Capítulo
XVI
Vestida
Para Casar
(27
Dresses – 2008 – Dir.: Anne Fletcher)
Não entendi a reação de Tom, mas achei que não deveria tocar
no assunto. Eu não sabia o motivo dele ter dito aquilo. O trabalho continuou
normal, e só trocávamos palavras necessárias. Robert pediu Lia em casamento e
ela mais que depressa disse sim. Algumas semanas depois, nosso chefe, Rodrigo,
resolveu pedir Vera em casamento também. Ele queria dividir com ela todo o
tempo que restasse para os dois. Então Robert e Vera tiveram a ideia de falar
com seu irmão, Tiago, que agora estava livre das drogas e concentrado no
trabalho, sobre fazerem um casamento coletivo, os três irmãos no mesmo dia.
Tiago aceitou. Sempre quis se unir com Beatriz, mas os gastos seriam enormes, e
entre os três sairia mais em conta e ficaria emocionante os três irmãos
entrando na igreja juntos. Beatriz aceitou e logo os três casais começaram os
preparativos.
André estava melhorando muito, e na
véspera do casamento nos encontramos todos no FRIENDS para comemorar tanto o
sucesso das empresas em relação á revista, quanto ao casamento. Tom e André se
acertaram, conversaram muito e eu achei isso meio estranho. O que Tom teria
para conversar com André? Steve também estava presente e falou pouco, mas ficou
feliz em poder estar ao lado de Gina e Rebeca. Ele e André também se acertaram
quando o assunto entre eles foi a infidelidade e a promiscuidade dos dois. Os
dois trocaram ideias e falaram o quanto pretendiam mudar. Os futuros casais
forma embora cedo, para se preparar para o dia seguinte. Aos poucos foram todos
indo embora e Tom me convidou para irmos embora. Resolvemos ir caminhando pois
os dois tinham bebido e a noite estava agradável.
- Vejo
que se acertou com André! – comentei.
- Pois é.
Julguei ele mal! Ele é um cara que está perdido, entendo você não saber o que
fazer. – ele respondeu cabisbaixo.
- Não
tenho que fazer nada Tom! Ele passou a noite lá em casa mas nós não fizemos
nada. Era apenas um amigo ajudando o outro. Me responde, porque você teve
aquela reação?
- Cara, eu gosto muito de ti. Tu
é um irmão pra mim, e ver você com um cara que te jogou no fundo do poço e
esperou você sair sozinho para voltar a te procurar me deixou puto! Ele não tem
o direito de pedir ajuda pra você agora. Onde ele estava quando você precisou
de ajuda?
- Eu não sei. Durante meses
me fiz essa pergunta! Mas se virar as costas agora, serei como ele, e isso não
quero. – respondi.
- Mas é isso o que ele quer!
Começar assim com essa cara de vitima pra depois te reconquistar e fazer tudo
de novo. Até a Dona Neusa te disse isso e você vai cair. Você está carente,
fragilizado com todos os acontecimentos de seus amigos – disse ele.
- Nunca! Não voltaria para André
porque não sinto mais nada por ele. Não estou fragilizado, ao contrário. Tudo
isso está me deixando mais forte. Carente sim, mas quem não está. Mas isso não
vai me fazer pular no colo do primeiro que aparecer. E você, porque está mais
fraco? –perguntei.
- Fraco? Eu não sou fraco! –
respondeu irritado.
- Me refiro a fraqueza física.
Você não se alimenta, parece um zumbi, cuidava tanto do seu físico e agora
parece que está em decomposição! Você está fazendo tudo o que o médico recomendou?
- Na verdade me esqueço de tomar
os remédios com toda essa função, e realmente não ando comendo nem dormindo
direito. – confessou.
- Que lindo! Então daqui pra
frente vou reagendar suas sessões. Teremos horários menores, menos clientes por
dia, mas você vai voltar a fazer sua corrida, vou te lembrar todo dia de tomar
o remédio, e vou controlar sua alimentação.
- Era só o que faltava! Não
preciso de babá. Também não posso perder clientes!
- Você não vai perder clientes,
só vai adiar as sessões. Além do mais não é babá, é irmão, não foi isso que me
chamou? Você sabe que está indo para uma depressão e isso é o que você menos
precisa. Você anda triste e calado. Uma depressão pode desencadear várias
infecções e eu não vou deixar isso acontecer. Você vai ter que me aguentar. –
Terminei de falar e ele virou em lágrimas e me abraçou, chorando disse ter medo
de morrer. Meu Deus, eu também tenho medo... Tenho medo que ele morra e eu
fique sem ele. Isso é ser egoísta?
- Sabe Frank. Eu nunca me senti
parte de algo até você se intrometer na minha vida e mudar tudo. No começo me
assustei, achei que você tinha segundas intenções, mas depois vi que você é
assim mesmo: um cara que ajuda pessoas.
- Todo mundo acha que quando um
gay quer ajudar é porque tem segundas intenções. Isso é algo que está na mente
coletiva. Por causa de uma minoria de gays que acham que todo homem é gay, os
homens acham que todos os gays são predadores, promíscuos. Não te culpo. É isso
o que ensinam para as crianças: fiquem longe deles! – disse rindo.
- Não leva a mal Frank, mas
preciso te dizer uma coisa: não gosto de homens...
- Eu sei Tom, não precisa se
explicar. Não falemos sobre isso! – e o assunto foi encerrado.
O casamento foi lindo, emocionante, e
surpreendente. Após a cerimônia, durante a festa, Rebeca entrou em trabalho de
parto, e levada ao hospital nasceu Regina. Steve esteve presente, viu a filha e
se emocionou, mas prometeu a si mesmo não interferir na vida dela, se assim
fosse da vontade de Rebeca e Gina.
O clima de romance estava ainda no ar,
com os três casais em lua-de-mel, quando Fred e Mila, Gerson e Roxane
resolveram também se unir, imitando o trio, os quatro se casaram assim que os
três casais voltaram de lua de mel.
Roxane resolveu fazer uma reportagem
especial em sua revista, sobre amizade, onde todos nós estampávamos a capa, e
contávamos nossas histórias, resumidamente. Também foi um sucesso de vendas, já
que a revista, Roxane, eu e Tom tínhamos certo ar de “celebridades” depois das
aparições na TV. Quando Fred, Gerson e suas esposas voltavam de lua de mel,
Joane foi a próxima á dar á luz: David nasceu lindo, e Gerson e Donnie eram só
alegria. David tinha dois pais. Regina, duas mães.
Finalmente o clima era de paz na minha
vida. Eu continuo na fábrica de manha e á tarde no estúdio. André vem ás
vezes e fica com a gente, e até ajuda. Roxane e Gerson resolveram que iriam
adotar um bebê, e assim entrou pro grupo Lorenzo, um lindo bebê já com 3 anos.
Eles deram preferência para um que estivesse á mais tempo na espera, já que os
casais preferem os loiros, lindos e recém-nascidos. Eles pretendiam adotar mais
futuramente, mas por enquanto Lorenzo ocupava o tempo deles, e já adorava a
companhia de Regina e David. Na onda dos bebês, uma surpresa boa, mas
preocupante: Vera estava grávida!
Essa
notícia foi um choque pra todos, pois ela ainda fazia quimioterapia. Falou com
todos os especialistas e mesmo contra a vontade dos médicos, decidiu que iria
ter o bebê. Sem a quimioterapia, ela poderia, ou não, aguentar mais um ano,
porém depois não teria volta. Ela e Rodrigo aceitaram a missão de ter esse
bebê. Todo mundo estava radiante por alguma coisa, menos eu. Ainda me sentia
vazio, sozinho. Acompanhei Tom nos médicos e ele estava com uma anemia, que
seria resolvida através da alimentação, que cuidei como uma mãe cuida do filho.
Ele até ficou mal acostumado. Um dia eu estava com a cabeça nas nuvens no
estúdio quando André chegou muito quieto, estranho mesmo. Nem cumprimentou o
Tom, que também o ignorou, ocupado com os clientes e suas fotos.Vendo que ele
não falava nada, nem iria falar, perguntei o que houve.
- Não posso falar aqui! –
sussurrou ele – Vamos ao seu apartamento?
Pedi licença á Tom, que fez uma cara de desagrado, mas não podia me impedir de
ir e vir quando eu quisesse, afinal, fazia meu trabalho por favor e voluntário.
Nos dirigimos ao meu apartamento. André fechou a porta com chave, pediu uma
bebida e tremia enquanto tomava uns goles.
- Fala logo caralho! O que tá
acontecendo? – perguntei aflito.
Com os olhos vidrados e enormes, ele respirou fundo e falou:
- Transei com o seu amigo! –
falou, e tudo fez sentido: o fato de ele e Tom terem se ignorado, de ele querem
falar comigo longe de Tom, da contrariedade de Tom. Eu não podia acreditar, me
servi da bebida, e tremendo, pedi com medo do que ouviria:
- Me
conte tudo, por favor!
* Texto escrito e registrado por Patrick Lima Prade.
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