Quarto capítulo de "Águas de Março" - E o vento levou



No capítulo anterior: Cida conta para Gabriel a triste notícia de que ele está tetraplégico, e que ela está grávida. Tereza briga com todos durante a festa. Janaína e Marcos humilham Karina e Rodolfo durante a festa. Tereza cai da escada durante a festa, e morre. Rodolfo estupra Janaína e ela grita por socorro. Augusto acusa Pedro de ter matado Tereza. Karina conta para Marcos que Janaína foi estuprada.

Capítulo 4: E o vento levou

(Cena 01 - Casa de Marcos/Interior/Dia)
Marcos: Que brincadeira de mau gosto é essa, Karina? Você não tem vergonha na cara? Eu já disse que não te quero. Agora VAZA DAQUI!
Karina: Mas não é mentira, Marcos. Queria eu que fosse. Uma mulher do posto de saúde me mandou aqui porque não sabia onde você morava. Você precisa ir lá ajudar a Janaína.
Marcos (chorando): Isso não pode ter acontecido...eu vou lá agora!
(Corta para: Posto de saúde/Interior/Dia)
Marcos: Oi, meu nome é Marcos. Eu sou namorado da Janaína. Ela está aqui?
Jurema: Então você é namorado dela...? Acho que é melhor me seguir.
(Vão para o quarto onde Janaína está)
Marcos: Meu amor!
(Quando Marcos a toca, ela se espanta)
Marcos: Eu sei que é muito difícil passar pelo que você tá passando. Mas você lembra de mim. Sou eu, o Marcos. Não tem motivo pra tanto espanto.
Jurema: Isso é normal quando o ataque foi recente. A vítima se sente desprotegida, e muito assustada. Mas, geralmente, a paciente consegue se recuperar bem.
Marcos: E quando não consegue se recuperar?
Jurema: Ora, você não tem que se preocupar com isso. São raros os casos em que essas infelicidades ocorrem. Tenha calma, e tudo vai ficar no lugar certo.
Marcos: Quem foi que cometeu essa atrocidade com ela? QUEM? EU VOU MATAR O DESGRAÇADO!
Jurema: Infelizmente nós não conseguimos descobrir. Parece que ele fez de tudo para acabar com as pistas.
(Corta para: Hospital - Dispensa/Interior/Dia)
Karina: Parabéns, você cumpriu seu papel muito bem. Tá aqui a grana que eu vou te dar todo mês pra manter essa mocréia quase morta. 
Jurema: Ok, então está combinado. Pode deixar que eu vou fazer meu serviço muito bem feito.
Karina: É o que eu espero.

(Cena 02 - Casa de Marcos/Interior/Dia)
Marcos: Não é justo, Karina...nada disso é justo. A gente tava tão bem...mas aí vem um pilantra e faz isso com ela, minha Janaína...
Karina: Calma, Marcos. Uma hora tudo vai se esclarecer.
Marcos: Primeiro a minha vó, e agora o grande amor da minha vida. Foi tudo culpa minha...eu deixei minha vó só ontem aqui em casa, e não levei a Janaína até a casa dela.
Karina: Não adianta ficar se culpando, Marcos! Além do mais, você não tem a mínima culpa.
Marcos: Minha vida não parece ter mais nenhum sentido. As pessoas que eu mais amava sofreram tanto...eu não vou me recuperar disso.
Karina: Vai sim! Vai sim porque você me tem do seu lado. Eu não vou dizer que era a favor do seu namoro com a Janaína, mas...eu jamais desejaria que isso acontecesse. Você pode contar comigo. Eu estarei sempre aqui.
(Marcos e Karina se abraçam)

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(Cena 03 – Encanamento em San Martín/Interior/Dia)
Augusto: Bem, Pedro, com a morte da Tereza ninguém vai se importar com o que faremos hoje. É bom você ir aprendendo essa coisa de publicidade pra aprender a usar quando for prefeito.
Pedro: O senhor é muito seguro...nem ganhou a próxima eleição ainda, mas já me tem como o próximo prefeito.
Augusto: Entenda isso: O céu não é o limite pra quem tem dinheiro. Agora vamos colocar nosso plano em prática. A partir de hoje, San Martín fica praticamente sem água, e teremos um grande rendimento com isso.
(Augusto e Pedro estão com roupas diferentes, e várias ferramentas)
Pedro: O senhor não acha que isso aqui está muito a amostra, seu Augusto?
Augusto: E quem vai ligar pra isso a não ser o povinho desse lugarzinho nojento? Ninguém vai dar atenção; a mídia...a gente compra. Você precisa aprender a ser mais ambicioso, Pedro.
Pedro: E quanto a Cecília? Uma hora ela virá aqui.
Augusto: Casamento foi feito pra gente mandar, Pedro. Não aprendeu me vendo fazer com a Tereza?
Pedro: Espero que seu plano dê certo, ou então, estaremos em maus lençóis.

(7 meses depois)

(Cena 05 - Casa de Marcos/Interior/Dia)
(Marcos está tentando fazer uma ligação, e Karina chega)
Marcos: Oi, Karina. Tudo bem com você? 
Karina: Tá sim. Pra quem você tá ligando?
Marcos: Pro Gabriel. Ele e a Cida foram pro hospital. Vão ter o bebê deles hoje.
Karina: Ah, que notícia ótima!
Karina (pensando): Tomara que nasça morto!
Marcos: E então, você quer entrar? Aceita um suco?
Karina: Não, brigada. Na verdade...eu queria saber como você tá depois de tudo que vem acontecendo.
Marcos: Eu tento continuar a minha vida, mas...tudo mudou com aquela tragédia. Se ao menos eu achasse o Rodolfo...eu poderia fazer aquele desgraçado pagar pelo que fez.
Karina: Eu já te disse. Não foi ele. Naquele dia, a avó dele também morreu.
Marcos: Como você quer que eu acredite sendo que você era cúmplice dele?
Karina: Você está sugerindo que eu tô defendendo um estuprador?
Marcos: Não...não foi isso que eu quis dizer, me desculpe.
Karina: Olha, Marcos, eu tenho uma coisa pra te falar. Já se faz sete meses que tudo aconteceu. Daqui a pouco completa um ano, e você não mudou nada em sua vida. Você sabe o que os médicos dizem: o quadro da Janaína é o pior possível. Ela não respondeu a nenhum tratamento durante todo esse tempo. Você PRECISA continuar a sua vida. E se ela não melhorar? Vai ficar assim pra sempre? Enfurnado dentro de casa, pensando nela o dia inteiro?
Marcos: Não é bem assim, Karina...não é você que está se sentindo totalmente incompleta com tudo o que aconteceu.
Karina: Bem...isso já é decisão sua. Mas...eu tenho outra coisa pra te falar com relação a isso.
Marcos: O quê?
(Karina beija Marcos)
Karina: Não precisa falar nada agora. Eu quero deixar bem claro que não quero tomar o lugar de ninguém, nem me vingar, nem nada do tipo...mas eu quero que você pense com carinho a respeito da minha proposta. Eu quero me unir com você. Quero que a gente fique junto pro resto de nossas vidas. Bem...agora eu vou sair. Fica com Deus.
(Karina vai embora)

(Cena 06 - Imagens do Rio de Janeiro)
(2017)
(Corta para: Casa de Marcos/Quarto/Interior/Dia)
Karina: Bom dia, amor!
Marcos: Bom dia!
(Marcos e Karina se beijam)
Marcos: Nossa, que droga...eu estou atrasado. O pessoal da ONG deve estar sentindo minha falta.
Karina: Meu Deus...por que você não larga aqueles imundinhos, hein? Eu não aguento mais morar aqui nesse inferno. Só tem gente POBRE!
Marcos: Eu já disse que eu não quero você tratando eles desse jeito. Eu gosto deles, e faço isso porque gosto, e não deixo nada faltar na nossa mesa, não é verdade?
Karina: Mas eu quero mais, Marcos! Muito mais! Você não ganha NADA com a droga desse trabalho voluntário, e fica se matando todo santo dia pra dar comida àqueles pirralhos. Larga dessa vida miserável!
Marcos: Eu não tolero que você fale isso. Eu sou muito feliz; se você é manhosa não me culpe. E você? Não vai trabalhar?
Karina: Não...vou mandar alguém me substituir. Não aguento mais tudo isso.
Marcos: Pra quem quer ser rica, você tá bem preguiçosa, não acha não?
Karina: Me deixa em paz, Marcos...vai embora logo, simplesmente isso!
Marcos: Tchau, meu docinho.
(Marcos beija Karina, e vai embora)
Karina: Vai achando que vai ficar tudo bem assim, Marcos...vai achando...quando eu puxar a corda, você se enforca.

(Cena 07 - Casa de Augusto/Sala de jantar/Interior/Dia)
(Cecília e Pedro estão tomando café)
Cecília: Hoje eu vou lá em San Martín. A nova equipe que você e o papai colocaram não está adiantando de nada, pelo visto.
Pedro: O que significa isso, Cecília? Você está duvidando da minha capacidade como engenheiro? Eu já disse a você: Já veio gente de fora do país e não conseguiu. O problema é muito maior que tudo isso. 
Cecília: Mas já se fazem 12 anos! O pessoal de lá vive basicamente sem água. 
Pedro: E porque você resolveria, sendo que grandes engenheiros já vieram aqui? Se toca, né Cecília?
Cecília: Espera, agora é você quem está duvidando da minha capacidade! Por que eu não poderia consertar isso? Eu não sou boa o suficente por acaso?
Pedro: Não foi isso que eu quis dizer, calma...
Cecília: Foi exatamente isso! Você duvida da minha eficiência, e não confia em mim pra nada no que se diz respeito a trabalho!
Pedro: Sinceramente, faça o que você achar melhor! Eu já disse que colocamos uma equipe muito eficiente lá, mas, se quiser enfrentar a fera do seu pai, fique à vontade. Eu estou indo.
(Pedro vai embora)
Cecília: Pedro, volta aqui! Pedro!
Pedro liga pra Augusto dentro do carro: Alô?...Augusto?...É sobre a Cecília. Ela tá desconfiando novamente. Acho que hoje ela vai lá...
Augusto: Eu vou mandar o pessoal da licitação se vestir de pedreiro, e explico umas coisinhas pra eles fingirem...quando ela chegar lá, vai ter que me enfrentar.
Pedro: Então está bem. Tchau.

(Cena 08 - Hospício/Recepção/Interior/Dia)
Karina: Licença. Você pode me informar onde está a Jurema?
Recepcionista: Sim, eu vou chamar ela, e daqui a pouco ela vem falar com você.
Karina: Ok. Obrigada.
(Algum tempo depois, Jurema chega)
Jurema: Oi, Karina.
Karina: Você disse que queria falar comigo pessoalmente...o que era?
Jurema: Vem aqui num lugar mais reservado que eu te falo.
(Corta para: Hospício/Despensa/Interior/Dia)
Karina: Ai, que horror. O cheiro de sabão em pó tá muito forte aqui.
Jurema: Foi você que escolheu vir aqui no hospício por ser mais discreto.
Karina: É, né amore?! Mas eu não pretendia morrer asfixiada. Fala logo. O que você quer comigo?
Jurema: Eu estou grávida.
Karina: E o que eu tenho a ver com isso, criatura? Bom pra você, ou ruim talvez...
Jurema: É ótimo...mas eu preciso de dinheiro pra sustentar ela.
Karina: Uma pena. Mas eu não sou instituição de caridade.
Jurema: Pare com essas suas piadinhas. Eu quero mais dinheiro, Karina. Quero dar uma educação de qualidade a minha filha, e não deixar faltar nada pra ela.
Karina: Mas querida, eu já te dou demais pra dar um remedinho pra uma doida.
Jurema: Você sabe que eu corro muitos riscos, não se faça de boba. Tem gente aqui sabendo disso, sabia? Se me entregarem, eu tô ferrada. EU EXIJO MAIS, KARINA!
Karina: Mas eu não tenho flor, dá licença.
(Jurema agarra o braço de Karina)
Karina: Me solta, sua cadela, VOCÊ TÁ ME MACHUCANDO.
Jurema: Se você não liberar mais grana, eu paro de medicar a Janaína, ela melhora, e volta pro Marcos. É isso que você quer?
(Congelamento em Karina)

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