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Manoel: Onde você está indo, Vera?
Vera: Eu vou pra casa e vou ligar para o Mateus.
Manoel: Eu vou com você.
Vera: Não precisa! Eu não quero.
Vera vai embora
sem Manoel.
Ellen: Pai, vocês meio que brigaram?
Manoel: Talvez.
Iná: Olha, Manoel. Desculpa se eu causei algum problema, mas olha
toda a omissão da Vera! Ela poderia ter nos alertado antes. Aliás, ela poderia
antes mesmo de nos conhecermos ter ajudado a Lívia a se livrar do Mateus.
Manoel: Não precisa pedir desculpas, eu estou tão chateado quanto
você.
Vitor: Não querendo me intrometer, mas eu consigo entender um
pouco o lado da Vera.
Ellen: Eu também.
Vitor: Imagina se ao invés do Mateus fosse eu ou a Priscila com
essas atitudes, mãe?
Ellen: Ou eu, pai?
Iná: Negativo! Não seria negligente com vocês como ela foi com o
Mateus.
Ellen: Será, dona Iná?
Iná: Está desconfiada da minha palavra, Ellen?
Ellen: Estou convidando a senhora a refletir sobre a situação da
Vera. A estar no lugar dela. Sim, ela errou, mas ela está tentando corrigir o
erro.
Vitor: Ela saiu daqui dizendo que ia dar um jeito de convencer o
Mateus e que sabia como fazer isso. Ela quer ajudar, gente, ela sabe do mal que
já foi feito. Vocês estão tratando ela como se ela tivesse casado com a Lívia e
traído-a ou ainda como se ela tivesse arrancado a filha de vocês no hospital.
Peguem leve, esta é a única coisa que eu falo. Bom, eu vou dormir porque amanhã
tenho um serviço pra fazer nuns computadores de um salão aqui do bairro, mas
pensem no que falei.
Manoel e Iná se
olham com uma cara de reflexão.
Ellen: Vitor, antes de você dormir toma isso aqui (Ellen joga uma
garrafa para Vitor).
Vitor: É o que eu estou pensando?
Ellen: Exatamente. Direto do Canadá.
Vitor: Mapel Syrup! Uhuuuul. Te amo, cunhadinha. Olha, se um dia a
Priscila não te quiser mais, eu quero, tá bem?
Ellen: Vitor.
Vitor: Que foi?
Ellen: Você esqueceu de um detalhe.
Vitor: Aaah. É verdade. Esqueci.
Ellen: Boa noite.
Vitor: Boa noite.
Vera chega em
casa e imediatamente liga para Mateus.
Vera: Alô, Mateus.
Mateus: Oi, mãe. Só um pouco, estou lavando o braço, machuquei ele
hoje.
Vera: Eu sei.
Mateus: Oi? Sabe como?
Vera: Modo de dizer, esquece. Preciso que você venha aqui amanhã.
Mateus: Algo grave?
Vera: Sim. Venha pela manhã.
Mateus: Mãe, eu preciso trabalhar. Fica difícil eu ir aí sempre
pela manhã.
Vera: Você quase nunca vem aqui. Venha logo e sem reclamar. Tchau.
Mateus: Mãe...alô? Desligou!
Manoel chega em
casa.
Manoel: Vera? Já chegou?
Vera: Já.
Manoel: Ainda acordada?
Vera: O que você acha?
Manoel: Precisamos conversar.
Vera: Vai questionar a minha criação também?
Manoel: Não. Olha, eu queria dizer que pegamos pesado nestes
últimos tempos com esta história e...
Vera: Sabe o que eu acho mais engraçado, Manoel? É a capacidade
que as pessoas tem de apontar o dedo pra cara da gente e nunca se olharem no
espelho.
Manoel: Como assim, amor?
Vera: A Iná tinha um filho celíaco a vida toda e nunca percebeu
isso? É sério? A filha dela algumas vezes comentou com o Tiago que se sentia um
pouco rejeitada e hoje entendemos que deve ser por causa da outra filha que ela
teve e achou que tinha perdido. Ela te privou de saber que você seria pai a
mais de 24 anos atrás, mas os erros e faltas de atenção dela não contam, não é?
E você?
Manoel: Eu o que?
Vera: Nunca se tocou que sua filha era lésbica? Que precisava de
uma atenção para conseguir levar bem isso sem o preconceito dos outros?
Manoel: Claro que eu percebi, mas queria deixar ela a vontade para
se manifestar.
Vera: Ou não queria se incomodar? Você manteve um casamento com a
Bárbara por tanto tempo mesmo depois de ter perdido o amor por ela. A Ellen
cresceu no meio disso tudo. Sabe, eu estou realmente chateada por vocês dois.
Manoel: Estávamos todos de cabeça quente, olha, vamos conversar
com calma.
Vera: Precisamos dar um tempo, Manoel.
Manoel: Como assim?
Vera: Acho que você perdeu parte da confiança que tinha em mim.
Então, melhor dar um tempo para vermos se vale a pena seguir adiante.
Manoel: É isso mesmo que você quer?
Vera: Sim. É isso que eu quero.
Manoel: Ok. Você que sabe. Eu vou para o mesmo hotel de antes. Eu
vou arrumar minhas coisas.
Manoel arruma a
mala e sai de casa. Vera vai para o quarto, deita na cama e começa a chorar.
No dia
seguinte, Mateus chega cedo à casa da mãe.
Mateus: A senhora queria falar comigo?
Vera: Senta.
Mateus: Parece ser sério. Tem alguém em casa além de você? O
Manoel, por exemplo.
Vera: Não tem ninguém. Eu e o Manoel estamos separados por
enquanto.
Mateus: Até que enfim uma boa notícia.
Vera se irrita
e dá um tapa na cara de Mateus.
Mateus: Mãe? Pra que isso?
Vera: Você tem noção de todo o mal que fez?
Mateus: O que foi?
Vera: Sonso! Falso! Nojento! Você saiu do meu útero mesmo?
Mateus: Mãe, não fala assim comigo.
Vera: Olha pra mim, Mateus! Olha pra mim, eu falei! Não chora.
Você vai me escutar e fazer tudo o que eu mandar. É a última chance de você
consertar as merdas que você fez na vida. A cadeia você já tem, vamos ver se
você salva a sua esposa e garante uma vida menos vergonhosa pro seu filho.
Priscila aborda
Iná durante o café da manhã.
Priscila: Mãe do céu, a Ellen me contou o que aconteceu aqui ontem
enquanto eu estava dormindo. Quer história louca. Eu estou perplexa até onde
vai a falta de caráter da Bárbara e do filho da Vera.
Iná: Não quero falar sobre isso, Priscila. Eu fiquei muito
nervosa, falei coisas demais pra Vera. Enfim, eu vou me arrumar e sair pra
trabalhar.
Alguém bate
palma para a casa de Iná que sai para atender.
Iná: Tiago? Tão cedo aqui.
Tiago: Desculpa, dona Iná, queria falar com a Ellen. Ela está?
Iná: Sim, pode entrar.
Tiago entra e
Iná chama por Ellen.
Ellen: Tiago? O que foi? Por que não me mandou mensagem.
Tiago: Achei melhor falar pessoalmente. Olha, hoje eu fui tomar
café e falei com a minha mãe. Perguntei do Manoel, pois sempre tomamos café os
três juntos e ele não estava lá. Minha mãe estava com uma cara de brava e com
aparência de quem chorou a noite inteira. Você sabe se aconteceu algo?
Ellen: Vem cá. Eu vou te explicar tudo lá no meu quarto.
Tiago: Pelo jeito é algo assustador.
Ellen: É pra se assustar mesmo. Vamos lá.
Iná ouve o que
Tiago fala e fica com medo de que Manoel e Vera tenham terminado.
Mateus: Do que a senhora está falando.
Vera: Vou ser direta com você. Você matou a Fernanda, sem querer.
Matou o Bruno por vingança ao que ele fez com a sua irmã e estava de cumplicidade com a Bárbara para
impedir que a Lívia encontrasse os pais dela que são o Manoel e a Iná. Eu já
sei disso. Aliás, Manoel, Iná, os filhos da Iná e a filha do Manoel já sabem.
Os seus irmãos ainda não sabem, mas ainda hoje vão saber por que eu vou contar.
Mateus: Que história é essa? Quem é Bárbara?
Vera dá outro
tapa na cara de Mateus.
Mateus: Mãe, para de me bater.
Vera: Para de mentir! Nós vimos nas câmeras! A discussão entre
vocês! Você esfregou a cara dela na água e sabonete! Eu vi tudo. Esse machucado
no seu braço foi ela quem fez jogando um vaso em você.
Mateus faz cara
de assustado e surpreso.
Vera: Filho, chega de mentiras. Acabou. Eu sei que você está
querendo voltar atrás e não sabe como.
Mateus: Mãe, eu não queria...
Vera: Não fala mais nada. Eu só quero que você siga meus
conselhos. Pelo menos uma vez, meu filho, pra salvar a sua vida e dar um
destino mais digno para o Bernardo.
Mateus: Salvar minha vida? Não estou entendendo.
Vera: Rastreamos uma ligação da Bárbara. Depois da discussão de
vocês ela fez uma ligação suspeita e pelo que a Ellen entendeu ela quer comprar
uma arma para te matar. Essa mulher é louca, Mateus. Você se meteu com uma
víbora. O que você fez da sua vida, meu filho!?
Tiago: Eu não sei o que dizer.
Ellen: Eu fiquei assim também. Até tentei mediar falando que meu
pai e a Iná pegam pesado, mas acho que nossos pais se separaram.
Tiago: E se fossemos lá conversar com seu pai?
Ellen: Tiago, vou te dar um dica de quem cresceu com os pais
brigando. Não se intrometa muito não. É a vida deles. Gostamos deles, queremos
eles juntos, mas eles já tem cabeça para saberem se querem ficar juntos ou não.
Tiago: Você está certa. Eu ainda estou incrédulo com o que você me
contou do meu irmão e da Bárbara.
Ellen: Sabe o que mais me dói, Tiago?
Tiago: O que?
Ellen: Eu ainda amo a minha mãe. Se eu não a amasse seria tão mais
fácil.
Tiago: Eu digo o mesmo do Mateus. Ele sempre me defendeu, se
sentia responsável por mim. Será que eles não pensam que o que eles fazem
machucam a gente também, até quando é pra nos defender?
Ellen: Boa pergunta, Tiago. Boa pergunta.
Mateus: Me matar? Eu acabo com a raça dela antes.
Vera: Mateus, para de tentar fazer justiça à sua maneira. Não vai
dar certo. Nunca deu.
Mateus: Eu fui tão longe pra morrer aqui na praia? Não, mãe!
Vera: Se você continuar sabe o que vai acontecer? A Bárbara pode
te matar e se ela ficar livre pode tentar fazer algo de mal pra um de nós e
especialmente para o Bernardo. Filho, o Bernardo afeta diretamente todos as
pessoas que ela quer ferir. Se ela fizer algo de mal com o Bernardo você se
perdoaria?
Mateus baixa a
cabeça.
Vera: Foi o que eu pensei.
Mateus: E então o que eu faço? Não tenho mais como voltar!
Vera: Tem sim.
Mateus: Como?
Vera: Se entregue pra polícia. É a única solução.
Mateus: E aí eu vou preso e ela continuará ilesa. Ela tem dinheiro
e influencia. Assim que a Lívia me abandonar eu perco o dinheiro dela e não
consigo nem pagar um advogado porta de cadeia.
Vera: Tenha um último encontro com ela, Mateus. Faça ela confessar
todos os crimes. Nós ajudaremos com a gravação e com tudo que for necessário
para que ela pague pelo que fez também.
Mateus: Mas eu não vou ver meu filho crescer. Ele vai me odiar pra
sempre.
Vera: E se você e ele morrerem pelas mãos dessa doente?
Mateus: Mãe, eu não estou preparado para me entregar. Eu não
consigo olhar para meu filho e imaginar-me longe dele.
Vera: Você vai ter que se sacrificar pra corrigir o que fez. Outra
coisa, você precisa imediatamente ir embora da casa da Lívia.
Mateus: Por que? Que loucura é essa agora?
Vera: Hoje ela vai vir aqui. Eu, o Manoel e a Iná conversaremos
com ela. A gente vai abrir o jogo. Tudo, tudinho. ela vai estar emocionalmente
abalada e vai querer te meter na cadeia assim que chegar em casa, logo, não
esteja lá. Você não pode ir preso antes de enquadrarmos a Bárbara.
Mateus: Você estava fazendo isso pelas minhas costas?
Vera: Estava corrigindo os seus erros. Ainda me sinto responsável
por você, mesmo com você tendo quase 30 anos na cara. Vai fazer o que eu estou
falando ou vai deixar a Bárbara dar as cartas?
Mateus pensa na
proposta de Vera.
Mateus: Ok. Eu farei isso. Eu farei isso pelo Bernardo. Por vocês.
Vera: Pela Lívia. Você a explorou demais. Ela já nasceu sendo
enganada por gente do sangue dela. Faça isso por ela também.
Mateus: Como a senhora quiser. Eu vou deixar um bilhete para a
Lívia debaixo do colchão do bercinho do Bernardo para ela ler depois que ela
voltar pra casa hoje. Peça para ela ler.
Mateus abraça a
mãe, os dois choram copiosamente e ele sai de casa arrasado. Neste momento
Tatiana estava voltando da academia e é ignorada pelo irmão ao passar por ele
no portão.
Tatiana: Mãe, o que aconteceu com o Mateus pra ele nem me
cumprimentar agora?
Vera: Bom, eu vou te contar. Senta aqui que a história é longa.
Mateus chega em
casa e Lívia está dormindo.
Mateus: Olá, onde o Bernardo está?
Alice: Lá no quarto de hóspedes no carrinho dele. Eu estava
arrumando algumas coisas dele lá enquanto a dona Lívia descansava.
Mateus: Eu vou lá dar uma olhadinha nele. Obrigado.
Mateus entra no
quarto de hóspedes e se depara com o filho dormindo e desanda a chorar.
Mateus: Eu te amo, meu filho. Eu nunca vou deixar que nada de ruim
te aconteça.
Pega algumas
roupas em seu quarto e faz uma mala para sua estadia fora de casa. Antes, deixa
um bilhete no local combinado com Vera. Se despede de sua casa e aproveita que
Alice, a enfermeira, está na cozinha para ir embora sem ela ver que ele está
levando uma mala com roupas.
Quando já
estava em seu esconderijo, Mateus liga para Bárbara.
Mateus: Alô, Bárbara.
Bárbara: Como ousa me ligar, seu bosta.
Mateus: Escuta, precisamos ser frios. Precisamos encontrar uma
saída para não sermos presos. Venha a um esconderijo que eu tenho, onde me
encontrava as vezes com a Fernanda. Vamos conversar.
Bárbara: Eu não deveria, mas eu vou. Quando?
Mateus: Pode ser no sábado na hora do almoço? Desperta menos
suspeita do que se você vier à noite.
Bárbara: Certo, me passa o endereço por mensagem. Até lá. Tchau.
Mateus desliga
e Bárbara sussurra em casa.
Bárbara: É desta vez que você me paga, seu moleque atrevido! Você
é o primeiro daquela merda de família que eu vou mandar pro inferno!
---------------------------GANCHO:
HIGHWAY TO HELL (AC/DC) ----------------------------------------------
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