

Priscila: Ai meu Deus do céu! Pera aí, moça. Vou pedir ajuda.
Priscila corre
para o carro.
Priscila: Gente, liguem para uma ambulância. A moça do carro da
frente está sozinha e vai ter um filho.
Ellen: Um filho?
Vitor: Fica lá com ela que eu vou ligar.
Tiago: Eu acho que conheço este carro. Eu vou lá com você,
Priscila.
Tiago desce do
carro e vai até o carro de Lívia.
Tiago: Lívia?
Priscila: Você a conhece?
Tiago: Ela é a esposa do Mateus, meu irmão mais velho. Esse bebê
que vai nascer é meu sobrinho.
Lívia: Me ajuda, Tiago. Por favor!
Tiago: Já chamamos ajuda, aguenta firme, Lívia. Eu vou ligar para
o Mateus.
Enquanto isso
os carros atrás continuavam a buzinar, até que Ellen se enfureceu.
Ellen: Oh seus merdas, para com essa porra de buzina que tem uma
moça dando a luz aqui na frente. Dá pra fingir que tem educação ao menos uma
vez na vida, cambada!?
Vitor: Nossa, tu falou igual sua mãe agora. Parecia a Bárbara uns
20 anos mais nova.
Ellen: É, eu tenho genética boa pra bancar a barraqueira, tenho o
alvará, mas não exerço. Só quando necessário.
Não tarda e a
ambulância chega, em meio ao transito fervoroso de Curitiba no horário de
verão.
Priscila: Tiago, me ajuda a abrir a porta pra tirarem a Lívia.
Tiago ajuda e
os socorristas com muito cuidado colocam Lívia na maca e depois dentro da
ambulância e vão em direção ao hospital.
Aproveitando
que aquela situação caótica deu uma trégua, Tiago ligava para Mateus.
Tiago: Mateus? É o Tiago.
Mateus: Tiago? Tudo bem com a mãe ou com a Tatiana? Você nunca me
liga.
Tiago: Tudo bem. Olha, não posso falar muito agora, mas vá para o
hospital. A Lívia está dando a luz ao filho de vocês.
Mateus: Já? Mas ainda faltam dois meses.
Tiago: Faltava. Acho que nascerá prematuro, a Lívia falou algo
assim quando estava entrando na ambulância.
Mateus: Tá bom. Ela vai pro Ângela Veríssimo mesmo?
Tiago: Sim.
Mateus: Obrigado por avisar. Onde você a encontrou?
Tiago: No transito, por coincidência. Olha, vou desligar, depois
eu falo melhor com você no hospital.
Mateus: Tá certo, irmão. Abraços. Obrigado pro tudo.
Mateus desliga
o telefone. Dentro de sua sala ele dá um pulo de felicidade da cadeira. Ele
interfona para a secretária Ângela.
Mateus: Dona Ângela, peça pra alguém ir até a panificadora aqui da
praça e encomendar com urgência um cento de salgado e um bolo pra umas dez
pessoas. Não esqueça de pedir garrafas de café, leite, refrigerante e água.
Ângela: É aniversário de alguém, doutor Mateus?
Mateus: Meu filho vai nascer! Hoje é o dia mais feliz da minha
vida.
Percebia-se, no
meio de tanta maldade, que aquele momento era bom e sincero na vida de Mateus.
Talvez seu filho tivesse chegado um pouco tarde demais em sua vida, mas a tempo
de ensiná-lo algo.
Tiago aproveita
também para ligar para Vera e informar o ocorrido.
Vera: Tiago?
Tiago: Mãe, vá para o Ângela Veríssimo agora mesmo.
Vera: O que foi?
Tiago: A Lívia, ela vai dar a luz. Encontrei ela no transito em
trabalho de parto. Teu neto vai nascer.
Vera deixou o
celular cair e Manoel preocupado abordou a namorada.
Manoel: Alguma coisa ruim com o Tiago? Ouvi o nome dele.
Vera: Iná e Manoel, venham comigo. Meu neto vai nascer. A Lívia
está em trabalho de parto.
Iná: Gente, que benção. Vamos sim. Vamos lá Manoel.
Manoel: Vou pegar as chaves do carro.
Vera, Manoel e
Iná seguem para o hospital.
Quando estava
se preparando pra ir ao hospital, Mateus é abordado por Tatiana na saída de
casa.
Mateus: Tatiana, você por aqui? Já sei. Já sabe do ocorrido.
Tatiana: Eu vou te perguntar apenas uma vez e quero que você me
fale a verdade.
Mateus: Sim, a Lívia está...
Tatiana: Você matou o Bruno daquela maneira tão monstruosa?
Mateus: O que? Do que você está falando.
Tatiana: Encontraram o corpo dele carbonizado.
Mateus: Mas não faz sentido o que você está falando. E ele sumiu
faz poucas horas e já fizeram exame de DNA por acaso?
Tatiana: Está em andamento, mas a correntinha dele não me engana.
É ele. E até onde eu sei apenas você teria algum interesse em mata-lo.
Mateus: Tatiana, para de paranoia. Eu não sei o que aconteceu, se
é isso mesmo que você disse.
Tatiana: Então o que aconteceu?! (chorando e soluçando)
Mateus: Eu não sei o que aconteceu! Caramba! Porra, hoje é um dos
dias mais felizes da minha vida e você me vem falar desse bosta que bate em
mulheres?
Tatiana: Não estou entendendo...
Mateus: O seu sobrinho está nascendo. Acabei de receber a notícia.
A Lívia está tendo um parto prematuro.
Tatiana: Sério?
Mateus: Sim!
Tatiana: Você está indo pra lá?
Mateus: Quer ir?
Tatiana: Querer eu quero, mas olha pelo que eu estou passando. Eu
vou embora e espero não me decepcionar com você.
Tatiana sai e
Mateus fica triste com a reação da irmã.
Vera, Iná e
Manoel chegam ao hospital.
Vera: Cadê a Lívia? E o Mateus?
Tiago: Lívia já está na sala de parto e o Mateus está chegando.
Manoel: Ellen? O que vocês estão fazendo aqui?
Iná: Vitor? Priscila?
Ellen: Encontramos ela tendo dores no parto no transito, quando
estávamos indo pro centro. Ela não arrancou com o carro depois que o sinal se abriu
e aí achamos estranho e fomos conferir e ela nos alegou que estava em parto.
Vera: Ela está bem?
Priscila: Está sim.
Mateus chega.
Mateus: Mãe, cadê a Lívia? Já entrou?
Vera: Já, ela estava em trabalho de parto no meio do transito.
Mateus: Eu vou entrar lá. Ela precisa de mim. Pera, o que eles
estão fazendo aqui? (apontando pra Manoel e Iná)
Vera: O Manoel mora comigo. Você esqueceu?
Mateus: Tá, mas e esta senhora? Os outros pelo jeito socorreram a
Lívia, mas você estava com eles?
Iná: Algum problema, Mateus?
Mateus: Não, só achei estranho. Inclusive você estar aqui e a
minha tia Terezinha não. Bom, vou entrar.
Vera: Vai lá, meu filho. A Terezinha chega depois, já liguei pra
ela.
Mateus entra na
sala de parto.
Iná começa a
dar meia volta e Vera vai atrás da amiga.
Vera: Espera aí.
Iná: Não gostei do jeito com que seu filho falou comigo. Eu fiz
alguma coisa de errado? Já o tratei mal?
Vera: Não, claro que não. Olha, o Mateus está nervoso com o parto.
Ele nem deve saber o que fala. Fica aqui, me ajuda neste momento. Gosto da sua
amizade.
Iná: Não sei se devo. E o que você queria conversar comigo e com o
Manoel?
Vera: Em outro momento eu falo. Não é nada que precise ser dito
agora. Por favor, não vá, Iná.
Iná coloca a
mão na cabeça e decide ficar.
Iná: Está bem, mas é só pela consideração que tenho a você.
Vera: Muito obrigada mesmo. E mais uma vez, desculpa pelo Mateus.
Alheia a todo
este momento, Bárbara estava em casa sozinha. Solitária e sem ninguém para
conversar, ela resolve ligar para Mateus. Entretanto, o celular de Mateus só
dava caixa postal. No desespero em ficar mais um minuto sozinha, ela liga para
a filha.
Ellen: Mãe? A senhora me ligou?
Bárbara: Sim. Bom, eu pensei que você talvez pudesse querer sair
comigo hoje. Sei que não temos nos dado bem ultimamente, mas seria legal se
pudéssemos conversar. Olha, pode trazer a Priscila também. Prometo não falar
nada que a constranja.
Ellen: Nossa, nem sei o que dizer. Mas, vou ter que recusar.
Estamos no hospital agora. A Lívia, esposa do Mateus, filho da Vera, está dando a luz ao filho deles. Estamos
todos aqui.
Bárbara: Todos quem?
Ellen: Todo mundo. Os filhos da dona Vera, menos a Tatiana, o pai,
a Iná que estava com o pai e a Vera na casa deles quando ficaram sabendo do
parto. Eu, o Victor e a Priscila que coincidentemente encontramos a Lívia em
trabalho de parto no meio do transito. Só falta a Terezinha, cunhada da Vera,
que ainda não chegou.
Bárbara: Entendi. Então fiquem no parto desse filhote de cruz
credo e depois não reclamem que eu não tentei me aproximar.
Ellen: Mãe? O que é isso?
Bárbara desliga
o telefone irritada.
Priscila: Quem era?
Ellen: Minha mãe chamou a gente pra jantar com ela e eu disse que
estávamos aguardando o parto da Lívia e ela ficou louca.
Priscila: Amor, sua mãe é louca.
Bárbara fica
furiosa com o que ouviu da filha e começa a jogar objetos da sala de estar
contra a parede.
Bárbara: Maldita empregadinha! Não bastasse ter colocado em risco
meu casamento no passado, agora essa porcaria dessa Lívia também vem com esse
filhote de cruz credo pra roubar a atenção de todos? Deixa ela achar que a vida
dela está tranquila, logo vou acabar com essa tranquilidade.
Na sala de
parto Lívia fazia toda a força possível para trazer seu filho ao mundo.
Os médicos
pediam que ela se esforçasse mais.
Mateus suava e
estava tenso com aquele momento.
Algumas horas
depois, finalmente Lívia conseguia trazer seu filho ao mundo.
Mateus mudava
radicalmente sua expressão fácil.
* O bebê passa para as mãos de Lívia e Mateus *
MÚSICA DE AMBIENTAÇÃO – ODE TO MY FAMILY (THE CRANBERRIES)
Talvez aquele
tivesse sido o momento mais feliz da vida de Mateus.
Mateus: Nosso filho, Lívia.
Lívia: Nosso filho, Mateus. Olha como ele é lindo.
Mateus: É o nosso Bernardo?
Lívia: Isso, Bernardo é um lindo nome. De onde você tirou?
Mateus: Eu tive um colega com esse nome na escola e eu sempre quis
ter esse nome. Me lembrei agora deste nome.
Lívia: Viu, Bernardo? Seu nome é lindo, filho.
Mateus corria
para a sala de espera dar a notícia aos que aguardavam-na.
Mateus: Nasceu! O Bernardo nasceu, gente!
Vera: Bernardo? Que nome lindo, filho! Cadê ele, “Teus”?
Mateus: Ele está com a Lívia, mas daqui a pouco ela vai descansar
e ele vai pro berçário. E aí vocês vão poder vê-lo.
Passou-se mais
uma hora e meia e quando Lívia já estava em descanso, Mateus levou a mãe para o
berçário para que ela pudesse olhar o bebê.
Mateus: Mãe, fique aqui vendo o Bernardo rapidinho. Eu preciso
muito tomar um café e comer algo. Estou muito faminto.
Vera: Vai lá meu filho. Eu fico aqui.
Mateus sai e
Vera chama Iná e Manoel para verem Bernardo.
Vera: Olhem, Manoel e Iná. O Bernardo é lindo.
Manoel e Iná
ficam encantados com a criança de uma maneira descomunal.
Vera não tinha
dúvidas, Manoel e Iná eram os avós maternos de Bernardo. Naquele momento os
três contemplavam o neto, embora apenas Vera soubesse do laço sanguíneo que
unia os quatro.
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GANCHO: ODE TO MY FAMILY (THE CRANBERRIES) ------------------------
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