Chega o grande dia da revelação de quem é o dono da empresa Marinho, quem estava por trás de todos os investimentos e negócios nos últimos sete anos? Essa deixa é a oportunidade de Hebeta e Michael conseguiram o que querem, e tudo fica planejado.
O público aguarda as revelações no espaço de festa, contudo, a água envenenada que Tony bebe, coloca sua vida nos mais secretos confins:
Finalmente a porta é aberta. Tony sai com a feição avermelhada, desabotoando a gravata. A falta de respiração lhe atinge de uma maneira totalmente irreversível.
Tony – Socorro!
Tony vai até o centro do palco, quase caindo. André o segura pelos braços, e tira a gravata.
As pessoas se levantam de suas cadeiras e observam com apreensão o que acontece diante de seus olhos.
André – O que tá acontecendo com você... Fala, Tony.
Tony se retira dos braços de André. Vai até a borda do palco e tenta respirar. Seus olhos se cruzam com o de Hebeta, que se levanta, inteiramente preocupada.
O corpo cai do palco. As pessoas se afastam, outras correm e algumas gritam, totalmente desesperadas.
Tony – Querida... Eu... Eu tô morrendo.
Hebeta – O que? O que você tem pra me dizer antes de ir embora?
Tony – Por favor, Hebeta... Por favor, cuida da minha filha, Laura. Cuida dela, por favor.
Hebeta – (Sussurrando) Eu quero que tua filha morra, e o destino dela vai ser a merda do lixão. Boa sorta na passagem pro inferno, desgraçado. Vai apodrecer no inferno, desgraçado!
Tony – Como você pode me dizer esse tipo de coisa...
Hebeta – (Sussurrando) Eu nunca te amei. Sempre te achei um velho ridículo. Eu não aguentava mais passar minhas noite contigo, quase um sofrimento. E agora chega o momento que finalmente a minha vida vai mudar, e você vai morrer, finalmente, velho... Seu velho, você vai morrer. Vai me deixar livre com todo o dinheiro que eu tenho... Seu velho! Acabou a tua vida. Dá adeus pro mundo e morre logo de uma vez, desgraçado!
Fique agora com o capítulo de hoje:
Adriana Esteves como Hebeta
Carmem como Christiane Torloni
Laura como Mel Maia (Ainda criança)
Luciana como Glória Pires
Michael como Vladimir Brichta
Adriana Esteves como Hebeta
Carmem como Christiane Torloni
Laura como Mel Maia (Ainda criança)
Luciana como Glória Pires
Michael como Vladimir Brichta
Cena 1/ Festa Marinho/ Noite
Hebeta – (Gritando) Chamem um médico, o meu marido, o meu marido tá morrendo, chamem um médico.
Carmem se aproxima.
Carmem – Ei, você não precisa ver isso. Vamos lá pra fora, Hebeta.
Hebeta – Não... eu não vou a lugar algum, eu preciso ficar do lado do meu marido, o homem que tanto me amou. (Para Tony) O que aconteceu com você, querido? Quem fez isso com você, meu bem...
Carmem – Ele não vai te responder, Hebeta.
Hebeta – Meu marido...
Carmem – Ele tá morto, você não precisa ver isso.
Uma médica com roupa de festa chega e passa alguns segundos examinando Tony. Hebeta se levanta e se posiciona ao lado de Carmem.
Hebeta – (Chorando) Será que ele vai ficar bem, Carmem? A gente tinha tanta coisa pra fazer ainda nessa vida. A gente ainda iria construir tanta coisa, a que ponto a inveja pode acabar com as nossas vidas... Tony.
Carmem – Espera ela dizer alguma coisa. Independente de qualquer coisa que aconteça, eu vou estar do teu lado. Te conheci agora, mas te considero parte da minha família...
A médica se levanta e encara Hebeta.
Médica – Infelizmente ele não resistiu. Ele veio a óbito
Corta para/
Cena 2/ Carro/ Noite
Hebeta – (Gargalhando) Você precisava ver como aquele velho caiu. Parecia um saco de merda despencando de um penhasco. Um fruta podre. E eu não me redimi até na despedida do velho. Disse que ele iria pro inferno, que acabaria com a vida da filha dele.
Michael – Você não existe.
Hebeta – Trouxe as armas? Eu espero que sim.
Michael – Como eu ia poder esquecer delas?
Hebeta – É agora que a gente manda aquela vagaba infantil pro inferno. Ela vai ter o que merece.
Michael – Mas cê tem certeza que não tem ninguém na casa?
Hebeta – Só a Sílvia, mas aquela dali, meu querido, é plantão vinte e quatro horas. Não sei como ela aguenta a voz infernal, eu já tinha pego o primeiro copo que visse pela frente e tacado na cabeça daquela menina.
Michael – Depois daqui você vai ter que procurar um psicólogo, isso não é normal...
Hebeta – Vai querer pagar de bom moço agora? Te lava, Michael. Depois de tudo que a gente passou, esses sete anos todos, e você vem com pena da nova moradora do condomínio de luxo chamado lixão? Quem tem que procurar um psicólogo é você, bipolaridade existe.
Michael – Esse teu ódio não é normal, é isso que eu tô falando.
Hebeta – Fala isso porque não teve que transar com o velho, esperar o Viagra fazer efeito e ele vir com aquele cheiro de sabonete de dois reais no mercadinho. O velho saiu da pobreza, mas a ralé ficou enfurnada nos pelos imundos, misericórdia.
Michael – Ele já morreu... A gente precisa seguir bola a dentro, Hebeta.
Hebeta – É exatamente por isso, Michael, que eu trouxe isso. (Saca a arma)
Michael – Maravilha. Maravilha! Tá carregada, né?
Hebeta – Claro que tá. Qualquer coisa a gente usa sem piedade. Se a Sílvia aparecer no meio do caminho, se aquela pirralha gritar, a gente mete o tiro no pé e manda calar a boca.
Michael – Então, gata, chegou a hora da gente usar tudo isso. Chegou a hora de mandar a Laura pro lixão. Chegou a hora!
Corta para/
Cena 3/ Casarão Sales/ Noite
Hebeta entra minuciosamente pelos portões principais, e caminha até a porta. Saca a chave do bolso e abre a tranca, adentra o casarão.
Corta para/
Cena 4/ Casarão Sales/ Corredor/ Noite
Hebeta segue no caminho breve, mas se assusta quando uma das portas é aberta. Sem saber onde ir, contudo quem sai do quarto é Laura, junto de sua boneca.
As duas trocam olhares, e Hebeta lentamente puxa sua arma.
Hebeta – Calma, linda. Sabe como você faz pra não ter o sangue da tua cabeça jogada do outro lado da parede? Antes eu atiro na boneca. Tá bom? Você vai ficar calada, sabe calada? Sem emitir som nenhum. Caladíssima! Sabe calada?
Laura – Tia Bêta, por que você tá com uma arma?
Hebeta – Tu sabe que o teu pai morreu, né? Ou a Sílvia ainda não te contou? Eu acho que ela não te contou, mas o teu pai tá bem morto agora. Você quer ver o teu pai de novo?
Laura – Quero...
Hebeta – Vai ter que ir pro inferno, é lá que o teu pai foi se meter. Ele morreu e foi pro inferno.
Laura – A professora disse que quem ia pro inferno eram pessoas ruins.
Hebeta – E não mentiu, mas quem disse que o teu pai não era uma pessoa ruim, hein?
Laura – Meu pai não era ruim, não era.
Hebeta – Você que pensa, agora vai. Vem comigo e sem fazer barulho nenhum. Se não eu atiro e te mato, a bala tá engatilhada, um tiro certeiro destroça tua cabeça e tu morre chorando, desgraçada. Vamos...
Corta para/
Cena 5/ Casarão Sales/ Sala principal/ Noite
Hebeta para com Laura no centro da sala.
Hebeta – Olha pela última vez essa sala. Olha bem, entendeu? Vê o que o dinheiro pode fazer. Olha bem pra essa televisão, não é ótima? Eu sei que é! Olha bem pra porcaria desse sofá em veludo, eu que fui com o teu pai comprar. Sabe quanto a gente gastou? Uns dez mil reais. Esse tapete também foi caríssimo, mas eu comprei mesmo assim. O que o dinheiro não pode fazer, Laura.
Laura – Pra onde você tá me levando?
Hebeta – A gente vai fazer um passeio, querida. Mas segue as mesmas regras da arma. Sai da linha que eu atiro.
Laura – É muito longe?
Hebeta – Cala a boca e anda. Vai até a porta e segue, sem me perguntar mais nada.
Corta para/
Cena 6/ Casarão Sales/ Noite/ Externa
Hebeta e Laura caminham pelo jardim e chegam nos portões. O carro de Michael estaciona em frente. Hebeta abre lentamente sai.
Corta para/
Cena 7/ Casarão Sales/ Noite/ Externa
Match Cut: A pessoa segue pelo jardim do casarão e para quando chega em uma pilastra. Apoia sua mão e encara Hebeta e Laura saindo.
Corta para/
Cena 8/ Carro/ Noite/ Externa
Laura – Pra onde a gente tá indo? Eu quero voltar pra casa, eu quero voltar pra casa!
Hebeta – Para de falar, se lembra do que eu disse dentro daquela casa. Pensei que já deveria ter acostumado, vagabunda infantil.
Michael – Para, Hebeta, é o último momento da criança com a gente...
Hebeta – Eu já falei sobre esse seu bipolarismo, você deveria parar com essa tua palhaçada, e olhar pra frente, olha pra frente. Se você bater esse carro...
Michael – Eu tô falando da menina...
Hebeta – Mas é exatamente dela que eu estou falando. Então olha pra frente. Eu não quero morrer sem antes colocar ela no lugar de origem, onde nunca deveria ter saído. Quero ver essa porca chorando, pedindo, berrando pra voltar pro carro, e a gente? Ah, dando tchauzinho e mostrando os dentes, é assim que despedidas importunas devem ser feitas, secas.
Laura – Na volta a gente pode comprar um sorvete?
Michael – Essa viagem é só de ida, Laura.
Hebeta – É, Laura, de ida só pro inferno!
Corta para/
Cena 9/ Estação de ônibus/ Noite/ Externa
A família Braga desce do ônibus, juntos de suas malas e pertences.
Mariana – Ai, minha lombar. Minha lombar, eu não mereço essa dor, pelo amor de todos os santos, minha Nossa senhora das Dores, tira essa dor das minhas costas, pelo amor de Deus!
Josenildo – Deveria era se alongar, seguir meus conselhos, ora... Se alongar, agora vamos seguir em frente, sai da frente, sai de cima e sai de baixo!
Ivete – Pai, pelo amor, cuida da mãe, ela tá doente.
Josenildo – Isso daí é corpo mole, ela quer é moleza. Pois muito que bem, que você se aprume, pegue tuas malas, que Nova São Paulo tá chegando.
Mariana – Esse é o marido que eu mereço?
Josenildo – Eu já aluguei o nosso quartinho e o espaço pro bar, e você minha filha, eu tenho uma surpresa pra te dar, meu bem...
Ivete – Qual? Fala pai, qual surpresa?
Josenildo – Eu aluguei um cantinho do lado, você vai ter o seu salão de beleza, a nossa família vai chegar chegando em São Paulo. Adeus, Recife, pode vim São Paulo!
Corta para/
Cena 10/ Lixão/ Noite/ Externa
O carro cruza os portões principais e segue próximo até um amontoado de lixo. Estaciona, a porta é aberta. Hebeta e Laura saem.
Laura – Que lugar é esse, tia Hebeta. Eu não quero...
Hebeta – Não tem o que querer, agora anda, anda, vai andando pra lá, pra lá pra traz.
Laura – Não me deixa aqui, eu quero voltar pra casa.
Hebeta – Não era você a humilde, que seu pai enchia a boca pra falar que você não aceitava nem mesada direito? E tenho dito, ele parou no inferno e você vai parar na merda do lixão.
Laura – É sujo, o cheiro é mal.
Hebeta – Olha, Laura, eu sinceramente não me importo. Eu só quero que você ande, anda pra lá, pode andar.
Laura – Por favor, tia Hebeta, eu não quero ir.
Hebeta – Não tem escolha, eu tô perdendo a paciência...
Laura – Tá bom, eu vou...
Hebeta – E olha aqui, garota, se você ousar em contar pra alguém que a titia Hebeta e o titio Michael te deixaram aqui, eu acabo com a tua vida, e você sabe eu não tô brincando, você tá me entendo?
Laura – Tô.
Hebeta – Ótimo, meu bem, agora anda... Pode ir andando e não para, só quando achar uma casa, cair em um buraco e ninguém te achar mais, e você morrer logo de uma vez, inútil.
Laura – Eu já estou indo.
Hebeta – Pode ir, vai andando, pode ir. E reza pra não eu ter uma outra ideia pior que colocar você aqui, reza! Eu poderia te matar, eu poderia acabar com a tua vida.
Hebeta saca uma arma.
Laura anda lentamente.
Michael – Hebeta, para com isso, você vai chamar atenção do pessoal. Para com isso, Hebeta.
Hebeta – Eu poderia acabar contigo agora mesmo, víbora do agreste. Não seria de tão mal modo acabar logo com tudo isso, te transformar em pó.
Michael – Para!
Hebeta – O fim é lento, mas você vai gostar, vai bater palmas, vai preferir ter morrido do que passar anos em um lixão.
Michael – Para com isso
Hebeta – Diga adeus a esse mundo. Quem diria, matar pai e filha em menos de vinte e quatro horas.
Michael – Não se atreva.
Hebeta – É o fim!
Luciana surge diante da montanha de lixo e agarra Laura.
Luciana – Vocês não vão fazer nada com a minha filha, vão embora daqui, seus desgraçados!
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