Sexto capítulo de "Águas de Março" - A dor de um arrependimento


No capítulo anterior: Jurema ameaça Karina com uma gravação. Amir assalta Marcos, que o leva para a ONG. Karina diz que dará mais dinheiro para Jurema. Augusto expulsa Cecília da Ômega. Antônio sofre bullying na escola e omite o sofrimento para Pedro. Uma viagem da ONG é cancelada com a ausência de Amir. Karina quebra tudo na ONG e Marcos interroga Amir sobre o que aconteceu. Cecília descobre a armação do pai na Ômega em San Martín.

Capítulo 06: A dor de um arrependimento

 (Cena 01 – Ômega – San Martín/Interior/Noite)
(Cecília faz cara de chocada)
Augusto: Agora venha ver como isso aqui era bem estruturado antes de eu pensar nisso.
(Cecília corre para os fundos, e entra no carro)
Cecília: Eu não acredito...meu próprio pai é só mais um ladrão que passa por essa cidade. Será que o Pedro está metido nisso também? Não, ele com certeza não seria capaz disso...será?

(Cena 02 – ONG/Interior/Noite)
Malu: Calma, Marcos. Também não é assim.
Marcos: Calma, Malu? Você tá me pedindo pra ter calma? Eu levei anos pra construir isso aqui, e em apenas um dia, um garoto que não me diz nem o nome já sai quebrando tudo assim sendo que eu só quero ajudar ele? Assim fica difícil, hein?
Malu: Vem aqui, Marcos. Acho que é melhor conversarmos a sós primeiro. Crianças, vão para o dormitório. A viagem foi cancelada.
(Marcos e Malu vão para outro cômodo. Enquanto as crianças se deitam, Amir pega a chave que Malu deixou sem perceber e foge da ONG, largando a chave na porta. Malu volta ao dormitório algum tempo depois e vê que ele sumiu.)
Malu: Marcos, o garoto foi embora.
Marcos: Droga!
Malu: Olha só, a chave tá aqui. Eu fui muito burra de não ter fechado a porta.
Marcos: Calma, a culpa não foi sua. Eu vou procurar ele ao redor daqui.  (Enquanto isso, Amir chega à casa de Rodolfo)
Rodolfo: Finalmente moleque. Te procurei que só durante esses dias, e nada de tu aparecer.
Amir: Eu fui assaltar aquele cara da ONG que o senhor diz que é tão ruim. Ele me raptou, e tentou me deixar lá.
Rodolfo: Deve ter conseguido arranjar muita coisa daquele trouxa, né?
Amir: Na verdade, não. Eu tive que fugir de lá de mãos vazias.
Rodolfo: Pirralho burro!
(Rodolfo dá um soco forte em Amir, e ele cai no chão)
Rodolfo: Só por isso, vai ter que dormir aí fora hoje. E agradeça porque eu não estou lhe dando uma bela de uma surra.
(Marcos procura Amir por vários lugares, mas não o acha: “Droga!”)
Malu: E aí? Achou ele?
Marcos: Não.
Malu: Fica assim, não. A culpa não foi sua.
Marcos: E sua também não! Vamos pras nossas casas, porque amanhã podemos fazer um dia muito melhor! Boa noite, Malu!
Malu: Pra você também Marcos!

(Cena 03 – Casa de Augusto/Interior/Noite)
(Cecília entra meio distraída e escuta a voz de Pedro)
Pedro: Cecília?
Cecília: Uh? Que foi?
Pedro: Onde você estava?
Cecília demora a responder: Eu piorei e resolvi ir ao hospital.
Pedro: Nossa, você deve ter ficado muito doente pra ter ficado esse tempo todo no hospital...
Cecília: Na verdade, foi culpa do trânsito. Hoje estava terrível...nem sei como consegui chegar...
Pedro: O que você teve pra ficar tão ruim?
Cecília: Eu estava muito tonta, cansada, vomitando e com dor de cabeça...foi horrível.
Pedro: Isso tudo e você conseguiu dirigir até o hospital? Impressionante! Talvez por pouco você não tenha levado um acidente, hein? Por que não me chamou?
Cecília: Eu liguei, mas deu fora de área...onde você estava?
Pedro: No trabalho como sempre, ora...
Cecília: Essas operadoras me tiram os nervos! Boa noite, vou tomar um banho e dormir porque estou exausta...
(Cecília vai para o quarto)
Pedro: Você não me engana, Cecília...tem alguma coisa por trás disso.
(Corta para: Quarto/Interior/Noite)
(Cecília apaga o registro de ligações do celular)
Pedro: Cecília, em qual hospital você foi?
Cecília: Naquele hospital público que fica a uns 7 km daqui, lá perto do restaurante no qual você me pediu em casamento...
Pedro: Ah, sei...bem, vou dormir, boa noite.
Cecília: Até amanhã, amor.
(Cecília e Pedro dão um selinho)

(Cena 04 - Rua/Exterior/Noite)
(Amir está andando pela rua, e alguns jovens encontram ele)
Jovem 1: Olha só, pirralhinho morador de rua!
Jovem 2: E aí, moleque? Tudo certo, véi?
Jovem 1: Gente como você devia ser morto.
Amir: Me deixem em paz.
Jovem 2: Olha só! Mandou a gente deixar ele em paz...
Jovem 1: Vamos deixá-lo em paz?
Jovem 2: Claro que não!
(Amir tenta se defender, mas leva socos. Ele chora e grita muito, leva vários chutes, é despido, e deixado na beira da estrada com a cueca na cabeça)


(Cena 05 – Hospício/Interior/Dia)
Karina: Olá, bom dia...a Jurema já chegou?
Recepcionista: Não, hoje é o dia de folga dela.
Karina: Ai que droga...eu devia ter pensado nisso...
Recepcionista: Eu posso lhe oferecer alguma ajuda?
Karina: Sabe o que é? Você já deve perceber que eu e ela somos meio amigas, né?
Recepcionista: Sim, eu me lembro do seu rosto.
Karina: Então...a gente se vê de vez em quando pra combinar umas coisas nossas, e a gente sempre marca antes. Só que meu celular quebrou e eu perdi total comunicação com ela. Aí hoje eu vim fazer uma entrega que ela estava SUPER ansiosa pra receber, sabe? Aí quando chego aqui...me deparo com uma coisa dessa.
Recepcionista: Se você quiser, eu posso arranjar o endereço dela. Sou eu que controlo as fichas dos funcionários aqui.
Karina: Jura que você faria isso por mim? Eu ficaria muito agradecida, e tenho certeza que a Jurema também.
Recepcionista: Claro, só espera um momento que hoje o dia está super corrido aqui. Sente ali que daqui a pouco lhe entrego o endereço da Jurema.
(Karina senta em um lugar, e depois de um tempo, a recepcionista chega com o papel)
Recepcionista: Aqui está.
Karina: Muito obrigada.
Recepcionista: Por nada.
(Karina caminha até a saída do hospício e fala, sorrindo: “Se prepara, Jurema. Amanhã você acorda sem o seu filhinho fora de casa)
(A recepcionista entra no quarto de limpeza, e faz um telefonema)
Recepcionista: Alô?!...Jurema?! Aquela mulher veio aqui. Ela me pediu seu endereço, e eu dei como você permitiu...Está bem, se ela voltar aqui, te ligo novamente, beijo.
(A recepcionista desliga o telefone e vai para o balcão)
(Corta para: Casa de Jurema/Interior/Dia)
(Jurema desliga o telefone, e vai até a cozinha. Pega uma faca e volta pro quarto, colocando debaixo do travesseiro)

(Cena 06 – Rua/Exterior/Dia)
(Amir está no chão, no estado em que foi deixado. Marcos o acha e se aproxima)
Marcos: Meu Deus! Garoto, acorda! ACORDA!
(Amir chora)
Marcos: Calma, eu vou te levar pros teus pais. Quem fez isso com você?
Amir: Foram três caras que apareceram aqui.
Marcos: Onde seus pais moram?
Amir: Eu não tenho pais.
Marcos: Ok, calma...eu vou te levar pra um lugar melhor, e vou te ajudar. Se acalma, tá? Tudo vai ficar bem.

(Cena 08 - Prefeitura/Interior/Dia)
Pedro: Augusto, a Cecília costumava ser muito fogosa antes de me conhecer?
Augusto: Fogosa? Especifique mais.
Pedro: Ela costumava ter muitos namorados?
Augusto: Não, por quê?
Pedro: Ela saiu ontem e voltou tarde da noite.
Augusto: Mas você perguntou a ela onde tinha ido?
Pedro: Perguntei e ela disse que tinha ido ao hospital. Mas eu não acreditei muito no que ela falou não.
Augusto: Então verifique, ora!
Pedro: Como assim?
Augusto: Me passa esse telefone.
(Pedro estende o telefone pra ele)
Augusto: Ela foi a um hospital público ou particular?
Pedro: Público.
Augusto: Burra. Tem dinheiro e usa uma bosta dessas.
Augusto faz uma ligação: Alô?...Aqui quem está falando é o Augusto Mendonça, ex-prefeito da cidade. Eu quero que você me passe uma informação, se milha filha esteve aí ontem...fala logo ou eu tiro teu emprego, sua lontra...tá bem, tô no aguardo...certo, da próxima vez que eu ligar fala, ao invés de ficar enrolando, ok?
(Augusto põe o telefono no gancho)
Pedro: E então?
Augusto: E não deixou nem um cuspe lá.
Pedro: Droga!
Augusto: Resolva isso com sua mulher, e depois me diga o que descobriu. Adeus.
Augusto chega à porta e fala: "Aprende a fazer esses truques. Se fosse um hospital particular, era só dizer que conhecia é amigo da família do médico".
(Augusto fecha a porta)

(Cena 08 – Casa de Augusto/Quarto/Interior/Dia)
(Cecília entra e se depara com Pedro)
Cecília: Bom dia, amor. Como foi seu dia?
Pedro: Foi bom. Mas poderia ser bem melhor se eu resolvesse um mistério.
Cecília: Mistério? Como assim?
Pedro: Eu liguei pro hospital onde você foi ontem, Cecília. E eles disseram que não há nenhum registro seu lá. Você pode me informar onde estava?
(Congelamento em Cecília)

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