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Manoel: Olá, Mateus.
Espera... eu te conheço!
Vera: Conhece?
Mateus: Bom, não tenho
certeza...
Manoel: Calma, meu amor, eu
já vou te explicar. Aliás, podemos reunir os convidados para darmos as boas
vindas gerais?
Vera: Claro, Manoel.
Mateus, eu vou ali com o Manoel chamar o pessoal e já vamos almoçar.
Mateus
ainda não acreditava no que estava se metendo.
Na
sala estavam aglomerados Mateus, Tatiana, Tiago, Ellen, Priscila, Vitor, Iná,
Terezinha, Vera e Manoel. Vera começou falando aos convidados.
Vera: Pessoal, eu agradeço
a presença de todo mundo. Este ano tem sido de boas surpresas. Meu Tiago está
quase terminando a faculdade. A Tatiana conseguiu um emprego em meio a crise do
país. Serei avó pela primeira vez, já que o Mateus está pra se tornar pai. As
vendas do restaurante tem aumentado, graças a parceria de sucesso com a minha
comadre Terezinha e nossa família aumentou. Conheci o Manoel, numa altura da
vida que não planejava mais nada com homem algum. A gente se conheceu, nos
acertamos e depois de problemas resolvidos hoje estamos juntos.
Manoel: É, eu queria
resolver logo, você que se enrolou.
Todos
deram risada (com exceção de Mateus).
Manoel: Mas, eu queria
aproveitar o momento para agradecer a todos pela presença. E um dia eu, a
Terezinha e a Iná seremos avós também, tá bom? Não precisa fazer inveja. (em
tom de brincadeira) E bom almoço a todos.
Neste
momento, Manoel chama Iná e Vera para conversar mais reservadamente no quarto
de Vera.
Vera: Por que isso agora,
Manoel?
Iná: Vera, precisamos falar
com você.
Vera: Eu sou adulta o
suficiente para entender que vocês não tem mais nada hoje embora tiveram no
passado. Se eu tivesse algum problema com isso eu nem teria convidado a Iná
para o almoço.
Manoel: Não é isso, Vera.
Nós precisamos abrir um segredo nosso para você.
Vera: Segredo? Que segredo?
Iná: Pouco tempo depois de
eu e o Manoel terminarmos o nosso relacionamento, há 25 anos, eu descobri que
estava grávida. Eu não contei ao Manoel no começo e depois a mãe dele, dona
Odete, me convenceu a não contar, alegando que o Manoel poderia me acusar de
estar querendo dar um golpe da barriga nele.
Vera: Grávida? Golpe da
barriga? Nunca que o Manoel faria isso. Você faria, Manoel?
Manoel: Naquela época sim,
Vera. Eu já conversei com você sobre o quanto eu mudei depois do meu casamento
com a Bárbara e o meu trabalho como advogado.
Iná: O fato é que eu levei
a gravidez adiante, pedi demissão da casa do Manoel, mas a dona Odete me dava
toda a assistência. E então, em 1992, dei a luz a uma menina.
Vera: Espera aí… você está
me dizendo que a Priscila é filha do Manoel? Gente, ela não pode namorar a
própria meia-irmã! Como vocês deixaram isso acontecer?
Iná: Não, Vera! A Priscila
é filha minha com meu falecido marido, o Anselmo. Ela tem idade que não bate
com a época que estou te falando.
Vera: E onde está a filha
de vocês?
Manoel: Teoricamente a
menina nasceu morta e com síndrome de down.
Iná: Ela morreu após o
parto.
Manoel: Desculpa, foi isso
mesmo. Mas, há alguns meses eu recebi um e-mail de uma desconhecida dizendo que
a minha filha não tinha morrido. Num primeiro momento eu não entendi nada, pois
aquela história não fazia sentido pra mim e eu nunca soube dessa gravidez da
Iná. Mas, depois que fui ao encontro dela ela me explicou o que aconteceu, mas
não conseguiu me contar onde a menina estava antes de morrer. Minha mãe trocou
a nossa filha por um bebê que de fato tinha nascido morto. Ela não suportava
ter uma neta filha da empregada da casa. Puro “classismo”, tanto quanto ou pior
que o da Bárbara.
Iná: E agora estamos atrás
da menina, que a esta altura já é uma mulher.
Manoel: Pronto, Vera. Era
isso que queríamos te contar.
Vera: Eu estou sem
palavras. Então é por isso que a Bárbara achava que você e a Iná estavam tendo
algo? Por que na certa deve ter visto vocês juntos já.
Manoel: Isso eu já não sei.
Acredito que neste caso é mais falta de autoconfiança, uma vez que ela nem sabe
desta criança.
Iná: Será que não sabe,
Manoel?
Manoel: Bom, ela nunca me
deu indícios. Mas se tratando de Bárbara, eu não duvido de nada.
Vera: Vocês podem contar
comigo pra qualquer coisa. Filho é uma coisa sagrada e eu imagino o quanto você
deve estar agoniada, Iná. Eu como mãe fico perplexa só de imaginar isso ter
ocorrido comigo. Mas, gente...vamos voltar pra sala? Precisamos dar atenção ao pessoal antes que nos notem.
Iná: Claro, vamos lá.
Vera,
Manoel e Iná retornam para a sala e assim que pode, Mateus aborda a mãe.
Mateus: E aí, mãe?
Vera: E aí, o que?
Mateus: Aconteceu alguma
coisa?
Vera: Não. Deveria ter
ocorrido?
Mateus: Não, é que você
estava trancada com o Manoel e a Iná lá dentro do quarto e…
Vera: Não aconteceu nada, a
Iná apenas queria organizar um aniversário pra Priscila este ano e pediu pra
conversarmos escondidas junto com o Manoel. Só isso.
Mateus: A...tá bom… mãe,
preciso ir embora.
Vera: Como assim, Mateus?
Você acabou de chegar!
Mateus: A Lívia ainda está
mal e estou meio preocupado de deixá-la sozinho.
Vera: Então tudo bem. Você
está certo. Bom ver que você está cuidando da Lívia e do filho de vocês.
Mateus: Tchau mãe, tudo de
bom.
Vera: Fica com Deus.
Enquanto
voltava para casa, Mateus marcou de se encontrar com Bárbara.
Chegando
no local combinado, Bárbara começa uma conversa.
Bárbara: Olá, garotão. O
que te fez sair de casa no domingo pra falar comigo?
Mateus: Por que você não me
contou?
Bárbara: Contar o que?
Mateus: Que o seu ex-marido
estava namorando a MINHA MÃE!
Bárbara: Espera lá,
piazinho de várzea, fala mais baixo que eu não sou nem a Lívia e nem a defunta!
Primeiro, eu não sabia que a nova namorada do Manoel era sua mãe. Segundo, eu
tentei te falar, mas você desligou na minha cara. Não se lembra? Então, eu não
tenho culpa se você é esnobe. Terceiro, você é irmão do moreninho amigo da
minha filha? Não acho vocês dois parecidos.
Mateus: O Tiago e Tatiana
puxaram a minha mãe e eu puxei o meu pai.
Bárbara: Sério? Achei que
ele nem era parecido com a tua mãe.
Mateus: Foi você que levou
uns tapas da minha mãe por ter insultado o Tiago?
Bárbara: Não tenho culpa se
sua mãe é uma selvagem
Mateus
se irrita e ameaça um tapa em Bárbara.
Mateus: Não fala da minha
mãe, sua vadia classe média.
Bárbara: Vai fazer o que?
Me matar igual fez com a Fernanda?
Mateus: Eu não matei a
Fernanda!
Bárbara: Não é isso que diz
a certidão de óbito dela.
Mateus,
com os olhos marejados, respira e retoma a conversa com um tom de voz mais
suave.
Mateus: Bom, o fato é que
por pouco a Lívia não estava no mesmo ambiente que o Manoel e a Iná hoje, no
almoço de domingo na casa da minha mãe.
Bárbara: Imagino que tinha
maionese com florzinha de tomate.
Mateus: E tinha mesmo. E é
bom. Minha tia Terezinha faz uma maionese excelente.
Bárbara: Dispenso. E o que
você vai fazer agora?
Mateus: A gente precisa
fazer com que a Lívia se convença logo de que a Maria do Socorro não quer nada
com ela. O detetive conversou com ela ontem. Ela te deu os detalhes?
Bárbara: Me mandou mensagem
no fim da noite, mas eu já estava dormindo. Era pra falar sobre isso mesmo.
Mateus: Ótimo, então
estamos bem e logo o detetive deve nos abordar. Vamos acabar logo com esta
história. Assim você se vinga do Manoel e eu tenho a Lívia só pra mim.
Bárbara: E agora, está com
tempo? Estava afim de…
Mateus: Agora eu vou pra
casa, porque a Lívia está precisando de mim. Qualquer coisa, me mande áudio.
Tchau, Bárbara.
Bárbara
acha estranho a atitude de Mateus, pois ele nunca se importou muito com Lívia.
Mateus
chega em casa e Lívia se surpreende com o fato do marido ter chegado cedo.
Lívia: Amor? Já? Tão cedo!
Mateus: Não consegui ficar
lá sabendo que você estava mal.
Lívia: Desculpa, amor. Não
queria te causar incomodo.
Mateus: Você agora é minha
prioridade. Vou fazer algo pra você comer.
Lívia: E desde quando você
cozinha?
Mateus: Esqueceu que eu sou
filho da melhor cozinheira do Capão da Imbuia? Era a melhor do Fazendinha
também, quando morávamos lá.
Lívia: Essa eu quero ver.
Lívia
e Mateus dão risada e se olham. Acabam dando um beijo.
Enquanto
isso na casa de Vera, Iná pergunta por Mateus.
Iná: Manoel, aquele outro
filho da Vera foi embora já? Ele não é aquele moço que trabalha no hospital
onde fomos aquele dia?
Manoel: É ele mesmo, aliás,
esqueci de falar com ele. Queria agradecer à ajuda. Pelo jeito ele se acertou
com aquela moça que ele estava brigando aquele dia no restaurante, pois ela
está grávida, segundo a Vera.
Vera: Ouvi o meu nome?
Manoel: Sim, amor,
estávamos falando sobre o seu filho. Nós já o vimos antes.
Vera: O Mateus?
Iná: Ele mesmo. Ele
trabalha no hospital Ângela Veríssimo?
Vera: Sim, ele administra o
hospital com a esposa dele, depois que os pais dela faleceram.
Manoel: Pois então, foi lá
que a Iná teve a nossa filha e ela foi trocada pelo bebê morto.
Iná: Mudou muita coisa lá,
mas me lembro bem daquele hospital.
Manoel: Nós queríamos
agradecer a atenção que ele deu a gente e ficamos felizes em saber que ele é
seu filho. Deve ser uma pessoa muito boa, sendo seu filho e irmão do Tiago.
Vera: É, o Mateus tem um
gênio um pouco difícil. Puxou o pai. Mas num geral ele é uma pessoa legal. Vou
ver o que a Terezinha quer na cozinha. Já volto.
Vitor
interrompe a conversa de sua mãe.
Vitor: Mãe, desculpa
atrapalhar, mas você tem aquele remédio para dor no estomago?
Vera: Passou mal com alguma
coisa?
Vitor: Não, dona Vera. Eu
tenho essas dores há algumas semanas. Não tem nada a ver com a sua comida. Está
tudo muito bom.
Iná: Pega na minha bolsa,
mas vai pro médico, piá! Já falei isso pra você.
Vitor: Já tenho consulta
marcada, mas SUS você sabe como é, tem um tempo de espera grande. Com licença,
Manoel e Vera.
No
final da noite, quando todos já tinham ido embora, Vera dá espaço em sua mente
a pensamentos profundos em relação ao seu dia.
Vera: Manoel, quantos anos
a sua filha tem mesmo?
…
Vera: Manoel?!
Manoel: Desculpa, estava
quase dormindo. O que foi?
Vera: Quantos anos a sua
filha tem?
Manoel: A Ellen tem 22.
Vera: Não, a filha que você
teve com a Iná.
Manoel: Tem quase 25.
Nasceu em junho de 1992. Por que?
Vera: Por nada. Não me
lembrava.
Manoel: Boa noite, amor.
Vera: Boa noite. Vou ao
banheiro antes de dormir.
Vera
vai ao banheiro, olha no espelho e diz.
Vera: A Lívia é a filha do
Manoel e da Iná. É isso!
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GANCHO: DON’T LOOK BACK IN ANGER (OASIS) ---------------------------
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