo tudo. Não foram poucas o quanto eu queria pegar uma faca e rasgar tudo daquele homem. Olha, eu nunca criei uma raiva tão grande como agora.

Michael – A gente precisa recapitular isso, vai que na hora algo dá errado?

Hebeta – Não vai dá errado, querido. Subornei metade daquele bufê falido. Eles sabem, claro que sabem. Eles sabem que se algo der errado eu coloco aquela porcaria de barranco a baixo.

Michael – E a filha?

Hebeta – Você sabe, não se faz de besta. Quando aquela porcaria de festa acabar, a gente pega aquela criança maldita, que ele jura que vai assumir o posto quando ele partir dessa pra melhor, e joga no lixão. E lá ele vai ficar até o fim dos dias, mofando entre o lixo, bebendo o chorume, comendo resto de alimento podre. Apodrecendo naquele inferno. Um final digno pra aquela vadia infantil. O final que ela merece.

Corta para/

Cena 8/ São Paulo/ Externo

Takes diversos de São Paulo amanhecendo.

O sol começa a escurecer. Pessoas almoçam em restaurantes e em suas casas.

A lua aparece.

O salão de festas abre as portas.

Carros de luxo estacionam em frente ao espaço enorme. Pessoas com roupas de glamour caminham até o salão, sendo recebidas por atendentes.

Um carro preto estaciona na frente, de lá sai Hebeta. Ela encara a movimentação e logo adentra o ambiente,

Corta para/

Cena 9/ Festa Marinho/ Interno/ Noite

Hebeta se acomoda em uma mesa próxima do palco. Pega o telefone e digita algumas teclas. O outro lado responde.

Garçom – Oi, dona Hebeta.

Hebeta – Que oi, menino? Eu sou mulher de oi. Eu sou mulher de Senhora, vossa senhoria, mas tudo bem. Como andam as coisas por aí? Tá tudo certo?

Garçom – Tudo em seus mais perfeitos conformes, senhora Hebeta.

Hebeta – Você sabe que isso não pode ter erro algum, jamais vai poder. Nada pode dar errado, nada!

Desliga o telefone, e é surpreendida pela chegada de Carmem.

Carmem – Tem alguém nessa cadeira?

Hebeta – Não, não tem. Pode sentar.

Carmem – Obrigada, querida. A minha limusine quebrou no meio do caminho, que ódio do meu marido. Pegou uma das piores, e logo pra mim.

Hebeta – Eu não te conheço. Ou conheço?

Carmem – Me chamo Carmem. Meu marido é sócio da Marinho, viaja que é uma beleza. Eu comprei uma casa nova, tá em obra ainda. Mas vai ser uma das maiores mansões que essa São Paulo já viu.

Hebeta – Que ótimo, que maravilha. Deve ser bom morar em um lugar grande, não é?

Carmem – É ótimo. E você, querida, como é o teu nome?

Hebeta – Hebeta.

Carmem – Hebeta?

Hebeta – (Risos) Sim.

Carmem – E qual a sua posição social pra tá aqui?

Hebeta – Você vai descobrir daqui a pouco.

Carmem – Você é uma fofa, uma fofinha!

Corta para/

Cena 10/ Festa Marinho/ Sala/ Noite

Tony ajusta a gravata em frente ao espelho. André abre a porta e entra, indo na direção do amigo.

Tony – Como é que tá lá fora? Tem muita gente? Eu tô ficando nervoso.

André – Você não deve ficar assim, é o teu momento. Onde o Brasil inteiro vai saber quem é o dono da Marinho.

Tony – Mesmo assim, cara, meu coração tá quase saindo da boca. Eu tô muito nervoso, muito, muito.

André – Pensa positivo. Pensa que agora é o momento onde tua vida vai bombar de verdade. Você vai ser entrevistado, finalmente a gente vai poder transferir essas quantia absurda que tá guardas nos cofres da empresa, e sofrendo perigo, pra você. É quando você finalmente vai tá entre aquela lista dos homens mais rentáveis de São Paulo. Chegou a tua hora, vamos.

Tony – Eu tô pronto, eu acho que eu tô pronto! Vamos.

Corta para/

Cena 11/ Festa Marinho/ Corredor/ Noite

Tony e André caminham pelo corredor vazio, contudo uma porta no fim se abre, saindo um garçom com uma bandeja.

André – Chegou na melhor hora, rapaz. Bebe essa água, Tony, aí vê se você fica "trank" de uma vez.

Tony – (Para o garçom) Obrigado, viu?

Tony bebe a água até o final. Os dois partem para o palco principal.

Corta para/

Cena 12/ Festa Marinho/ Noite

André entra primeiro. Vai até o microfone.

André – Eu poderia falar muitas coisas aqui, dizer sobre o quanto foi difícil guardar a identidade dele. Foi muito difícil. Mas foi o próprio que decidiu que não podia se revelar assim pro mundo. Ele que me disse que teria que ir com calma. Precisava entender como funcionava o mundo da nova São Paulo. Ele precisava entender. Sete anos foram necessários para que ele entendesse tudo, e finalmente tivesse coragem de vir até aqui e revelar quem ele era... Com vocês, o dono da empresa Marinho.

Ninguém sai da porta. O público fica preocupado.

Close em Hebeta, que emite um breve sorriso.

Finalmente a porta é aberta. Tony sai com a feição avermelhada, desabotoando a gravata. A falta de respiração lhe atinge de uma maneira totalmente irreversível.

Tony – Socorro!

Tony vai até o centro do palco, quase caindo. André o segura pelos braços, e tira a gravata.

As pessoas se levantam de suas cadeiras e observam 
com apreensão o que acontece diante de seus olhos.

André – O que tá acontecendo com você... Fala, 
Tony.

Tony se retira dos braços de André. Vai até a borda do palco e tenta respirar. Seus olhos se cruzam com o de Hebeta, que se levanta, inteiramente preocupada.

O corpo cai do palco. As pessoas se afastam, outras correm e algumas gritam, totalmente desesperadas.

Hebeta se levanta da sua mesa e corre até Tony. Se ajoelha e os dois trocam os últimos olhares.

Tony – Querida... Eu... Eu tô morrendo.

André – Chamem um médico!

Tony – Eu tô indo embora.

Hebeta – Tony...

Tony – Eu...

Hebeta – O que? O que você tem pra me dizer antes de ir embora?

Tony – Por favor, Hebeta... Por favor, cuida da minha filha, Laura. Cuida dela, por favor.

Hebeta vai até o ouvido de Tony.

Hebeta – (Sussurrando) Eu quero que tua filha morra, e o destino dela vai ser a merda do lixão. Boa sorte na passagem pro inferno, desgraçado. Vai apodrecer no inferno, desgraçado!

Tony – Como você pode me dizer esse tipo de coisa...

Hebeta – (Sussurrando) Eu nunca te amei. Sempre te achei um velho ridículo. Eu não aguentava mais passar minhas noites contigo, quase um sofrimento. E agora chega o momento que finalmente a minha vida vai mudar, e você vai morrer, finalmente, velho... Seu velho, você vai morrer. Vai me deixar livre com todo o dinheiro que eu tenho... Seu velho! Acabou a tua vida. Dá adeus pro mundo e morre logo de uma vez, desgraçado... 

Hebeta se ergue, enxuga uma lágrima forçada. 

Close em seu rosto/























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