
JARDIM DO ÉDEN
Capítulo 02
“A Dona do Pedaço”
Primeira Fase
Uma WebNovela de Nathan Freitas
Cena 01. Casa De Benedito. Sala. Int. Dia.
Continuação da cena do capítulo anterior.
Ester: - Pára com esse drama. Você não engana mais ninguém. Sua máscara já caiu há muito tempo.
Joana: - Eu estou tentando me redimir dos meus erros. Tentar uma nova vida. Recuperar o tempo perdido que estive longe do meu filho.
Ester: - Vá recuperar seu tempo bem longe daqui.
Joana: - Me dê pelo menos uma única oportunidade de demostrar meu arrependimento.
Ester: - De maneira alguma. Se te aceitarmos aqui estaremos traindo a honra de nosso pai.
Joana: (Como implorando) - Deixe ao menos ver minha filha?
Juliano: - Que filha? Esqueceu que a abandonou pra se aventurar na vida? Deixa de ser cínica, Joana. Confessa! Você não veio por causa da garota.
Ester: - Esta daí não dá ponto sem nó. Teve uma vida desregrada. Nunca deu um vintém sequer e nem muito menos se preocupou em saber como estava o filho. Se depender de mim, você nunca verá a garota.
Joana: - Vocês não têm esse direito. A filha é minha. Ele saiu de dentro de mim. (grita, histérica) Filha! Meu amor, cadê você minha filha amada? Mamãe está aqui!
Juliano pega Joana pelo braço, expulsando.
Juliano: - Vamos! Saia já desta casa. Você não tem nada aqui. O nosso advogado chega já, e não quero que ele lhe veja aqui. Logo porque a herança que papai nos deixou não lhe diz respeito.
Joana fica ali, parada, chorando.
Ester: - Não ouviu? Saia logo desta casa.
Ester abre a porta.
Joana: (Firme, corajosa) - Pois eu não saio. Eu, como filha, tenho o direito de estar presente na hora que for aberto o testamento.
Ester: - Mas que descalabre! Quanta petulância.
A campainha toca. Juliano vai abrir a porta. É o advogado. Dr. Quelônio, um gordo na faixa dos 60 anos.
Juliano: - Dr. Quelônio? Entre por favor.
O advogado entra e fica em pé.
Ester: (Fingida, cínica) - Dr. Quelônio, mas que prazer. Aceita um café, um chá ou um suco?
Quelônio: - Não. Obrigado. Estou um pouco apressado. E vou ser rápido com vocês. (pra Joana) E você, quem é?
Joana: - Muito prazer, Dr. Quelônio. Eu sou a filha mais nova do Dr. Benedito.
Quelônio: - Ah, sim. Joana, o seu nome, não é? Eu me lembro de muito bem quando seu pai falava a seu respeito.
Joana: - Sim.
Ester: - Mas como o senhor sabe Dr. Quelônio, ela é uma filha bastarda de meu adorável pai.
Joana: Tenho o direito de estar presente, Dr. Quelônio?
Quelônio: Claro. Você é filha dele. Assim, como Ester e Juliano.
Joana: Tenho todos meus documentos que comprovam.
Ester: Isto é um absurdo, Dr. Quelônio. Ela não pode ter direitos iguais a nós, que somos seus filhos reconhecidos.
Juliano: Mas o senhor há de convir que ela não mereçe a igualdade nos bens.
Quelônio: - Isso, eu não pode afirmar. Estou apenas como advogado. Não é de meu feitio me meter nesses assuntos. (senta. abre a maleta, retira uns documentos.) Pois bem, senhores, antes de fazer qualquer especulação em respeito da partilha dos bens, gostariam de comunicar a todos que o pai de vocês, Dr. Benedito não deixou testamento algum.
Reação de espanto de todos.
Ester: (Indignada) – O quê?
Juliano: - Que brincadeira é essa, Dr. Quelônio?
Quelônio: - É isso mesmo, meu rapaz. Dr. Benedito não deixou testamento.
Ester: - O senhor deve estar caçoando de nós.
Quelônio: - Claro que não. O pai de vocês não deixou testamento. Mas deixou uma carta por escrito nomeando o verdadeiro herdeiro da metade de seus bens.
Juliano: - Uma carta? Que estranho!
Ester: - Uma carta ou testamento, dar no mesmo, não é? Pois bem. Comece a ler, por favor.
Quelônio abre a carta, começa a ler...
Quelônio: - Vou ler pra todos: (pausa) “Eu, Benedito Sabatini, viúvo, residente nesta cidade, e pela lei que nos rege”...
Ester: - Por favor, Dr. Quelônio, vamos aos finalmente.
Quelônio: - Se a senhora não me atrapalhar. Posso continuar?
Ester: - Sim. Faça o favor.
Quelônio: (Continua a leitura) - “Portanto, deixo meus discos da Dalva de Oliveira pra minha filha: Ester. no valor de 15 mil Reais."...
Joana ripra si mesmo, debochando.
Ester: (Estarrecida) O quê? Mas isso é um absurdo! Os discos da Dalva de Oliveira? Que piada é essa?
Quelônio: (Cont...) 5% do Hotel Jardim do Éden, para meu filho, Juliano. No valor de 2 milhões.
Juliano: (Ignorando) Só isso? Mas que mão de vaca. E as ações da empresa?
Quelônio: (Cont...) "30% das ações da Paraíso para o meu sobrinho, Daniel Couto Maia...”.
Joana: (Incrédula) Daniel Couto Maia?!
Ester: Quem é este?
Juliano: Daniel? Será o filho da tia Alzira, que morava em Juazeiro?
Quelônio: E por fim... deixo 70% das ações da empresa, no valor de 56 milhões de reais... deixo para minha neta Vitória, filha de Joana. E como ainda é menor de idade nomeio minha filha Joana, mãe desta, como tutora legal dos bens até que complete sua maioridade. E nomeio também, meu fiel e companheiro amigo, Valdir, a 45% do Hotel Jardim do Éden. A casa e os imóveis em Guaramiranga, o sítio em Sobral e o duplex na praia de Majorlândia, no valor de 800 mil reais, designo a instituição Santa Marta, que cuida de crianças portadoras da Síndrome de Down. Dito isto, atesto e comprovo em cartório tudo que aqui foi nomeado. Benedito Sabattini. Em 20 de Março de 2002.
Joana fica ali, em silêncio, surpresa.
Ester: (Exaltada) – O quê? O Valdir herdou 45% do Jardim do Éden? Mas que absurdo é esse? E pra mim? Não deixou nenhuma porcetagem de nada? Nem uma pontinha das ações da Paraíso?
Quelônio: - Não. Nada. Como foi dito. Esta foi à vontade de vosso pai. E terão que acatar. Sinto muito.
Ester: - Sente muito? Guarde seus sentimentos pra quem precise seu advogado de porta de cadeia.
Quelônio: Agora se ver dona Ester, porque seu Benedito não deixou nada pra a senhora. Ele conhecia bem a peça.
Juliano: - Papai não podia ter feito isso conosco.
Ester: - Velho miserável. Passei minha vida toda cuidando daquele infeliz e é dessa forma que ele me paga.
Joana: - Dr. Quelônio, essa Vitoria, mencionada na carta, é minha filha. O que vai acontecer daqui pra frente?
Quelônio: - Como mãe, Você se torna tutora legal dela, até completar a maioridade.
Juliano: - Isso é um absurdo, Dr. Quelônio. Ela o abandonou pra se aventurar na vida. Não podemos perder esse direito.
Quelônio: - Infelizmente não posso fazer nada.
Ester: - Como não pode fazer nada seu incompetente?!
Quelônio: - A senhora me respeite viu? Eu sou uma autoridade. Eu posso mandar lhe prender por desacato.
Juliano: - Calma, Ester, não complique mais as coisas. Nós vamos reverter esta situação.
Quelônio: - Bom, eu tenho que ir. Passar bem.
Joana: - Muito obrigada, doutor. Eu acompanho o senhor.
Quelônio: (p/ Joana) Tome cuidado com esses dois. Eles podem armar alguma coisa contra você e acabar tirando o direito da sua filha.
Joana: Pode deixar Dr. Quelônio. Obrigado pela informação. Eu sei muito bem como encarar essa duas feras.
Dr. Quelônio sai.
Ester: - Está feliz, não é, sua morta de fome?
Joana muda de fisionomia. Daqui por diante age com mais autoridade.
Joana: - A justiça tarda, mas não falha.
Juliano: - Agora que está por cima da carne seca, o que pretende fazer?
Ester: - Daqui eu não saio. Eu não vou dar este gostinho a você.
Joana: - E nem eu pretendo fazer isto. Podem ficar pra ver que eu tenho bom coração.
Juliano: - O papai é fogo, hein. Que covardia! Nós, que éramos seus filhos mais queridos, aprontar uma dessas com a gente!
Ester: - Velho ordinário. Espero que queime no inferno.
Joana: - Eu não vou permitir que ofendem a memória do meu pai na minha frente.
Ester: - Você está se achando, não é, garota? Se eu fosse você, não ficaria tão animadinha assim. Em breve tudo isso não terá passado de um equívoco.
Joana: - Pense o que quiser, Ester. E agradeça a Deus por eu não os expulsarem de casa. Já que a herança que o papai deixou, agora é minha.
Juliano: - Como assim sua? O papai deixou tudo para Vitoria.
Joana: - Sim. Eu sei disso. Mas a Vitoria é minha filha, e como ela é menor de idade, eu cuidarei da sua herança. O advogado mesmo falou que eu seria sua tutora legal, até ela completar a maioridade. Neste caso, eu sou a herdeira do todos os bens do meu querido papai.
Juliano: - Espertinha você, não?
Ester: - E com toda essa sua arrogância, o que pretende fazer? Colocar-nos no olho da rua?
Joana: - Não seria uma má idéia. (pausa) Mas em memória de nosso pai... Não farei isso. Eu quero é que vocês continuem aqui. Pois serão de grande serventia pra mim. E outra coisa: quero que me digam onde esta minha filha. Eu sei que vocês a colocaram num orfanato, dias antes de papai morrer.
Ester: Como sabe disso?
Joana: Tenho meus informantes. Se me disserem aonde colocaram minha filha, eu posso ser boazinha com vocês.
Ester: Você nunca vai saber onde estar Vitória. Nunca!
Joana: Seja amigável, minha irmã. Estou sendo gentil com vocês. Se quiserem ter direito na herança que o papai deixou pra minha filha... Terão que trabalhar.
Ester: Trabalhar?! Está louca?
Juliano: Que tipo de trabalho?
Juliano: (Faz uma pausa, pra criar suspense. revela) Eu quero vocês trabalhem pra mim. Meus empregados.
Ester e Juliano: (Juntos) – Empregados?!
Juliano: - Isso mesmo que ouviram: Empregados.
Na reação de espantos de Ester e Juliano, corta para...
Cena 10. Casa De Daniel e Sônia. Quarto Deles. Int/Dia.
Daniel de roupão, saindo do banheiro. Sônia sentada, penteando o cabelo, de frente pro espelho.
Daniel: Sônia, meu amor, eu quero te perguntar uma coisa a você.
Sônia: Fale.
Daniel: Dá onde você conhece a Joana?
Sônia: A Joana? Sei lá, não lembro. Parece que uma amiga de mamãe, que me indicou ela.
Daniel: Sei. E da onde ela é?
Sônia: Do interior. É muito distante daqui. (curiosa) Porque você quer saber tudo isso?
Daniel: Não. Nada. É que ela trabalha á tempo conosco, fiquei curioso. A gente nunca sabe a vida dos criados.
Sônia: A Joana não é criada! Tem sido uma mão na roda pra nós. É uma espécie de governanta.
Daniel: E essa viagem de uma hora pra outra? Ela não te disse?
Sônia: Sim. Parece que foi visitar uns familiares que tem no interior.
Daniel: Então, ela teve vida antes de vir morar conosco?
Sônia: Claro! Todo mundo tem sua vida, Daniel.
Daniel: É. Mas eu acho essa viagem muito suspeita.
Sônia: Suspeita? Como assim?
Daniel: Coisa minha.
Sônia: Pára de implicância. A Joana é uma boa moça.
Daniel: Você que sabe.
Corta para...
Cena 11. Casa De Benedito. Sala. Int/Dia.
Continuação da cena 9. Os três continuam discutindo.
Ester: - Quanta audácia. Quem você pensa que é? A rainha da Inglaterra?
Joana: - Claro que não. Se fosse, vocês há muito tempo estariam longe daqui. Como eu sou boazinha, estou dando uma oportunidade de ouro a vocês.
Juliano: - Ester... Vamos aceitar a chance que ela nos tá dando.
Ester: - O quê? Você tá me pedindo pra eu aceitar a se humilhar a esta infeliz?
Joana: - Se não aceitar, a porta da rua e a serventia da casa. Eu não vou aceitar na minha casa dois vagabundos sem nada fazer.
Juliano: - Aceita Ester, é o melhor que temos a fazer. Não temos alternativa.
Ester: (Depois de pensar, a contragosto) - Tudo bem. Eu vou me sacrificar a esta calamidade.
Joana: - Ótimo. Agora, Tratem de ir tirando estas roupa e colocar uma adequada para as tarefas domésticas.
Juliano: - Isto já é demais. Já não basta ter que trabalhar! Agora vestir roupas de empregados. Isso não!
Joana: - Deixa de chilique!
Ester: - E vem cá mocinha, o que a gente vai ganhar com isso?
Joana: - Vocês irão ganhar: casa, comida. O que pode ser melhor do que isso?
Ester: - Você não vale nada mesmo.
Joana: - Eu valho, sim! 56 milhões e outras coisas a mais. É pouco?
Juliano: - Isso não vai ficar assim, viu Joana, não vai mesmo.
Joana: - Está me ameaçando, Juliano? Se eu fosse você não ousaria tanto.
Ester: - Esse era o seu sonho, não era? Ver-nos derrotados, se humilhando a você?
Joana: - Confesso que o meu sonho era um pouco remoto. Mas ver vocês aí, nestas condições, me dá um pouco de ânimo.
Ester: - Miserável! Está se sentindo a dona do pedaço, não é?
Joana: - Chega! Eu quero respeito. Desde que cheguei você me fala mal. Da próxima vez, eu lhe parto a cara. Mal-amada.
Juliano: - Chega né, gente? A troca de elogios está me dando enjoo.
Joana se sentindo dona da situação.
Joana: - Agora, eu quero que vocês me digam em qual orfanato vocês colocaram minha filha.
Na reação de surpresa de Ester e Juliano... Congela neles...
Corta para...
Fim do Capítulo 02.