DESTINO - Capítulo 28: Almoço de domingo





Manoel: Olá, Mateus. Espera... eu te conheço!
Vera: Conhece?
Mateus: Bom, não tenho certeza...
Manoel: Calma, meu amor, eu já vou te explicar. Aliás, podemos reunir os convidados para darmos as boas vindas gerais?
Vera: Claro, Manoel. Mateus, eu vou ali com o Manoel chamar o pessoal e já vamos almoçar.
Mateus ainda não acreditava no que estava se metendo.
Na sala estavam aglomerados Mateus, Tatiana, Tiago, Ellen, Priscila, Vitor, Iná, Terezinha, Vera e Manoel. Vera começou falando aos convidados.
Vera: Pessoal, eu agradeço a presença de todo mundo. Este ano tem sido de boas surpresas. Meu Tiago está quase terminando a faculdade. A Tatiana conseguiu um emprego em meio a crise do país. Serei avó pela primeira vez, já que o Mateus está pra se tornar pai. As vendas do restaurante tem aumentado, graças a parceria de sucesso com a minha comadre Terezinha e nossa família aumentou. Conheci o Manoel, numa altura da vida que não planejava mais nada com homem algum. A gente se conheceu, nos acertamos e depois de problemas resolvidos hoje estamos juntos.
Manoel: É, eu queria resolver logo, você que se enrolou.
Todos deram risada (com exceção de Mateus).
Manoel: Mas, eu queria aproveitar o momento para agradecer a todos pela presença. E um dia eu, a Terezinha e a Iná seremos avós também, tá bom? Não precisa fazer inveja. (em tom de brincadeira) E bom almoço a todos.

Neste momento, Manoel chama Iná e Vera para conversar mais reservadamente no quarto de Vera.
Vera: Por que isso agora, Manoel?
Iná: Vera, precisamos falar com você.
Vera: Eu sou adulta o suficiente para entender que vocês não tem mais nada hoje embora tiveram no passado. Se eu tivesse algum problema com isso eu nem teria convidado a Iná para o almoço.
Manoel: Não é isso, Vera. Nós precisamos abrir um segredo nosso para você.



Vera: Segredo? Que segredo?
Iná: Pouco tempo depois de eu e o Manoel terminarmos o nosso relacionamento, há 25 anos, eu descobri que estava grávida. Eu não contei ao Manoel no começo e depois a mãe dele, dona Odete, me convenceu a não contar, alegando que o Manoel poderia me acusar de estar querendo dar um golpe da barriga nele.
Vera: Grávida? Golpe da barriga? Nunca que o Manoel faria isso. Você faria, Manoel?
Manoel: Naquela época sim, Vera. Eu já conversei com você sobre o quanto eu mudei depois do meu casamento com a Bárbara e o meu trabalho como advogado.
Iná: O fato é que eu levei a gravidez adiante, pedi demissão da casa do Manoel, mas a dona Odete me dava toda a assistência. E então, em 1992, dei a luz a uma menina.
Vera: Espera aí… você está me dizendo que a Priscila é filha do Manoel? Gente, ela não pode namorar a própria meia-irmã! Como vocês deixaram isso acontecer?
Iná: Não, Vera! A Priscila é filha minha com meu falecido marido, o Anselmo. Ela tem idade que não bate com a época que estou te falando.
Vera: E onde está a filha de vocês?
Manoel: Teoricamente a menina nasceu morta e com síndrome de down.
Iná: Ela morreu após o parto.
Manoel: Desculpa, foi isso mesmo. Mas, há alguns meses eu recebi um e-mail de uma desconhecida dizendo que a minha filha não tinha morrido. Num primeiro momento eu não entendi nada, pois aquela história não fazia sentido pra mim e eu nunca soube dessa gravidez da Iná. Mas, depois que fui ao encontro dela ela me explicou o que aconteceu, mas não conseguiu me contar onde a menina estava antes de morrer. Minha mãe trocou a nossa filha por um bebê que de fato tinha nascido morto. Ela não suportava ter uma neta filha da empregada da casa. Puro “classismo”, tanto quanto ou pior que o da Bárbara.
Iná: E agora estamos atrás da menina, que a esta altura já é uma mulher.
Manoel: Pronto, Vera. Era isso que queríamos te contar.
Vera: Eu estou sem palavras. Então é por isso que a Bárbara achava que você e a Iná estavam tendo algo? Por que na certa deve ter visto vocês juntos já.
Manoel: Isso eu já não sei. Acredito que neste caso é mais falta de autoconfiança, uma vez que ela nem sabe desta criança.
Iná: Será que não sabe, Manoel?
Manoel: Bom, ela nunca me deu indícios. Mas se tratando de Bárbara, eu não duvido de nada.
Vera: Vocês podem contar comigo pra qualquer coisa. Filho é uma coisa sagrada e eu imagino o quanto você deve estar agoniada, Iná. Eu como mãe fico perplexa só de imaginar isso ter ocorrido comigo. Mas, gente...vamos voltar pra sala? Precisamos  dar atenção ao pessoal antes que nos notem.
Iná: Claro, vamos lá.

Vera, Manoel e Iná retornam para a sala e assim que pode, Mateus aborda a mãe.
Mateus: E aí, mãe?
Vera: E aí, o que?
Mateus: Aconteceu alguma coisa?
Vera: Não. Deveria ter ocorrido?
Mateus: Não, é que você estava trancada com o Manoel e a Iná lá dentro do quarto e…
Vera: Não aconteceu nada, a Iná apenas queria organizar um aniversário pra Priscila este ano e pediu pra conversarmos escondidas junto com o Manoel. Só isso.
Mateus: A...tá bom… mãe, preciso ir embora.
Vera: Como assim, Mateus? Você acabou de chegar!
Mateus: A Lívia ainda está mal e estou meio preocupado de deixá-la sozinho.
Vera: Então tudo bem. Você está certo. Bom ver que você está cuidando da Lívia e do filho de vocês.
Mateus: Tchau mãe, tudo de bom.
Vera: Fica com Deus.


Enquanto voltava para casa, Mateus marcou de se encontrar com Bárbara.
Chegando no local combinado, Bárbara começa uma conversa.
Bárbara: Olá, garotão. O que te fez sair de casa no domingo pra falar comigo?
Mateus: Por que você não me contou?
Bárbara: Contar o que?
Mateus: Que o seu ex-marido estava namorando a MINHA MÃE!
Bárbara: Espera lá, piazinho de várzea, fala mais baixo que eu não sou nem a Lívia e nem a defunta! Primeiro, eu não sabia que a nova namorada do Manoel era sua mãe. Segundo, eu tentei te falar, mas você desligou na minha cara. Não se lembra? Então, eu não tenho culpa se você é esnobe. Terceiro, você é irmão do moreninho amigo da minha filha? Não acho vocês dois parecidos.
Mateus: O Tiago e Tatiana puxaram a minha mãe e eu puxei o meu pai.
Bárbara: Sério? Achei que ele nem era parecido com a tua mãe.
Mateus: Foi você que levou uns tapas da minha mãe por ter insultado o Tiago?
Bárbara: Não tenho culpa se sua mãe é uma selvagem
Mateus se irrita e ameaça um tapa em Bárbara.
Mateus: Não fala da minha mãe, sua vadia classe média.
Bárbara: Vai fazer o que? Me matar igual fez com a Fernanda?
Mateus: Eu não matei a Fernanda!
Bárbara: Não é isso que diz a certidão de óbito dela.
Mateus, com os olhos marejados, respira e retoma a conversa com um tom de voz mais suave.
Mateus: Bom, o fato é que por pouco a Lívia não estava no mesmo ambiente que o Manoel e a Iná hoje, no almoço de domingo na casa da minha mãe.
Bárbara: Imagino que tinha maionese com florzinha de tomate.
Mateus: E tinha mesmo. E é bom. Minha tia Terezinha faz uma maionese excelente.
Bárbara: Dispenso. E o que você vai fazer agora?
Mateus: A gente precisa fazer com que a Lívia se convença logo de que a Maria do Socorro não quer nada com ela. O detetive conversou com ela ontem. Ela te deu os detalhes?
Bárbara: Me mandou mensagem no fim da noite, mas eu já estava dormindo. Era pra falar sobre isso mesmo.
Mateus: Ótimo, então estamos bem e logo o detetive deve nos abordar. Vamos acabar logo com esta história. Assim você se vinga do Manoel e eu tenho a Lívia só pra mim.
Bárbara: E agora, está com tempo? Estava afim de…
Mateus: Agora eu vou pra casa, porque a Lívia está precisando de mim. Qualquer coisa, me mande áudio. Tchau, Bárbara.
Bárbara acha estranho a atitude de Mateus, pois ele nunca se importou muito com Lívia.

Mateus chega em casa e Lívia se surpreende com o fato do marido ter chegado cedo.
Lívia: Amor? Já? Tão cedo!
Mateus: Não consegui ficar lá sabendo que você estava mal.
Lívia: Desculpa, amor. Não queria te causar incomodo.
Mateus: Você agora é minha prioridade. Vou fazer algo pra você comer.
Lívia: E desde quando você cozinha?
Mateus: Esqueceu que eu sou filho da melhor cozinheira do Capão da Imbuia? Era a melhor do Fazendinha também, quando morávamos lá.
Lívia: Essa eu quero ver.
Lívia e Mateus dão risada e se olham. Acabam dando um beijo.

Enquanto isso na casa de Vera, Iná pergunta por Mateus.
Iná: Manoel, aquele outro filho da Vera foi embora já? Ele não é aquele moço que trabalha no hospital onde fomos aquele dia?
Manoel: É ele mesmo, aliás, esqueci de falar com ele. Queria agradecer à ajuda. Pelo jeito ele se acertou com aquela moça que ele estava brigando aquele dia no restaurante, pois ela está grávida, segundo a Vera.
Vera: Ouvi o meu nome?
Manoel: Sim, amor, estávamos falando sobre o seu filho. Nós já o vimos antes.
Vera: O Mateus?
Iná: Ele mesmo. Ele trabalha no hospital Ângela Veríssimo?
Vera: Sim, ele administra o hospital com a esposa dele, depois que os pais dela faleceram.
Manoel: Pois então, foi lá que a Iná teve a nossa filha e ela foi trocada pelo bebê morto.
Iná: Mudou muita coisa lá, mas me lembro bem daquele hospital.
Manoel: Nós queríamos agradecer a atenção que ele deu a gente e ficamos felizes em saber que ele é seu filho. Deve ser uma pessoa muito boa, sendo seu filho e irmão do Tiago.
Vera: É, o Mateus tem um gênio um pouco difícil. Puxou o pai. Mas num geral ele é uma pessoa legal. Vou ver o que a Terezinha quer na cozinha. Já volto.
Vitor interrompe a conversa de sua mãe.
Vitor: Mãe, desculpa atrapalhar, mas você tem aquele remédio para dor no estomago?
Vera: Passou mal com alguma coisa?
Vitor: Não, dona Vera. Eu tenho essas dores há algumas semanas. Não tem nada a ver com a sua comida. Está tudo muito bom.
Iná: Pega na minha bolsa, mas vai pro médico, piá! Já falei isso pra você.
Vitor: Já tenho consulta marcada, mas SUS você sabe como é, tem um tempo de espera grande. Com licença, Manoel e Vera.

No final da noite, quando todos já tinham ido embora, Vera dá espaço em sua mente a pensamentos profundos em relação ao seu dia.
Vera: Manoel, quantos anos a sua filha tem mesmo?
Vera: Manoel?!
Manoel: Desculpa, estava quase dormindo. O que foi?
Vera: Quantos anos a sua filha tem?
Manoel: A Ellen tem 22.
Vera: Não, a filha que você teve com a Iná.
Manoel: Tem quase 25. Nasceu em junho de 1992. Por que?
Vera: Por nada. Não me lembrava.
Manoel: Boa noite, amor.
Vera: Boa noite. Vou ao banheiro antes de dormir.
Vera vai ao banheiro, olha no espelho e diz.
Vera: A Lívia é a filha do Manoel e da Iná. É isso!

----------------------------- GANCHO: DON’T LOOK BACK IN ANGER (OASIS) ---------------------------

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