Pedras que Cantam | Quarto capítulo: "Fogo no Cabaré"




Anteriormente em Pedras que Cantam:


Antônia demonstra sua personalidade dúbia, se posicionando parcialmente contra Elis.

Moradores repercutem a dificultosa situação de ambas famílias no passado.

Chega o dia da audiência, e Samuel é posto como culpado pelo crime.

De volta ao presente, Elis chega à Vila Dourada, e decide confrontar sua irmã. Um dos momentos mais esperados por todos os moradores.


Fique agora com o capítulo de hoje:

Cena 1. Casa da família Anastácio. Interno. dia

Começo imediato do capítulo anterior.
Antônia saí da janela, se compõe, enxugando algumas lágrimas, prendendo o cabelo e ajustando sua roupa.

Lentamente se dirige até a porta, respira fundo e a abre.
Quando seus olhos se cruzam com o de Elis, vozes assombrosas adentram sua mente.

Voz: Eu vou colocar você e a sua família no olho da rua, vocês vão morar de baixo do viaduto… (Efeito de eco)

Volta a cena/

Elis – Finalmente abriu essa porta. E agora vai fazer o que? Me chamar pra tomar um café ou protagonizar um barraco na sua calçada? Eu tô pronta para as duas coisas.

Close no rosto de Antônia.

Sonoplastia: Efeito sonoro de impacto.
Corta para/

Cena 2. Casa da família Brunet. Entrada da casa Externo. dia

Um carteiro em cima da bicicleta passa por bonitas paisagens, ele para quando chega na casa trezentos e doze, onde coloca uma carta na caixa de Correios.

Corta para/

Cena 3. Casa da família Brunet. Jardim. Externo. Dia

Suzana está cuidando de algumas ervas em seus pequenos canteiros de plantações, logo depois ela vai até sua pequena muda.

Suzana – O que está havendo com você, pequenina? Não quer me dar bons frutos? Não seja teimosa.

A planta se contorce rapidamente.

Suzana – Isso mesmo, estamos entendidas? É só você pensar que está… Em seu local preferido. Imagine que você é uma bela árvore, em um campo aberto e esverdeado, dividindo espaço com outras plantas, animais e insetos. Imaginou?

A pequena muda se contorce novamente, e dessa vez uma cédula de um real sai de seu caule.
Suzana fica frustrada.

Suzana – Um real em cédula? Um real em cédula? Minha filha, não existe mais isso, já faz anos que essa cédula virou moeda. Mas tudo bem, não desanime, que em breve você será uma árvore gigante, cheia de dinheiro. Estamos entendidas?
Corta para/

Cena 4. Casa da família Brunet. Cozinha. Interno. dia

Suzana chega com uma cesta de tomates e alfaces. Seu marido está na sala, abrindo uma carta. Ela apoia a cesta na bancada e vai até a sala.

Corta para/

Cena 5. Casa da família Brunet. Interno. dia

Suzana - Uma carta? Mas já faz uns trezentos anos que ninguém manda mensagens para a gente. O que diz aí?

Clementino – Diz que é pra gente. Tá aqui escrito, Clementino, Suzana, Helena e família. Falando nisso, onde tá a Heleninha?

Suzana – Deve tá pelas serras, ou respirando um pouco de ar. Ela tá péssima depois disso tudo com… Você sabe quem. Dizem que ficar falando várias vezes no nome do morto falecido, ele não consegue partir em paz.

Clementino abre a carta.

Clementino – É do cemitério. (Diz com uma voz embargada)

Suzana – É sobre o corpo do pai da Helena? É normal eles mandarem uma carta após uma semana do enterro. Pelo menos foi isso que me disse o coveiro.

Clementino – Eles não estão falando de enterro…

Suzana – E tão falando de que? Fala, criatura!

Clementino – Eles estão falando que o corpo do pai da Helena… O corpo… Sumiu!
Corta para/

Cena 6. Casa dos cientistas. Sala das máquinas. Interno. Dia

Mariana está na frente de um telão improvisado. As imagens esverdeadas mostram um radar, destacando a cidade de Vila Dourada e seus arredores. A jovem encara fixamente um ponto, e anota algumas informações em seu caderno.

José Alfredo cruza a porta com duas xícaras de café em mãos, uma ele deixa em frente de Mariana, e outra dá alguns goles.

José Alfredo – Alguma mudança?

Mariana – Por incrível que pareça, ainda não.

José Alfredo – O que diz o radar?

Mariana – Esse daqui não dá muita informação, eu consegui fechar esses cálculos aqui de baixo com o controle direto de algumas centrais clandestinas de observação.

A jovem coloca a mão no mouse e muda as imagens que aparecem no telão. Agora existe uma câmera de um satélite 
no espaço.

José Alfredo – E o que elas dizem?

Mariana – Elas confirmam a nossa teoria. O nosso objeto voador cruzou a atmosfera faz alguns segundos, desse modo o tempo que ele tem para chegar de fato na terra e ser visível são por volta de algumas horas, é isso que ainda tô acabando. Mas o ponto principal, é que existe uma confirmação de que ele fato vai cair em Vila Dourada, precisamente na floresta, mas ainda é complicado dizer alguma coisa sobre.

José Alfredo – Mas sabe o que mais me encasqueta?

Mariana – O que?

José Alfredo – O fato da NASA tá cagando pra esse objeto estranho… Deve haver alguma coisa por trás de tudo isso… 
Alguma coisa.

A câmera vai dando um close lento no painel de controle, que recebe todas as informações sobre o devido objeto…

Corta para/

Cena 7. Casa da família Anastácio. Sala principal. Interno. dia

Elis e Antônia estão sentadas no sofá. Elis tomando uma xícara de café e Antônia encarando com tensão a irmã.

Elis – Vai ficar aí me olhando com essa cara de espanto? Vade retro, pelo amor de Deus, Antônia. Pensei que tinha ao menos absorvido os mandamentos de etiqueta da mamãe, lembra da quinta aula? Lembra?

Antônia – Sim. (Diz com incerteza)

Elis – Ela diz exatamente como se deve tratar uma visita. Digamos que você fez bem o primeiro passo, convidar a pessoa para sentar e servir uma xícara de café, mas…

Antônia – Você poderia parar com esse seu papelzinho de irmã preocupada? Sei que você não voltou pra cá pra me ensinar etiqueta ou me fazer lembrar das aulas com a mamãe. Você tem um propósito, e ele vai muito além de servir cafézinho pra visita.

Elis – Parabéns! Palmas! Aplausos, mais aplausos. Você acertou em cheio. Mas também tem uma coisa que você não acertou. E foi nesse café… Frio, sem açúcar, (Enquanto diz, derruba lentamente o café no carpete) sem gosto, NOJENTO! (Grita) Não sei como o pulha do seu marido aguenta, além de ser uma péssima esposa, não sabe nem cozinhar, fazer um cafézinho. Se eu fosse ele…

Antônia – Cala essa boca, sua desgraçada. Para de falar de tudo. Olha, eu nem sei porque eu te convidei pra entrar. Deverei ter deixado você lá.

Sonoplastia: Música de tensão que permanece até a abertura.

Elis – Eu voltei pra esse fim de mundo, pra disputar essa casa e tudo que você e seu marido se apossaram inapropriadamente. Acabar com tudo, e transformar cada pedacinho de terra de vocês, em coisas minhas. Não é ótima ideia?

Antônia – É péssima.

Elis – Também acha péssima aquela nossa última conversa? De que eu ia transformar a tua vida em um inferno? Pois bem, essa é oficialmente a minha missão nesse fim de mundo, transformar a sua vida, a do seu marido e principalmente a daquela ratinha que você chama de filha.

Antônia – Você não ouse encostar um dedo na minha filha.

Elis se levanta.

Elis – E você vai fazer o que? Me matar? (Risos) Logo você… Uma mulher tão… Frágil. Eu duvido muito que consiga enfiar uma faca no meu peito, ou engatar uma arma e meter um tiro na minha cabeça, ou… Arremessar meu corpo de um penhasco.

Antônia se levanta e se aproxima da irmã, com um semblante furioso.

Antônia – Então tenta. Tenta fazer alguma coisa com ela, que dessas opções que você disse, eu sou capaz de fazer todas. Todas e mais um pouco.

Close no rosto assustado de Elis.

Sonoplastia: Efeito sonoro de impacto.







Cena 8. Fachada casa família Anastácio. Externo. Dia

Samuel está impaciente no carro.

Samuel – Já chega, já esperamos tempo demais. Eu vou sair desse carro e ver o que tá acontecendo.

Elis abre a porta da Casa Anastácio e vai em direção do carro rapidamente.

Abre a porta do carro e entra.

Elis – Toca essa lata velha pro inferno.

Motorista – Olha, dona Elis, infelizmente esse trajeto ainda não se encontra no Google Maps.

Samuel – Eae, Elis, o que você falou com o Américo e com a sua irmã?

Elis – Nada de relevante. Agora, de uma coisa eu tenho certeza, daqui a pouco, quando aquela audiência começar, a gente vai massacrar essa família dos infernos, e eles vão aprender quem sou eu.

A câmera sobe enquanto o carro dá partida, dando close lentamente nas beatas e fofoqueiras da cidade.

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Cena 9. Fachada da pousada. Externo. Dia

Marieta – Mas eu disse que não ia ter barraco, minha gente, eu não sei qual é a surpresa de vocês. Uma mulher renomada como Elis Ribeiro, fazer barraco no meio da rua? Claro que não, uma mulher dessas, faz barraco sussurrando, e no escuro.

Josefa – Totalmente frustrada, queria que alguma coisa movimentasse o mar morto chamado Vila Dourada, eu queria ver um barraco dos bons, ou algum acontecimento inacreditável. Jamais visto que nem teve lá em Saramandaia, uma mulher explodiu, isso que é cidade... 

Verônica – Mas vocês não comentaram hoje cedo sobre o gostosão do Fabrício? Quando fui lá no bar do Josué, ele tava lá tomando uma.

Lídia – E o que isso tem haver, mulher? Eu sou do time da Josefa… Queria ver um barraco. 

Lídia ergue as mãos para o alto.

Lídia – Minha nossa senhora dos barracos vivos, nos de alguma coisa pra esquentar essa cidade! Pelo amor de todos os santos. (Faz formato da cruz)

A câmera vai subindo enquanto Lídia suplica para o alto. Uma breve ventania arranca a poeira e algumas folhas.

Os cabelos das beatas esvoaçam, elas encaram o atemporal com receio. 

Uma voz estranha e grossa chega aos ouvidos delas. 

Voz - Querem barraco? 

Marieta se assusta. 

Marieta - Misericórdia! Que voz é essa, gente? Meu Jesus cristo. 

De um pequeno redemoinho de poeira surge uma mulher vestida com trajes extravagantes: Vestido rosa choque, com toques pretos. Cabelos dourados. Um sapato alto. Argolas 
colares. 


Josefa - Que bicho é você? 

Verônica - Me parece da amazônia! Precisamos chamar o IBAMA. 

Marieta - Além da gente, ninguém mais tá vendo isso daí? 

Josefa - Aparentemente não.

Marieta - Quem é você? Diz, criatura!

Lídia - Eu sei quem é... Ela é a Nossa senhora dos barracos vivos! Mais conhecida como Edileuza!

Edileuza se aproxima. 

Edileuza - Exatamente, queridinhas! Sou a santa dos barracos vivos e vim aqui a pedido da Lídia, danadinha você, hein? Mas tudo bem, vamos acabar com essa palhaçada e dar início a a nossos trabalhos? 

Marieta - Esse negócio de trabalho é coisa da Umbanda, e com eles eu não me meto. 

Josefa - De onde você veio? Do céu que não foi!

Edileuza - Vocês terão outras visitas minhas, aguardem. Qualquer dia levo vocês pra conhecerem minha casa.

Marieta - Não, eu recuso, e acho que minhas meninas igualmente são contras essa ideia. 

Lídia - Se a senhora tá aqui é porque ouviu minhas preces, então traga algo digno e sensato!

Close em Edileuza, que estrala os dedos e encara o Cassino.

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Cena 10. Cassino. Salão de dança. Interno. Dia

Verena e Kátia permanecem sentadas, observando a movimentação de seus clientes, gastando fortunas nas máquinas, e observando as mulheres dançando.

Verena – Mas quem disse que eu votei nesse daí… Meu voto é secreto, mas eu revelo pra você. Eu votei no…

Um bêbado cai da escada que dá acesso aos quartos.

Kátia – Meu Deus!

Ambas vão até ele, olhar como está.

Kátia – Você tá bem? Quebrou alguma tíbia? Ou o rádio?

Verena - Vaso ruim não quebra, infelizmente!

Bêbado – Fogo! Fogo lá de cima. Tá tendo fogo.

Sonoplastia: Música de tensão que permanece até o final do capítulo

Corta para/

Cena 11. Cassino. Corredor dos quartos – Primeiro andar. Interno. Dia

A câmera se perde em meio a fumaça do corredor e vai descendo lentamente as escadas, dando um close rápido no semblante assustado de Kátia e Verena.
As duas sobem.
Corta para/

Cena 12. Cassino. Corredor dos quartos – Primeiro 
andar. Interno. Dia

As duas cobrem o nariz com a mão.

Kátia – De onde vem esse fogo, gente? (Tosse)

Verena – Alguém aí?

Eugênia – Eu! Eu estou aqui! (Grita)

Verena – É a velha louca.

Kátia – Ela disse que ia colocar fogo por aquele canto caso o Fabrício não voltasse, mas não é possível que seja verdade… Nem posso imaginar!

Verena – Claro que não. Onde já se viu alguém colocar fogo pelo…

Kátia – Dona Eugênia, a senhora tá bem?

Verena – Que pergunta besta, a fumaça tomando conta do corredor e você pergunta se ela tá bem?

Kátia – Essa fumaça tá vindo daí? Diz alguma coisa, pelo amor de Deus! (Grita)

Eugênia – Sim! Essa fumaça tá vindo daqui, e vocês nem imaginam de onde.

Verena – De onde? Foi a TV que pifou? Ou o chuveiro elétrico que deu um curto circuito?

Eugênia – Ele tá vindo da minha…

Sonoplastia: Efeito sonoro de censura.

Verena e Kátia se encaram assustadas.
Corta para/

Cena 13. Frente do Cassino. Externo. Dia

Ambas saem correndo do Cassino, e esbarram no Bêbado, que já juntou bastante gente na frente do Cassino.

Bêbado – É um incêndio… Vindo de lá cima. Chamem os bombeiros!

Verena – Alguém viu o Fabrício? (Diz angustiada)

Verônica – Ele tá lá no bar do Josué.

Verena e Kátia saem correndo apressadamente.

Verônica – E num é que ela fez? Gente eu estou chocada!

Lídia – Mas esse fogo tá vindo de onde, gente?

Josefa – Só Deus sabe…
Corta para/

Cena 14. Bar do Josué. Salão principal. Interno. Dia

Verena e Kátia chegam apressadas.

Kátia – Fabrício, por tudo que é mais sagrado. Pare tudo que está fazendo e volte pro Cassino. Aquela senhora, a dona Eugênia, que ameaçou colocar fogo pelo rabo, colocou. Tá tendo um incêndio no Cassino. Um incêndio, e quem tá provocando… É ela.

Close no rosto de Fabrício.

Corta para/

Cena 15. Frente do Cassino. Externo. Dia

Fabrício chega, junto com Kátia e Verena.

Os dois vidros do quarto explodem, afastando uma parte do público que encara com apreensão a situação.

Fabrício – Isso tudo é ela?

Verena – Aparentemente sim. Vai lá, entra nesse quarto e apaga o fogo dessa mulher.

Fabrício – E eu vou entrar assim, sem proteção nenhuma e sem ninguém por perto?

Kátia – Você é a única salvação restante. O futuro do Cassino está em suas mãos. Caso não entre aí dentro, todo o investimento que a Verena fez, a mulher que te acolheu, vai para o buraco. Pelo amor de Deus! Corre, homem de Deus... Faz alguma coisa!

Close no rosto de Fabrício








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