De: Anthonny
São Paulo - 1921
Cena 1: Praça São Paulo/EXT. MADRUGADA Sonoplastia: Instrumental piano
Uma mulher, loira, coberta com um véu e de preto com um vestido na altura da panturrilha deixa um bebê, numa cesta de palha coberto como uma manta de algodão
Mulher: Me desculpe meu filho, meu pai nunca aceitaria que sua filha fosse mãe solteira, sei muito bem que isto não é culpa sua, eu me apaixonei pelo homem errado, teu pai, me deixou a mercer quando soube de minha gravidez, eu fui para a casa de uma tia que me acolheu em segredo, agora estou a voltar para a casa de meus pais, seus avós, porém como já disse nunca aceitariam que eu voltasse com um filho no colo, solteira, com a honra ferida nunca poderia ter uma vida comum, casar, nunca teria como te criar, pode parecer maldade, falta de amor por você, mas infelizmente isso é consequência da dura vida que venho levando há nove meses, te deixarei este colar, há uma foto minha e de teu pai, espero que lembre-se sempre de nós.
Ela deixa o colar na cesta junto ao menino.
Mulher: Dói muito fazer isto, nem imaginas meu filho, adeus.
Após beija-lo ela sai apressada.
Cena 2: Praça São Paulo/EXT. DIA Sonoplastia: Ambiente
Várias pessoas passam pela cesta e a olham.
Zé Mendigo vê a cesta com Enzo e o pega no colo.
Zé Mendigo: Meu Deus! Um bebê...
Zé Mendigo observa ao redor para ver se alguém vem pegar Enzo.
Zé: Pelo visto ninguém virá buscar-te...
Zé Mendigo cheira Enzo.
Zé Mendigo: Está precisando de um banho, com certeza, sorte sua que tem um lugar ótimo para isto bem aqui. (risos)
Zé Mendigo dá banho em Enzo na fonte da praça.
Zé Mendigo: Agora está limpo!
Natália vai até os dois com algumas moedas na mão.
Zé Mendigo: Natália! Que surpresa boa, como foi a viagem para o exterior?
Natália: É um lugar lindo, as pessoas são bem vestidas, mas é bastante frio, estava com saudades do calor brasileiro! Está aqui Zé, algumas moedas para você, espero que te ajude no que precisar!
Natália da as moedas para Zé Mendigo.
Zé Mendigo: Imagine, obrigado, Deus te dará em dobro por sua bondade.
Natália: Mas que lindo este bebê, de onde ele veio?
Zé Mendigo: Foi deixado aqui na praça numa cesta.
Natália: Qual o nome dele?
Zé Mendigo: Está escrito nessa medalha, infelizmente eu não sei ler.
Natália: Enzo... Que lindo nome.
Gonçalves vê Natália conversando com Zé.
Gonçalves: Várias jóias no corpo, sem dúvidas é rica, finalmente alguém a quem vale roubar.
Gonçalves agarra Natália pelas costas e coloca uma faca na frente de seu pescoço.
Sonoplastia: instrumental Tensão
Natália se assusta.
Gonçalves: Não precisa ficar assustada, só o que precisa fazer é me dar as jóias e o dinheiro que tem aí!
Zé Mendigo: Não dê nada a este infeliz.
Gonçalves: E quem é você para me chamar de infeliz? Logo você que vive na rua, sem comida.
Zé Mendigo: Você não mentiu, vivo na rua, nesta praça aqui, porém tenho caráter, e nunca precisei roubar o que não é meu de ninguém para sobreviver, sempre fui honesto, e por isso estou vivo até hoje.
Gonçalves: Caráter? Honestidade? Ah não minta, um mendigo nunca teria tais qualidades se nem uma boa criação teve!
Zé Mendigo: Por que não? Parece que é a você que faltam qualidades, já que se presta a esse desprezível papel.
Gonçalves: O único desprezado por toda a sociedade que o ignora é você.
Zé Mendigo: Como você deve ser amargurado, infeliz, e de pouca fé.
Gonçalves: Não deveria ter se intrometido nisto, se arrependerá pelo resto da sua pobre vida.
Gonçalves solta Natália.
Gonçalves: Você está velho, tem certeza que vai querer me encarar? (risos)
Zé Mendigo: Pra sua infelicidade sei me defender muito bem.
Gonçalves: Não precisaria de defender se não tivesse se intrometido onde não foi chamado!
Zé Mendigo: Eu nunca deixaria você roubar uma mulher tão boa como Natália, ela é um exemplo pra toda sociedade!
Gonçalves fica próximo a Zé.
Zé Mendigo joga Enzo para Natália.
Zé Mendigo: Segure!
Natália sem jeito, segura Enzo.
Natália: Zé, não se machuque por isto, eu darei a ele minhas jóias, tudo, por favor!
Gonçalves: Eu agora faço gosto em acabar com este mendigo miserável.
Zé Mendigo: Venha como um homem sem nada na mão.
Gonçalves solta a faca no chão.
Gonçalves soca Zé Mendigo que vira o rosto novamente.
Zé Mendigo: Pensei que seria mais forte do que aparenta ser, estava enganado, infelizmente.
Zé soca Gonçalves que vai ao chão.
Gonçalves: Desgraçado...
Gonçalves avista a faca no chão, a pega e com certa dificuldade levanta.
Gonçalves: Tem razão, é bem mais forte que eu, mas não quer dizer que vai ganhar esta luta!
Gonçalves aponta a faca para Zé enquanto se aproxima dele.
Zé Mendigo: Se tivesse princípios lutaria sem isto.
Gonçalves: Que se dane os princípios, a minha única intenção é te mandar daqui direto pro inferno!
Os guardas chegam
Guarda: O que está a acontecer aqui?
Natália: Este homem, tentou me roubar, mas foi impedido por Zé.
Gonçalves esconde a faca atrás das costas.
Gonçalves: Claro que está a mentir, acha que eu roubaria alguém?
Guarda: Então o que é isto na sua mão?
Gonçalves mostra a mão esquerda.
Gonçalves: Nada!
Guarda: Mostre a outra mão!
Gonçalves fica quieto.
Guarda: Mostre a outra mão!
Gonçalves se vira para trás rapidamente e enfia a faca no braço de Zé Mendigo.
Os guardas seguram Gonçalves.
Guarda: Ficará um bom tempo na sarjeta!
Gonçalves: Ficarei sim, mas eu volto Zé Mendigo, e quando eu voltar vou acabar com você!
Os guardas levam Gonçalves.
Natália vai até Zé.
Natália: Está bem?
Zé: Estou sim, apenas meu braço que está a sangrar...
Natália: Zé, você não sabe como o agradeço, você me salvou eu devo minha vida à você!
Zé Mendigo: Apenas fiz o necessário.
Natália: Chamarei o doutor Ernesto, ele fará um curativo.
Zé Mendigo: Eu não tenho como paga-lo, não chame
Natália: Eu mesmo o pagarei, você se colocou em perigo por mim, é uma mostra de gratidão.
CORTA PARA:
Ernesto termina de fazer o curativo em Zé.
Ernesto: Daqui uma semana já estará bem cicatrizado, o corte não foi profundo.
Zé Mendigo: Agradeço muito.
Natália: Agora irei me recompor, nunca esquecerei o que fez por mim hoje, serei eternamente grata.
Natália entrega Enzo para Zé e vai embora.
Zé Mendigo: Natália é uma mulher exemplar, tenho orgulho de ter defendido ela.
Zé Mendigo: Eu não sei como vou te criar rapazinho, mas te darei tudo que precisar, poderá contar sempre comigo, Enzo...
Se Passam 20 anos.
Cena 3: Presídio/EXT. DIA Sonoplastia: Ambiente
São Paulo - 1941
Gonçalves (Gritando): Livre!
Gonçalves ri.
Carlos vai até ele.
Carlos: Meu pai, finalmente solto!
Gonçalves: Finalmente não é?
Carlos: Eu não entendi muito bem quando me disse que precisava vingar-se de um mendigo...
Gonçalves: Você não precisa entender, apenas me ajude, vamos, antes preciso tomar um bom banho.
Carlos: Realmente precisa.
Cena 4: Casa de Gonçalves/INT.DIA Sonoplastia: Ambiente
Gonçalves e Carlos entram.
Aurora: Papai, não sabe como é... Horrível te ver de novo!
Aurora olha furiosa para Gonçalves.
Gonçalves: Não era esta a recepção que eu esperava de você minha filha.
Aurora: Me economize papai, sabe muito bem o porquê, não bastasse viver sendo preso, arrumando brigas nas ruas de São Paulo, ainda gasta o único dinheiro que tínhamos! Sabe o que comi hoje?
Gonçalves: Não imagino o quê.
Aurora: Nada! Exatamente nada!
Gonçalves: A culpa não é toda da minha parte, se você arrumasse um empre...
Aurora: Nem fale nisto, até parece que iria gastar minhas mãos de fada lavando chão ou cuidando de crianças, eu não nasci para ser pobre! Não nasci!
Gonçalves: Então se apresse em arrumar um marido, se quer ser sustentada pelo resto da vida.
Carlos: Não sabe da missa um terço meu pai, Aurora já tentou várias vezes, porém só arruma homem desquitado!
Aurora: Ainda hei de achar um homem perfeito, rico, muito rico.
Gonçalves: E você Carlos? Por que ainda não arrumou um serviço?
Aurora: Oito letras: pre-gui-ça
Carlos: Pois saiba que trabalharei numa loja de tecidos, como vendedor!
Aurora: Só acredito vendo, me leve a esta loja, preciso mesmo comprar tecidos novos.
Gonçalves: Com que dinheiro comprará novos tecidos?
Aurora: Uma quantia, que tenho guardada, enfim, vamos?
Carlos: Vamos, meu pai, depois me conte mais sobre aquele assunto.
Aurora: Tchauzinho.
Cena 5: Loja de tecidos/ INT. DIA Sonoplastia: Ambiente
Aurora e Carlos olham os tecidos.
Aurora: Amei este aqui!
Aurora espera Carlos vir cortar o tecido.
Aurora: Por favor, seja mais rápido, estou aqui como cliente!
Carlos: Me perdoe.
Carlos corta o tecido, embrulha e entrega para Aurora.
Aurora entrega o dinheiro para Carlos.
Carlos: Como estou no primeiro dia?
Aurora: Péssimo, seja rápido quando os clientes entrarem aqui.
Cena 6: Rua próxima à praça/ EXT. DIA/ Sonoplastia: Ambiente
Gonçalves se esconde atrás de um carro próximo a Zé Mendigo.
Zé Mendigo estende seu caneco para as pessoas que passam e deixam moedas.
Zé: Enzo está a demorar muito...
Enzo chega.
Enzo: Desculpe a demora.
Zé: Quanto conseguiu hoje?
Enzo: Vinte, a caridade cada vez menos praticada...
Zé: Enzo, você já está maior...
Enzo: Sim, preciso arrumar um emprego não é?
Zé: Não é isto, eu terei que fazer uma viagem, rápida, para o interior do estado...
Gonçalves ouve com atenção.
Enzo: Algum problema com sua tia? É a única pessoa que já escutei você falar.
Zé: Exatamente, tia Zélia, está muito doente, não sei quanto tempo a resta, preciso vê-la antes do pior.
Enzo: Quando irá?
Zé: Daqui três dias.
Enzo: Vá despreocupado, estarei bem, sei me cuidar.
Zé: Era isto que precisava ouvir... Bem vamos voltar ao trabalho.
Enzo coloca um chapéu no chão enquanto começa a fazer malabarismo com laranjas.
As pessoas param em frente a Enzo o vendo enquanto jogam dinheiro no chapéu.
Cena 7: Loja de tecidos/ EXT. DIA Sonoplastia: Ambiente
Aurora vai até a calçada em frente onde Gonçalves está.
Aurora: Ficou louco na cadeia também? Por que está escondido aí?
Gonçalves: Escutei a melhor notícia dos últimos anos!
Gonçalves atravessa a rua e vai até Aurora.
Gonçalves: Finalmente consegui a notícia que tanto esperava.
Aurora: Que notícia? Estava ali agachado como um louco.
Gonçalves: Eu vou me vingar do que me fez mal.
Carlos vai até eles.
Carlos: É disso que iria me falar?
Gonçalves: Exatamente, venha Carlos, é hora de entender tudo que aconteceu.
(Escutasse o som dos aplausos das pessoas que olhavam o malabarismo de Enzo)
Carlos e Gonçalves vão até o carro, Gonçalves faz sinal para Carlos se abaixar.
Carlos: Por quê?
Gonçalves: Não posso ser visto!
Carlos: Explica...
Gonçalves: Está vendo aquele mendigo?
Carlos levanta, olha e volta.
Carlos: Sim
Sonoplastia: Tristeza
Gonçalves: Foi ele que me fez ser preso da primeira vez, ele que me fez deixar sua mãe doente, de desgosto, ela morreu por culpa daquele maldito mendigo.
Carlos: Eu lembro... Ela ficou bastante doente quando descobriu que foi preso.
Gonçalves: Eu preciso me vingar dele, preciso acabar, e agora eu tenho essa oportunidade e não posso deixar ela escapar.
Carlos: Que oportunidade?
Gonçalves: Ele vai viajar... Saboto o carro e...
Carlos: Acontece um acidente.
Gonçalves: Exatamente, um acidente.
Congela em Gonçalves.
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