Cinemundi | "Contágio", as diferenças entre uma pandemia no cinema e na vida real #CinemundiNoWM




 

Contágio (2011)

 Por Patrick Lima Prade.


No meio de uma pandemia mundial e obrigados a ficar em casa, o telespectador recorreu á televisão para passar o tempo. E um fato curioso é que um filme de 2011 se tornou a produção mais procurada nos plataformas digitais e na busca do Google em março de 2020. Trata-se de Contágio, de Steven Soderbergh, diretor de Magic Mike (2012) e Terapia De Risco (2013). A grande procura ao filme é compreensível: a história do filme é de um vírus vindo de Hong Kong que se espalha pelo mundo num espaço de poucos dias, com muitas similaridades com o atual vírus que enfrentamos em 2020. Com um elenco famoso e uma história não muito atraente na época, o filme não foi um sucesso e passou despercebido pelos cinemas, arrecadando pouco mais do que custou. O filme é ficção, mas o vírus do filme foi inspirado no Vírus Nipah, que causou um surto no final dos anos 1990 na Malásia. O Nipah é transmitido pelo morcego aos porcos, que por sua vez contaminam quem consome sua carne, da mesma maneira que o MEV-1, o vírus criado para o filme.

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O Filme

Uma mulher, interpretada por Gwyneth Paltrow (Homem De Ferro, 2008 e Vingadores, 2012), deixa Hong Kong em um vôo que faz escala na Califórnia, e de lá parte para sua casa. Em três dias ela morre, não sem antes contaminar o filho de seis anos, que também perde a vida. Na autópsia se descobre um novo tipo de vírus, e então começa á procura para saber a origem do vírus. O Centro De Controle e Prevenção De Doenças envia seus melhores profissionais para investigar os passos da paciente Zero em Hong Kong. Enquanto isso, um jornalista free-lance, vivido por Jude Law (Closer: Perto Demais, 2004 e Sherlock Holmes, 2009), divulga uma possível conspiração da indústria farmacêutica, e que a cura para o MOV-1 seria uma simples homeopatia. Começa então uma corrida as farmácias e drogarias em busca da possível cura. Lojas são saqueadas, mercados ficam vazios, casas são invadidas e as ruas viram depósitos de lixos e sucatas de carros depredados e incendiados. O caos se espalha mais que o vírus enquanto uma vacina é estudada e testada por especialistas, e as mortes se espalham pelo mundo. É como diz o pôster do filme: Nada se espalha como o medo! Marion Cotillard and Chin Han in Contagion (2011)

Paranóia e Pânico

Contágio estava em 270º lugar no catálogo da Warner em dezembro de 2019, e em março de 2020 esteve em 2º, perdendo apenas para Harry Potter. Também foi o filme mais vendido no iTunes na época, além de ser o filme mais pirateado do mês de março. Essa demanda mostra que o público está em busca de informação e explicação, já que muitos acreditam que o filme “previu” o COVID-19. As semelhanças na transmissão são grandes demais, e as formas de prevenção mostradas no vídeo são as mesmas que vemos á todo instante nos telejornais. Os sintomas são parecidos: febre, dores no corpo, resfriado, com a única diferença de que o ficcional MOV-1 e o vírus Nipah que o inspirou, atacam o cérebro, causando encefalite, enquanto que o COVID-19 costuma atingir o sistema respiratório. Nesse ponto o filme faz um grande serviço ao telespectador ao mostrar as formas de proteção, mas não deixa de causar certo desconforto, uma sensação de perigo eminente. Será que o COVID-19 pode ser tão letal assim como a ficção? É algo que esperamos não precisar saber. Mas assistir uma obra que mostra a decadência da sociedade por causa de um vírus, durante uma quarentena forçada, não é a melhor opção. No filme o vírus é bem mais letal e o vandalismo mundial que deixa as ruas mais perigosas que o vírus em si, são exagerados. Claro que o filme quis mostrar em pouco tempo o que pode acontecer nas pessoas que se deixam levar pelo medo e paranóias. Teorias de conspiração bombam na internet, além de fake news que servem apenas pra espalhar o caos, mas é preciso ter o bom senso de ver as coisas como elas são na realidade. A vida não é um filme, por mais parecido que seja. 

Jude Law in Contagion (2011)


Quarentena

Algo que ficou bem explícito no filme foi a ausência de quarentenas nos países e estados afetados. Vôos e transportes públicos funcionam normalmente, assim como o comércio e circulação de pessoas. Ficou claro que por esse motivo o vírus se espalhou tão rápido e inclusive sofreu mutações de um infectado para outro, tendo inclusive pessoas imunes, como o personagem de Matt Damon (Perdido Em Marte, 2015 e Gênio Indomável, 1997), que interpreta o marido da Paciente Zero e padrasto do filho dela. Mesmo convivendo com os dois na mesma casa, por um motivo não explicado, ele não se infectou. Outra coisa clara é o pânico espalhado pelas redes sociais, como vídeos de pessoas caindo na rua, algo que aconteceu na vida real no início da pandemia (os vídeos de pessoas caindo nas ruas da China não estavam ligados ao COVID-19 como foi propagado). Mercados vazios também é outro exemplo de que a vida imita a arte: pessoas desequilibradas pelo medo e egoístas, limpam as prateleiras esquecendo que outras pessoas também precisam de produtos, alguns morreram com as prateleiras cheias e tiveram suas casas saqueadas devido ao estoque. É o velho ‘aqui se faz, aqui se paga’. Em tempos de dificuldades, seja por vírus, ameaças de guerras ou catástrofes naturais, a solidariedade e o bom senso deviam vir á tona nos seres humanos, mas no lugar surge o instinto animal herdade de nossos ancestrais que matavam para conseguir o que queriam e não ligavam para o próximo. Estamos em 2020 e ainda agimos como eles: enchemos nossa ‘caverna’ de alimentos e deixamos o próximo á própria sorte pelo mundo. Cuidamos para não nos contaminarmos e não ligamos se ele se contamina. Entendo que temos o instinto de sobrevivência, mas não esqueçamos que nenhum homem é uma ilha. Vivemos em sociedade, e quando ela está ruindo, devemos nos unir como tal para manter ela em ordem. Fique na sua casa, mas compre apenas o necessário. Esperamos não chegar ao ponto em que a fome e o desespero mate mais que um vírus. 

Matt Damon and Anna Jacoby-Heron in Contagion (2011)

Direção: Steven Soderbergh.

Elenco: Matt Damon, Kate Winslet, Jude Law, Gwyneth Paltrow, Laurence Fishburne

Trailers: 

https://www.youtube.com/watch?v=u-eGomOPITc https://www.youtube.com/watch?v=Sc_SeonrC0I

Texto originalmente publicado no Jornal Do Povo no link: 

https://www.jornaldopovo.com.br/site/blogs/573/304313/Contagio_2011.html

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