Cinemundi | Tempo de Caça (2020) #CinemundiNoWM

 

Tempo De Caça (2020)

 Por Patrick Lima Prade.

Falei em outro texto que estava na moda filmes sobre obsessão, ambição e golpes que me lembrei da frase que todo mundo já ouviu alguma vez na vida: “A vida imita a arte!”, mas assisti Tempo De Caça (Sanyangeui Sigan), filme que fala sobre roubo, e me dei por conta que o oposto também é verdadeiro: A arte imita a vida! Talvez esses filmes e séries de assalto á banco, roubos, brigas por heranças ou luta por algo que foi perdido esteja tão em alta justamente porque é como nossa sociedade está nos dias de hoje. O ser humano está mais preocupado com o ‘ter’ do que o ‘ser’, e o cinema está explorando isso muito bem. E os telespectadores gostam, e muitas vezes torcem pelo vilão. Não estou dizendo que quem curte esse tipo de produção seja igual ao vilão, mas algo no fundo da gente costuma se identificar pelos personagens que cometem os crimes porque nos sentimos de alguma maneira injustiçados por certas coisas na sociedade. Então quando alguém consegue dar um golpe em um banco, ou consegue mudar de vida mesmo que com um dinheiro sujo, ficamos do lado do bandido. Isso porque o cinema explora o lado humano do bandido, que passa á ser o mocinho, pois sabemos dos problemas enfrentados por ele e torcemos para que ele consiga uma vida melhor, mesmo que isso signifique roubar uma casa de apostas, como acontece no filme Tempo De Caça. Nessa produção, a quadrilha é tão carismática e está passando por uma fase difícil, então roubar dinheiro ilegal de um traficante não parece algo tão ruim, afinal, ‘ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão’, não é mesmo? Não, não mesmo! Um ato errado não se torna certo só porque inventamos desculpas para justificá-lo. Quanto aos ‘cem anos de perdão’ não cabe á eu julgar, mas os rapazes de Tempo De Caça não tiveram um minuto de sossego após o roubo, e por isso é tão fácil torcer por eles.Tempo de Caça | Site Oficial Netflix

O Filme

Em um futuro muito próximo, a Coréia do Sul está passando por uma das maiores crises da história. O desemprego é alarmante, a violência crescente, bairros inteiros estão abandonados e depredados, a população em constante manifestação, e a moeda coreana, o WON, está desvalorizado, sendo o dólar a moeda mais cobiçada pela população. É esse cenário que Jun Seok encontra ao sair da cadeia, bem diferente de quando ele entrou. As economias que ele tinha desvalorizaram e a loja que possuía está vazia e depredada. Junto com seus dois melhores amigos eles tentam buscar uma maneira de melhorar suas vidas. Vagando pelas ruas os três decidem entrar em um cassino ilegal e tentar a sorte. Lá encontram outro amigo que trabalha no local. Após a noite em que nada ganharam, Jun Seok tem a brilhante idéia de assaltar a casa de apostas, pois os donos jamais chamariam a policia por se tratar de um negócio ilegal. Junto com o amigo que trabalha lá, os outros três começam a bolar um plano para o roubo. A primeira coisa é comprar armas de um fornecedor conhecido, depois estudar a planta e localização das câmeras de segurança. Tudo pronto e chega à noite do crime! Mesmo nervosos, os quatro decidem ir em frente, pois todos têm sonhos e planos para o dinheiro, e isso inclui os quatro abandonarem suas vidas medíocres e comprarem uma casa na praia, vivendo de algum negócio no local. Entre tiros e fugas de carro, o assalto ocorre razoavelmente bem e os quatro conseguem fugir e passar a noite escondidos. Em dois dias vão partir para suas novas vidas. Os quatro amigos inseparáveis e que sempre se apoiaram. Mas como diz o ditado: “O homem planeja e Deus ri!” Sanyangeui sigan (2020)

Do Sonho Ao Pesadelo

Enquanto os jovens sonham acordados com suas vidas na praia, os donos do cassino não ficam parados e logo contratam o psicótico Han. Digo psicótico porque é exatamente isso que ele é. Han aceita o serviço não para recuperar o dinheiro, mas porque gosta de caçar seres humanos. Visitando o fornecedor de armas ele consegue o nome dos envolvidos, não sem antes torturar o fornecedor, e depois de obter o que queria, executá-lo. O primeiro encontro entre Han e os rapazes é tiro para todo o lado, e vendo que estão lidando com um profissional, Jun Seok decide devolver o dinheiro para ele. É nesse momento em que o pesadelo começa. Han diz não querer dinheiro nenhum, que está fazendo isso por diversão, e dá aos meninos cinco minutos de dianteira para então começar á caçá-los. Em uma fuga desesperada e sem parar, os jovens se abrigam em prédios e armazéns abandonados, sempre seguidos por Han e sua sede por sangue. Eles só precisam sobreviver até o barco vir buscá-los e levar a quadrilha para a praia, ou então matar Han, o que parece ser uma missão quase impossível. As ruas da cidade se transformam em um labirinto durante um jogo de gato e rato. Qualquer um que atravesse o caminho de Han é eliminado e ele nunca começa um serviço sem terminar, esse é seu lema. Sanyangeui sigan (2020)

Mais Caça

Como disse antes, Han é psicopata dos piores. Ele não se contenta em matar, ele quer ver dor e sofrimento antes do último suspiro, porém ele não é o único caçando naquela noite! O irmão gêmeo do fornecedor de armas que Han matou está disposto á tudo para pegar o assassino do irmão. Agora se trata apenas de uma questão de horas, de quem vai conseguir ficar fora da linha de fogo por mais tempo, pois a situação só vai acabar quando alguém morrer. Estou tentando dar o mínimo possível de spoilers, por isso vou para a sinopse por aqui. Mas é muito bom ver filmes que mudam no meio da história. Como falei de Estranhos Em Casa (Furie, 2020), que começa como um drama e na metade final vira um sessão de terror, o mesmo acontece com Tempo de Caça. Inicialmente temos um filme sobre assalto, e da metade pro final o filme vira um banho de sangue e sadismo que deixa o telespectador aflito. Refiro-me também ao sadismo psicológico de se saber caçado para ser torturado. Levar um tiro e morrer é um alívio para quem cai nas mãos de Han, mas poucos têm essa sorte de morrer rápido. Então assista e prepare-se para uma perseguição digna do cinema oriental, como costumávamos ver nos filmes de John Woo (Fervura Máxima, 1992).

O filme foi feito para o cinema, e iria ganhar as telonas em fevereiro de 2020, mas com os fechamentos temporários dos cinemas, a produtora resolveu vender o filme para a Netflix que lançou no seu catálogo em maio e se destacou como um dos mais vistos na semana de lançamento. Eu como fã do cinema coreano posso dizer que o filme não decepciona, tanto nos momentos mais calmos onde vemos a vida pessoal dos rapazes, como nos momentos de tensão nas cenas de ação. Como falei no inicio, é fácil torcer para que os ladrões consigam se sair bem dessa, mesmo sabendo que são criminosos. A explicação mais óbvia seria que nesse caso os meninos não chegam á ser vilões de fato, e sim os chamados anti-heróis, que estão em alta no cinema devido aos filmes da Marvel e DC, como Venom (2018) e Coringa (2019). E também porque o roteirista nos leva á simpatizar com os planos desses anti-heróis. Somos conduzidos, manipulados á gostar deles e não julgá-los pelo ato, mas apenas torcendo pra que se dêem bem, afinal, passamos á vê-los como injustiçados, gente como a gente. E em uma época onde se lê muitos comentários na internet de que ‘bandido bom é bandido morto!’, é muito interessante ver que talvez as mesmas pessoas que escrevem isso, torçam pelos bandidos em filmes como Tempo De Caça e séries como La Casa De Papel (2017-2020). Talvez Freud explique. Talvez...

Netflix anuncia novas produções coreanas; confira a lista

Direção: Sung-hyun Yoon.

Elenco: Lee Jehoon, Jae-Hong Ahn, Wook-sik Choi, Jung-min Park e Hae-soo Park

Trailer: 

Legendado: https://www.youtube.com/watch?v=QtMRBa5_0w0

Texto originalmente publicado no Jornal Do Povo no link: 

https://www.jornaldopovo.com.br/site/blogs/573/306137/Tempo_De_Caca_2020.html

Para mais dicas de filmes e informações, entre no grupo Cine Clube Patrick, no Facebook: https://www.facebook.com/groups/1622591741346882/


Postar um comentário

0 Comentários