PAIXÃO RADICAL | CAPÍTULO 12, ÚLTIMO: O Ódio Semeado.



PAIXÃO RADICAL
By 
EVERTON BRITO
CAPÍTULO 12
“O Ódio Semeado"

01 INT. HOSPITAL, QUARTO DE JONAS – NOITE.

CAM se aproxima do rosto de Jonas, deitado na cama, desacordado. 
Abre os olhos.

02 INT. HOSPITAL, QUARTO DE GUILHERME – NOITE. 

Em Luísa, ainda atônita. Ela olha Guilherme, surpresa.

LUÍSA – Meu Deus, você é o cara da moto... Quem diria, que coincidência! Eu quase foi presa por sua causa, sabia? 

Luísa sorri, emocionada.

LUÍSA – Fica bem, tá? 

Guilherme abre os olhos lentamente. Luísa se assusta. Guilherme a olha, confuso e distante. 

CORTA PARA.

03 INT. APARTAMENTO DE ANA – NOITE. 

Ben e Omar acabam de cruzar o corredor onde fica o AP de Ana. 

TRAVELLING. 

CAM acompanha o movimento dos dois.

OMAR – Eu não entendo o por quê de você ter me trazido no apartamento da Ana. 

BEN – Você já vai entender! Eu preciso saber o por quê de o Leon ter colocado aquela bomba no cinema. Se o que você me contou é verdade, então O Leon é realmente o que todos diziam sobre ele. 

OMAR – E o que você veio fazer aqui? 

Ben tenta abrir a porta de Ana, mas não obtém sucesso. Toma distância e chuta a porta com toda a força. Arrombando-a. 

BEN – Se o Leon ameaçava o Jota para que ele contasse a família que era gay, qual o motivo da bomba no Cinema? Tá tudo muito confuso. 

OMAR – Espera um pouco, mas o Leon não ameaçava o Jota por conta da seus sexualidade. 

BEN – Como não? Na conversa de vocês ele deixa claro que era perseguido por sua sexualidade. 

OMAR – Mas essa perseguição não vinha por parte do Leon. O que você está pensando, Benjamin? Jota sofria bullying e perseguições na internet de um outro aluno do Colégio, da sala dele. Foi por isso que ele começou a usar drogas. 

Foco no rosto de Bem, visivelmente em choque e surpreso.

BEN – Como é que é? 

OMAR – Sim. O Jota usava drogas porque entrou numa depressão logo depois que a perseguição começou. Isso estava acabando com ele. O Leon descobriu a história toda é queria que o Jota contasse a família, tanto sobre sua orientação sexual, quanto seu vício nas drogas e depressão. 

ENTRA.

FLASBACK ON. 

CENA. 

Em Jota, caminhando na rua, pensativo. 

JOTA (V.O) – O que é resistir? Qual o preço que se paga por tentar? E se você não conseguir? E se o mundo a sua está caindo em cima de você, soterrado seu corpo até sufocar? Eu não sei como isso tudo aconteceu, eu não sei se fiz algo errado. Eu só sei que eu estou sucumbindo, eu não sinto mais nada dentro de mim. A cada vez que eu caminho olhando para as pessoas desconfiado, a cada esquina que eu cruzo e ouço risos, mesmo que não estejam ali, a cada vez que tento me esconder, mas aquilo está em todos os lugares que eu vou. Quando vai parar? 

Risos. Jonas olha para trás e avista um grupo de meninos com a mesma farda do Colégio que está usando. Ele respira e apressa o passo. 

SAMUEL – Ei, bichinha! 

Os meninos acabam o alcançando, cercando-o. Uns seis.

SAMUEL – Não rebola muito se não quebra. 

JOTA – O que vocês querem? 

SAMUEL – Quer mesmo saber? Ele quer saber, pessoal? A gente diz a ele? 

JOTA – Me deixa ir para casa!

Jonas grita e tenta ir embora, mas é empurrado por um dos rapazes depois que lhe acerta um soco. Jonas cai no chão, se encolhendo, com a boca machucada. 

SAMUEL – Está com medo? 

O grupo começa a rir. 

JOTA – (chora) Me deixa em paz... 

SAMUEL – Sabe o que a gente quer de verdade? 

Samuel acerta um tapa no rosto de Jonas. 

SAMUEL – Sabe? 

Outro. 

SAMUEL – A gente veio te ensinar a ser homem!

JOTA – Por favor... 

SAMUEL – Fala grosso, rapaz! 

Samuel soca o rosto de Jonas, que vai ao chão. A violência é sucedida de vários chutes em sua barriga e em seu rosto dos garotos que compõem o grupo. Jonas grita de dor e desespero. 

SAMUEL – Aprende da próxima vez! 

Samuel lhe dá mais um chute. Jonas agoniza. Antes de ir, Samuel cospe em Jonas. Todo o grupo se dispersa. Em Jonas, chorando jogado no chão, machucado, com o rosto vermelho de sangue. 

JONAS – (V.O) Não sei.

FLASBACK OFF. 

CORTA PARA. 

04 INT. HOSPITAL, BANHEIRO – NOITE. 

Gritaria. ABRE A CENA com Marissa e Ana, caindo num das cabines do banheiro, brigando. As duas caem no chão, rolando. 

ANA – Você não sabe de nada! Você não tem esse direito!

MARISSA – Eu sei de muita coisa, o suficiente pra saber que você não fala a verdade. 

ANA – Eu tenho minhas razões!

MARISSA – Mentirosa!

Ana dá uma bofetada na cara de Marissa.

ANA – (chora) Falaria a verdade por alguém que você ama? Quando você perde tudo que você tem de um dia pra noite. Se mentir fosse uma promessa? Você a quebraria? Eu não tenho mais ninguém por causa da porra de uma bobagem que poderia ser evitada, mas você não sabe disso, porque você está do outro lado da liga, protegida, flutuando por cima das nossas cabeças, olhando a coisa toda acontecer sem se importar! 

Ana para e respira. Silêncio. 

MARISSA – Desculpa. 

Ana larga Marissa e sente-se no chão, com os braços ao redor das pernas, pensativa, chorando. Marisa apenas fica atônita. As duas permanecem em silêncio. 

DOLLY IN. 

CAM RECUA, ABANDONA A CENA.

ENTRA.

FLASBACK ON.

ABRE em Jota, no chuveiro. Sentado no chão, nu, ele deixa a água cair em sua cabeça. Rosto vazio, corpo machucado. 
Toque de celular. 

Jota olha para a pia. CAM. O celular em cima, chegando várias mensagens, sem parar. VOLTA em Jota, ele começa a chorar silenciosamente, cansado e visivelmente amedrontado. 

FLASBACK OFF

CORTA PARA. 

05 INT. APARTAMENTO DE ANA, SALA – NOITE.

Ben e Omar, sentados no sofá. No centro a frente está posicionado o computador, que reproduz um vídeo de Jota. Foco nos rostos de pavor de Omar e Ben. 

Depois o vídeo aparece na tela. Nele, Jota está em seu quarto, abatido, em desespero. 

JOTA – Eu estou me auto destruindo e, pior, eu estou levando as pessoas que amo junto comigo. Eu queria realmente saber lidar com isso de outra forma, mas agora tudo parece muito distante para voltar atrás. Eu não estou a fim de descobrir como tudo isso vai terminar. Pra mim já acabou faz tempo. Eu já tive o suficiente. Eu quero apenas parar. Apenas me desligar. Eu parar as vozes, eu quero os sons, os gestos, eu quero parar com tudo. Eu não sei o que fazer. Parece que cada vez que eu tento eu machuco alguém que amo e eu não quero que mais ninguém se machuque. É inútil, não há mais nada a se fazer. Eu não estou e isso me assusta! Olhem para mim, eu não estou bem. Alguém percebe que eu estou gritando, alguém consegue ouvir o meu pedido de Socorro? Estou preso no meu quarto, mas eu quero que alguém me abra a porta. Eu quero ajuda, eu preciso de ajuda! Eu estou implorando. Alguém me ajuda, por favor! 

Jota para um pouco. 

JOTA – Vocês estão sentindo? Talvez... talvez agora as vozes estão parando, talvez... Talvez seja mesmo a hora de desligar. Acho que eu vou desligar. Acho que eu já devia ter feito isso. Me desculpe... eu apenas fui fraco demais hoje. 

A tela do vídeo fica preta.

Foco no rosto de Ben, com uma lágrima no olho, chocado.

BEN – Meu Deus... 

CORTE IMEDIATO PARA. 

06 INT. HOSPITAL, QUARTO DE GUILHERME – NOITE.

SONOPLASTIA: You and I – One Direction.

Os médicos tentam a todo custo reanimar Guilherme, que está tendo um parada cardíaca. CÂMERA LENTA.

Todos do lado de fora da sala gritam e choram, apavorados. 

A CENA é mesclada à um

FLASBACK ON

De Jota, usando um casaco com touca, põe em cima da bancada algumas bombas. O balconista o olha e sorri, empacotado as bombas e lhe entregando a sacola. Jota segue andando e no momento que cruza a porta, um clarão evidencia a troca de cena dentro do flashback.

ONDE Jota acaba de entrar na sessão de cinema com pipoca em mãos. Ele enxerga Samuel e o restante dos meninos sentados do outro lado da sala, desvia o olhar e sobe até onde sua mãe está sentada.

JOTA – O filme já começou? 

HELENA – Não, está no comecinho. Senta aqui. 

Jota lhe entrega a pipoca e sente-se ao lado da mãe, dando uma última espiada em Samuel. Logo depois ele agarra a mão de Helena e encosta a cabeça em seu ombro. 
Música ao fundo. 

FADE TO BLACK.

FIM DO CAPÍTULO.

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