ENCONTROS - Capítulo 12


Capítulo XII

Desaparecido: Um Grande Mistério
(Missing – 1982 – Dir.: Costa-Gravas)


            Joane agora estava de frente para dois homens que causavam algo nela: um, o amor. O outro, ódio! Gerson destruiu todos os sonhos dela por um erro que ela cometeu, mas estava disposta a ouvir os dois.
- Antes de qualquer coisa, Joane, nós gostaríamos de saber como você está? – perguntou Donnie, mas olhando para o chão.
- Estou péssima, para falar a verdade. Não vou me fazer de vítima. A única vítima aqui foi você, das minhas mentiras e dos meus erros. Mas estou decidida a recomeçar minha vida, perdi as esperanças de voltar a ter você, o homem que eu ainda amo. E decidi que vou tirar o bebê semana que vem. Não poderia conviver com isso. Sempre que olhar para ele, lembrarei de tudo e dos meus erros.
- Não foi um erro Joane. Foi uma escolha. Não culpe o bebê por isso. – disse Gerson, muito mais calmo do que o normal. Joane não suportava ouvir a voz dele, mas ficou calada.
- Não importa como vocês chamem: erro, escolha, engano. Passou, aconteceu, foi feito. E a consequência tem que ser assumida, e não jogada fora. Por isso estamos aqui Joane. Gerson perdeu o emprego, te perdeu, perdeu a casa, e a única coisa concreta que ele tem é esse filho, e eu entendo ele. Um filho é algo maravilhoso na vida de qualquer um. Você diz que ainda me ama, e confesso que eu ainda te amo também. Gerson abriu mão disso tudo, não quer te conquistar, quer que você seja feliz com quem escolher. Ele só quer o filho.
- Isso eu não posso dar. – interrompeu Joane, se levantando e servindo uma bebida.
- Escuta Joane – disse Donnie, também levantando e se servindo. – Eu e Gerson conversamos muito, nos tornamos amigo, ele explicou que você estava mesmo bêbada e que resistiu muito aos outros encontros. Eu não te culpo. A carne a fraca, embora eu não faria isso com você. Ma agora quero pensar no bem de nós quatro. E tenho uma proposta á fazer. A decisão é só sua, e as opções não vão mudar. São as que eu falar e pronto. Ou você aceita ou não. Quer ouvir?
            Joane ficou imóvel, mas depois sentou, bebendo tudo num gole só. Olhava para Gerson e para Donnie tentando imaginar o que poderia ouvir. Podia dizer que não queria saber e seguir com o plano inicial: recomeçar a sua vida do zero, sem Donnie, Gerson ou o bebê. Então ela respondeu:
- Quero ouvir a proposta. Pode falar!

Lia deixou André e Tom de plantão na casa de Frank. Já eram quase meia noite e nenhuma notícia do amigo. Fred ligou Para informar que um amigo da polícia iria tentar localizar o carro, mas não podia fazer nada antes de 48 horas, já que aparentemente, não há sinal de violência, nem pedido de resgate. É apenas um cara adulto, independente, que resolveu dar uma volta sozinho. Na casa de Robert ela ouvia tudo o que Vera e Robert contavam. Ficou sabendo da morte de Liliam, e também contou do sumiço de Frank. Os três conversaram por horas esperando ligações. Lia esperando notícias de Frank. Vera e Robert a liberação do corpo da mãe.
André não se aguentou e puxou assunto com Tom. Até ali os dois não trocavam muitas palavras. Evitavam até de ficar na mesma peça.
-Então? Você é o novo namorado do Frank? Deve estar preocupado. Ele não te confidenciou nada? – respondeu meio irônico, meio enciumado.
- Ele me confidenciou muitas coisas, mas não falou da possibilidade de desaparecer da noite pro dia. Ele estava muito bem até você aparecer e começar a incomodar. Ele não suporta ouvir tua voz, nem teu nome. E acredito que se souber que você está aqui, não volta mesmo.
- Nossa! Então estou ameaçando o lance de vocês? – perguntou André satisfeito com a resposta de Tom.
- Não, não está! Não é um “lance”, porque não estamos jogando. O especialista em joguinhos aqui é você. Você só faz o Frank se sentir mal, lembranças do inferno que ele viveu. Mas isso não é ameaça para nós não. No fundo até nos fortalece, porque é em mim que ele busca quando quer ficar feliz e ter bons momentos. Na verdade você aparecer fortaleceu nosso amor. O problema na tua presença é só o nojo que você causa nele. Apenas isso. – respondeu Tom, naturalmente, ligando a TV num volume alto, como quem diz que a conversa terminou.

            Donnie sentou e os três agora estavam bebendo. Era uma coisa meio estranha o que ele ia propor. Quem ouvisse acharia que isso é impossível, que ninguém agiria assim, mas Donnie sempre foi um homem justo, então falou:
- Eu quero voltar pra você Joane. Eu sou capaz de perdoar o que aconteceu no passado, porque sei que você aprendeu com isso e não faria de novo. E se sou capaz de te perdoar, quero que você perdoe Gerson. Ele perdeu tudo, mas eu e você temos muito. Quero ficar nessa casa com você, quero que você tenha esse filho, e quero mais, a parte talvez mais difícil pra você, mas sei que se parar pra pensar, vai compreender minha atitude: quero que Gerson more na casa de empregados nos fundos e participe da criação do filho dele. Eu registrarei, serei o pai, mas a criança, quando crescer, vai saber a verdade, que tem dois pais. E por isso quero Gerson aqui. Não vou jogar o pai do nosso filho na rua por um erro cometido num momento de desespero ao entrar naquela igreja.
            Joane ficou estarrecida. Num momento achou que fosse brincadeira e até sorriu, mas quando percebeu que era sério, levantou e serviu uma dose dupla. Voltou a sentar, balançando a cabeça indecisa. Estava sem saber o que fazer. Não entendia mesmo tudo aquilo. Parecia um sonho bizarro. Donnie queria que ela dividisse a casa e o filho com o cara que o traiu? Isso era loucura.

            Gina e Rebeca riram como nunca naquela noite das meninas. O assunto principal: os defeitos de Steve e seu ego gigantesco. Gina bebeu demais e Rebeca preparou o quarto de hóspedes para ela. Enquanto Steve procurava um hotel para passar a noite e se dava conta do que havia feito. Perdera sua família por causa de sexo fácil com estranhas. Que espécie de homem ele era? Que pai seria? Decidiu no quarto do hotel que faria a vontade de Rebeca. Abriria mão de tudo e sumiria da vida dela. Ele não se sentia digno de amar e ser amado. Chorou em silêncio. Naquele momento soube que as mulheres que usava como objetos de prazer eram pra apagar a sensação de que não era desejado, que era um homem comum. Ele queria ser mais, e agora estava sozinho. E ficaria assim até o dia de sua morte.

            A noite passava rápido, e Joane não conseguiu tomar nenhuma decisão, pedindo um tempo para pensar a respeito. Mas no fundo ela sabia que aquilo nunca daria certo. Donnie e Gerson concordaram. Ao sair da casa dela ligaram para Lia e ficaram sabendo da morte de Liliam. O corpo dela já fora liberado, diante da confissão de Trevor e Vera decidiu que o velório e enterro seriam rápidos. Não queria prolongar aquilo e dar logo descanso para o corpo da mãe. Todos, menos André e Tom ajudaram nos preparativos e fizeram companhia para Vera e Robert durante a noite e no inicio da manhã Liliam era sepultada. Tiago ainda não sabia da morte da mãe e nem da prisão do pai, mas naquela manhã ele propôs a Beatriz de voltarem para casa, conversar com Vera e dar um novo rumo as suas vidas. Os dois começaram a arrumar as malas assim que decidiram que a perda do bebê significava mesmo que eles precisavam mudar para ter uma vida normal.

            Tom e André pegaram no sono, cada um em uma poltrona, Tom tendo a companhia de Dexter. A manhã chegara e nenhuma notícia ainda. André precisou ir trabalhar e deixou Tom tomando conta de tudo. No fundo sabia que não havia mais lugar para ele ali. O pessoal da fábrica também tinha que ir ao trabalho, e após o enterro de Liliam foi o que fizeram. Gina e Fred foram os primeiros á chegar. Lia chegou depois, ainda desconsolado pelos acontecimentos do dia anterior. Steve apareceu, mas não fez nada além de ir falar com o chefe e pedir demissão. Seria impossível para ele continuar trabalhando com Gina, e com todos sabendo que Rebeca o havia deixado. Joane chegou e chamou Lia para conversar. Contou a proposta de Donnie, mas Lia negou-se a opinar, falando que essa decisão devia ser somente dela, sem influência de ninguém.
            O chefe da fábrica já estava ficando preocupado. Em pouco tempo perdera Gerson, Vera, Steve e agora Frank resolvera não voltar das férias. Sem falar que Gina, Joane e Lia pareciam zumbis trabalhando no piloto automático. Ele teria que fazer algumas mudanças drásticas. Sabia que os funcionários haviam passado a barreira de “colegas” para “amigos”, isso não era ruim, mas nesse caso algo havia dado errado, com certeza.

            Tom estava ainda no apartamento de Frank. Resolvera fazer um café pra ele e Dexter ali mesmo, quando ouviu um barulho no corredor. Dexter também ouviu e ergueu as orelhas, olhando para Tom. E se alguém houvesse assaltado Frank e agora estava com as chaves do apartamento? Isso era o que Tom pensava quando ouviu o barulho das chaves abrindo a porta. E ao abri-la completamente, a única coisa que conseguiu dizer foi:


- Mas que merda é essa? Quem é você?


                        * Quem invadiu o apartamento de Frank? O que vai acontecer nas próximas semanas de ENCONTROS, á partir de quarta, ás 22h40min.

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