No capítulo anterior...
Katniss caminha desnorteada pelas ruas da cidade, até que consegue ajuda.
Christina e Joe conversam sobre seu desvio de dinheiro público no passado.
Johnson fica furioso ao saber que sua mulher, que também está concorrendo a prefeitura da cidade de New Kennedy, perderá a candidatura devido a decisão do presidente do partido.
Collins e Marylin tentam descobrir mais sobre Katniss, porém ela não diz nada. No entanto, a garota estende a mão para o cartaz político de Christina à sua frente e pronuncia “mãe”.
Olho perplexo para Marylin. Ela,
com as sobrancelhas franzidas e uma delas levemente levantada, me olha de
volta.
Sua fala fora quase um sussurro,
todavia suas poucas palavras ecoaram em meus ouvidos, fazendo com que minha
mente captasse perfeitamente o que dissera: “Mãe”.
-- Mãe... você disse mãe, não foi
isso?
Sua atenção continuava fixa no
cartaz político de Cristina pendurado na parede.
Marylin não se aguenta, puxa o
cartaz da parede e traz até nós.
-- Você conhece esta mulher? –
Pergunta Marylin com o braço esticado, pondo aquele grande papel bem próximo ao
rosto da menina.
-- Minha mãe... – Responde ela
com serenidade.
Marylin me olha pelo canto dos
olhos como se esperasse uma atitude por minha parte. Não vejo outra alternativa
a não ser fazer o que me veio em mente.
Com o
telefone não mão, começo a pensar: Será que devo realmente fazer isso? É a
felicidade da minha mulher que está em jogo... A quem estou querendo enganar?
Na verdade, pouco estou me importando com isso, o que eu quero mesmo é
continuar no comando da cidade. Com a minha esposa ganhando as eleições e se
tornando prefeita seria como se o meu mandato fosse prorrogado.
Na agenda
eletrônica, busco um de meus contatos e ponho para chamar.
-- E aí Mike,
como vai? – Digo empolgado.
-- Tudo bem,
prefeito. E o senhor?
-- Vou bem
também... quer dizer, mais ou menos.
-- O que te
aflige prefeito?
-- Bom,
acabei de saber uma notícia muito triste, para mim e para minha esposa.
-- Posso
saber o teor dessa notícia? – Diz Mike, curioso.
-- Claro!
Afinal somos amigos, não? Você está perto de alguém? – Pergunto-lhe abaixando o
meu tom de voz.
-- Não, pode
falar. – Diz Mike sussurrando.
-- Preciso de
um favor seu.
- Andrew, meu
filho, vamos. Você vai chegar atrasado na faculdade.
-- Já vou,
mãe.
Andrew
finalmente sai pela porta da casa e vem ao meu encontro dentro do carro. Seu
afobamento era tamanho que ao entrar no automóvel acaba batendo a cabeça.
-- Ai! –
Exclama pondo a mão na região da batida.
-- Hum,
machucou? – Pergunto mesmo sabendo a resposta.
-- Não
muito... só vai dar um galo depois.
-- Viu, se
tivesse acordado mais cedo não estaria nessa correria.
-- Tá bom
mãe, amanhã eu acordo de madrugada,
-- Que ótimo!
– Digo com um tom de deboche. – Aproveita e ponha o lixo para gora e prepare o
café da manhã.
-- Até
parece. – Resmunga sorrindo.
Ligo o carro
e sigo rumo a mais um dia atarefado.
-- E o meu
pai? – Pergunta Andrew.
-- Seu pai já
foi para o trabalho. – Digo enquanto virava a esquina. – Sua irmã também saiu
cedo, ela está me ajudando na minha campanha política. Falando em campanha... –
Tiro da gaveta um bottom, cuja
escritura era “Christina para prefeita”, e penduro na blusa de Andrew com uma
das mãos. – Você também tem que fazer a sua parte.
--Não me
conformo com isso! – Digo observando a manchete do jornal. – Como assim
proibiram a pesca de sardinhas aqui na região!
Thompson, um
amigo meu que trabalha comigo há muitos anos, põe a mão sobre o meu ombro.
-- Vai se
acostumando. – Diz a mim.
Ele passa do
meu lado e vai ao encontro de um conhecido aqui no porto.
Pego minha
vara de pesca, subo no bote e vou para o meio do lago. Lá, jogo a isca presa na
linha água à dentro. Enquanto espero o peixe mordê-la, começa a vir em minha
mente lembranças, essas de muito tempo atrás.
Começo a
lembrar do aniversário de três anos da filha da minha irmã, Christina. Ela e
seu marido, Joe, estavam muito felizes. Seus outros dois filhos mais velhos,
Andrew e Dakota, estavam atacando o glacê do bolo sem que seus pais os vissem.
-- Vem Ben,
vem tirar foto coma gente. – Dizia Christina com sua filha mais nova nos
braços.
Faço conforme
o seu desejo e tiro uma foto junto à sua família. Uma família feliz... todos
diziam, e estavam certos, mas essa felicidade não durou por mais de dois anos.
As lembranças
felizes, em um piscar de olhos, mudaram para lembranças tristes.
Vejo a minha
irmã, Christina, chorando nos braços de Joe. Policiais vasculhavam em toda
parte o parque da cidade. Andrew e Dakota olhando assustados toda aquela
situação, e seus olhos cheios de água. Me lembro desse dia, foi quando a...
Desligo-me de
meus profundos pensamentos com o balançar da vara de pesca.
-- Opa! Vou
girando a manivela e puxando a corda. – Até que dessa vez foi rápido.
Ao puxá-la
por completo percebo que se tratava de uma sardinha de tamanho grande. Ela
gastava seus últimos momentos de vida tentando se soltar. Fico pensando o que
faria. Ou devolvo a sardinha ao lago conforme agora manda a lei, ou faço-me de
desentendido e levo-a para casa. Faço, então, conforme a lei.
Deixei Andrew
na porta da faculdade e agora dirijo até a praça das árvores no centro da
cidade. Durante a viagem meu celular toca. Não atendo por conta de estar
dirigindo.
Paro no
acostamento, já bem próximo à praça. Desço portando meu celular. Olho no
registro de chamadas afim de identificar o número que me ligou e vejo que se
tratava do meu amigo, o delegado Collins.
-- O que será
que ele quer comigo? – Penso.
É então que
decido retornar à ligação.
-- Alô,
delegado Collins?!
-- Oi
Christina.
-- Desculpe
não ter atendido antes, mas é que eu estava dirigindo.
-- Então está
perdoada. – Solta um breve riso abafado. – Agora sem brincadeiras. Estou
precisando falar com você. O assunto é de urgência.
-- Vai falar
por telefone ou quer que eu vá até aí?
-- Prefiro
que você venha até a delegacia.
-- Tudo bem.
Quando terminar a minha campanha aqui na praça da cidade eu passo aí.
-- Obrigado,
Christina. Até.
-- Até. –
Retruco.
Desligo a
chamada e ponho o celular na bolsa a qual carregava. Dou mais alguns passos à
minha frente e, de repente, tudo fica escuro.
-- Quieta!
A partir daí
notei que poderia ser um sequestro. Sinto alguém amarrando as minhas mãos.
Tento gritar, mas o som da minha voz é abafado por uma mão bruta. Aquele saco
de pano com que cobriram o meu rosto era tão espesso que não dava para ver nenhuma
fresta de luz sequer.
-- Você está atrapalhando
os outros, Christina. Agora... mandaram a gente acabar com você. – Diz uma voz
masculina bem próximo ao meu ouvido, causando assim meu desespero.
No
próximo capítulo...
“Começo a caminhar pelo parque com o pensamento longe. Sentia
que algo de ruim estava acontecendo”.
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