DOM DE AMAR
by
by
EVERTON BRITO
CAPÍTULO 10
FADE IN:
01 EXT. ESTRADA, SERRADA- DIA.
SONOPLASTIA: Sleeping At Last- Turning Page.
Chuva intensa. CAM, entrecortes entre os olhares de
Marina e Cecílio.
MARINA
Você...
Você...
Cecílio respira, ofegante. Ele larga as mãos do
carro e sai andando, depressa.
MARINA
Espera...
Espera...
Marina abre a porta e salta do carro, correndo
atrás de Cecílio, mesmo que seu salto dificulte um pouco.
MARINA
Volte aqui! Ei!
Volte aqui! Ei!
Tão forte é a chuva que ela mal consegue
enxerga-lo.
Marina alcança Cecílio e toca seu braço, Cecílio
vira-se, depressa, assustado. SLOW. Os dois se entreolham novamente. Marina
respira rápido demais.
MARINA
Eu procurei você... Eu procurei por você...
Eu procurei você... Eu procurei por você...
CECÍLIO
Não, não me toque. Você...
Não, não me toque. Você...
Cecílio vira-se e sai andando, adentra dentro do
caminhão e aperta com força o volante.
MARINA
Você sumiu. Eu preciso tanto falar com você.
Você sumiu. Eu preciso tanto falar com você.
Lágrimas caem do rosto de Cecílio. Ele faz que não
com a cabeça.
CECÍLIO
Você não poderia ter surgido agora. Não agora. Não aqui...
Você não poderia ter surgido agora. Não agora. Não aqui...
Marina o encara. Cecílio liga o caminhão e dá a
marcha. O pneu desatola e o caminhão parte. Marina grita, correndo atrás.
MARINA
Não! Volte aqui! Por favor, não vá embora novamente! Ei...
Não! Volte aqui! Por favor, não vá embora novamente! Ei...
Marina para no meio do caminhão, cansada.
MARINA
Eu vou te achar... de novo.
Eu vou te achar... de novo.
CAM AÉREA. A imagem se afasta, pegando um plano em
que mostra toda a extensão de onde Marina está.
= = CORTE DESCONTÍNUO = =
Em Cecílio, dirigindo, transtornado. Ele chora e
aperta o peito, donde sangra, manchando sua camiseta e encharcando sua mão. Ele
a levanta até seus olhos. Chora, como se sentisse uma dor. Fecha os
olhos, como se a dor estivesse passando, aliviando. Logo em seguida reabre os
olhos, notando que tudo não passou de uma ilusão apenas.
CAM EXT.
PLANO AÉREO. Vemos o caminhão e o seu caminhar rápido demais, passando como um foguete, sumindo de vista da Câmera.
PLANO AÉREO. Vemos o caminhão e o seu caminhar rápido demais, passando como um foguete, sumindo de vista da Câmera.
CONT.:
02 EXT. MANSÃO DE ARNALDO- DIA.
Arnaldo se encontra parado frente a
piscina, ainda imóvel, a depender de sua cadeira.
LÚCIA
Senhor Arnaldo. Eu esqueci o protetor lá dentro.
Só fique aqui parado um minutinho e eu já volto.
Senhor Arnaldo. Eu esqueci o protetor lá dentro.
Só fique aqui parado um minutinho e eu já volto.
Lúcia se apressa e saí correndo.
ARNALDO
Como se eu fosse me mexer.
Como se eu fosse me mexer.
Arnaldo diz, entediado. Silêncio absoluto.
ARNALDO
Do que ainda ter um piscina desse tamanho,
se eu não posso senti-la. Talvez ...
Do que ainda ter um piscina desse tamanho,
se eu não posso senti-la. Talvez ...
A cadeira passa a andar e se aproximar da piscina,
cada vez mais perto. Logo, a cadeira cai com Arnaldo na piscina. CAM.
Debaixo d´água, Arnaldo sorri. Seus cabelos flutuam. SLOW MOTION.
MUSIC FADE: I Won’t Give Up- Jason Mraz.
A cadeira está distante de Arnaldo. Seu corpo
flutua na água. Aos poucos, ele demonstra sinais de fraqueza e seu sorriso se
desfaz lentamente. Arnaldo está se afogando, mas não parece se importar, nem
querer ser salvo. Ele fecha os olhos, desacordado.
Quando, de repente, ele é puxado para a superfície.
FADE TO BLACK. Tudo escurece. Apenas ouvimos algumas vozes embaraçosas. Um suspiro. E a tela se abre na visão turva de Arnaldo. Ele cospe água. Alguém segura sua cabeça, lhe dizendo que estava tudo bem. Então a imagem fica clara. Ele vê o rosto de Malu, que sorri, aliviada.
FADE TO BLACK. Tudo escurece. Apenas ouvimos algumas vozes embaraçosas. Um suspiro. E a tela se abre na visão turva de Arnaldo. Ele cospe água. Alguém segura sua cabeça, lhe dizendo que estava tudo bem. Então a imagem fica clara. Ele vê o rosto de Malu, que sorri, aliviada.
MALU
Tudo vai ficar bem. Você vai ficar bem.
E mesmo que você diga não, eu sempre vou dizer sim.
Então apenas pare, porque se você não quer se salvar, eu quero. Eu vou.
Tudo vai ficar bem. Você vai ficar bem.
E mesmo que você diga não, eu sempre vou dizer sim.
Então apenas pare, porque se você não quer se salvar, eu quero. Eu vou.
Arnaldo quer dizer algo, mas desmaia antes,
novamente.
03 INT. HOSPITAL PSIQUIÁTRICO, CORREDORES- DIA.
CAM foca no caminhar de sapatos brancos, quicando
no piso acinzentado. PLANO BAIXO. Aos poucos é revelado Sarita, vestida de
enfermeira, acena discretamente com a cabeça, cumprimentando as pessoas que
passam por ali. Segura o corrimão da escada e desce depressa, caminhando
apressadamente até o portão de saída.
FUNCIONÁRIO
Ei, você!
Ei, você!
Sarita para, assustada.
FUNCIONÁRIO
Está indo aonde?
Está indo aonde?
Sarita pensa, pigarreia e responde, mesmo não
virando-se para o funcionário.
SARITA
Acabou meu plantão agora pouco.
Fui liberada para casa.
Acabou meu plantão agora pouco.
Fui liberada para casa.
FUNCIONÁRIO
Viu a funcionário Carla por aí?
Viu a funcionário Carla por aí?
SARITA
Não. Na verdade, não a vejo faz um tempo.
Não. Na verdade, não a vejo faz um tempo.
O Funcionário, desconfiado, aproxima-se de Sarita.
Ele pega o braço dela a vira com força.
FUNCIONÁRIO
Eu sabia! Não vai conseguir fugir!
Eu vou avisar para todo mundo!
Eu sabia! Não vai conseguir fugir!
Eu vou avisar para todo mundo!
SARITA
Não!
Não!
Sarita grita e avança no Funcionário, que a joga
contra a parede. Ela rapidamente agarra uma pedra e mete em sua cabeça. Ele
cai, ainda consciente. Sarita tenta correr, mas o Funcionário agarra seu pé e
ela acaba caindo na terra. Sarita chuta seu rosto.
FUNCIONÁRIO
Desgraçada!
Desgraçada!
Sarita corre para perto do Funcionário, lhe segura
enquanto está no chão e lhe defere um soco.
SARITA
Não vai me mandar para o quarto de novo!
Não vai me mandar para o quarto de novo!
Sarita grita e lhe dá outro soco com toda força.
SARITA
Eu não volto nunca mais!
Eu não volto nunca mais!
Outro. O nariz do funcionário sangra.
SARITA
Nunca mais!
Nunca mais!
Alguns outros enfermeiros, acompanhados do diretor do
hospital param quando vêm Sarita. O Diretor grita um comando os enfermeiros.
DIRETOR
Peguem ela!
Peguem ela!
Sarita tateia a calça do Funcionário e encontra as
chaves de um veículo. Rapidamente ela se levanta, corre até o portão,
atravessa-o e avista a moto do Funcionário estacionada logo à frente. Sente um
puxão no seu braço. Um dos enfermeiros. Ela lhe dá um soco e quando ele a
solta, ela corre até a moto, com mais alguns enfermeiros atrás dela.
Sarita corre rápido, sobe na moto,
liga a chave e só então que os enfermeiros a alcançam. Sarita parte com a moto
e os ameaça atropela-los. Eles recuam. Sarita dá a partida em alta velocidade,
se distanciando do hospital. Foco em seu rosto. O vento sopra em seus cabelos.
Ela chora.
MUSIC FADE: Unstoppable- Sai.
SARITA
(grita)
Livre! Eu estou livre!
(grita)
Livre! Eu estou livre!
A música para.
CORTA PARA.
04 INT. ARAS MUÑOZ, QUARTO DE BENTO- DIA.
A porta se abre. Eduardo adentra, carregando
consigo os remédios de Bento. Ele sorri e põe os remédios em cima da
penteadeira. Bento se encontra sentado na cama, atônito.
EDUARDO
Hora dos remédios. Sabe que já faz tanto tempo
que você está assim que eu já até acredito que
você, de fato, é assim.
Hora dos remédios. Sabe que já faz tanto tempo
que você está assim que eu já até acredito que
você, de fato, é assim.
Eduardo sorri. Se agacha e olha no olhos de Bento.
EDUARDO
É o preço a pagar pelo seu enxerimento.
É o preço que eu cobro para todos que
se metem no meu caminho. Que sabem demais. Foi
assim com você, com sua mãe. Eu tive que me livrar dela...
Com aquela sua noiva intrometida e com...
É o preço a pagar pelo seu enxerimento.
É o preço que eu cobro para todos que
se metem no meu caminho. Que sabem demais. Foi
assim com você, com sua mãe. Eu tive que me livrar dela...
Com aquela sua noiva intrometida e com...
Eduardo se interrompe e fecha os olhos,
contendo-se. Levanta-se, deixando o assunto para lá.
EDUARDO
Enfim... O que sou então? Eu por eu.
Me livrei de todos que atravessarem meu caminho.
Pedra por pedra. Agora toma.
Enfim... O que sou então? Eu por eu.
Me livrei de todos que atravessarem meu caminho.
Pedra por pedra. Agora toma.
Eduardo enfia os remédios a força na boca de Bento
e o faz tomar água.
EDUARDO
Tenha boas alucinações!
Tenha boas alucinações!
Eduardo caminha até a porta e sai. Foco em Bento,
que cospe os remédios, limpa a boca e sorri, maquiavélico.
05 INT. MANSÃO DE ARNALDO, SALA DE ESTAR- DIA.
Encontra-se Malu, Arnaldo e Lúcia.
MALU
Não vai me convidar para sentar?
Não vai me convidar para sentar?
Silêncio.
MALU
Bom, eu vou sentar mesmo assim.
Bom, eu vou sentar mesmo assim.
Malu senta-se e sorri, enquanto olha Arnaldo, com a
cara fechada.
ARNALDO
Porque você voltou? O que faz aqui afinal?
Porque você voltou? O que faz aqui afinal?
MALU
Eu nunca fui embora...Eu apenas sai por um tempo.
O importante é que eu voltei pra tratar de você.
Eu nunca fui embora...Eu apenas sai por um tempo.
O importante é que eu voltei pra tratar de você.
ARNALDO
(irônico)
Sério? E como vai fazer isso?
Já sei, você vai dizer que tem poderes
milagrosos e vai me fazer voltar a andar?
(irônico)
Sério? E como vai fazer isso?
Já sei, você vai dizer que tem poderes
milagrosos e vai me fazer voltar a andar?
MALU
Eu passei esses últimos dois anos me especializando
no assunto. Eu pesquisei, eu estudei dia e noite. Naquele
tempo eu não podia fazer nada por você, hoje eu posso.
Eu passei esses últimos dois anos me especializando
no assunto. Eu pesquisei, eu estudei dia e noite. Naquele
tempo eu não podia fazer nada por você, hoje eu posso.
ARNALDO
Saia daqui. Eu não quero que você faça nada.
Eu não pedi nada.
Saia daqui. Eu não quero que você faça nada.
Eu não pedi nada.
MALU
Ah, é? E você vai fazer o quê? Levantar e me tirar daqui?
Então vem, porque só assim pra você me tirar, me arrastando
pelos pés! E aí? Consegue fazer isso? Levanta e anda.
Ah, é? E você vai fazer o quê? Levantar e me tirar daqui?
Então vem, porque só assim pra você me tirar, me arrastando
pelos pés! E aí? Consegue fazer isso? Levanta e anda.
Malu franze as sobrancelhas. Silêncio novamente. Em
Lúcia, com a boca aberta, logo depois em Arnaldo, surpreso.
MALU
Ótimo!
Então, pode dar adeus aos seus dias monótonos!
Eles acabam hoje, e a moleza também! Amanhã você começa a fisioterapia junto com o tratamento. Eu já falei com uma miga ela vai me ajudar. Alguma objeção? Não? Ah, onde fica o banheiro? Eu esqueci.
Ótimo!
Então, pode dar adeus aos seus dias monótonos!
Eles acabam hoje, e a moleza também! Amanhã você começa a fisioterapia junto com o tratamento. Eu já falei com uma miga ela vai me ajudar. Alguma objeção? Não? Ah, onde fica o banheiro? Eu esqueci.
MUSIC FADE: Areia- Sandy & Lucas Lima.
06 INT. CARRO DE DEMÉTRIO- DIA.
O carro de Demétrio acaba de adentrar na residência
Aras Muñoz.
MARINA
Demétrio, eu já te disse que meu
carro atolou, por isso tive que descer, empurrar e, por isso, também, que cheguei toda molhada em casa.
Demétrio, eu já te disse que meu
carro atolou, por isso tive que descer, empurrar e, por isso, também, que cheguei toda molhada em casa.
DEMÉTRIO
E por que você não me ligou?
Eu tinha ido te buscar.
E por que você não me ligou?
Eu tinha ido te buscar.
MARINA
Ah, foi coisa de dois minutos para
resolver. Não era necessário.
Ah, foi coisa de dois minutos para
resolver. Não era necessário.
O carro para e Marina desce do carro. Logo, uma
bola para bem no seu pé. Ela olha para baixo e avista uma criança de dois anos
engatinhar e agarrar seu pé.
MARINA
Você...
Você...
SONOPLASTIA: Sleeping At Last- Turning Page.
A criança sorri para Marina, que continua parada,
sem ação, diante dela.
FADE OUT.
FIM DO CAPÍTULO.
Risos de criança no final.
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