CAPÍTULO
VII
A
Beatificação
A Fé na Mãe estava dominando Baellys e mudando o
pensamento da população. A Fé era temida por todos, pois, quem fosse pego
pecando seria obrigado a passar por um ritual de beatificação cheio de
carnificina que já causou a morte de muitos.
Era noite, a cidade estava em silêncio e quase
ninguém caminhava por ela. Foi neste silêncio e nesse deserto que Dye e Diot
resolveram se encontrar distantes do Castelo Baellys. Decidiram se encontrar no
mesmo lugar em que Onfroi conheceu Nikola, na Feira dos Vassalos, no canto
escuro. Sem dúvidas era o melhor canto para os crimes da cidade. Elas estavam
querendo se relacionarem. Dye falou:
- Que bom que veio, meu amor.
Dye beijou Diot suavemente.
- Ainda não acho isso certo. Poderíamos estar bem
longe daqui agora. – disse Diot
Dye sorriu, colocou suas mãos no rosto de Diot e
começou a beijá-la. Não era apenas um momento quente, era um momento de amor
compartilhado por dois seres humanos que se amavam. Elas estavam felizes com
aquilo e era o que achavam certo. Quem poderia julgá-las? Hyarah?
Dye começou a alisar a bunda de Diot enquanto
Diot colocava os dedos no órgão de Dye. A armadura dos Agentes da Mãe começava
a ecoar por aquele local. Pareciam sincronizados. Eram os Agentes da Mãe
fazendo a vigia na cidade. O clima estava tão bom, elas estavam tão felizes em
poderem se relacionar sem perturbação que as amadas não ouviam. Os Agentes
chegavam cada vez mais perto... E mais perto... Eles passaram direto sem vê-las
no canto. Os Agentes passaram mais adiante, mas, uma delas começou a gemer e
chamou a atenção de um agente. O agente parou e começou a analisar o som. Ele
ouvia os gemidos ofegantes, mas não tinha certeza de onde vinham. Ele foi
girando a cabeça para trás pois o som vinha de lá. Os outros agentes também tomaram
consciência da situação. Todos os agentes foram juntos até o local e se
depararam com duas mulheres nuas esfregando seus órgãos femininos. Dye e Diot
olharam surpresas. Os Agentes se aprontaram. Elas sabiam que tudo estava
acabado!
Acordaram cada uma em uma cela diferente. A cela
era escura, fedia a fezes e vômito. Elas estavam nuas, da mesma forma que foram
pegas, porém, suas roupas não estavam a disposição. Eis que na cela de Dye
entrou a Primeira Mestra Kadosh Nianny. Ela entrou na cela e se chocou ao ver a
irmã do rei.
- Dye Baellys? A irmã do Rei Henry?
Dye virou o rosto cobrindo seu corpo.
- Não precisa ter vergonha... – disse a Primeira
Mestra se aproximando de Dye e agachando ao lado dela. - A Mãe tem piedade de
nós, ela perdoa quem procura seu julgo com o coração. Seja o que for que você
tenha cometido, se pedir perdão a Mãe ela lhe perdoará.
Na cela de Diot entrou o Primeiro Mestre Kadosh
Amé. Ele se sentou diante de Diot.
- Diot Broggon. Acusada de blasfêmia, fornicação
e libertinagem por ter sido pega se deitando com outra mulher...
Diot virou o rosto com vergonha.
- A Mãe quer que todos nós caminhemos para a Luz.
A Luz é a vida eterna ao lado da Mãe, um lugar nas profundezas do Universo onde
não existe o mal, a inveja, a ganância, o egoísmo, o adultério, dentre outras
blasfêmias dos homens... Quando morremos nos livramos da carne e nos tornamos
apenas espírito. E em espírito nossa inteligência é superior, pois não temos as
fraquezas da carne. E então a maldade some por completo. Mas há aqueles que
possuem a maldade na alma e na carne. E esses são condenados ao Segundo
Inferno.
Na cela de Dye, Mestra Nianny continuava:
- Hyarah vendo o declínio dos homens decidiu
punir os homens maus e os que não se converteram em sua fé. Vamos ler, Segundas
Leis – Capítulo 1, versículo 1: "Quando a população era numerosa, a
dificuldade de manter a ordem cresceu e os homens entraram em declínio e a
ausência do bem se fez presente entre eles"
Enquanto isso, na cela de Diot, Amé dizia:
- O Livro Santo atual é dividido em duas partes. As
Primeiras Leis e as Segundas Leis. As Primeiras Leis foram escritas nos Últimos
Dias da Criação – o segundo e o terceiro, onde Hyarah criou os Primeiros Homens
da Terra e deu leis para que soubessem conviver uns com os outros. Vamos ler, Primeiras
Leis - Capitulo 1 versículo 24 a 30: " Hyarah fez o homem a partir de cada
elemento da terra. Pouco a pouco, pedaço por pedaço até que se formaram 6
homens. Três mulheres e três homens. Eis que Hyarah os nomeou de Primeiros
Homens da Terra, para que juntos crescessem a população da Terra. Hyarah se fez
carne entre os homens e os ensinou em 1 dia uma língua para que pudessem se
comunicar. Hyarah nos seus 2 últimos dias escreveu o Livro Santo com a ajuda de
outro homem e ordenou que espalhassem para todos seus ensinamentos para que se
mantenha a ordem e a santidade na Terra."
Na cela de Dye, Nianny dizia:
- Olhe para mim.
Dye a olhou
- Vamos estudar o Livro Santo para que possamos
compreende-lo. Hyarah criou o Universo e os Primeiros Homens da Terra em 1 dia,
nos Últimos Dias da Criação, o segundo e o terceiro, ela ensinou uma língua
para os Primeiros Homens e escreveu suas Primeiras Leis para que mantivessem a
serenidade na Terra.
Na cela de Diot ela se encontrava atenta ao que
Amé dizia:
- Primeiras Leis - Capitulo 1 versículo 1: “Adorem
somente a ela, a Mãe, à Hyarah, a Criadora do Universo, a Mãe de todos nós. A
Deusa Mulher, a única Deusa de todo o Universo. " As primeiras
palavras do Livro Santo nas Primeiras Leis nos deixa claro que nossa divindade
é uma figura do gênero feminino. O que nos dá a entender que na Luz, para onde vamos,
ela será como nós. Não entendemos por que nossa deusa escolheu ser feminina.
Muitas teorias indicam que ela procria na Luz com os homens que vão para lá e o
fruto dessa ação gera seus filhos celestiais.
Já Dye estava nervosa e apenas fingia ouvir tudo.
Nianny dizia:
- O seu crime diante da Mãe é considerado também
blasfêmia. Veja: Primeiras Leis, Capítulo 12, versículo 1: “Que toda promiscuidade seja
queimada da face da terra!" Primeiras Leis - Capítulo 9 versículo 4 a 8:
"O normal deverá ser aceito: o homem, a mulher e seus filhos. O anormal, o
promiscuo, o que foge dessa anormalidade deverá ser convertido, para que, a Luz
chegue até todos"
Na cela de Diot, Amé dizia:
- Agora vamos ler a respeito de quem escreveu as
Segundas Leis do Livro Santo. Segundas Leis - Capítulo 1 Versículos 24 a
35: Nossa Deusa quer o melhor do homem. Estamos em declínio. Eis que nossa Mãe
me veio esta noite em voz em meus aposentos e me ordenou que escrevesse suas
novas leis. Perguntei à Mãe:
-Como
farei ó Mãe?
Ela
me respondeu:
-
Todas as noites, após chegares se seus afazeres, estarei aqui, meu filho.
E
foi assim que surgiram as novas leis da nossa mãe que durante dias me veio em
forma de voz. O segundo capítulo em diante são completamente tiradas de Hyarah,
a Mãe, e passadas para a terceira pessoa.”
Na cela de Dye, Mestra Nianny dizia:
- Há dois infernos criados por Hyarah para
abrigar as almas. Vamos ler: Segundas Leis - Capítulo 5 versículos 9 ao
25: "Hyarah já sabia que o declínio de sua criação se daria um dia. Então
criou os Dois Infernos: O Primeiro Inferno é o menos tenebroso. Há apenas
escuridão e silêncio. A alma que é mandada para o Primeiro Inferno não sofre
tanto. Apenas não pode ver, nem sentir, nem tocar, nem se mover, nem ouvir...
Apenas pensar. O Primeiro Inferno é para aqueles que não cultuavam Hyarah. O
Segundo Inferno é o mais cruel e arrepiante. Nele as almas gritam e choram
sangue. Não há piedade. As almas queimam no fogo e se desfazem na lava, e logo
se refazem novamente para que essa dor seja sentida eternamente por aquela
alma. O Segundo Inferno é para aqueles que praticavam a maldade, a
promiscuidade, a perversidade dentre outras falhas dos homens."
Na cela de Diot, Amé dizia para ela:
- Você, pelos seus pecados de blasfêmia diante de
Hyarah está condenada ao Segundo Inferno para sofrer eternamente. Mas a Mãe não
quer ver seus filhos sofrendo. Nos deu a chance de nos purificar. E é isso que
você passará. Por uma purificação da carne. Para saber viver como espírito
ainda que esteja na carne.
As duas foram mandadas para o Balcão da Tortura
para que confessassem seus pecados a força. Dye em uma sala e Diot em outra.
Estavam somente elas e os sacerdotes que as acompanhavam: Nianny e Amé. Estavam
amarradas, os dois braços e as duas pernas presos com uma corda em uma parte
móvel que puxava seus membros até que quebrassem quando as roldanas eram
giradas. Estavam em total desespero enquanto os sacerdotes estavam calmos para
começarem a tortura. Nianny estava com as mãos em um pedaço de madeira para
girar a roldana e começar a puxar os membros de Dye. Ela disse:
- A carne, na tortura, a obrigará a confessar os
pecados. Enquanto sente dor ela se enfraquece. E isso dá espaço para o espírito
se engrandecer. Enquanto confessa seus pecados seus membros serão puxados,
talvez, até arrancados. E isso será um sinal da glória divina em você.
Nianny colocou a madeira na roldana e girou com
tudo e o corpo de Dye se esticou de uma forma surpreendente que a fez gritar.
Dye começou a cuspir sangue.
- Confesse seus pecados diante de Hyarah!
Dye apenas gritava de dor, seu rosto estava
coberto de lágrimas e sangue. Não havia forças para confessar.
Eis que Nianny girou ainda mais. E esta foi pior,
uma das pernas de Dye deslocou e a fez gritar jorrando sangue da boca.
- Age nos seus filhos, Mãe. – gritou a sacerdotisa
Nianny foi girando mais, dessa vez mais
calmamente. Dye foi hesitando chorar e gritou:
- E-Eu confesso!
Nianny parou de girar
- Confesso os crimes de blasfêmia e
promiscuidade!
- Diga tudo a Mãe. Diga sobre esses pecados.
Nianny começou a girar e Dye gritou de dor
desesperadamente. Estava para chorar sangue. Seus gritos eram agoniantes e
desesperadores.
- Confesso ter ironizado a Fé na Mãe e condenar
suas práticas!
Dye perdeu o fôlego e chorou rapidamente. Mas
logo continuou:
- Confesso ter me deitado com outra mulher às escondidas...
Irei me curvar diante de vós ó Mãe! E me tornar tua serva até o dia de minha
morte!
Dye gritou e chorou em seguida. Nianny folgou a
corda e Dye gritou de alívio. Estava suada, cheia de sangue vindo da boca.
O processo na sala onde Diot estava mal havia
começado. Ela já havia confessado seus pecados com a emoção que fez Amé
acreditar na sua conversão. Amé estava sentado conversando com ela, disse:
- Completamos o Primeiro Passo sem ter sido necessário
sua execução. Você foi abençoada pela Mãe. Nunca alguém havia se confessado
antes de fazer a pressão na carne. Isso quer dizer que você é forte, você é uma
boa pessoa. Mas ainda não acabou, ainda temos o segundo e terceiro passo do Ritual
de Purificação da Carne. Após esse ritual você será beatificada e isso abrirá
portas para você entrar para os Sacerdotes da Mãe. Isso será obrigatório. Ou se
torna uma Mestra ou é mandada para a prisão para passar por purificações ainda
mais dolorosas.
A segunda e terceira etapa da beatificação do
Ritual de Purificação da Carne que há nas Segundas Leis do Livro Santo. O
Primeiro Passo foi feito, sobram o Segundo e o Terceiro, que são ainda piores:
Segundas Leis. Ritual
de Beatificação:
Hyarah não permitirá
que um homem seja submetido a um dos infernos sem que se passe por uma limpeza
pelas mãos dos seus sacerdotes e sacerdotisas. O ritual consiste em 3 passos: o
Primeiro Passo consiste em fazer uma pressão incomum na carne do criminoso fazendo-o
confessar seus crimes diante da Mãe.
O Segundo Passo
consiste em açoitar a carne do criminoso durante 3 horas. Segundo a Mãe tudo
que for submetido ao número 3 - os dias necessários para a formação se todo o
universo e necessários para dar a sabedoria e inteligência ao homem.- serão abençoados. Crendo nisso deverá se
açoitar durante três horas a carne, pois a carne é o fraco do homem, a carne é
o oposto do espírito. A carne do criminoso está imunda, e deverá ser sentida
para que se enfraqueça e dê maior lugar ao espírito. E o açoitamento deverá
acontecer em público para que todos vejam a grande glória da Mãe na Terra e se
convertam n'Ela.
O Terceiro Passo será
o jejum durante 3 semanas, para que a carne enfraqueça ainda mais. A Mãe coloca
todo o mal na carne, e para ela, seu enfraquecimento é a chave. Seguindo todos
os três passos a Mãe garante que o criminoso se tornará santo e digno de se
tornar sacerdote.
Dye estava amarrada em um tronco de madeira ao
lado do Templo da Mãe em Baellys. Sua amada Diot estava ao seu lado em outro
tronco. Havia muita gente ao redor esperando a “apresentação”. Os Agentes da
Mãe estavam fazendo a corrente para que ninguém ouse tocar nas criminosas. Era um
círculo duplo. Os Agentes da Mãe impediam o povo de adentrar onde as criminosas
estavam e o segundo círculo se formava a frente do círculo dos Agentes, era o
círculo dos sacerdotes e sacerdotisas. Os Mestres faziam um círculo diante das
criminosas, estavam ajoelhados e cobertos com capuzes negros enormes.
Eis que Amé e Nianny chegam com cordas grossas e
açoites de ferro e prego. Logo em seguida chega um agente da Mãe com ferro em
brasa, pronto para queimar a carne das criminosas.
O povo se animou e começou a gritar. O ritual
estava para começar, seria um açoitamento de três horas.
Mestra Nianny e Mestre Amé prepararam os açoites:
um de prego e um de ferro respectivamente. Nianny iria açoitar Dye com pregos e
Amé iria açoitar Diot com ferro pesado.
Nianny deu a primeira açoitada na costa de Dye
que a fez gritar alto. O povo começou a xingá-la e a chamá-la de pecadora e
criminosa. Amé açoitou a costa de Diot e esta ficou calada, sem dar um grito. Nianny
açoitou mais forte a costa de Dye e esta cuspiu sangue. Amé açoitou duas vezes
seguidas a costa de Diot, que continuou parada olhando para o chão sem dar um
grito de dor. Nianny largou a piedade e começou a açoitar em sequência sem
parar a carne de Dye que saia para fora. Ela gritava desesperadamente em
agonia.
- Alguém me ajuda! – gritou ela desesperadamente
olhando para o povo, estava chorando
Por coincidência a carroça do rei e da rainha de
Baellys passava pelo lado do ritual. Aldith olhou pela janela e viu a irmã do
rei sendo açoitada. Aldith inesperadamente gritou para o Rei Henry que estava
ao seu lado agarrando sua veste:
- Henry, veja aquilo! É Dye!
Henry se espantou e sua curiosidade foi desperta.
Ele olhou pela janela e viu sua irmã pedindo ajuda enquanto era açoitada. Henry
no mesmo instante abrira a porta da carroça e saira para fora com ela ainda em
movimento. Aldith veio atrás.
A carroça parou, Henry se enfiou no meio do povo
que abriu espaço para ele. Ele entrou até o limite do círculo dos Agentes e
gritou em choro:
- Dye!
Dye o olhou chorando e gritou novamente:
- Henry, socorro!
Henry já estava com os olhos cheios de lágrimas.
Virou para trás e gritou:
- Guardas venham pegá-la!
Os guardas que acompanhavam a carroça pelo lado
entraram no meio empurrando todos. Mas ao chegar no limite do círculo dos
Agentes foram impedidos. Os guardas do Rei tiraram suas espadas e uma luta se
iniciou entre os Agentes da Mãe e a Guarda Real. Isso não impediu que Nianny e
Amé continuassem açoitando as duas. Henry ultrapassou o círculo dos Agentes que
estavam lutando e ultrapassou o círculo dos Mestres. Os Mestres ousam entrar na
luta. Neste momento o povo tinha se afastado e acompanhava a luta de longe.
Henry chegou empurrando a Primeira Mestra Kadosh Nianny para longe e começou a
desamarrar sua irmã que estava completamente desfigurada no corpo, estava só
sangue. Não se podia ver a verdadeira cor do chão, estava só sangue. Nianny não
ousou açoitar o rei enquanto desamarrava a irmã. Ela apenas dizia:
- Não a tire dai! A Mãe foi boa com ela! Seu
caminho para a Luz será brilhante. Não tire isso dela!
Henry desamarrou a irmã e começou a levá-la. A
luta causou a morte de alguns mestres, agentes e guardas reais. Mas ainda
continuavam a lutar. Diot continuava a ser chicoteada, estava com muita dor,
mas não expressava isso. Ao tentar sair do círculo de luta, Henry foi puxado
com força por Nianny. Henry caiu no chão com a irmã nos braços. Logo depois uma
espada de um guarda real atravessou Nianny que caiu sangrando no chão. Aldith
se chocou ao ver a amiga morrendo. Henry finalmente saiu do círculo de luta sem
nenhum arranhão. Aldith o esperava e o ajudou a colocar Dye dentro da carroça.
Eles entraram e foram embora de lá enquanto Diot se conformava em se converter
na Fé na Mãe.
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