Verena sobe no altar do tribunal a pedido do Juiz, ela encara lentamente todo o público que lhe observa com receio, destacando seu foco de visão em Elis, Samuel, Antônia e Américo.
Verena - Mataram o meu marido e tiraram toda minha base... E sabe... As vezes eu me pergunto os motivos, e eles como sempre, são políticos. Mataram o meu marido porque ele sabia demais, mataram o meu homem porque ele era contra o atual governo. Simplismente mataram. E hoje, eu sei quem o matou, e apenas exijo que essa pessoa apodreça na cadeia, e depois de morrer, queime no inferno!
Close lento no Juiz.
Juiz - Eu declaro fechada a audiência, filtrando os argumentos diante da bancada de advogados, mais as vítimas, tomo a decisão final... Quem matou Frederico Hans foi o senhor Samuel!
Elis se levanta abruptamente de sua cadeira.
Elis - Mas que palhaçada é essa? Vocês estão fazendo um complôr contra o meu marido... Meu Deus!
Américo se levanta.
Américo - Então quer dizer que acabou o show? Podemos ir embora?
Elis com fogos nos olhos avança em direção de Américo, que recua um pouco.
Elis - Cala essa boca, seu desgraçado. Fala mais alguma coisa, que eu acabo com a tua raça aqui mesmo!
Close em Américo.
Pedras
que Cantam
Segundo capítulo
Assassino é encontrado
Elis – Então vocês sabem sobre o meu marido?
Verena – Se sabem sobre o seu, também sabem do meu.
Amanda – É claro que sabemos... Sabemos tanto que o Samuel é inocente, como sabemos que... (Abaixa a cabeça com receio) Sabemos quem matou o seu marido, Verena.
Flávio – Exatamente!
Elis – Bem, então se sabem de tudo isso, entrem, me contem sobre todo o resto dentro de casa...
Elis abre a porta e adentra a residência, os demais a seguem.
Quando todos entram, a câmera vai dando um close lento em grandes arbustos do quintal de alguma casa, onde uma pessoa está escondida, ela se movimenta, mas sua face não é mostrada.
Cena 1. Casa família Ribeiro. Sala principal. Noite. Interna
Elis se senta no centro da mesa, enquanto os demais se acomodam nas redondezas.
Elis – Então vocês sabem exatamente sobre o que? Que o meu marido não é culpado já é um bom início. Mas também devem saber que com essas suposições não conseguimos chegar a lugar nenhum…
Verena – Não poupem nada da gente. Entendam nosso lado como esposas e não pensem em esconder exatamente nada.
Flávio – Certo, dona Elis e Verena… Vocês querem que eu comece em que parte?
Verena e Elis dizem ao mesmo tempo.
Verena – Do começo!
Elis – Do começo!
Flávio - Tudo começou com uma pequena investigação. Estávamos pensando em todo o caso, e vimos que essa era a oportunidade.
Lúcia – Desde que nos formamos em jornalismo em Taubaté, não timos um Caso como esse na cidade por exemplo… Era algo único e precisava ser aproveitado.
Amanda – E até esse Caso, éramos como ursos em busca do mel… Andávamos para todos os lados procurando casos e, quando veio esse assassinato, com todo respeito, Dona Verena, nos sentimos em um verdadeiro livro da Agatha.
Elis – Tá, já entendi, obrigado pelo contexto, mas até agora vocês não falaram nada sobre quem matou o Frederico. Novamente com todo respeito, Verena, vocês precisam aliviar o meu peso no coração… Me contem! Quem matou?
Verena – Quem matou…
Close lento em Amanda.
Amanda – O prefeito Américo!
Corta
para/
Cena 2. Casa família Anastácio. Sala de jantar. Noite. Interna
Américo está sentado em uma cadeira diante da mesa de jantar, Antônia chega segurando um bule.
Américo puxa sua xícara para perto da esposa.
Américo – Tá preparada pra chuva que vai vir?
Antônia – Que chuva, homem de Deus?
Américo – A chuva de bombardeio que vai colocar o meu nome na sola do povo. Ou você acha que a Elis, do jeito que é, vai aceitar essa história de qualquer jeito? Claro que não. Daqui a pouco, bate ela e o camburão militar na nossa porta!
Antônia – Eu acho que não… Agora ela deve tá deitada na cama, olhando pra janela e chorando. É improvável, sim, mas eu sei como funciona a cabeça da minha irmã.
Américo – A cabeça da sua irmã você entende, agora eu só não entendo a sua cabeça! Você fez todo aquele teatrinho aqui na sala, dizendo que ia contar nos sete cantos sobre isso daí, e na hora que a delegada chega você muda? Vira o jogo? Troca as cadeiras? Muda de time?
Antônia que observa Américo, apoia o bule na mesa e senta.
Antônia – Quase tudo que acontece comigo é por impulso. As vezes eu não penso nas coisas. Eu ia te colocar na cadeia por sei lá quantos anos, e você não seria participativo na vida dele.
Américo – Cê tá delirando? Ele quem, mulher?
Antônia – O nosso filho…
Américo – Filho?
Antônia – Eu estou grávida! Tô carregando um filho teu!
Close lento em Américo, que permanece pensativo.
Em
outro lugar do Brasil
Saramandaia
Cena 3. Rádio. Sala principal. Noite. Interna
Radialista: Sejam muito bem-vindos a mais um plantão de Vila Dourada, onde uma mulher de maneira surpreendente explodiu diante de todos... Uma coisa verdadeiramente absurda. E imaginem aonde foi o local? Silveirinha, o que cê achou dessa história toda, conta pra gente!
Silveirinha - Veja bem, Saramandaia tem um histórico muito estranho, existe umas coisas estranhas que acontecem por lá, que eu, opinião própria, hein gente? Sinceramente não consigo buscar nenhuma opinião sensata sobre o ocorrido, é isto!
Radialista - Foi uma verdadeira chuva de cores... (Risos) Lamentamos todo o ocorrido, e agora vamos para as notícias da cidade de Taubaté, onde um buraco se formou no centro da praça e sugou o prefeito para dentro de uma mina abandonada... É cada coisa!
Corta para/
Cena 4. Floresta Saramandaia. Noite. Externa
Dona redonda corre diante dos altos arvoredos, com uma feição colorida e cabelos bagunçados, e observa em alguns momentos a lua cheia.
Tropeça em algumas pedras, esbarra em troncos, mas não cai.
Até que um ruído repentino arrepia seus pelos e a deixa assustada.
Dona redonda – Misericórdia! Meus jesus cristo. (Pega seu terço no bolso) O senhor me deu uma chance, me livrou das garras daquela maldito com asas nas costas. Agora, como eu me livro de um lobisomem? Maldita cidade em que fui me meter, Saramandaia é fruto de problema!
Um vulto assusta ainda mais Redonda, que recua um pouco.
Dona Redonda – Quem está aí? Por favor, não acabe com a minha vida… Eu! Eu faço o que for possível pra que não me matem!
Redonda fecha os olhos e em sua frente caí um lobisomem.
Rapidamente ela os reabre.
Dona Redonda – Eu ouvi uma história dessas. Que… Eu me lembro! Você é aquele professorzinho de merda que fica de arranca rabo com a fogosa que põem fogo pelo rabo. Se arredar mais um pé na minha frente, eu cravo esse crucifixo no teu peito!
O lobisomem avança, e ao chegar ainda mais próximo, pega o crucifico e o arremessa para longe.
Redonda grita de medo.
Dona Redonda – (Medo) Então me diz logo! Fala de uma vez o que você quer comigo, assombração peluda!
A sombra de um pássaro corta os céus, eles param por alguns segundos, até que João Gibão desce e fica ao lado do lobisomem.
Dona Redonda – Era só o que me faltava pra ter uma noite perfeita. O lobisomem encapetado e esse daí!
João – A senhora não muda mesmo… (Resmunga)
Dona Redonda – E por que eu deveria mudar? Vou morrer do mesmo jeito! Vejam bem, me matem de uma forma tranquila. Um veneno de leve, ou me desacordem antes de fazer qualquer coisa. Meu maior medo é morrer sentindo dor, e aquela experiência que eu tive naquela praça, na frente daquele povo todo, explodindo as sete cores… Não! De novo não…
Lobisomem – Nós não vinhemos aqui pra te matar, e cá entre nós, era exatamente o que eu queria fazer.
João – Recebemos ordens de cima. De um poder maior que a
gente.
Dona Redonda – Deus?
João – Um poder maior!
Dona Redonda – E quais foram essas ordens? (Diz com receio)
João – A senhora não pode acabar sua vida na terra por agora. Existe ainda uma missão em suas mãos, por incrível que pareça o Ser Maior tá te dando uma nova chance!
Dona Redonda – Nova chance, é?
João – Mas não fique pensando que a senhora vai voltar pra Saramandaia e ponto final… Nada disso! Tudo que é seu, costumes, modo de falar, roupas, cabelo… Tudo! Será mudado. Você não poderá ser mais essa pessoa.
Dona Redonda – Nem falar com o meu marido?
João – A partir de agora você não tem marido, amigos e nenhum outro laço afetivo restante em Saramandaia. Você vai agora pra Vila Dourada, é um pouco distante daqui.
Dona Redonda – Mas e qual é a minha missão? Eu devo resgatar os pobres e oprimidos das ruelas imundas e os colocar em minha residência?
João – A senhora vai esquecer esse passado de fé e glória que viveu, infernizando as pessoas com sua consagrada religiosidade. Vai seguir sua vida como uma pessoa normal. Não absorva essa informação como uma loucura vinda de nós, absorva isso como uma nova data, um novo momento, é uma chance de você conquistar os pontos que perdeu com Deus, tá me entendendo?
Close lento em Redonda.
Sonoplastia: "Dynamite" by Nicky BI
Dona Redonda – Por onde eu começo?
João retira de seu bolso, documentos e os entrega nas mãos de Redonda, que delicadamente observa todas as informações.
Dona Redonda – Suzana? Nasci hoje? Filha de Márcio
Silveira e Joselita Andrada?
João – Exatamente! Suzana… Seu nome novo é Suzana!
Dona Redonda – E pra onde eu vou? O que eu faço agora da minha vida? Pelo amor de Deus...
João – Caminhe até o dia amanhecer, e quando chegar na linha ferroviária mais próxima, vai haver um vagão te esperando, ele vai te levar até Vila Dourada.
Cai uma lágrima dos olhos de Redonda.
Dona redonda – Eu nunca mais vou ver meu marido?
João – Nunca mais!
Close lento em Dona Redonda, que caí aos prantos em um choro silencioso e delicado.
Corta
para/
Cena 5. Tribunal. Dia. Interna
Juiz – Senhora Elis, precisamos que se acalme.
Elis – Me acalmar? Como eu posso me acalmar com essa palhaçada promovida por todos vocês? Me diz?
Juiz – Você está anulando o poder e os conhecimentos de um juiz?
Elis – Não… Estou apenas parando pra analisar o quanto todo esse governo é corrupto. O senhor foi comprado! Está mentindo!
Américo – Minha nossa, você perdeu a noção do perigo? O juiz já encerrou a sentença, não há mais nada a ser feito. Quem matou o tal do Frederico foi o Samuel e ponto final.
Verena se aproxima.
Verena – Não cansa de mentir?
Américo – A conversa ainda não chegou no pardieiro!
Verena – Está mentindo… O culpado não é o Samuel e todo mundo aqui presente sabe muito bem disso.
Américo – Seu juiz, ninguém merece esse chororo aqui no tribunal. O senhor não já deu a sentença? Não existe mais nada a ser feito! Será que vocês não entendem? Não entendem que a decisão não pode ser revertida? Os fatos comprovam o culpado.
Elis – Sínico… (Diz serena)
O juiz bate fortemente o martelo.
Juiz – Já chega!
Todos ficam em silêncio.
Juiz – Não existe como reverter minha decisão. Acabou! Policiais, podem pegar o senhor Samuel. O mesmo irá pagar uma pena de dezesseis anos. Cujo algumas propriedades receberão modificações ao logo das próximas audiências.
Elis e Américo se encaram.
Close lento em Samuel.
Cena 5. Fachada tribunal. Externo. Dia
As famílias e as pessoas se dirigem para fora do tribunal.
Samuel é levado na frente, algemado e guiado pelos
policiais.
Antônia se aproxima de Elis.
Antônia – Tá tudo bem?
Elis – O que você acha? Olhando pra mim você acha que tá tudo bem? Com certeza não tá tudo bem! Por que não veio falar comigo antes? Precisou esperar até hoje pra vim me perguntar se está tudo bem? Olha… Eu nem consigo entender
mais nada.
Antônia – Eu e o Américo passamos por problemas.
Elis – Ah é? Tudo bem! Eu não vou me desgastar tentando entender tudo isso.
Elis se afasta de Antônia
Close lento em Antônia, que encara a situação com serenidade.
Sonoplastia: The chain: Tema de abertura O Sétimo Guardião
Cena 6. Cadeia
Samuel é preso, as grades são fechadas.
Cena 7. Casa Ribeiro
Verena e Elis conversam sentadas em frente a uma enorme janela, enquanto de fundo, vários dias nascem e se põem.
Cena 8. Algum lugar de Vila Dourada
Suzana chega com um estilo diversificado, com cabelos loiros e delicados. Segurando malas, ela encara um homem, que acena para o vizinho, ambos se encaram.
Cena 9. Hospital
Antônia e Américo estão em um consultório médico, lendo papéis e comemorando.
Cena 10. Algum lugar de Vila Dourada
Verena caminha até um terreno vazio, de frente para a praça central. Marieta observa com receio.
A câmera acelera.
Em primeiro plano, Verena observa a construção, trocando de roupa durante os diversos takes.
Segundo plano a construção se desenvolve, formando um belo monumento: Cassino e bordel
Cena 11. Casa Ribeiro
Elis vomita diante de uma privada, enquanto Verena segura seu cabelo e alisa suas costas.
Cena 12. Hospital
Elis e Verena escutam com atenção as informações do médico.
Elis chora.
Cena 13. Hospital
Antônia dá a luz a sua filha.
Cena 14. Cadeia
Elis visita Samuel na cadeia.
Cena 15. Algum lugar de Vila Dourada
Suzana e Clementino conversam.
Cena 16. Hospital
Elis
dá a luz ao seu filho.
Meses depois
Cena 17
Elis sai da delegacia aos prantos, observa a lua e permanece aos passos lentos.
Antônia sai do cemitério e encara a irmã. Os olhares de ambas se cruzam.
Elis e Antônia se aproximam.
Elis – O que tá fazendo essa hora aqui?
Antônia – Fui visitar o túmulo da nossa mãe. Agora o mesmo eu faço a você! Seu marido está preso, e é suspeito de matar um homem importante… E você permanece tranquila como se nada tivesse acontecido?
Elis – Meu marido não é culpado… Olha, Antônia, essa história já foi longe de mais. Tanto eu como você sabemos que o culpado é o Américo. Mas insiste em bater na mesma tecla? Tudo bem! Eu aceito suas acusações infames e um pouco de preocupação que ainda tem nesse teu coração aí. Eu deveria tá na minha cama já a muito tempo.
Antônia – Eu não me afastei de você porque eu quis. Entendeu? Só pra você ficar atenta.
Elis – Você se afastou de mim porque o seu marido pediu.
Antônia – Não tem nada! Isso não existe.
Elis – Tá bom! Você nem perguntou por qual motivo eu tô chorando, não é? E ainda quer eu acredita que não existe nada. Deus! Me dá força.
Antônia – Então por que você tá chorando? Se é assim que podemos começar!
Elis – Eu descobri algumas coisas…
Sonoplastia: Música de tensão que permanece até o final do capítulo.
Antônia – Sobre o Samuel?
Elis – Não… Amanhã, trata de jogar o Américo pra escanteio, bem cedo eu vou na tua casa… E você vai desejar não ter nascido.
Close lento em Antônia.
Corta
para/
Takes diversos da cena 4/ capítulo um/ Flash back
2019
Um carro cruza os portões principais da cidade. Os moradores observam apreensivos.
Cena 10. Bar do Josué. Salão principal. Dia. Interno
Josué – Você viu alguma placa de empresa por essas bandas?
Fabrício – Não, por quê?
Josué – Esse carro parece daquele povo rico… Vem aqui dar uma olhada.
Fabrício e Josué observam a passagem do carro.
Corta
para/
Cena 11. Casa família Anastácio. Sala principal. Dia. Interno
Antônia observa a rua entre as cortinas, com uma feição apreensiva.
Corta
para/
Cena 12. Fachada da casa família Anastácio. Dia. Externo
O carro para na frente da Casa dos Anastácios.
Takes diversos de moradores olhando o momento em suas janelas, frentes de casa, e até mesmo na rua.
Elis sai do carro com um óculos de sol poderoso, enquanto feixes de luz do sol invadem sua face.
Elis caminha lentamente, enquanto observa todos os moradores, com um semblante indecifrável.
Ela chega a calçada e emite um breve sorriso.
Elis – Antônia! (Grita e bate palmas) Tá aí? (Risos) É claro que está, tô te vendo pela brecha da janela, boba.
Corta para/
Cena
13. Frente da delegacia. Dia. Externo
Joana – Vish, misericórdia. É essa daí que é a doida?
Moreira – Sim! É ela em osso e escarrado…
Corta
para/
Cena 14. Casa família Anastácio. Sala principal. Dia. Interno
Antônia abre um pouco da janela.
Antônia – O que você veio fazer aqui?
Elis – Eu tenho muitos assuntos pra tratar com você, mas infelizmente eu acho que não posso falar eles na rua, são um pouco particulares e referentes a você, queridinha. Mas se a educação deu tchauzinho para você, e prefere conversar comigo pela janela, não vejo problema… Vamos começar pela nossa última conversa nessa cidade infernal, lembra dela?
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