Anteriormente em Pedras que Cantam:
Antônia
demonstra sua personalidade dúbia, se posicionando parcialmente
contra Elis.
Moradores
repercutem a dificultosa situação de ambas famílias no passado.
Chega
o dia da audiência, e Samuel é posto como culpado pelo crime.
De
volta ao presente, Elis chega à Vila Dourada, e decide confrontar
sua irmã. Um dos momentos mais esperados por todos os moradores.
Cena 1. Casa da família Anastácio. Interno. dia
Começo
imediato do capítulo anterior.
Antônia
saí da janela, se compõe, enxugando algumas lágrimas, prendendo o
cabelo e ajustando sua roupa.
Lentamente
se dirige até a porta, respira fundo e a abre.
Quando
seus olhos se cruzam com o de Elis, vozes assombrosas adentram sua
mente.
Voz:
Eu vou colocar você e a sua família no olho da rua, vocês vão
morar de baixo do viaduto… (Efeito de eco)
Volta
a cena/
Elis
– Finalmente abriu essa porta. E agora vai fazer o que? Me chamar
pra tomar um café ou protagonizar um barraco na sua calçada? Eu tô
pronta para as duas coisas.
Close
no rosto de Antônia.
Sonoplastia:
Efeito sonoro de impacto.
Corta
para/
Cena 2. Casa da família Brunet. Entrada da casa Externo. dia
Um
carteiro em cima da bicicleta passa por bonitas paisagens, ele para
quando chega na casa trezentos e doze, onde coloca uma carta na caixa
de Correios.
Corta para/
Cena 3. Casa da família Brunet. Jardim. Externo. Dia
Suzana
está cuidando de algumas ervas em seus pequenos canteiros de
plantações, logo depois ela vai até sua pequena muda.
Suzana
– O que está havendo com você, pequenina? Não quer me dar bons
frutos? Não seja teimosa.
A
planta se contorce rapidamente.
Suzana
– Isso mesmo, estamos entendidas? É só você pensar que está…
Em seu local preferido. Imagine que você é uma bela árvore, em um
campo aberto e esverdeado, dividindo espaço com outras plantas,
animais e insetos. Imaginou?
A
pequena muda se contorce novamente, e dessa vez uma cédula de um
real sai de seu caule.
Suzana
fica frustrada.
Suzana
– Um real em cédula? Um
real em cédula? Minha
filha, não existe mais isso, já
faz anos que essa cédula virou moeda.
Mas tudo bem, não desanime, que em breve você será uma árvore
gigante, cheia de dinheiro. Estamos entendidas?
Corta
para/
Cena 4. Casa da família Brunet. Cozinha. Interno. dia
Suzana
chega com uma cesta de tomates e alfaces. Seu marido está na sala,
abrindo uma carta. Ela apoia a cesta na bancada e vai até a sala.
Corta
para/
Cena 5. Casa da família Brunet. Interno. dia
Suzana
- Uma carta? Mas já faz uns trezentos anos que ninguém manda
mensagens para a gente. O que diz aí?
Clementino
– Diz que é pra gente. Tá aqui escrito, Clementino,
Suzana, Helena e família. Falando nisso, onde tá a Heleninha?
Suzana
– Deve tá pelas serras, ou respirando um pouco de ar. Ela tá
péssima depois disso tudo com… Você sabe quem. Dizem que ficar
falando várias vezes no nome do morto falecido, ele não consegue
partir em paz.
Clementino
abre a carta.
Clementino
– É do cemitério. (Diz com uma voz embargada)
Suzana
– É sobre o corpo do pai da Helena? É normal eles mandarem uma
carta após uma semana do enterro. Pelo menos foi isso que me disse o
coveiro.
Clementino
– Eles não estão falando de enterro…
Suzana
– E tão falando de que? Fala, criatura!
Clementino
– Eles estão falando que o corpo do pai da Helena… O corpo…
Sumiu!
Corta
para/
Cena 6. Casa dos cientistas. Sala das máquinas. Interno. Dia
Mariana
está na frente de um telão improvisado. As imagens esverdeadas
mostram um radar, destacando a cidade de Vila Dourada e seus
arredores. A jovem encara fixamente um ponto, e anota algumas
informações em seu caderno.
José
Alfredo cruza a porta com duas xícaras de café em mãos, uma ele
deixa em frente de Mariana, e outra dá alguns goles.
José
Alfredo – Alguma mudança?
Mariana
– Por incrível que pareça, ainda não.
José
Alfredo – O que diz o radar?
Mariana
– Esse daqui não dá muita informação, eu consegui fechar esses
cálculos aqui de baixo com o controle direto de algumas centrais
clandestinas de observação.
A
jovem coloca a mão no mouse e muda as imagens que aparecem no telão.
Agora existe uma câmera de um satélite
no espaço.
José
Alfredo – E o que elas dizem?
Mariana
– Elas confirmam a nossa teoria. O nosso objeto voador cruzou a
atmosfera faz alguns segundos, desse modo o tempo que ele tem para
chegar de fato na terra e ser visível são por volta de algumas
horas, é isso que ainda tô acabando. Mas o ponto principal, é que
existe uma confirmação de que ele fato vai cair em Vila Dourada,
precisamente na floresta, mas ainda é complicado dizer alguma coisa
sobre.
José
Alfredo – Mas sabe o que mais me encasqueta?
Mariana
– O que?
José
Alfredo – O fato da NASA tá cagando pra esse objeto estranho…
Deve haver alguma coisa por trás de tudo isso…
Alguma coisa.
A
câmera vai dando um close lento no painel de controle, que recebe
todas as informações sobre o devido objeto…
Corta
para/
Cena 7. Casa da família Anastácio. Sala principal. Interno. dia
Elis
e Antônia estão sentadas no sofá. Elis tomando uma xícara de café
e Antônia encarando com tensão a irmã.
Elis
– Vai ficar aí me olhando com essa cara de espanto? Vade retro,
pelo amor de Deus, Antônia. Pensei que tinha ao menos absorvido os
mandamentos de etiqueta da mamãe, lembra da quinta aula? Lembra?
Antônia
– Sim. (Diz com incerteza)
Elis
– Ela diz exatamente como se deve tratar uma visita. Digamos que
você fez bem o primeiro passo, convidar a pessoa para sentar e
servir uma xícara de café, mas…
Antônia
– Você poderia parar com esse seu papelzinho de irmã preocupada?
Sei que você não voltou pra cá pra me ensinar etiqueta ou me fazer
lembrar das aulas com a mamãe. Você tem um propósito, e ele vai
muito além de servir cafézinho pra visita.
Elis
– Parabéns! Palmas! Aplausos, mais aplausos. Você acertou em
cheio. Mas também tem uma coisa que você não acertou. E foi nesse
café… Frio, sem açúcar, (Enquanto diz, derruba lentamente o
café no carpete) sem gosto, NOJENTO! (Grita) Não sei
como o pulha do seu marido aguenta, além de ser uma péssima esposa,
não sabe nem cozinhar, fazer um cafézinho. Se eu fosse ele…
Antônia
– Cala essa boca, sua desgraçada. Para de falar de tudo. Olha, eu
nem sei porque eu te convidei pra entrar. Deverei ter deixado você
lá.
Sonoplastia:
Música de tensão que permanece até a abertura.
Elis
– Eu voltei pra esse fim de mundo, pra disputar essa casa e tudo
que você e seu marido se apossaram inapropriadamente. Acabar com
tudo, e transformar cada pedacinho de terra de vocês, em coisas
minhas. Não é ótima ideia?
Antônia
– É péssima.
Elis
– Também acha péssima aquela nossa última conversa? De que eu ia
transformar a tua vida em um inferno? Pois bem, essa é oficialmente
a minha missão nesse fim de mundo, transformar a sua vida, a do seu
marido e principalmente a daquela ratinha que você chama de filha.
Antônia
– Você não ouse encostar um dedo na minha filha.
Elis
se levanta.
Elis
– E você vai fazer o que? Me matar? (Risos) Logo você…
Uma mulher tão… Frágil. Eu duvido muito que consiga enfiar uma
faca no meu peito, ou engatar uma arma e meter um tiro na minha
cabeça, ou… Arremessar meu corpo de um penhasco.
Antônia
se levanta e se aproxima da irmã, com um semblante furioso.
Antônia
– Então tenta. Tenta fazer alguma coisa com ela, que dessas opções
que você disse, eu sou capaz de fazer todas. Todas e mais um pouco.
Close
no rosto assustado de Elis.
Sonoplastia:
Efeito sonoro de impacto.
Cena 8. Fachada casa família Anastácio. Externo. Dia
Samuel
está impaciente no carro.
Samuel
– Já chega, já esperamos tempo demais. Eu vou sair desse carro e
ver o que tá acontecendo.
Elis
abre a porta da Casa Anastácio e vai em direção do carro
rapidamente.
Abre
a porta do carro e entra.
Elis
– Toca essa lata velha pro inferno.
Motorista
– Olha, dona Elis, infelizmente esse trajeto ainda não se encontra
no Google Maps.
Samuel
– Eae, Elis, o que você falou com o Américo e com a sua irmã?
Elis
– Nada de relevante. Agora, de uma coisa eu tenho certeza, daqui a
pouco, quando aquela audiência começar, a gente vai massacrar essa
família dos infernos, e eles vão aprender quem sou eu.
A
câmera sobe enquanto o carro dá partida, dando close lentamente nas
beatas e fofoqueiras da cidade.
Corta
para/
Cena
9. Fachada da pousada. Externo.
Dia
Marieta
– Mas eu disse que não ia ter barraco, minha gente, eu não sei
qual é a surpresa de vocês. Uma mulher renomada como Elis Ribeiro,
fazer barraco no meio da rua? Claro que não, uma mulher dessas, faz
barraco sussurrando, e no escuro.
Josefa
– Totalmente frustrada, queria que alguma coisa movimentasse o mar
morto chamado Vila Dourada, eu queria ver um barraco dos bons, ou
algum acontecimento inacreditável. Jamais visto que nem teve lá em Saramandaia, uma mulher explodiu, isso que é cidade...
Verônica
– Mas vocês não comentaram hoje cedo sobre o gostosão do
Fabrício? Quando fui lá no bar do Josué, ele tava lá tomando uma.
Lídia
– E o que isso tem haver, mulher? Eu sou do time da Josefa… Queria ver um barraco.
Lídia ergue as mãos para o alto.
Lídia
– Minha nossa senhora dos barracos vivos, nos de alguma coisa pra
esquentar essa cidade! Pelo amor de todos os santos. (Faz formato da
cruz)
A
câmera vai subindo enquanto Lídia suplica para o alto. Uma breve
ventania arranca a poeira e algumas folhas.
Os cabelos das beatas esvoaçam, elas encaram o atemporal com receio.
Uma voz estranha e grossa chega aos ouvidos delas.
Voz - Querem barraco?
Marieta se assusta.
Marieta - Misericórdia! Que voz é essa, gente? Meu Jesus cristo.
De um pequeno redemoinho de poeira surge uma mulher vestida com trajes extravagantes: Vestido rosa choque, com toques pretos. Cabelos dourados. Um sapato alto. Argolas
e colares.
Josefa - Que bicho é você?
Verônica - Me parece da amazônia! Precisamos chamar o IBAMA.
Marieta - Além da gente, ninguém mais tá vendo isso daí?
Josefa - Aparentemente não.
Marieta - Quem é você? Diz, criatura!
Lídia - Eu sei quem é... Ela é a Nossa senhora dos barracos vivos! Mais conhecida como Edileuza!
Edileuza se aproxima.
Edileuza - Exatamente, queridinhas! Sou a santa dos barracos vivos e vim aqui a pedido da Lídia, danadinha você, hein? Mas tudo bem, vamos acabar com essa palhaçada e dar início a a nossos trabalhos?
Marieta - Esse negócio de trabalho é coisa da Umbanda, e com eles eu não me meto.
Josefa - De onde você veio? Do céu que não foi!
Edileuza - Vocês terão outras visitas minhas, aguardem. Qualquer dia levo vocês pra conhecerem minha casa.
Marieta - Não, eu recuso, e acho que minhas meninas igualmente são contras essa ideia.
Lídia - Se a senhora tá aqui é porque ouviu minhas preces, então traga algo digno e sensato!
Close em Edileuza, que estrala os dedos e encara o Cassino.
Corta
para/
Cena 10. Cassino. Salão de dança. Interno. Dia
Verena
e Kátia permanecem sentadas, observando a movimentação de seus
clientes, gastando fortunas nas máquinas, e observando as mulheres
dançando.
Verena
– Mas quem disse que eu votei nesse daí… Meu voto é
secreto, mas eu revelo pra você. Eu votei no…
Um
bêbado cai da escada que dá acesso aos quartos.
Kátia
– Meu Deus!
Ambas
vão até ele, olhar como está.
Kátia
– Você tá bem? Quebrou alguma tíbia? Ou o rádio?
Verena - Vaso ruim não quebra, infelizmente!
Bêbado
– Fogo! Fogo lá de cima. Tá tendo fogo.
Sonoplastia:
Música de tensão que permanece até o final do capítulo
Corta
para/
Cena 11. Cassino. Corredor dos quartos – Primeiro andar. Interno. Dia
A
câmera se perde em meio a fumaça do corredor e vai descendo
lentamente as escadas, dando um close rápido no semblante assustado
de Kátia e Verena.
As
duas sobem.
Corta
para/
Cena 12. Cassino. Corredor dos quartos – Primeiro
andar. Interno. Dia
As
duas cobrem o nariz com a mão.
Kátia
– De onde vem esse fogo, gente? (Tosse)
Verena
– Alguém aí?
Eugênia
– Eu! Eu estou aqui! (Grita)
Verena
– É a velha louca.
Kátia
– Ela disse que ia colocar fogo por aquele canto caso o Fabrício
não voltasse, mas não é possível que seja verdade… Nem posso imaginar!
Verena
– Claro que não. Onde já se viu alguém colocar fogo pelo…
Kátia
– Dona Eugênia, a senhora tá bem?
Verena
– Que pergunta besta, a fumaça tomando conta do corredor e você
pergunta se ela tá bem?
Kátia
– Essa fumaça tá vindo daí? Diz alguma coisa, pelo amor de Deus!
(Grita)
Eugênia
– Sim! Essa fumaça tá vindo daqui, e vocês nem imaginam de onde.
Verena
– De onde? Foi a TV que pifou? Ou o chuveiro elétrico que deu um
curto circuito?
Eugênia
– Ele tá vindo da minha…
Sonoplastia:
Efeito sonoro de censura.
Verena
e Kátia se encaram assustadas.
Corta
para/
Cena 13. Frente do Cassino. Externo. Dia
Ambas
saem correndo do Cassino, e esbarram no Bêbado, que já juntou
bastante gente na frente do Cassino.
Bêbado
– É um incêndio… Vindo de lá cima. Chamem os bombeiros!
Verena
– Alguém viu o Fabrício? (Diz angustiada)
Verônica
– Ele tá lá no bar do Josué.
Verena
e Kátia saem correndo apressadamente.
Verônica
– E num é que ela fez? Gente eu estou chocada!
Lídia
– Mas esse fogo tá vindo de onde, gente?
Josefa
– Só Deus sabe…
Corta
para/
Cena 14. Bar do Josué. Salão principal. Interno. Dia
Verena
e Kátia chegam apressadas.
Kátia
– Fabrício, por tudo que é mais sagrado. Pare tudo que
está fazendo e volte pro Cassino. Aquela senhora, a dona Eugênia,
que ameaçou colocar fogo pelo rabo, colocou. Tá tendo um incêndio
no Cassino. Um incêndio, e quem tá provocando… É ela.
Close
no rosto de Fabrício.
Corta
para/
Cena 15. Frente do Cassino. Externo. Dia
Fabrício
chega, junto com Kátia e Verena.
Os
dois vidros do quarto explodem, afastando uma parte do público que
encara com apreensão a situação.
Fabrício
– Isso tudo é ela?
Verena
– Aparentemente sim. Vai lá, entra nesse quarto e apaga o fogo
dessa mulher.
Fabrício
– E eu vou entrar assim, sem proteção nenhuma e sem ninguém por
perto?
Kátia
– Você é a única salvação restante. O futuro do Cassino está
em suas mãos. Caso não entre aí dentro, todo o investimento que a Verena fez, a mulher que te acolheu, vai para o buraco. Pelo amor de Deus! Corre, homem de Deus... Faz alguma coisa!
Close no rosto de Fabrício
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