Enraivecida Na Fúria Do Sexo
Por Patrick Lima Prade.
Remake é coisa comum nos dias atuais em Hollywood. Com pouca criatividade para criar algo novo, muitos roteiristas pegam um sucesso do passado e reescrevem com algumas modificações. Outros já preferem pegar um filme de outro país e refazer em Hollywood. Em ambos os casos o resultado quase sempre é desastroso. São poucas exceções onde o remake fica melhor que o original, como A Mosca (1958 e 1986) e Onze Homens e Um Segredo (1960 e 2001), por exemplo. Em alguns casos o desastre é tanto que chega á ser vergonhoso, como é o caso do remake de Alucinações Do Passado (1990 e 2019) que me deixou na dúvida se o diretor chegou ao menos assistir ao filme original, tamanha as diferenças das duas versões. O remake de Alucinações Do Passado foi amplamente divulgado e deixou os fãs do Cult original em expectativas. A mesma divulgação foi feito com o remake de Enraivecida Na Fúria Do Sexo, originalmente lançado em 1977 e dirigido por David Cronenberg, o filme é um clássico do terror e sensualidade. O filme ganhou esse nome no Brasil apenas para atrair o público, já que o elenco conta com a atriz de filmes adultos Marilyn Chambers, falecida em 2009. Pelo menos, a expectativa em torno do remake de um filme do grande cineasta Cronenberg não foi tão frustrante. As diretoras irmãs gêmeas Soska tinham a responsabilidade gigante de não estragar uma obra-prima polêmica, e fizeram um trabalho com certa qualidade e mantendo algumas características do original, sem ser apelativo e sem a pretensão de ser melhor que o outro. O elenco não é famoso e o filme foi feito para ser lançado diretamente em DVD e Blu-Ray. Ao contrário de Alucinações Do Passado, esse remake vale á pena ser conferido seja por curiosidade ou por passatempo. Além das características do original, ele ainda traz referências de vários outros filmes como Suspiria (2018), A Experiência (1995), Cisne Negro (2010) e Guerra Mundial Z (2013).
A Versão Original
Cronenberg não perdeu tempo com uma longa introdução nesse seu segundo filme e a história já começa com Rose e o namorado andando de moto até sofrer um acidente perto de uma clínica médica comandada pelo Drº Keloid (numa referencia á ‘quelóide’, o crescimento exagerado do tecido em volta de uma cicatriz ou corte). Drº Keloid é especialista em cirurgias plásticas e está com um novo experimento em desenvolvimento. Rose fica internada em sua clínica em coma e ele resolve fazer enxertos da pele interna da coxa da moça em seu abdômen e perto do braço. Enquanto o namorado de Rose espera sua recuperação em Montreal, ela começa á acordar nas madrugadas e atacar os internos da clínica. Ao abraçá-los, uma espécie de órgão sexual que surgiu em sua axila se abre e ela se alimenta com o sangue das vítimas, chegando ao êxtase nesses ataques. Porém após serem atacadas, as vítimas desenvolvem uma nova variação da raiva após algumas horas. Transmitida pela mordida, a raiva vai se espalhando e logo chega á Montreal e outras partes do país. Um verdadeiro esquema de guerra é montado para impedir a transmissão e os contaminados são executados na hora, pois são agressivos e canibais. A única que permanece com a aparência normal é Rose, e ela continua fazendo vítimas sem jamais imaginar que o caos na cidade é causado pelas suas refeições noturnas. É o namorado que explica para ela o que ocorre, e então é chegada a hora de mostrar para o namorado que ele está errado.
A história é absurda, mas quem conhece os trabalhos de David Cronenberg sabe que ele é especialista em coisas do tipo, por isso o filme é tão cultuado até os dias de hoje e um remake era desnecessário.
A Nova Versão
A nova versão já começa errada e a introdução é longa e cansativa ao apresentar os personagens e nos tentar fazer ganhar simpatia por Rose. Depois de muitos diálogos sobre moda, Rose sofre um acidente de moto e fica com o rosto e abdômen deformados. Seus dentes ficam expostos e a face com a metade praticamente perdida. Depressiva e sem emprego, seu médico envia um email de uma clínica revolucionária que faz experimentos com células regenerativas. Aceitando servir de cobaia, já que não tem dinheiro para pagar uma reconstrução facial, Rose se habilita para a experiência e algum tempo depois acorda totalmente nova, sem nenhuma marca ou sequela do acidente. Deslumbrada com sua nova aparência, Rose logo começa á freqüentar festas e recupera o emprego, despertando a atenção de um colega. Entre uma festa e outra, em suas noites Rose sai como sonâmbula em busca de alimento: sangue. Nessa versão o sangue é sugado por uma espécie de tentáculo que sai de sua boca, mas outras mudanças no corpo também são vistas. Rose acha que são sonhos que ela tem devido ao trauma do acidente, mas quando um novo vírus da raiva começa á se espalhar pela cidade, ela e o quase namorado resolvem ir buscar respostas. Nesse tempo, os humanos infectados vão transmitindo o vírus através de mordias e saliva, se tornando vorazes, alguns ficam deformados e outros parecem zumbis enlouquecidos. A única maneira de se livrar deles é matá-los. Nessa busca de respostas, Rose descobre que muito mais do que uma reconstrução facial, ela foi vítima de um experimento aterrorizante realizado pelo médico, e as opções agora são poucas.
Informações
O remake de Enraivecida é um pouco mais longo que o original e também explora mais os infectados, enquanto o original explora mais a sensualidade de Marilyn Chambers em suas caçadas. Como disse: o filme não ficou ruim se olhado como uma releitura. A explicação para o apetite de sangue no remake é mais lógica, enquanto no original, o nascimento de uma vagina carnívora na axila de Rose não é muito bem explicado, mas isso pouco importa quando as mortes começam á ocorrer. As irmãs Soska também apostaram num elenco menos conhecido, e Rose é interpretada pela bela Laura Vandervoort, que tem mais experiência em séries. Em ambos os filmes a sensualidade está presente embora no remake ela esteja mais velada do que no original. Mas tanto um quanto o outro não tem pretensão de ser um filme cabeça que vai mudar a história do cinema ou sua vida por conta da história. Cronenberg gosta de brincar com a mente e o corpo em seus filmes, e em sua maioria de filmes vemos jogos mentais e perversões sexuais. Já as irmãs Soska têm outra visão de filmes de terror e gostam de sangue e muito gore, talvez por isso a deformidade de Rose no remake seja tão explícita, na face, enquanto Cronenberg deixou o suspense para sabermos o que havia na axila de Rose. As irmãs já dirigiram vários filmes de terror B, como American Mary (2012) e Noite Do Terror 2 (2014). Enraivecida Na Fúria Do Sexo é, na minha opinião, o melhor filme delas, levando em conta os péssimos anteriores. Mas elas conseguiram o que queriam: tiveram seus minutos de fama, mesmo que negativos, foram criticadas e se tornaram celebridades conhecidas na TV. Talvez assim consigam maior orçamento e nos presenteiem com um ótimo terror gore futuramente, e que não seja preciso pegar outro clássico Cult e mudar a história.
Minha dica é: escolha a sua versão e assista sem compromisso, ou assista os dois e tire suas conclusões. Mas se você já assistiu a versão original, eu diria para passar longe do remake. Só uma dica, ok?
Versão Original de 1977:
Direção: David Cronenberg
Elenco: Marilyn Chambers,Frank Moore, Joe Silver, Howard Ryshpan e Patricia Cage.
Trailer Em Inglês Sem Legendas: https://www.youtube.com/watch?v=KI2YGVdROz0
Remake de 2019:
Direção: Jen Soska e Sylvia Soska (The Soska Sisters)
Elenco: Laura Vandervoort, Benjamin Hollingsworth, Ted Atherton
Trailer Legendado: https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=gqSD2TfnGq0
Texto originalmente publicado no Jornal Do Povo no link:
https://www.jornaldopovo.com.br/site/blogs/573/306375/Enraivecida_na_furia_do_sexo.html
Para mais dicas de filmes e informações, entre no grupo Cine Clube Patrick, no Facebook: https://www.facebook.com/groups/1622591741346882/
: atualizando um filme macabro #CinemundiNoWM){kind=link}
0 Comentários