MONTES ALTOS, 2016
CENA 1: CIDADE DE MONTES ALTOS | CENTRO | EXTERIOR | FIM DE TARDE
Um vento calmo leva algumas folhas de papel espalhadas pelo chão. As nuvens brancas no céu começam a ficar cinzas, tapando o sol que ainda continua um pouco alto no céu. Um homem trajando um terno justo, da última moda, passa pela calçada, carregando uma pasta, ele para com certa curiosidade. O mesmo homem olha para as televisões expostas na vitrine de uma loja, elas estão ligadas em um jornal, ele ouve e vê a notícia de forma atenta.
REPÓRTER (Televisão): – A meteorologia prevê para hoje uma grande tempestade, muito mais intensa do que aquela do ano passado. Aqui onde estou já começou a garoar, mas nada que assuste, porém é bom ficar em alerta. – O repórter olha um pouco para trás, observa que os ventos ganharam uma intensidade maior. Ele volta seu olhar para câmera. – Bom, é com vocês aí no estúdio. – Ele se despede com um sorriso amarelo.
O homem que observava a notícia atentamente, volta a andar, achando graça da notícia que acabou de ouvir. Ele para em um cruzamento e espera o sinal fechar para os carros.
HOMEM: – Hoje em dia uma chuvinha de nada já assusta todo mundo. Cada um com seus medos. – Comenta, observando que os carros pararam. Ele segue, atravessando a rua, e continuando pela calçada.
As nuvens no céu vão se juntando, deixando o tempo bastante fechado. O vento aumenta, trazendo um frio muito mais que refrescante.
CENA 2: MONTES ALTOS | CASA DE JULIANA | EXTERIOR | FIM DE TARDE
Uma mulher mais velha olha para o tempo, apoiada na janela, aparenta estar bem impressionada. A televisão está ligada, o noticiário da tarde passa, de vez em quando ela olha. A porta da casa é aberta, uma bela mulher sai da casa, seguindo até perto da janela onde se encontra a senhora.
JULIANA: – Mãe, estou indo. – Informa, mexendo um pouco no cabelo. A senhora olha para a jovem com preocupação.
HELOÍSA: – Tem certeza, filha? Hoje está prometendo chuva e pode ser perigoso… se chover é difícil uma condução do centro para cá. – A senhora diz, realmente preocupada.
JULIANA: – É o meu trabalho, mãe, mas não vou demorar nada, só é o tempo de eu concluir o que estava acabando e depois volto. – Diz, tentando deixar a mãe tranquila.
HELOÍSA: – Tudo bem, filha, mas qualquer contratempo, me liga. Vou rezar para que essa chuva se atrase um pouquinho. – Afirma, esboçando um sorriso pequeno.
Juliana se aproxima calmamente da janela, e beija o rosto da mãe, que por sua vez também faz o mesmo.
JULIANA: – Fique com Deus, mãe! – Diz, se afastando.
HELOÍSA: – Vá com ele, filha! – Sussurra, observando a filha se afastar de casa. Ela volta a observar o céu já com bastante nuvens carregadas.
CENA 3: MONTES ALTOS | EDIFÍCIO PORTAL | APARTAMENTO DE DIEGO | SALA | INTERIOR | FIM DE TARDE
A porta de vidro que dá acesso à varanda se encontra aberta, fazendo com que o vento sopre com uma grande força, movimentando as cortinas que estão nas janelas. Diego está sentado no sofá, olhando atentamente para a tela do celular, parece até mesmo hipnotizado, ele sorri assim que o som de uma mensagem toca.
DIEGO: – Só espero que hoje ela me leve para um local mais calmo. – Comenta, sorridente. Ele olha por entre as cortinas e observa o tempo já fechado. – Mas com essa chuva que está se aproximando, vai ser um pouco difícil de fazer algo. – Pensa, enquanto volta seu olhar para a tela do celular, que por sua vez começa a tocar, ele vê que é a sua mãe, atendendo logo em seguida. – Oi mãe, não se preocupe, já estou seguindo pra casa, pode deixar (Diz ao Celular).
ALBERTA (Do Outro Lado da Linha): – É bom mesmo, filho, e olha que vou acabar me desfazendo desse apartamento aí. – Diz, brincalhona.
DIEGO (Ao Celular): – Isso não vai ser necessário mãe, acredite! Aqui é o lugar para que eu possa espairecer um pouco… mas não se preocupe, de verdade, daqui a pouco chego aí. Grande beijo! – Diz antes de dar por encerrada a ligação.
Diego suspira de forma profunda enquanto se levanta, seguindo até a porta que dá acesso à varanda. Um vento gelado sopra do mar, o deixando arrepiado.
CENA 4: MONTES ALTOS | EDIFÍCIO ASSIS | APARTAMENTO DE SABRINA | QUARTO | INTERIOR | NOITE
Sabrina caminha de forma lenta, trajando apenas lingerie, ela tem o celular nas mãos, sorri de forma farta, parecendo estar muito contente com a mensagem que recebeu. Sabrina se apoia na sacada de seu apartamento, sente o vento tocar sua pele, não se arrepia, apenas curte.
SABRINA: – Achei que iria demorar muito mais tempo para eu conseguir conquistá-lo, mas ele já está na minha, tenho certeza. – Comenta, sozinha, caminhando de volta para dentro do quarto. Depois de deixar o celular sob a cômoda, ela se joga na cama, sorrindo. – Logo não vou ter que me preocupar com mais nada, é só eu continuar desse jeito. Ninguém vai me impedir de ter o que quero, ninguém. – Ela continua sorrindo.
CENA 5: MONTES ALTOS | CASA DE ALBERTA | SALA | INTERIOR | NOITE
A chuva começa a cair, de forma fraca, mas com o passar do tempo, aumenta. Alberta olha a chuva caindo da janela de casa que dá para parte de seu jardim. Ela está pensativa, parece estar olhando para o nada, mas está pensando em tudo que já viveu.
ALBERTA: – Sempre quando chove, me lembro daquele dia, é algo extremamente inevitável. – Ela diz, cabisbaixa, passando os dedos levemente pelo vidro da janela. – Eu queria esquecer de tudo aquilo, queria apagar de minha memória mas não posso. – Continua, com os olhos cheios de lágrimas.
É possível ouvir os passos de outra pessoa, mais precisamente, outra mulher, ela se aproxima lentamente de Alberta, que movimenta lentamente a cabeça para o lado, olhando para a sua amiga, Joana, que por sua vez segura na mão dela.
JOANA: – O Diego tem que saber, minha amiga. Você não pode ficar escondendo isso dele para sempre, Alberta. Sei que você tenta manter esse segredo, mas chegará um momento que você não vai mais conseguir. – Diz, ficando ao lado da amiga de longa data.
Alberta olha de relance para Joana, sabe que ela tem razão.
ALBERTA: – Eu não tenho coragem, Joana, não tenho coragem de dizer tudo… eu que sou forte, decidida para os outros, não sou assim com meu próprio filho. Eu nunca vou ter coragem de contar, essa é a verdade. – Lamenta, levando as mãos ao rosto, chorando em seguida.
Joana abraça a amiga, tentando de alguma forma, consolar ela. A chuva já é torrencial em toda cidade.
CENA 6: MONTES ALTOS | CENTRO | GALERIA | INTERIOR | NOITE
Juliana está entretida em seu trabalho, terminando os últimos retoques. Ela se assusta quando olha pela janela, e observa que já chove por ali também. Rapidamente guarda o material, tudo bem arrumado e segue para o salão onde fica a galeria. A parede de vidro permite que ela veja que chove muito, a deixando até um pouco assustada.
JULIANA: – Como eu vou voltar pra casa? – Ela se pergunta, parando próximo da porta. Ela retira o celular de dentro de uma pequena bolsa, digitando o número da mãe, mas recua ao ver que está sem sinal. – Eu não posso ficar aqui a noite toda. – Ela anda de um lado para o outro. – Que Deus me proteja! – Juliana segue até o ateliê, pegando uma velha capa de chuva e retornando para a galeria.
CENA 7: MONTES ALTOS | EXTERIOR | NOITE
O Trânsito está todo parado, não permitindo que os motoristas sigam seus destinos. Diego está em um dos vários carros, já sem paciência, assim como outros motoristas. Uma ventania absurda começa, arrancando placas de anúncios, derrubando até mesmos postes e árvores. As pessoas se desesperam.
Juliana caminha pela calçada embaixo de forte chuva, o vento a obriga parar debaixo de uma marquise, mas logo sai dali, e assim que deixa o local, a estrutura é arrancada como se fosse um simples papel. Juliana teme por sua vida. O trânsito na avenida principal volta a fluir, fazendo com que muitos motoristas acelerem, apressados e amedrontados. Diego se vê praticamente sozinho na pista, seguindo em uma velocidade normal, de repente ele se assusta ao ver uma árvore começando a cair, então acelera, mas devido a aquaplangem, perde o controle do carro, capotando e parando de cabeça para baixo, a árvore cai bem ao lado do carro. Juliana que seguia pelo outro lado, se assusta, parando, aterrorizada pelo que presencia. Mesmo na forte chuva, ela vê que há uma pessoa no veículo, então sem pensar muito segue para perto do carro, se abaixando e ficando perto do motorista, que é Diego, que por sua vez abre os olhos com dificuldade.
JULIANA: – Como você está? – Ela pergunta, elevando a voz por conta da chuva e do vento.
DIEGO: – Eu estou… – Ele não termina de responder, pois desmaia, deixando Juliana desesperada.
Juliana olha para todos os lados. A chuva parece não ter fim, o vento forte não dá trégua. Ela sente o pulso do até então desconhecido, se acalmando por saber que ele ainda respira. Sem muita alternativa, ela tira o cinto do homem e o puxa com muito cuidado para fora do carro. Diego volta a despertar, a chuva cai sobre os dois, ele a olha de forma intensa. Juliana respira aliviada.
JULIANA: – A gente tem que encontrar um abrigo até essa tempestade passar. – Diz, amedrontada. – Você está ferido? – Pergunta, olhando para o corpo do homem.
DIEGO: – Eu só cortei a cabeça… eu acho. – Ele Responde, levando a mão até a cabeça, sentindo uma pequena dor.
Diego se apoia em Juliana, os dois seguem até um prédio bem ao lado de onde tudo aconteceu.
CENA 8: MONTES ALTOS | EDIFÍCIO LOUSADA | INTERIOR | NOITE
Diego se senta em um canto próximo da escada, Juliana também faz ao mesmo, respirando ainda mais aliviada. Diego segura a mão dela rapidamente.
DIEGO: – Obrigado! – Ele agradece, respirando aceleradamente.
Juliana apenas balança a cabeça de forma positiva, olhando discretamente para o homem ao seu lado. Os dois se assustam quando sentem de forma nítida, o prédio se mexer. As luzes começam a acender e apagar constantemente, ambos se olham, assustados.
CONTINUA


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