Porto de Pedras: Sexto Capítulo - Eu vou buscar justiça!


No capítulo anterior de Porto de Pedras:

Madalena é vítima de feminicidio pelo seu esposo, José, que após matar a esposa, foge. 

Fernanda e Daniel comprovam que o corpo é da mãe de Pedro João. 

A guarda de Pedro João é dada a Fernanda e Daniel.

Onze anos se passam. Júlio, novo amigo de Pedro João, afirma que ele precisa conhecer pessoas novas.

Maria Fernanda e Samuel brigam com Paloma, e afirmam que ela precisa se casar com um homem rico. 

Paloma vai até a biblioteca, e conhece Pedro João. Os dois trocam olhares. Maria Fernanda observa o encontro de longe. 

Fique agora com o capítulo de hoje! 


Fernanda - Sônia Braga
Daniel - Alexandre Borges
Pedro João - Thiago Fragoso
Maria Fernanda - Carol Castro
Samuel - Dalton Vigh
Paloma - Paola Oliveira 
Mafalda - Fernanda Souza
Mariela - Lucinha Lins 
Marieta - Marieta Severo

Atriz convidada: 

Cristina - Fernanda Torres



Anteriormente em Porto de Pedra

Cena 1/ Tarde/ Externo

Fernanda e Daniel saem do carro, estacionado em frente a Biblioteca, e vão ao encontro de Pedro João.

Fernanda – Querido... bom, faz tempo que não compramos ou pegamos um bom livro, decidimos vir hoje aqui pra resolver essa pendência.

Daniel – Exatamente! Você conhece esse lugar como ninguém, deve ter uma boa coisa pra indicar pro seus pais. Não é mesmo?

Fernanda – Pedro, tá com a cabeça nas nuvens, meu filho?

Pedro João – Não... venham comigo!

Cena 2/ Biblioteca/ Tarde/ Interno

Os três caminham através da biblioteca.

Pedro João – Preferem leituras mais clássicas... Já avisei que deveriam ler Dom Casmurro! É uma boa obra, linear, clássica, direta, em um bom estilo clássico. Quantas vezes eu já repeti a palavra Clássica?

Fernanda – (Risos) É, querido, acho que já é hora de darmos uma chance ao Machado. Nos traga o Dom Casmurro.

Pedro João lembra das palavras de Paloma e de seu rosto/

Cena 3/ Faculdade/ Tarde/ Interno

Paloma e Mafalda andam pelos corredores da faculdade.

Mafalda – Eu estou passada, amiga. Então quer dizer que a senhorita finalmente colocou os pés de ouro pra fora de casa e arranjou alguém descente? Ai que maravilha. Vou poder criar perfis falsos no Twuitter e shippar até nem o padre aguentar mais.

Paloma – Vai com calma, Mafalda, não é assim que as coisas funcionam... não mesmo. Ele é bonito, gentil e aparentemente inteligente. Mas acho que falta muito até saber se ele é o homem certo... falta muito!

Mafalda – E a Paloma tradicional ainda não mudou. Quando vai esquecer as desventuras sofridas no passado? Não é porque sofreu na mãe de uns babacas no ensino médio, que todos vão repetir o mesmo comportamento.

Paloma – Tá ouvindo esse som? Esse som se fundo? Quer dizer que precisamos voltar para nossas salas e dar nossas aulas... sou uma professora velha.

Mafalda – Velha com vinte e uma anos? Você é uma maluca, isso sim!

Cena 4/ Gabinete do prefeito/ Tarde/ Interno

Samuel – Eu acho que é isso, seu André, discutimos o resto disso daqui em breve? Que tal amanhã?

Maria Fernanda entra apressada na sala.

Maria Fernanda – Dá tchauzinho pra esse daí, preciso falar com você.

Samuel – Como ousa...

Maria Fernanda – Como ousa o escambal, Samuel, depois você discute como desviar dinheiro público pra sua campanha mequetrefe nesse inferno de cidade. Agora despacha esse homem daqui, porque eu preciso falar com o senhor deputado que quer virar prefeito, por favor!

Samuel – (Para figurante André) A gente se vê depois, eu te ligo.

André sai.

Maria Fernanda – Muito que bem... querido irmão, eu como sou praticamente a única interessada em saber dos detalhes da Paloma, fiz o que nós dois deveríamos ter feito, mas já que anda ocupado... bem, segui a pervertida e adivinha!

Samuel – O que? Saindo com um cara?

Maria Fernanda – Queria que esse cara fosse um homem rico, sabe aqueles ricos, pompudos, cheio das terras? Sabe! Mas não, é o bibliotecário. (Risos) Aquilo dali deve ganhar uns quinhentos reais por mês, não é a toa que ainda vive sobre o teto dos pais...

Samuel – O que fazemos com ele?

Maria Fernanda – Existe alguma outra coisa a ser feita a não ser dar um corretivo? Esses romances jovens são coisas de novela, mesmo com as barreiras, nunca chegam ao fim. Precisamos primeiro encontrar o pretendente, um homem rico, e pelo menos bonito, porque ninguém merece uma carranca, não é? E depois damos um jeito no sensitivo. Ora sensitivo... ele vai sentir é a minha mãe sambando na cara dele. É isso que ele vai sentir!

Cena 5/ Cemitério de Vila Dourada/ Externo

A Funcionária do cemitério caminha junto com 
Mariela até a tumba de Madalena.

A funcionária se despede e vai embora.

Mariela – Madalena... depois de tanto tempo... tanto tempo, eu pude saber o que aconteceu com você, minha amiga. Mas mesmo assim sei de poucas coisas... tantas poucas coisas, Madalena. Onde está o monstro que foi capaz de lhe tirar a vida? Onde está este homem?

Cristina se aproxima.

Cristina – Eu sei...

Mariela – Quem é você? Conhecia a Madalena?

Cristina – Eu a conhecia como ninguém... Meu nome é Cristina, irmã da que hoje já deve ter virado pó entre as dobras de madeira.

Mariela – Eu não sabia que ela tinha uma irmã.

Cristina – Depois que se casou com o crápula, nunca mais me ligou. Voltei de Recife pra vingar a morte dela, e achar o desgraçado que meteu dois tiros em seu peito. Eu estava em outro lugar quando recebi o telefonema de uma vizinha... uma vizinha precisou me ligar para avisar que a minha irmã havia morrido. Volto hoje pra essa cidade infeliz, que mudou tanto a minha irmã.

Mariela – Eu sinto muito.

Close lento em Cristina.

Cristina – Sinta não. Quem tem que sentir é quem a matou, e até hoje ele não sentiu o cheiro de uma cela podre, fria e nojenta, e ele precisa sentir. Eu preciso de ajuda pra encontrar este homem, pra encontrar o José. E você vai me ajudar a encontra ele. Vai me ajudar a fazer o que a polícia não fez. Você vai me ajudar a colocar ele atrás das grades, mas antes, eu faço justiça com as minhas próprias mãos. Eu acabo com ele... eu acabo!



Cena 6/ Igreja/ Interno


Padre Silveira – Dona Marieta, eu já avisei que aqui nós não batizamos porcos. Onde já se viu, batizar um porco? Um porco?

Marieta – Isso que o senhor está fazendo, seu Padre, é uma falta de respeito e consideração com a nossa família! O senhor precisa batizar a minha filha, o senhor precisa!

Padre Silveira – Está chamando a porca de filha?

Marieta – Ora, e então o que ela seria a não ser minha filha? O senhor vai ter que batizar a porca, por bem ou por mal.

Padre Silveira – Nem que me amarrem em um toco qualquer de madeira por essa cidade, eu batizo porco. Onde já se viu batizar um porco? Nem que me amarrem. Isso é uma afronta ao meu mandato de padre.

Marieta – Isso é um absurdo o que o senhor está fazendo. Uma desmoralização comigo e com a minha família. Olhe, seu padre, o senhor ainda vai ter muitos motivos pra batizar a minha filha.

Padre Silveira – Não batizo porco! Não batizo porco nenhum.

Marieta – É uma porca, termina com A, gênero feminino, e de apelido mimosa! Passar bem!

Cena 7/ Externo

Marieta caminha lentamente pela calçada em frente a igreja.

Ela observa Maria Fernanda andando depressa, saindo do Gabinete do Samuel.

Marieta – Onde será que essa desalmada vai? Ui, bateu até um calafrio aqui. Que ventania é essa, meu pai? Repreende, Jeová! Repreende. Que isso não seja o mesmo que aconteceu em Vila Dourada... que não seja o mesmo!

Cena 8/ BibliotecA/ Tarde/ Interno


Fernanda – Espero que chegue cedo em casa, hoje, querido. Eu o seu pai iremos o esperar na sala, como sempre. Beijos, meu amor.

Pedro João – Vão com Deus!

Maria Fernanda aparece quando os pais de Pedro João vão embora.

Maria Fernanda – Querido... quero pegar um livro, está disponível?

Maria Fernanda e Pedro João entram na biblioteca.

Close lento em Marieta (Segundo plano)

Marieta – Essa daí sempre apronta alguma coisa. Hoje eu faço questão de ser a primeira a saber das fofocas que costumam rondar esta cidade. Hoje eu faço questão!

Cena 9/ Cemitério/ Tarde/ Externo

Cristina – Saíram poucas matérias no jornal. Nada de mais, uma coisinha aqui e ali, mas sinceramente, nada demais. O sujeito, desaparecido desde quando a polícia tentou investigar alguma coisa. Nada nesse país funciona direito. Nada!

Mariela – Calma, Cristina. Se existe alguma forma da gente achar o paradeiro dele, é perguntando, ou consultando algum órgão...

Cristina – Não é melhor colocar o governo nisso. Se eles não fizeram nada em mais de dez anos, quiçá em semanas, em meses. Quem tem ir atrás dele, somos nós, Mariela, mas a única coisa que eu não perguntei ainda foi... Qual a sua relação com a minha irmã? Sei que tivemos tempo de sobra pra falar sobre isso no caminho, mas essa pergunta apenas me veio neste momento.

Mariela – Eu sou viúva do Êmanuel, o sábio. Enquanto ele sangrava, e perdia a consciência ainda em meus braços, ele me disse pra procurar Pedro João. E foi isso que eu tentei fazer. Depois que ela morreu, nada mais foi esclarecido. Eu ainda preciso encontrar este menino, que hoje já deve ser um belo rapaz. Nessa caminhada, Cristina, eu vou defender a vida que a minha amiga lutou até o fim. Juntas iremos achar o José. Juntas!


Cena 10/ Biblioteca/ Tarde/ Interno

Maria Fernanda – Bonita biblioteca, tudo muito organizado. Olha, Juvenal Jorge...

Pedro João – É Pedro João! Me chamo Pedro João.

Maria Fernanda – Só um pouco empoeirada, uns livros velhos, mas tudo muito organizado. Parabéns, querido.

Pedro João – Nunca entrou aqui. Veio pegar um livro, ou... sei lá. Sempre anda do lado do candidato a prefeito. Reformulando o que disse antes. Veio pegar um livro ou tratar de alguma coisa pública.

Maria Fernanda – Se a vida e o futuro da minha irmã é algo público, é exatamente isso que eu vim fazer aqui!

Close lento em Pedro João/

Cena 11/ Gabinete do prefeito/ Tarde/ Interno

Samuel atende o telefone/

Samuel – Coronel Vieira? Oh, rapaz, ainda bem que você me ligou, me deu um retorno rápido. Olha, sabe aquele seu filho? Eu acho que eu posso ligar pontes entre nossas duas famílias, e de quebra, rola uma verba extra para as minhas campanhas? O que me diz?

Cena 12/ Externo

Paloma se despede de Mafalda no carro em frente a Biblioteca.

Marieta corre na sua direção.

Marieta – Menina, você não sabe. A sua irmã entrou dentro da biblioteca. Ela entrou dentro e vai fazer uma besteira.

Paloma – De onde você tirou isso, Marieta? E o que ela faria?

Marieta – O que ela faria, eu não sei, mas que o assunto está relacionado a você, Paloma, está. Ah, minha querida, nessa cidade pequena, nada passa batido, tudo é reto e concreto!

Close em Paloma/

Cena 13/ Biblioteca/ Tarde/ Interno

Fernanda e Daniel entram pela porta principal.

Daniel – Querida, depois de meia passagem dentro daquela biblioteca, o que eu preciso é de um banho!

Fernanda – Oh, meu bem, vai. Eu vou ficar aqui, na sala, refletindo sobre algumas questões.

Daniel – Não pensa muito, não, a cabeça dá pau!

Fernanda – Pode deixar, meu amor...

Daniel sobe as escadas.

Fernanda se senta no sofá.

As cortinas se movimentam rapidamente, e os vidros se abrem.

Fernanda – Não... de novo não... isso não pode estar acontecendo... de novo não!

Cena 14/ Biblioteca/ Tarde/ Interno

Maria Fernanda – A vida da minha irmã faz muitas questões minhas, Pedro João.

Paloma entra bruscamente na biblioteca.

Paloma – Palmas para Maria Fernanda, que como sempre se mete cada vez na minha vida. O que veio fazer aqui? As fofocas da cidade chegaram até você?

Maria Fernanda – Não, meu bem, eu vi com os meus próprios olhos essa tamanha infidelidade. Eu vi!

Paloma – Não teve nada pra ver, Maria Fernanda. Não se teve nada para ver.

Maria Fernanda – Ah não? Não teve? Será que foi uma miragem? Uma visão do além? Do profundo e seco antro do meu ser? Não. Eu vi o jeito que você olhou para este moço. O jeito que você segurou a mão dele, a força que aquele longo abraço se deu. Paloma, tamanha infidelidade.

Pedro João – Eu estou um pouco perdido. O que tá acontecendo?

Maria Fernanda – A mocinha que lhe deu tantas graças, Pedro João, está prometida pra um bom e rico homem. Sinceramente, Paloma, não se dá pra confiar em você, não se dá. Enquanto sabe que um jantar familiar entre as duas família já está marcado a dias, permanece dando bola pra qualquer um. Ai ai, Paloma, você não consegue se segurar, não é?





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