Estreia! Primeiro Capítulo Nova São Paulo: A verdade e a vertente


Estreia Nova São Paulo 

 Bem-vindos ao primeiro capítulo da nova webnovela do portal Web Mundi. Eu me chamo Júlia Beltrão, e estaremos juntos por muitos dias diante dessa estória cativante, realista e verdadeira. Nova São Paulo retrata o Brasil, com suas realidades alternativas, onde os mais gananciosos e ricos, ganham seu poder e apreço na sociedade, enquanto os mais pobres e necessitados, afundam e conhecem o verdadeiro sabor da miséria.



Hebeta – Adriana Esteves
Marcele – Fabiola Nascimento
Michael – Vladimir Brichta
Tony – Tuca Andrada
Luciana – Glória Pires
Júlia – Renata Sorrah


Participações especiais:
Valquíria – Camila Queiroz 



Surge um letreiro na tela preta, em negrito: 2000. E logo abaixo o nome: Osasco – São Paulo

Cena 1/ Apartamento de Hebeta/ Sala/ Noite/ Interno

Hebeta está em pé, olhando a enorme favela em sua frente. Um funk extremamente alto ecoa.


Hebeta – (Estressada) Diz se eu mereço isso, Marcele. Fala se eu mereço esse tipo de coisa. Não consegui dormir por causa desse povo porco que não desliga. Diz se eu mereço!

Marcele sai do quarto arrumada.

Marcele – Para de ser assim.

Hebeta – Assim como? Não tô vendo mentira nenhuma por aqui. Ou você acha certo tudo isso daí?

Marcele – Parar de ser essa pessoa, ranzinza, reclamando de tudo. Sabe o que cê devia fazer?

Hebeta – Ligar pra polícia, é isso que eu vou fazer. Esse barulho tá fora da lei, totalmente fora da lei!

Marcele – É por isso que ninguém quer ficar perto de você, é por isso.

Hebeta – Eu já falei, Marcele, eu não me importo e nem faço questão de amizade nenhuma. Se você quiser embora e rebolar no meio dessa sujarada, então vai!

Marcele – É isso que eu vou fazer. Eu tô indo embora. Vou me embora aproveitar a noite, porque ao contrário de você, meu amor, eu trabalhei das seis da matina até às oito da noitada. Eu mereço tomar cerveja e rebolar no meio do povo, do povo que me entende, né.

Hebeta – Vai ao baile? A reunião dos sem tetos? A festa do morro? Cuidado pra não voltar com herpes.

Marcele – Vou. Vou ao baile, como você diz, rebolar minha bunda no meio da sujarada toda. Eles me entendem, Hebeta, são gente como eu. Não desocupados como uns e outros. Agora vai, abre a porta pra mim, o quanto mais rápido eu sair daqui melhor. Abre a porta pra mim, ou me dá a chave.

Hebeta vai até o molho, retira a chave e joga nas mãos de Marcele, que abre a porta.

Hebeta – Antes de entrar na minha casa de novo, Marcele, passa no posto e vê se tu não tão contagiada com alguma coisa. Vê se tu se desinfeta antes de pisar aqui de novo.

Marcele – Fica tranquila, vai nem ser preciso isso tudo. Nem vai ser preciso eu passar em um postinho pra me limpar. Se depender de você e desse teu comportamento de merda, eu prefiro manter distância. Depois eu volto pra pegar umas maquiagens que eu deixei por aqui.

Hebeta vai apressadamente até a porta e tranca novamente.

Hebeta – (Gritando) Então vai, desgraçada. E não volta mesmo, não ousa encostar o dedo em mim. Pobre! Nojenta! Pobre... Gentinha!

Hebeta corre no quarto, e sai de lá com a maquiagem e algumas roupas de Marcele. Abre rapidamente a janela e grita.

Corta para/



Cena 2/ Apartamento/ Noite/ Externo

Marcele para no meio da rua e encara Hebeta.

Marcele – Tá gritando por quê? Enlouqueceu ou caiu na real? Que é pobre que nem eu?

Hebeta – Não, querida, eu vim oficializar tua saída daqui de dentro.

Marcele – Pensei que tinha feito isso lá dentro.

Hebeta – Você não viu nada de mim, porca. Porca nojenta!

Hebeta joga da janela as roupas e a maquiagem de Marcele, que se despedaça no chão.

Marcele – Tu tá ficando louca, vagabunda. Tu tá ficando louca.

Hebeta – Sempre fui, meu amor!



Corta para/


Cena 3/ Agência de prostituas/ Escritório/ Noite/ Interno

Michael sai do banheiro de banho tomado, e nota a presença de Valquíria, que está com o vestido um pouco levantado em cima da sua mesa. 

Valquíria – Finalmente saiu do banho, gostosão. Sabia que você fica a coisa mais linda de toalha? Ainda mais gostoso nu e deitado na minha cama.

Michael – Eu pedi pra tu ir embora faz dez minutos.

Valquíria – Mas eu pensei bem, e vi como eu poderia agradar o meu chefinho. Você sempre me olha desse jeito, parece que quer voltar no passado, quando a gente...

Michael – Para, para com isso. Vai embora daqui.

Valquíria – Quando a gente transou pela primeira vez. Você lembra?

Michael – Para com isso, Valquíria. Passado, já ouviu falar nessa palavrinha? Passado! O que foi bom, foi bom, hoje não vai ser mais. Vai embora.

Valquíria – Mas eu já falei que eu não vou. Eu praticamente montei isso aqui contigo, e você vai me jogar no lixo? Eu não sou descartável! Eu sou gostosa, bonita, os homens deliram quando tocam no meu corpo e me sentem dentro deles. Você sempre ouviu as avaliações dos mais ricaços até a ralé. Eu sou a mais rentável dessa porcaria aqui. Eu não sou descartável!

Michael – Não... Descartável não é, mas eu não quero mais teu trabalho aqui. E não vai me fazer mudar de ideia sensualizando em cima da minha mesa. Junta tuas coisas e vai embora, e vaza. Ok, eles diziam mesmo que você era genial na cama, mas descumpriu uma das regras, chegou a tua hora.

Valquíria se levanta e vai até Michael, encostando no corpo molhado do homem. Ela o beija, e enquanto caminha suas mãos até a parte debaixo da toalha. O homem sente seu corpo ser consumido pelas silhuetas doces da jovem, que contorna seus braços no corpo tonificado. 

Eles seguem até a cama, onde Valquíria se senta na borda e deixa Michael na sua frente. Em um toque único, a jovem tira a toalha. Eles se beijam.

O telefone toca.

Valquíria – E na melhor hora...

Michael – Calma, antes de tu ir merece o prêmio final que sou eu. Espera eu terminar essa ligação, ai a gente contínua de onde parou.

Michael vai até a bancada e pega o telefone. O nome de Hebeta pulsa no Nokia.

Michael – O que foi?

Hebeta – Vem pra cá. Eu preciso de você aqui comigo.

Corta para/


Cena 4/ Apartamento de Hebeta/ Quarto/ Noite/ Interno

Hebeta e Michael estão na cama, deitados. A mulher apoia a cabeça no ombro do cafetão.

Michael – Demiti a Valquíria...

Hebeta – Por que fez isso? Era bonita, dava pro gasto.

Michael – Se envolveu demais com um dos clientes. Um daqueles ricaços. Ele que veio falar comigo.

Hebeta – E ele disse?

Michael – Ele falou que ela tava pedindo dinheiro demais, chegando até a ameaçar o velho.

Hebeta – E ele?

Michael – Acho que ficou assustado, quem não ficaria assustado se uma loira do sexo te ameaçasse. Eu ficaria.

Hebeta – Se ele é rico deveria procurar um outro lugar, e não as tuas garotas.

Michael – Tá menosprezando o valor da minha agência?  

Hebeta – Se ele era rico.

Michael – Consultor e empreendedor de empresas, quase igual a mim. Sabe de cada coisa...

Hebeta – Eu mandei a Marcele ir embora. Eu odeio esse lugar. Se eu precisar morar mais cinco anos nesse favela, eu me mato.

Michael – Não fala isso...

Hebeta – Eu falo. Viver aqui é um inferno. Morar junto desse povo... A gente precisa fazer alguma coisa, eu não posso ficar aqui. Daqui a pouco eu vou tá falando vridro, coé. Fazendo barraco na rua e andando com uma toca de chapinha na cabeça. Eu não quero isso pro meu futuro, eu não sou mulher disso.

Michael – O ricaço falou outras coisas quando veio reclamar. Me conhece faz muito tempo, acha que eu sou um baú, e longe de falar qualquer coisa que ele me conta.

Hebeta – E o que isso tem haver com a ralé que eu vivo?

Michael – A família Sales tem uma empresa, você conhece, a Marinho. O que acontece, Hebeta, é que existe uma pessoa, que mora próximo daqui, que pode herdar todo o império.

Hebeta – Quem? Quem é essa pessoa? Meu Deus, ela é casada, ou o que? Quem é? Fala, Michael!

Michael – Ele não é casado, trabalha em uma metalúrgica aqui próximo.

Hebeta – É a chance de eu sair desse inferno cheio de farofeiros?

Michael – É. É tua chance.

Hebeta – Qual o nome dele, qual o nome do infeliz? 
Quem ele é?

Michael – Tony.

Hebeta – (Empolgada) A... A gente precisa começar a fazer tudo o mais rápido possível. Onde ele mora? O que eu faço, eu procuro ele? Ou eu vou... Ou eu vou parecer um interesseira...

Michael – Ele nem sabe ainda que o futuro espera. Eu separei algumas coisas que você precisa fazer. Mas tem que tá pronta amanhã de manhã.

Hebeta – Eu vou ter ir pra onde?

Michael – Amanhã o futuro dono vai tá dentro de um tribunal, disputando a guarda da filha. Você estará lá, e quando ele piscar, você aparece, e aí, amor, já teremos meio caminho andado pro sucesso.

Hebeta – E depois?


Amanhece em Osasco.

Corta para/


Cena 5/ Tribunal/ Dia/ Interno

Tony se encontra em uma mesa, junto com o advogado e o auxiliar. Paralelo a ele, Luciana aguarda informações do Juiz.

Tony – Eu só quero pegar a minha filha de volta. Só isso.

João – Precisa se acalmar, Tony. A decisão vem agora, e você precisa saber que ela pode ou não ser ao seu favor. Mas acho quase nulas as chances da Laura ficar com a Luciana. Ela vive em condições quase precárias. Tenho quase certeza que o Juiz vai jogar ao nosso favor, a Laura já é sua!

O Juiz bate o martelo e todos os olhares se cruzam aos seus.

Juiz – Que os advogados venham até aqui.

João se levanta.

Tony – Faz tudo que você puder pra deter ela. A Laura já é minha.

João e a advogada de Luciana partem para o centro do salão.

Juiz – Senhor João, pode começar a sua defesa!

João – Laura é uma criança que não fez ainda um ano, e apesar de tudo vai ter que passar por tudo isso, mas é necessário. Estamos acompanhado as razões sociais e de vida da Senhora Luciana, que de acordo com o painel nacional, se encaixa muito abaixo da média. O salário como costureira será afetado, pois a vizinha da mãe de Laura, morreu a duas semanas atrás.

Advogada – Protesto, meritíssima, sem fundamentos.

Juiz – Negado! Continue.

João – E isso se encaixa ainda mais quando vemos que Luciana não cumpriu nem o ensino médio. Ela não fez cursos, e nem ao menos sabe falar a própria língua.

Luciana começa a chorar. Tony estremece.

Juiz – Seja breve!

João – Ela jamais vai conseguir um emprego em duas semanas. Será despejada do aluguel que paga, e como fica a vida desta criança? Sem casa, alimento, escola de qualidade, coisas que o meu cliente Tony daria. Juiz, o que está diante de seus olhos, vai muito além de uma disputa judicial pela guarda de uma criança. Isso aqui define o futuro de Laura. Ela não merece viver em um lugar rodeada de...

Juiz – Eu já tomei a minha decisão. Já está tomada.

Luciana – (Chorando) O senhor não pode tirar a minha filha. Não pode, Juiz. Ela é tudo que eu tenho, viver sem ela seria... Eu não sei como seria. Eu não irei aguentar ter Laura longe de mim, longe da minha criação. Eu não posso perder ela, eu não posso!

Juiz – A guarda de Laura Sales Medeiros está nas mãos do pai. Tony Sales, você é o novo tutor da menina.

Corta para/


Cena 6/ Tribunal/ Dia/ Externa

Tony e João estão descendo as escadas do Tribunal.

Tony – Quando que a Laura vem pra mim? O mais rápido melhor.

João – É algo muito vago, creio que em alguns meses, semanas talvez, ela já vai estar morando com você. Como disse, o mais rápido melhor.

Tony – Eu não vejo a hora, não vejo a hora de poder ter a minha filha morando comigo. De poder sair daquele quartinho que a mãe vive.

João – Eu te telefono amanhã de manhã. Agora eu tenho que atender uma cliente, adivinha o caso.

Tony – Qual o caso?

João – O marido a traiu, e agora ela quer pegar todo o dinheiro dele para ela. Vê se não é um caso digno de cinema. Fala pra mim se não é. (Risos)

Tony – Eu costumo pensar mais baixo, isso dá um livro. Agora vai, eu acho que eu tenho que voltar pro trabalho, não sei ainda.

Tony e João se abraçam. O advogado entra no carro e dá partida.

Tony nota a aproximação de Luciana e de sua irmã.

Luciana – Conseguiu o que queria, satisfeito, metalúrgico Tony!

Tony – Não faça isso comigo, não faça eu de bruxo. Você sabe muito bem que a tua vida só vai piorar.

Luciana – Eu quero que você morra. A Laura sempre será a minha filha, sempre!

Tony – E quem disse que não será? Apenas a guarda é minha, você pode vê-la quando quiser.

Luciana – Eu espero que você pense no que fez. Que você pensa nas palavras que o teu advogado disse. Que eu era pobre, que perdi o emprego, que não sabia nem escrever direito. Pensa nessas palavras...

Luciana sai aos prantos, sendo consolada pela irmã.
Tony para alguns segundos na calçada, mas é abordado por Hebeta, que surge de maneira estranha diante de seus olhos.

Hebeta – Oi! Você poderia me dizer aonde que eu posso almoçar? Eu cheguei ontem de viagem, tô um pouco perdida. Pode?

Tony – (Receoso) Eu... Eu posso, claro que eu posso. Veio de onde? São Paulo?

Hebeta – Estamos em São Paulo, em Osasco precisamente. (Risos)

Tony – Ah, desculpe. Tá tudo tão virado na minha vida. Eu tô um pouco perdido com tudo. Desde da madrugada que eu não paro de pensar nela e sobre tudo que tá rolando comigo... Desculpa, eu nem perguntei antes. Como você se chama?

Corta para/


Cena 7/ Restaurante/ Dia/ Interno

Hebeta – Sempre achei horrível esse nome. Hebeta. Mas quem disse que eu poderia fazer alguma coisa? Quando eu era criança sempre disse pra mim mesma que quando eu completasse dezoito anos, mudaria meu nome no cartório. Mas nunca mudei, e o motivo? Nem me pergunte!

Tony – O da minha filha é Laura. Vi esse nome em algum lugar, acho que foi em alguma novela. Conheci pessoas com o nome parecido, mas decidi que esse seria o nome da minha filha.

Hebeta – É por isso que você tá triste, não é? Perdeu a filha no tribunal pra mãe? Isso é normal, quase sempre quem fica com a filha é a mãe, é algo bem normal.

Tony – Não, eu ganhei a guarda da minha filha. Ela é oficialmente minha. Foi complicado, na verdade sempre foi complicado desde que a Luciana falou que tava grávida e tudo mais. Eu sempre fiquei preocupado.

Hebeta – Não fica assim. Você é um homem bonito, tem charme, logo, logo vai achar uma mulher que pode ser capaz de cuidar da tua filha, e seguir uma vido do teu lado.

Tony – Quem seria essa mulher?

Hebeta – Às vezes ela tá mais próxima do que a gente imagina.

Tony – Gosta de vinho? Eu tenho um bom vinho na minha casa. Tá esperando pra ser aberto.

Close em Hebeta, que exibe um sorriso sedutor

Sonoplastia: Taki Taki

Corta para/


Cena 8/ Casa de Tony/ Quarto/ Tarde/ Interno

Hebeta beija Tony. Juntos caem na cama, seguido de mais beijos intensos. 

Hebeta fica de pé, enquanto Tony beija seu corpo e retira a roupa com selvageria.

Já na cama, eles transam.

Corta para/


Cena 9/ Casa de Tony/ Quarto/ Manhã/ Interno

Hebeta abre os olhos lentamente, e os cobre quando a luz do sol parece aumentar de intensidade. 

Tony surge do banheiro, com a roupa de trabalho.

Tony – Dormiu bem?

Hebeta – É claro. Com um homem desses na minha cama, como eu não dormiria bem? Sonhei com os anjos, mas dormi com o verdadeiro senhor do sexo.

Tony – Gosto assim.

Hebeta – Que horas você volta?

Tony – De tarde. Ai a gente vai repetir tudo, do começo até o fim.

Hebeta – Quando voltar traz mais um desse vinho.

Tony – Eu faço tudo que você pedir.

O telefone de Tony toca, o visor brilha diante dos lençóis na cama. Hebeta pega e encara o nome, número desconhecido. Logo entrega ao homem, que atende sem exitar.

Voz masculina – Senhor Tony Sales?

Tony – Eu mesmo.

Voz masculina – Eu sou o executivo da empresa Marinho. Eu preciso que você venha para cá urgentemente.

Tony – Eu posso saber mais sobre qual o motivo?

Close em Hebeta, que consegue escutar toda a conversa.

Voz masculina – Eu não posso falar por aqui. Mas posso adiantar que hoje é o último de tua vida como metalúrgico. Senhor Tony, dias de glória se aproximam!

Desliga o telefone.

Hebeta – Vai trazer o vinho?

Tony – Eu trago, mas preciso ir agora.

Tony se despede com um beijo, e sai de casa apressado.

Hebeta – Obrigado universo, ao menos em algum momento vocês teriam que me favorecer. Obrigado! Eu não posso dizer o mesmo para você, Tony. Eu não sei quando, mas eu vou ter todo esse dinheiro pra mim, nas minhas mãos. E você... Ah, e você... Não vai aproveitar por muito tempo. A morte chega pra todos, e eu posso marcar no calendário o teu final!

















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