Romeu e Julieta do Sertão - Capitulo 1



Vou lhes contar uma história de amor de um casal de namorados, jovens apaixonados que se conheceram há algum tempo atrás, por volta da década de cinquenta lá pelas bandas de Goiás, a muito se ouviu falar desta história, que se tornou lenda e musica, ainda toca nas rádios, para que as pessoas se lembrem deste amor puro e verdadeiro, destruído pela maldade e pela inveja.
Tudo começou em uma vila chamada Santa Luzia em um povoado que ficava no pé da serra, ali o povo tinha uma vida pacata, tranquila típica do interior, todos conheciam o poderoso fazendeiro Jacinto de Andrade, com terras a perder de vista, tinha mais cabeças de gado do que qualquer fazendeiro da região morava em um casarão a duas léguas da vila de Santa Luzia, era casado com Teodora, tiveram três filhos o mais velho Henrique, Inácio o filho do meio e a pequena Isabel.
Isabel é uma flor de menina, pele clara, olhos negros como jabuticabas  e cabelo sedoso da cor de noite sem luar, foi criada com muito carinho por seus pais e protegida pelos irmãos. Era uma menina pouco convencional, sempre brincava com os irmãos e não gostava de perder para eles, em qualquer aposta ou em brincadeiras.
Certo dia houve uma festa no povoado, era festa de São João, todos estavam animados com as comemorações e a criançada estava alegre para soltar rojões. Era final de tarde quando o padre terminou de celebrar a missa, as crianças saíram correndo, Isabel foi atrás dos irmãos, ela tinha apenas oito anos aparência de menina meiga com covinhas que apreciam quando sorria, mas era traquina tanto quanto qualquer garoto que estava ali.
 Os irmãos a deixaram para traz, estavam correndo na praça em frente da igreja para se juntar aos outros meninos do povoado, Isabel tentou alcança-los, mas cai e ralou o joelho,  olhando para o ferimento lutou para conter as lagrimas, pois não queria que seus irmãos a vissem chorando, foi então que ela percebeu que havia um garoto próximo, deveria ter 11 anos à mesma idade de seu irmão mais velho Henrique, ele estendeu a mão para ela com um sorriso bondoso.
Isabel desconfiou dele, afinal seus irmãos nunca foram gentis, estreitou os olhos e avaliou o garoto rapidamente, mas por algum motivo  pegou na mão dele, algo em seus olhos cor de caramelo fez que ela confiasse nele, o garoto a ajudou  a se levantar, batendo a poeira do vestido, olhou para o ferimento no joelho que estava ardendo.
– Deve estar doendo. – Disse o garoto olhando para o machucado. – Venha, sente- se aqui. – Ele indicou um banco próximo, Isabel mancou até o banco imaginando a bronca que iria levar da mãe por ter ralado o joelho e por estar com o vestido sujo. Isabel olhou para o garoto que se sentou ao lado dela.
– Obrigada. – Disse. ­– Qual é o seu nome ?
– Joaquim.
– Eu sou a Isabel. – O garoto sorriu para ela.
– Eu sei quem você é, filha do Jacinto, meu tio não gosta do seu pai.
– Por que? – Isabel quis saber, Joaquim deu de ombros.
– Coisas de adultos, o meu tio trabalhou para seu pai há algum tempo e Senhor Jacinto não pagou meu tio, quando meu tio foi cobrar a divida o seu pai expulsou meu tio das terras e disse para nunca mais voltar ali desde então meu tio odeia seu pai – Isabel arregalou os olhos, ela não sabia bem porque o pai não pagaria o tio de Joaquim, mas ele deveria estar enganado, pois o pai dela não faria isso. Naquela tarde Isabel e Joaquim se tornaram grandes amigos e algo mais surgiu daquela amizade, um sentimento forte que nem um deles saberia explicar de onde veio.
Desde aquele dia eles se encontravam secretamente para brincar juntos, Isabel não contou para seus irmãos sobre seu novo amigo, ela queria que Joaquim fosse apenas seu amigo, faziam de tudo juntos, tomavam banhos em riachos, brincavam com seus estilingues e exploravam as matas próximas dali. Um dia os dois subiram a serra e lá do alto deitados na relva olhando as nuvens passarem Joaquim disse:
– Um dia quero ser o melhor vaqueiro dessa região.
– Vaqueiro? Pensei que você seria violeiro. – Isabel falou e se virou para olhar o amigo, Joaquim estava aprendo a tocar com o violeiro da vila.
– Isso foi antes, agora eu quero ser vaqueiro, meu tio esta me ensinando a domar cavalos, ele me disse que logo vai me levar para ajudar ele tocar o gado, vamos atravessar o rio Paranaíba. – O pai de Joaquim morreu quando ele era pequeno a mãe dele foi embora e o deixou, o garoto foi criado pelos tios Ernesto e Angelina.
– Mas se você se for com quem eu vou brincar ? –Perguntou Isabel preocupada, Joaquim sorriu para ela.
– Eu vou voltar para te contar minhas aventuras.
– Eu queria ir com você. – Disse Isabel tristonha.
– Um dia eu vou te levar comigo. ­– Joaquim a olhou para firmar a promessa com o olhar.
–Promete? –Os olhos negros de Isabel brilharam de expectativa.
– Sim eu prometo ­– Joaquim disse com um sorriso maroto nos lábios. – Mas só se você prometer que um dia vai casar comigo. ­­– Isabel começou a rir, o que mais uma garota de oito anos poderia fazer quando um menino a pede em casamento ­– Estou falando serio Bel, um dia você vai ser minha esposa, vamos nos casar aqui no alto da serra.

E foi assim que os dois enlaçaram seus destinos, com uma promessa de casamento ali no alto da serra, com o céu e a terra de testemunha, há um longo caminho para esses dois e esse é só o começo da história.

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