Segredos Familiares | Doces lembranças? | Cap.2


No capítulo anterior...
Katniss caminha desnorteada pelas ruas da cidade, até que consegue ajuda.
Christina e Joe conversam sobre seu desvio de dinheiro público no passado.
Johnson fica furioso ao saber que sua mulher, que também está concorrendo a prefeitura da cidade de New Kennedy, perderá a candidatura devido a decisão do presidente do partido.
Collins e Marylin tentam descobrir mais sobre Katniss, porém ela não diz nada. No entanto, a garota estende a mão para o cartaz político de Christina à sua frente e pronuncia “mãe”.




Olho perplexo para Marylin. Ela, com as sobrancelhas franzidas e uma delas levemente levantada, me olha de volta.
Sua fala fora quase um sussurro, todavia suas poucas palavras ecoaram em meus ouvidos, fazendo com que minha mente captasse perfeitamente o que dissera: “Mãe”.
-- Mãe... você disse mãe, não foi isso?
Sua atenção continuava fixa no cartaz político de Cristina pendurado na parede.
Marylin não se aguenta, puxa o cartaz da parede e traz até nós.
-- Você conhece esta mulher? – Pergunta Marylin com o braço esticado, pondo aquele grande papel bem próximo ao rosto da menina.
-- Minha mãe... – Responde ela com serenidade.
Marylin me olha pelo canto dos olhos como se esperasse uma atitude por minha parte. Não vejo outra alternativa a não ser fazer o que me veio em mente.


            Com o telefone não mão, começo a pensar: Será que devo realmente fazer isso? É a felicidade da minha mulher que está em jogo... A quem estou querendo enganar? Na verdade, pouco estou me importando com isso, o que eu quero mesmo é continuar no comando da cidade. Com a minha esposa ganhando as eleições e se tornando prefeita seria como se o meu mandato fosse prorrogado.
            Na agenda eletrônica, busco um de meus contatos e ponho para chamar.
            -- E aí Mike, como vai? – Digo empolgado.
            -- Tudo bem, prefeito. E o senhor?
            -- Vou bem também... quer dizer, mais ou menos.
            -- O que te aflige prefeito?
            -- Bom, acabei de saber uma notícia muito triste, para mim e para minha esposa.
            -- Posso saber o teor dessa notícia? – Diz Mike, curioso.
            -- Claro! Afinal somos amigos, não? Você está perto de alguém? – Pergunto-lhe abaixando o meu tom de voz.
            -- Não, pode falar. – Diz Mike sussurrando.
            -- Preciso de um favor seu.


            - Andrew, meu filho, vamos. Você vai chegar atrasado na faculdade.
            -- Já vou, mãe.
            Andrew finalmente sai pela porta da casa e vem ao meu encontro dentro do carro. Seu afobamento era tamanho que ao entrar no automóvel acaba batendo a cabeça.
            -- Ai! – Exclama pondo a mão na região da batida.
            -- Hum, machucou? – Pergunto mesmo sabendo a resposta.
            -- Não muito... só vai dar um galo depois.
            -- Viu, se tivesse acordado mais cedo não estaria nessa correria.
            -- Tá bom mãe, amanhã eu acordo de madrugada,
            -- Que ótimo! – Digo com um tom de deboche. – Aproveita e ponha o lixo para gora e prepare o café da manhã.
            -- Até parece. – Resmunga sorrindo.
            Ligo o carro e sigo rumo a mais um dia atarefado.
            -- E o meu pai? – Pergunta Andrew.
            -- Seu pai já foi para o trabalho. – Digo enquanto virava a esquina. – Sua irmã também saiu cedo, ela está me ajudando na minha campanha política. Falando em campanha... – Tiro da gaveta um bottom, cuja escritura era “Christina para prefeita”, e penduro na blusa de Andrew com uma das mãos. – Você também tem que fazer a sua parte.


            --Não me conformo com isso! – Digo observando a manchete do jornal. – Como assim proibiram a pesca de sardinhas aqui na região!
            Thompson, um amigo meu que trabalha comigo há muitos anos, põe a mão sobre o meu ombro.
            -- Vai se acostumando. – Diz a mim.
            Ele passa do meu lado e vai ao encontro de um conhecido aqui no porto.
            Pego minha vara de pesca, subo no bote e vou para o meio do lago. Lá, jogo a isca presa na linha água à dentro. Enquanto espero o peixe mordê-la, começa a vir em minha mente lembranças, essas de muito tempo atrás.
            Começo a lembrar do aniversário de três anos da filha da minha irmã, Christina. Ela e seu marido, Joe, estavam muito felizes. Seus outros dois filhos mais velhos, Andrew e Dakota, estavam atacando o glacê do bolo sem que seus pais os vissem.
            -- Vem Ben, vem tirar foto coma gente. – Dizia Christina com sua filha mais nova nos braços.
            Faço conforme o seu desejo e tiro uma foto junto à sua família. Uma família feliz... todos diziam, e estavam certos, mas essa felicidade não durou por mais de dois anos.
            As lembranças felizes, em um piscar de olhos, mudaram para lembranças tristes.
            Vejo a minha irmã, Christina, chorando nos braços de Joe. Policiais vasculhavam em toda parte o parque da cidade. Andrew e Dakota olhando assustados toda aquela situação, e seus olhos cheios de água. Me lembro desse dia, foi quando a...  
            Desligo-me de meus profundos pensamentos com o balançar da vara de pesca.
            -- Opa! Vou girando a manivela e puxando a corda. – Até que dessa vez foi rápido.
            Ao puxá-la por completo percebo que se tratava de uma sardinha de tamanho grande. Ela gastava seus últimos momentos de vida tentando se soltar. Fico pensando o que faria. Ou devolvo a sardinha ao lago conforme agora manda a lei, ou faço-me de desentendido e levo-a para casa. Faço, então, conforme a lei.


            Deixei Andrew na porta da faculdade e agora dirijo até a praça das árvores no centro da cidade. Durante a viagem meu celular toca. Não atendo por conta de estar dirigindo.
            Paro no acostamento, já bem próximo à praça. Desço portando meu celular. Olho no registro de chamadas afim de identificar o número que me ligou e vejo que se tratava do meu amigo, o delegado Collins.
            -- O que será que ele quer comigo? – Penso.
            É então que decido retornar à ligação.
            -- Alô, delegado Collins?!
            -- Oi Christina.
            -- Desculpe não ter atendido antes, mas é que eu estava dirigindo.
            -- Então está perdoada. – Solta um breve riso abafado. – Agora sem brincadeiras. Estou precisando falar com você. O assunto é de urgência.
            -- Vai falar por telefone ou quer que eu vá até aí?
            -- Prefiro que você venha até a delegacia.
            -- Tudo bem. Quando terminar a minha campanha aqui na praça da cidade eu passo aí.
            -- Obrigado, Christina. Até.
            -- Até. – Retruco.
            Desligo a chamada e ponho o celular na bolsa a qual carregava. Dou mais alguns passos à minha frente e, de repente, tudo fica escuro.
            -- Quieta!
            A partir daí notei que poderia ser um sequestro. Sinto alguém amarrando as minhas mãos. Tento gritar, mas o som da minha voz é abafado por uma mão bruta. Aquele saco de pano com que cobriram o meu rosto era tão espesso que não dava para ver nenhuma fresta de luz sequer.
            -- Você está atrapalhando os outros, Christina. Agora... mandaram a gente acabar com você. – Diz uma voz masculina bem próximo ao meu ouvido, causando assim meu desespero.

No próximo capítulo...
“Começo a caminhar pelo parque com o pensamento longe. Sentia que algo de ruim estava acontecendo”.


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