(Cena 01 – Casa de Cida/Interior/Noite)
Cida (se aproximando de Gabriel): O que aconteceu, Gustavo?
Gustavo: Eu estava brincando com o Papai de ir de um lado pro outro da casa empurrando ele na cadeira de rodas, quando a gente bateu no batente e ele caiu.
Cida: Por que você não ligou pra mim?
Gustavo: Foi agora há pouco. Ele estava te esperando, e achou que essa seria uma boa maneira de ficar acordado porque já estava ficando com sono.
Cida: Eu vou ligar pro hospital.
(Cena 02 – Casa de Augusto/Escritório de Augusto/Interior/Noite)
(Pedro entra e fecha a porta)
Pedro: Você me chamou?
Augusto: Sente-se. Eu preciso lhe falar uma coisa.
(Pedro senta na cadeira em frente à Augusto)
Augusto: Consertaram a sabotagem lá em San Martín.
Pedro: O quê? Quem fez isso?
Augusto: Um amigo meu perito vem investigar amanhã.
Pedro: Precisamos colocar de volta ao normal agora!
Augusto: Não dá. Muitas pessoas. E prepare-se, porque provavelmente assim que chegarmos em casa teremos de enfrentar vários repórteres.
Pedro: E o que nós vamos dizer?
Augusto: Vamos dizer que não entendemos como tudo veio à tona de repente, e que chamaremos gente de fora pra analisar como tudo ocorreu e o que estava impedindo o fluxo.
(Cena 03 – Rua/Exterior/Noite)
(Janaína está andando pelas ruas desnorteada, até que vê a casa de Daniel. Pula o muro pelos fundos e se acomoda encostada ao muro, dormindo lá)
(Cena 04 – Hospital/Interior/Noite)
Cida: Pelo amor de Deus, vocês têm que ajudar meu marido, ele tem que ficar bem.
Enfermeiro: Me desculpe, mas eu vou pedir que a sra. se afaste. No momento, o melhor que a sra. pode fazer é orar por ele.
(Cida fica chorando no corredor)
Gustavo: Você acha que foi culpa minha, não foi?
Cida: Claro que não Gustavo, claro que não...para de bobagem...olha, me faz um favor, fica aqui nessas cadeiras que eu vou ali no banheiro, ok? Se procurarem por mim, você diz que eu fui ao banheiro.
(Hospital/Banheiro/Interior/Noite)
(Cida se olha em frente ao espelho)
Cida (pensando): Não Gustavo, a culpa não foi sua...a culpa foi inteiramente minha que não devia ter ficando traindo meu marido até altas horas. Se acontecer algo grave com o Gabriel...eu não vou suportar, meu Deus.
(Cena 05 – Carro/Interior/Noite)
Malu: Tchau.
Alex: Tchau, namorada.
(Se beijam)
(Malu entra em sua casa e fala com Daniel pelo celular por mensagens)
Malu: Danieeeel, você não sabe! O Alex me pediu em namoro!
Daniel: Sério, amiga? Que boooommm, e aí, você aceitou?
Malu: Claro, né? Enfim, depois comentamos mais...vamos pro culto amanhã?
Daniel: Vou não, more...tô com preguiça.
Malu: Coisa feia, hein? Bye, Dani <3, te vejo outro dia.
Daniel: Bye.
(Corta para: Casa de Daniel/Quarto/Interior/Noite)
(Daniel larga o celular depois de falar com Malu e se concentra no notebook. Ele está lendo uma página que tem como título: “O posicionamento da igreja evangélica em relação à homossexualidade”)
Daniel: Não, Malu...eu não posso continuar em um lugar que não me aceita.
(Cena 06 – Casa de Marcos/Exterior/Noite)
(Marcos está abrindo a casa, quando Cecília estaciona o carro)
Marcos: Você aqui?
Cecília: Sim, euzinha.
Marcos: Como você descobriu que eu moro aqui?
Cecília: Eu te segui até à ONG de manhã, e hoje fui lá, aí encontrei com a garota que trabalha com você.
(Marcos faz cara de espanto)
Cecília: Não, droga. Calma, eu juro que não sou uma louca obcecada.
Marcos: Não, não é isso. É que eu pensei que você não tinha ido muito com a minha cara...
Cecília: Que nada! Eu fiquei super feliz com o que você sugeriu!
Marcos: O que você veio fazer aqui?
Cecília: Conversar com você, mas...acho que era melhor eu não ter vindo, né?
Marcos: Não, de jeito nenhum, fica, por favor...
Cecília: É que...eu queria desabafar com alguém, sabe?
Marcos: Entendo...
(Eles vão se aproximando)
Marcos: Entendo perfeitamente...
(Se beijam)
(Cena 07 – Cenas do Rio de Janeiro amanhecendo)
(Corta para: Hospital/Interior/Dia)
Cida: E então, doutor? Alguma notícia?
Médico: O quadro do seu marido não é bom. Ele teve uma leve lesão na coluna lombar, o que até foi resolvido, mas...ele vai ficar em coma por alguns dias.
Cida (chorando): Por quanto tempo, doutor?
Médico: Olha...minha previsão é de 2 semanas. O caso dele não foi tão grave, mas ele perdeu muito sangue e também bateu a cabeça de forma muito brusca, o que pode ter afetado algumas regiões do cérebro dele, mas só confirmaremos tudo isso quando ele acordar...
Gustavo (chorando): DROGA! FOI TUDO CULPA MINHA!
Cida: Calma, filho...com toda certeza não foi culpa sua...
(Cida vai abraçar Gustavo, mas ele se desvencilha dela: “Me solta!”)
(Cena 08 – Casa de Marcos/Quarto/Interior/Dia)
(Marcos e Cecília estão deitados na cama. Karina vai entrando pelas portas com suas chaves, até chegar no quarto)
Karina abre a porta do quarto e vê Marcos e Cecília nus e juntos: MAS QUE PORCARIA É ESSA AQUI? O QUE ESSA VADIA TÁ FAZENDO AQUI? Peraí...eu te conheço de algum lugar...
Marcos: Cala a boca, Karina. Você pode dar um minutinho pra gente, por favor?
Karina: De jeito nenhum, eu quero que ela fique aqui e seja despachada na minha frente.
Marcos: Eu acho que você está ligeiramente enganada. Quem vai ser despachada aqui é você, e não ela.
Karina: O quê? Você tá ficando louco, Marcos?
Marcos: Quem ficou louca foi você quando quebrou a ONG que eu levei anos para construir.
Karina: O quê? Mas eu não fiz nada àquele ninho de ratos.
Marcos: EU JÁ DISSE PRA VOCÊ NÃO TRATAR O PESSOAL DA ONG ASSIM!
Karina: Ok, quer saber? Fui eu mesmo. Eu não aguentava mais você gastando seu tempo e seu dinheiro naquela grande BOSTA. Ouviu isso? BOS-TA. Eu estou mais do que correta em ter feito aquilo, aliás, eu fiz o serviço incompleto: Eu devia ter tocado fogo naquele cabaré! E pelo visto, né? A maior prostituta do cabaré já está aqui. Me fala uma coisa amore, faz tempo que você tá dando pro meu marido?
Marcos: CHEGA! EU NÃO VOU ADMITIR QUE VOCÊ FALE COM ELA DESSE JEITO! Ademais, eu e você estamos separados! Nossa relação já acabou faz tempo, Karina. Não faz mais sentido a gente ficar morando debaixo do mesmo teto só pra ficar brigando igual gato e cachorro. Dá o fora daqui AGORA! E pode levar suas coisas, já tá tudo numa mala lá na lavanderia.
Karina: Está bem, eu vou embora, mas se pensam que esse jogo acabou, vocês estão muito enganados! Principalmente você, ouviu queridinha? Não basta rebolar a raba pra tomar meu marido não, tá amore? Você não devia ter brincado comigo. Seu destino é o inferno, piranha, e sou eu que vou levar até lá.
(Karina vai embora)
Cecília: Essa mulher é perigosa, Marcos.
Marcos: Você não vai correr nem um perigo comigo por perto, linda.
(Se beijam)
(Cena 09 – Casa de Daniel/Lavanderia/Exterior/Dia)
(Daniel caminha até o fundo do quintal, e vê Janaína, dormindo, e se aproxima dela)
Daniel: Oh, menina! Ei, acorda.
(Janaína acorda lentamente, e quando vê Daniel, dá um salto)
Janaína: Não encosta em mim.
Daniel: Por quê? Você deve ser a Frozen, né? Aquela que congela todo mundo quando encosta. Acho que você tá me devendo uma explicação.
Janaína: Que explicação, garoto? Eu nem te conheço!
Daniel: Mas pelo visto, minha casa você conhece, né? E muito bem, pelo visto.
Janaína (com cara de quem está lembrando alguma coisa): Ah, tá...desculpa, viu? Mas pelo amor de Deus, não fala pra ninguém que eu tô aqui.
Daniel: Por que eu deveria fazer isso?
(Corta para: Casa de Daniel/Cozinha/Interior/Dia)
Daniel: O QUÊ? Como você ainda tá viva, menina?
Janaína: O que me mantem viva é o desejo de encontrar o Marcos, a Karina e o Rodolfo. Só que pro Marcos eu só quero dar amor, pros outros dois é que eu vou fazer da vida um inferno.
Daniel: A-DO-REI. Chama a Karina de Carminha e vem ser a Nina de San Martín.
Janaína: Nina...Nina ainda é pouco pro que eu vou fazer com aqueles dois.
Daniel: O que você pretende fazer?
Janaína: Bem, eu ainda não sei...mas você bem que poderia me fornecer sua casa pra eu ficar um tempinho aqui, né?
Daniel: Olha, por mim tudo bem, eu vou te apoiar em todos os sentidos dessa história, mas por que você não vai pra casa do Marcos?
Janaína: Eu quero fazer tudo com calma...quando eu achar que ele tá preparado, eu vou lá.
Daniel: Então tá bem, pode ficar aqui o tempo que for preciso.
(Se abraçam)
(Cena 10 – Restaurante/Interior/Dia)
Ricardo: Cida, por que você chegou atrasada hoje? Você não é disso...
Cida: Eu não vou mais trabalhar aqui, Ricardo.
Ricardo: O quê? Como assim não vai trabalhar? Eu te fiz alguma coisa, Cida?
Cida: Não, de jeito nenhum. Quem fez fui eu. Meu marido tá em coma por minha causa. Eu cheguei tarde ontem, e ele ficou acordado até tarde me esperando, aí ele e meu filho começaram a brincar e ele sofreu uma queda que o deixou em coma.
Ricardo: Mas isso não é culpa sua!
Cida: É sim, e eu tenho plena consciência disso. E não adianta ficar martelando na minha cabeça que não foi minha culpa. Bem, agora tchau.
Ricardo: MAS O SEU TRABALHO NÃO TEM NADA A VER COM ISSO!
Cida: Não, meu trabalho não. É o meu amor por você o causador de tudo isso. Tchau Ricardo.
Cida: Não, meu trabalho não. É o meu amor por você o causador de tudo isso. Tchau Ricardo.
(Cena 11 – Rua/Exterior/Dia)
Malu: Tô gostando muito de você, sabia Alex? Eu já tô imaginando a gente...indo todo domingo pra igreja com os nossos filhos já crescidos...eu vou amar isso!
Alex: É...eu acho que não tenho a mesma visão que você, Malu.
Malu: Hã? Como assim, você não quer casar?
Alex: É que...eu sou agnóstico.
(Malu se levanta e vai embora)
Alex: MALU! ESPERA! Você vai ficar com raiva só por causa disso.
Malu: Eu não vou ficar com raiva.
Alex: Então pra quê essa pressa toda?
Malu: O nosso namoro acaba aqui, Alex. Como é que você entra em uma relação com uma pessoa e nem avisa uma...barbárie dessa?
Alex: Então...pra você faria diferença se eu fosse do candomblé, se eu fosse católico, judeu...
Malu: Sim, faz MUITA diferença. Eu jamais me envolveria com uma pessoa desse nível.
Alex: Que nível, Malu?
Malu: NÍVEL BAIXO, IGUAL AO SEU!
Alex: Nível baixo...tá bem, deve ser melhor a gente acabar por aqui mesmo.
Malu: Também acho. Meu deus fica acima de tudo e de todos.
(Cena 12 – Casa de Marcos/ Cozinha/Interior/Dia)
(Marcos está fazendo um suco, enquanto Cecília põe os pratos na mesa)
Marcos: Cecília, você se dá bem com seu marido?
Cecília: Não. A gente vive igual gato e rato, sempre brigando...eu e o Pedro não nos aguentamos mais.
Marcos: Você gostaria de morar aqui depois dessa confusão toda?
(Cecília faz cara de estupefata)
Marcos: Caramba, desculpa...
Cecília: Não, sem problemas. É só que...eu sou MÃE, e eu busco o melhor pro meu filho. Eu não sei se isso seria o melhor pra ele.
Marcos: Claro, claro...você tem toda razão...eu nem devia ter perguntado isso. Eu vou...checar umas ligações perdidas no celular, volto já.
(Corta para: Casa de Marcos/Quarto/Interior/Dia)
Marcos faz uma ligação: Alô?...Sim, sou eu...O QUÊ? COMO ISSO ACONTECEU? ELA NÃO PODE TER SAÍDO DAÍ, ELA TÁ SUPER MAL...OK, EU TÔ INDO AÍ.
Cecília (entrando no cômodo): O que aconteceu?
Marcos: Eu tenho uma história pra te contar, Cecília.
(Cena 13– Parque/Exterior/Dia)
(Alex está sentado ao lado de uma árvore chorando, e Daniel decide se aproximar dele)
Daniel: Olá, tudo bem?
Alex (enxugando as lágrimas): É...tá, tá sim, muito obrigado.
(Daniel oferece um lenço à Alex)
Alex: Obrigado.
Daniel: Quer desabafar?
Alex (com cara de pensativo): Não...tudo que eu quero agora é esquecer essa pessoa e simplesmente seguir em frente.
Daniel: Entendo...bem, eu já vou então. Espero que você fique bem.
(Daniel vai saindo, mas Alex o manda esperar, e se levanto, dando-lhe um abraço)
Alex: Muito obrigado. Por um instante hoje, você foi um grande amigo meu, muito obrigado. Qual o seu nome?
Daniel: Daniel.
Alex: Prazer, Alex. Foi bom te conhecer.
Daniel: Digo o mesmo. Espero que esse seu sofrimento passe.
(Cena 14 – Hospício/Interior/Dia)
Marcos: Então ela pode estar curada? Existe a possibilidade de ela voltar a ser a Janaína que era antes de tudo que aconteceu?
Recepcionista: Nós não sabemos, não temos a mínima ideia. Esperamos que o sr. compreenda nossa apreensão nesse momento.
(Marcos dá um murro no balcão)
Marcos: Isso não é justo. Vocês têm ideia do quanto ela foi importante pra mim?
Recepcionista: Nós lamentamos muito a sua perda.
(Marcos atende o celular)
Marcos: Oi, Malu...ok, estou indo aí.
Após desligar o telefone, Marcos diz: Eu vou ali resolver uma coisa na delegacia, mas eu espero que vocês deem um jeito nisso.
(Cena 15 – Prefeitura/Interior/Dia)
(Augusto entra bravo na sala de Pedro, e bate a porta com força)
Pedro: Com que direita você acha que faz isso?
Augusto: Cala a boca, capacho. Olha isso aqui.
(Augusto joga papéis em cima da mesa)
Pedro: Quê que é isso?
Augusto: Provas contra a Cecília. Estas análises mostram que foi ela que fez a sabotagem em San Martín.
Pedro: O quê?
(Cena 16 – Delegacia/Interior/Dia)
Marcos: Oi, Malu? O que aconteceu? Você me chamou com tanta pressa...espera, por que você tá chorando?
Malu: O choro não interessa agora. A questão é que conseguiram descobrir quem é o criminoso pela minha descrição, conseguiram fazer um retrato dele.
Marcos: Então cadê a cara do desgraçado?
(O delegado estende à Marcos um desenho de Rodolfo)
Delegado: O retratista faltou ontem, mas anotamos tudo que a srta. Maria Luíza nos disse, e já temos a cara do bandido. Ela confirmou ser ele.
Marcos: Não é possível.
(Cena 17 – Prefeitura/Interior/Dia)
Pedro: Como você descobriu isso?
Augusto: Chamei um amigo meu de uma cidade vizinha que é dessa área de investigação, faz parte da perícia...ele tirou as impressões digitais de onde foi feita a sabotagem lá na Ômega, e ele descobriu que a Cecília foi a responsável.
Pedro: Meu Deus, como é possível?!
Augusto: Agora teremos que tomar alguma providência em relação à Cecília.
Pedro: E o que você sugere?
Augusto: Sugiro que nós matemos a Cecília.
(Congelamento em Augusto)