Fooooom...
Ouço o som da buzina e me desvio do carro que acabou de passar
em alta velocidade.
-- Sai da rua
sua maluca! – Berra o motorista.
Continuo a vagar desnorteadamente
em meio a uma avenida. Apesar da lua não ter aparecido hoje devido ao tempo
emboscado, as luzes dos postes e dos faróis dos automóveis em curso clareavam a
noite. Por conta da garoa, minha visão do horizonte era limitada.
Tento pedir ajuda a um casal de
namorados que passava na calçada, mas sou ignorada. Também, com as vestes
imunda e o rosto abatido, talvez pensaram que eu fosse uma mendiga tentando
pedir esmolas.
Avisto uma mulher mais à frente e
resolvo me aproximar. Quem sabe ela não me ajude?
-- Por
favor... senhora, por favor, me ajude.
-- Sim, o que
foi? – Diz a mulher interessada em me ajudar.
-- Me ajude,
eu estou perdida.
-- Calma.
Onde você mora? Eu te levo até em casa.
Com um olhar
triste, balanço a cabeça negativamente.
-- O que foi?
-- Não sei aonde
moro.
-- Você é
nova na cidade?
-- Moça... eu
não lembro de nada. Me ajude.
***
-- Bom dia
futura prefeita de New Kennedy. – Diz meu marido, Joe, a mim quando me levanto
da cama ao amanhecer.
-- Bom dia
senador de Ohio. – Digo caçando meu blazer
no guarda roupa. – Se continuar deitado por mais um minuto vai perder seu
mandato para a secretária de Estado Theresa White que, convenhamos, está doida
para puxar seu tapete na convenção do nosso partido mês que vem.
-- Duvido.
Ela não tem a mínima chance. – Afirma Joe se levantando da cama. – Já pedi para
os meus aliados cuidarem disso.
-- Lhe digo
mais. – Continuo. – É melhor você ter essa mulher como amiga do que inimiga.
Theresa sabe daquele seu desvio de dinheiro.
-- Calma
amor, não se preocupe.
Joe calça seus chinelos. Aproveito a deixa e me aproximo.
-- Escuta
aqui Joe, espero que seja a última vez que digo isto a você. – Exalto-me. – Te
dou um mês, nada mais do que isso, até a convenção do partido que me nomeará
oficialmente candidata a prefeita desta cidade, para que você devolva ao Estado
tudo aquilo que pegou!
-- Amor, -
Ele apalpa os meus antebraços. – eu já lhe prometi, vou te devolver todo aquele
dinheiro, acredite em mim. Fica tranquila. Você sabe o porquê de eu ter
desviado, não sabe?
-- Isso foi
passado. – Desvio meu olhar de seu rosto. – Além do mais, aquilo em nada
adiantou.
-- Não fique
assim. – Joe ergue minha cabeça. – Não deixarei que nenhum escândalo atrapalhe
a sua candidatura.
Joe me beija
como se, com aquele ato, quisesse me transmitir uma certa tranquilidade, o que
funciona por um momento.
Sentado em
meu gabinete pela manhã ouço o bater na porta. Peço que entre. Era a minha
secretária, Anne.
-- Senhor
Prefeito, trago-lhe uma notícia nada boa.
-- Diga logo,
Anne! – Fico aflito com o que poderia ser.
-- Acabei de
receber uma ligação do presidente do partido.
-- E o que
ele disse?
-- Disse que
irá nomear Christina como candidata oficial dos Democratas.
-- O quê?!
Como assim? – Digo surpreso e furioso com o que acabo de escutar.
-- Ele disse
que Christina, além de estar liderando nas pesquisas de intenções de voto, ela
ainda conta com um forte apoio por grande parte do partido. Sem contar a sua
grande arrecadação para financiar sua campanha, mais até do que os dois maiores
candidatos dos Republicanos, Joshua Philips e Benson McLaren.
-- Não, não,
não! Isso não pode estar acontecendo! – Dizia eu enquanto caminhava de um lado
para o outro. – Como vou dizer isso a minha esposa?
-- O senhor
quer que eu a informe?
-- Não, por
enquanto não. Tenho que ar alguns telefonemas ainda.
-- Como o
senhor quiser.
Anne dá meia
volta e me deixa a sós no gabinete. Vou para a beira da janela afim de
refrescar a mente e encontrar uma solução.
Mais um dia
comum de trabalho. Pesava eu entrando na delegacia portando uma sacola de papel
lotada de donalds e mufins em uma das mãos e na outra um copo grande de café
expresso.
Depois de um
bom café da manhã, acompanhado de um momento de descontração com a equipe, sou
avisado por Thompson, um dos policiais, que Marylin está a minha espera. Não
perco tempo, sigo-o até a sala em que ela se encontra.
-- Pensei que
não viria trabalhar hoje. – Diz, sensata, Marylin.
-- Marylin
Norman, o que faz aqui tão cedo? – Digo encostando a porta e me despedindo de Thompson.
– Pelo que eu saiba, seu turno é a tarde.
-- Para com
isso, você sabe que todos da segurança pública não tem hora para trabalhar. –
Cruza os braços. – Quando algum imprevisto acontece, temos que estar apostos e
pronto para qualquer intervenção.
Antes mesmo
de eu dizer algo, noto a presença de uma garota maltrapilha sentada na cadeira
e olhando para o infinito. Parecia uma estátua viva.
-- Quem é
ela? – Pergunto.
-- Então, era
sobre isso que eu pedi para te chamar.
Caminhamos
até próximo a ela que não esboçava reação alguma diante da nossa presença.
-- O que
houve? – Questiono a Marylin.
-- Não sei
bem ao certo. Ontem à noite, indo para casa, fui abordada por ela pedindo
ajuda.
-- Estava
fugindo de alguém?
-- Não. Disse
que estava perdida.
-- Então
resolveu trazê-la para cá? Fez muito bem. Ela disse onde mora?
-- Eia a
questão. Ela não se lembra de nada. Não sabia aonde estava, nem para aonde ia,
apenas pedia ajuda.
Resolvo então
extrair alguma informação ao seu respeito. Ajoelho-me diante dela e tento falar
o mais suave possível.
-- Olá... sou
o delegado Collins. E o seu, qual é?
Espero por
alguns instantes, porém não ouço sua resposta.
-- Não vai me
responder?
Ela continua
estática. Ouvia-se apenas o som da sua respiração. Levo meu olhar para Marylin
que levanta os ombros, como se quisesse dizer “ela não diz nada”.
Volto meu
olhar para a garota sem nome. Dessa vez ela ergue um dos braços e aponta para
algo à frente. Olhamos para onde apontou.
Vemos o
cartaz com a imagem de Christina. Um cartaz político expondo também, além de
seu rosto, suas propostas para a cidade. Me recordo que tinha posto ele ali na
parede como uma forma de apoio à sua candidatura. Mesmo assim, não consigo
compreender aquele gesto. O que ela está tentando dizer?
Assim que
termino de me questionar, ouço a pobre menina dizer algo.
-- Mã... mãe.
No próximo capítulo...
“Vejo a minha irmã, Christina, chorando nos braços de Joe. Policiais vasculhavam em toda parte o parque da cidade. Andrew e Dakota olhando assustados toda aquela situação, e seus olhos cheios de água. Me lembro desse dia, foi quando a...”
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