Sétimo capítulo de "Águas de Março" - Acerto de contas


No capítulo anterior: Amir foge da ONG, e Marcos e Malu lamentam. Pedro interroga Cecília sobre aonde ela estava. Amir é espancado por três jovens. Karina descobre o endereço de Jurema, e a recepcionista informa a colega de trabalho que ela deu seu endereço para Karina. Marcos socorre Amir. Augusto consegue descobrir que Cecília não estava no hospital na noite anterior. Pedro interroga Cecília aonde ela estava, desta vez afirmando que ela não foi ao hospital.

Capítulo 07: Sensação de perigo

(Cena 01 - Casa de Augusto/Interior/Dia)
Pedro: Anda, Cecília. Estou esperando uma resposta.
Cecília: Você está esperando uma resposta de mim? Meu querido, eu lamento muito, mas eu não tenho como te responder isso. Deve ter sido algum erro de algum funcionário de lá...eu estava péssima, mas também não estava morrendo. O médico só me consultou uns 5 minutinhos, mandou eu tomar um comprimido e me dispensou.
Pedro: Ok, então com essa consulta tão rápida você chegou tarde da noite daquela forma? Sendo que a consulta foi hiper rápida?
Cecília: Você tá com amnésia? Eu disse que cheguei tarde por causa do trânsito, e não da consulta. Mas agora me responde uma coisa, Pedro. Quem te contou isso?
Pedro: Eu liguei pro hospital.
Cecília: Por que você foi perguntar isso?
Pedro: Ué, porque é claro que eu fiquei desconfiado com minha mulher chegando quase de madrugada em casa.
Cecília: Sinto lhe informar, mas se você tem alguma mulher, com certeza não sou eu, porque eu não sou objeto pra ser de ninguém. Agora me escute, e abra bem as orelhas pra me ouvir: Nunca mais desconfie de mim, e faça uma loucura dessas. Nunca mais, me entendeu?! Era só o que me faltava...marido querendo mandar em mim. Essa foi boa! Adeus, vou para o quarto.
Pedro: Nós ainda não terminamos essa conversa.
Cecília: Terminamos sim. Se você tiver alguma outra conversa deve ser com os espíritos, porque essa daqui meu amor, já acabou faz tempo! Assunto encerrado.

(Cena 02 – ONG/Interior/Dia)
(Marcos entra com Amir)
Marcos: Malu, me ajuda!
Malu: Meu Deus, o que aconteceu?
Marcos: Eu encontrei aquele garoto que estava aqui ontem aqui perto. Parece que ele foi espancado, e está muito ferido. Fica aqui com ele que eu vou pegar o carro e a gente vai pro hospital.
Amir: Não...eu não quero ir pro hospital.
Marcos: Mas você está péssimo. Estou falando sério, você precisa de cuidados pra já!
Amir: Talvez alguém me ache na rua, é melhor não. Se for pra me ajudar, me ajuda aqui; caso contrário, só me deixe ir embora que eu me viro.
(Marcos e Malu se olham)
Marcos: Tá bem, a gente vai cuidar de você aqui. Crianças, deixem só eu, a Malu e ele aqui.
(As outras crianças saem)
Malu: Conta pra gente pelo menos qual é o seu nome.
Amir: É Amir.
Marcos: O que fizeram com você, Amir?
Amir: Eles me espancaram muito...porque eu sou morador de rua...
Malu: Meu Deus do céu...é impressionante como ainda tem gente que se acha superior a moradores de rua!
Marcos: Pois é, pra você ver como o mundo tá perigoso...fizeram mais alguma coisa com você?
Amir: Não...mas eu estou sentindo muita dor.
Marcos: Malu, toma esse dinheiro e vai ali na farmácia. Compra uns curativos e uns analgésicos. Tenho certeza de que ele vai precisar e muito.
Malu: Tá bem.
(Malu vai embora)
Marcos: Você sabe quem fez isso com você?
Amir: Não, não sei se isso é possível, mas eu desmaiei de tanta dor...
Marcos põe a mão na cabeça de Amir e fala: Fica calmo, garoto...você vai ficar bem. Eu prometo.


(Cena 03 – Hospício/Interior/Dia)
(Jurema chega, e fala com a recepcionista com a qual Karina conversou mais cedo)
Recepcionista: Jurema? Não esperava ver você aqui hoje. É sobre aquela mulher?
Jurema: Seja discreta. Não quero  que ninguém saiba que eu estou aqui. Eu só quero que você me passe a chave do quarto de uma paciente.
Recepcionista: Qual das?
Jurema: Janaína Pereira Castanho.
(A recepcionista olha espantada para Jurema)
Jurema: Que foi? Sim, é essa que você tá pensando. Me dá logo a chave, que saco!
(Recepcionista lhe dá a chave, e ela vai até o quarto de Janaína. Janaína está sentada num canto vendo o jardim pela janela. Parece deprimida, e se vira rapidamente ao escutar o barulho da porta se fechando)
Jurema: Eu passei a te medicar menos nesses últimos dias, e agora vai ser definitivo. Eu vou viajar pra fora do Brasil em breve, e você vai ficar boa definitivamente em poucos dias. A Karina acha que você praticamente não tem cura, mas não é bem isso. Dentro de alguns dias, você já vai estar forte o suficiente pra escapar daqui,
(Jurema segura Janaína com carinho)
Jurema: Olha...me desculpa, tá? Eu juro que só fiz isso tudo porque eu queria dar uma vida boa pros meus filhos. Mas agora você tá livre de mim.
(Jurema abraça Janaína, e ela faz cara de estranhamento)
Janaína: Adeus. Você está livre de mim.
(Jurema vai embora. Janaína abre um leve sorriso, vai para a janela e fica olhando o jardim. Jurema devolve a chave para a recepcionista)
Jurema: Eu me demito.
Recepcionista: O quê? Mas como assim? Jurema, explica isso direito. Você está ficando doida, mulher?!
Jurema: É isso mesmo que você ouviu. Eu vou receber uma grana e vou pra Paris.
Recepcionista: Mas você nem sabe falar francês...
Jurema: Eu me viro. Arrumo um velho gagá pra cuidar, e dou meu jeito. Depois a gente se despede, tá? Tchau.
Recepcionista. Ok, tchau.

(Cena 04 – Imagens do entardecer em San Martín e no bairro Etiqueta)
(Corta para: Rua/Exterior/Entardecer)
(Cida está andando pela rua cheia de papéis, quando esbarra em um homem)
Cida: Você tá cego?
Homem: Calma...uma mulher linda que nem você não pode ser tão brava assim não.
(O homem estira a mão pro rosto de Cida, mas ela desvia com um tapa)
Homem: E fortinha também.
Cida: Me deixa em paz, palhaço!
Homem: Olha, só não te encanto agora porque estou ocupado com negócio, mas se não, você ainda iria me pedir em namoro hoje.
Cida: Só se eu quisesse ir pro circo junto com a palhaçada inteira. Droga, eu já tava atrasada e você só piorou as coisas.
Homem: Ninguém mandou você ficar olhando pro chão.
Cida: Tá achando ruim? Privatiza a rua. Assim você tem ela todinha pra você. Obrigada por ter me feito perder minha única oportunidade de emprego em um mês!
Homem: Ei, calma...
(Cida vai embora)
Homem: Eu poderia ter oferecido o emprego, mas deixa pra lá...

Cena 05 – (Casa de Jurema/Exterior/Noite)
(Karina está andando ali por perto, e faz uma ligação)
Karina: Alô?...Jurema?...Eu já tô aqui no galpão...vem logo, o Marcos inventou de me dar uma viagem de presente de aniversário de repente, e eu tô louquinha aqui arrumando nossas coisas...você vem? Tudo bem, estou te esperando.
(Karina se esconde atrás de uma lata de lixo. Jurema vai passando e dobra a esquina. Karina vai para dentro da casa de Jurema)
Karina: Bebê...eu vou pegar você agora mesmo!
(Karina sufoca a criança com um lençol, apesar de que ela grita muito, e a coloca no carro)
Karina: Dá tchau pra sua casa, bebê. Dá tchau, dá!
(Karina fecha a porta do carro. No vidro, vê o reflexo de Jurema, e se vira rapidamente)
Jurema: Vagabunda!
(Jurema dá um tapa em Karina e ela cai no acostamento)
Jurema: Anda sua ratazana, se levanta, porque o show só começou agora!
(Congelamento em Karina)

Postar um comentário

0 Comentários