

Mateus: Não tem nada a ver o que você está falando, Bárbara. Da
onde você tirou esta ideia sem nexo.
Bárbara: Teu cunhadinho nos pegou conversando e resolveu vender
essa informação valiosíssima para mim. Foi muito bem recompensado, mas pelo
jeito ele é da turma da Vânia e gosta de muito dinheiro, até um ponto em que se
torna insustentável para a nossa segurança, não é?
Mateus: O que ele te disse?
Bárbara: Você sabe o que ele me disse. Ele conseguiu a arma. Ele
foi tua testemunha quando você alegou que tinha sido abordado por ladrões junto
com o Eugênio. Por que tudo tão público? Por que você matou o doutor Eugênio em
uma via pública praticamente deixando impressões digitais a ponto de ter que
forjar uma testemunha falsa e ter que se sujeitar a tanta chantagem? O que te
move, Mateus?
Mateus: Eu quero saber o que você vai fazer com estas informações
falsas.
Bárbara: Eu? Nada. Apesar de estar mais sujo para o seu lado, já
que agora temos o Bruno assassinado, eu não pretendo fazer nada. Agora, quero
saber o que você pretende fazer com essa ideia descabida de que eu posso ter
feito algo contra a Vânia.
Mateus respira
fundo, não contava com essa carta na manga que a Bárbara tinha. Olha para os
lados e diz:
- Acho que me precipitei.
Tirei conclusões erradas. Acho que podemos um contar com a discrição e
compreensão do outro. Vamos esquecer esta história.
Bárbara: Eu também acho que me precipitei. Se houver algum
desdobramento disso tudo a gente vê o que faz. Precisamos pensar logo em como
tirar da cabeça da Vera essa história da Lívia ser filha do Manoel. Vamos pedir
um café?
Mateus: Er... vamos. Pode ser um Latte pra mim.
Enquanto isso
no Capão da Imbuia...
Manoel: Como assim a Lívia minha filha?
Iná: Você tem noção da gravidade do que você está dizendo?
Vera: Olha, eu sei. Eu pensei muito antes de reunir vocês dois
aqui. Eu não sou nenhuma inconsequente. Eu sei o que falo.
Manoel: Você checou as datas em que a Lívia e a nossa filha nasceram?
O lugar? Os horários?
Vera: Sim. As circunstâncias. Tudo. Tudo bate. Eu não reuniria
vocês dois com tanto sigilo se eu não tivesse certeza do que estou falando.
Manoel: O seu filho sabia? Então algo não bate. Por que ele não me
passou a informação quando eu e a Iná fomos ao hospital buscar notícias sobre o
dia em que a Iná teve a nossa filha lá?
Iná: O seu filho na verdade nunca quis nos ajudar, não é verdade,
Vera? Eu percebo pelo jeito que ele nos trata, pelo jeito que ele nos tratou no
hospital.
Vera (já com lagrima nos olhos): Você está certa, Iná. O Mateus
está sim atrapalhando vocês de se encontrarem.
Manoel dá um
soco na mesa de centro da sala de Vera e fala.
Manoel: Puta que pariu! O que esse moleque está fazendo? Quem ele
pensa que é?
Iná: Por que ele faz isso, Vera?
Vera: Manoel, se acalme.
Manoel: Você tem noção da gravidade que é essa história toda?
Estamos falando sobre pais e filha. Não estamos falando de negar dar um
chiclete no escritório do trabalho.
Vera: Eu não sei o porquê, mas ele exerce uma espécie de controle
na Lívia. Não sei se isso foi por proteção.
Iná: Proteção? Dos pais dela? Desculpa, Vera. Te admiro muito e
sei o quanto é duro para uma mãe ouvir isso, mas o seu filho deve estar de olho
no dinheiro da Lívia. Isso é ganância.
Vera se
descontrola a chorar.
Manoel: Calma, Vera.
Vera: Porra, eu criei esses três sozinhos. Eu não posso ser
penalizada por tudo o que eles fazem de errado. Eu juro que eu tentei, mas eu
falhei com o Mateus. Eu falhei ou não. Não sei na verdade, mas algo deu errado.
Eu estou tentando consertar uma burrada que meu filho fez. Ele nunca confessou,
mas eu sei que ele fez. Eu conheço ele.
Manoel: Você tem como provar isso tudo? A Lívia nunca procurou os
pais dela?
Vera: Procurou, Manoel. Procurou sim. Aí vem o único ponto que eu
fico com dúvida e que também me assusta muito em relação a toda esta história.
A Lívia encontrou a mãe dela.
Iná: Então a sua história não faz sentido.
Vera: Faz.
Iná: Como?
Vera: Ela descobriu a alguns dias atrás que a mulher que tudo
indicava ser mãe dela não era, mas que ela possivelmente enganou a Lívia.
Manoel: Eu sei aonde você quer chegar com tudo isso.
Iná: O que é?
Manoel: A Vera deve estar desconfiada de que o Mateus pode ter
arrumado essa mulher para ela ter se passado pela mãe biológica da Lívia.
Vera: É isso. Eu espero estar enganada.
Iná: Tem alguma foto dessa mulher? Quem sabe seja alguém que a
gente viu na nossa busca pela nossa filha.
Vera: Algum tempo atrás a Lívia postou uma foto dela no facebook.
Depois excluiu, mas eu salvei no meu computador. Olha aqui, eu tenho ela.
Manoel e Iná
veem a foto.
Iná: Eu conheço esta mulher de algum lugar.
Manoel: Eu acho que sei quem é... espera, sei sim. Não acredito.
Iná: Quem é, Manoel?
Manoel: Olhe bem. Esta é a Vânia, que trabalhava com você na casa
da minha mãe no mesmo período em que eu e você namoramos.
Iná fica
incrédula no que vê e tem uma rápida baixa de pressão.
Mateus fica
preocupado com tudo o que Bárbara contou e volta ao hospital para ver como
Lívia está, a fim de não pensar na conversa tida no começo da noite.
Ângela: Doutor Mateus, o senhor pode se preparar para ir com a
dona Lívia e o Bernardo pra casa já. Ela está liberada e o bebê está bem.
Mateus: Obrigado, Ângela.
Ângela: Tudo bem com o senhor?
Mateus: Estou sim, apenas cansado.
Ângela: E olha que o senhor é pai a menos de vinte e quatro horas.
Tem muito tempo ainda pela frente.
Mateus dá um
pequeno sorriso e segue em direção ao quarto de Lívia.
Lívia: Amor? Veio me buscar?
Mateus: Sim, já podemos ir embora. Vou contratar uma enfermeira
pra ficar conosco ao menos nos primeiros meses.
Lívia: Eu ia falar sobre isso. Estou feliz. Acho que vai começar
uma nova fase da nossa vida.
Mateus: Claro, amor. Vai sim. Bom, se arrume, vou lá pegar o
Bernardo.
Mateus vai ao
berçário, pede ajuda às enfermeiras e pega Bernardo.
Mateus (olhando para o filho): Eu prometo que o seu destino vai
ser melhor que o do vovô e que do seu pai aqui. Eu te prometo, Bernardo. Eu te
amo, meu filho.
Bárbara cada
vez mais irritada em casa, resolve tramar outra de suas maldades.
Bárbara: Alô, Elizabeth? Tudo bem, amiga? Tudo também. Olha,
preciso de um favor seu. Lembra daquele seu contato que faz aqueles serviços?
Preciso de um. Não, coisa bem leve. Passa o número dele que eu falo diretamente
com ele e combino os valores. Obrigada, querida. Beijos.
Manoel e Vera
tentam reanimar Iná, que acorda, ainda um pouco tonta.
Iná: O que aconteceu?
Vera: Acho que você teve uma queda de pressão.
Manoel: Ficou surpresa em saber que a Vânia se passou pela mãe da
Lívia?
Iná: Mais do que isso. A Vânia várias vezes na época em que estive
grávida da nossa filha me recomendou a acreditar na sua mãe. Ela com certeza
sabia dos planos da dona Odete. Eu fico cada vez mais com nojo quando vou a
fundo nesta história.
Vera: Vocês tem certeza que esta é a mulher que trabalhava na casa
da sua mãe no passado, Manoel?
Manoel: Absoluta certeza.
Iná: Eu também não tenho dúvidas sobre isso. É ela sim. Vadia,
desgraçada! Falsa!
Vera continua
com uma cara desconfortável, nitidamente percebida por Manoel.
Manoel: O que foi, Vera? Tem mais alguma coisa que você queira nos
contar?
Vera: Tenho. É tanta coisa. Vocês entendem porque eu não queria
contar antes?
Iná: Bom, agora vai despejar tudo de uma vez.
Vera: Mas agora nós vamos ter tudo completo para agirmos. Não será
sem base.
Manoel: Fala logo o que ainda falta.
Vera: Há meses atrás eu conversava com a Terezinha e ela de
maneira meio que inocente levantava a hipótese de a Bárbara saber do que a dona
Odete fez no passado. Daí um dia você me disse sobre ter ido na casa da Bárbara
para pressionar a assinatura do divórcio e você me falou sobre ela parecer
saber sobre a sua busca pela filha desaparecida.
FLASHBACK
Manoel: Hoje fui lá
pressionar a Bárbara para que ela aceitasse logo o divórcio.
Vera: Pela sua cara já até
imagino que não vai ser fácil.
Manoel: E algo com a
Bárbara é fácil? Bom, mas não é isso que me surpreendeu. Isso é até previsível.
Vera: É o que então?
Manoel: Teve uma hora que
ela falou de um jeito que dá a entender que ela sabe que eu estou buscando
saber da minha filha desaparecida. Ela falou com muita firmeza sobre uma filha
e depois deu a desculpa de que ela se referia à Tatiana.
FIM DO
FLASHBACK
Manoel: Sim, eu me lembro. E realmente, eu não engoli o que ela
falou até hoje. Mas, isso não prova nada.
Vera: Pode não provar nada, mas de uns tempos pra cá eu comecei a
dar umas voltas na frente da casa da Bárbara para ver se detectava algo
suspeito.
Iná: É sério isso?
Vera: Sim. Eu realmente fiquei com a pulga atrás da orelha e fui
atrás.
Manoel: É por isso que aquele dia em que eu fiquei bêbado você
estava lá na frente da casa da Bárbara?
Iná: Bêbado? Eu pensei que você tinha superado isso. Na época em
que namoramos isso era bem comum.
Vera: Vamos por partes. Eu já chego lá. Bem, eu fui algumas vezes
e nunca encontrava nada estranho. Em um dia qualquer eu vi algo que até hoje eu
não entendo e não consigo fazer conexão nenhuma.
Manoel: E o que seria?
Vera: Eu vi o Bruno, o namorado da Tatiana, saindo da casa da
Bárbara.
Manoel: O Bruno? Será que eles são cumplices? Sei lá, ela deve ter
arranjado ele para conseguir informações de dentro do hospital.
Vera: Pode ser. Mas ao mesmo tempo eu acho que o Mateus está
associado com a Bárbara.
Manoel: Aquele dia em que a Bárbara apareceu no bar quando eu já
não me lembrava direito onde eu estava, eu tinha ido beber com o Mateus, mas
ele foi embora antes.
Vera: Aí é que está. Tudo muito perfeito. Estranhamente perfeito a
Bárbara estar naquela região bem quando o Mateus te convida pra beber, sendo
que ele se quer tinha ido com a sua cara.
Iná: Por motivos bem óbvios agora.
Manoel: Então eles planejaram aquilo, possivelmente pra você ficar
furiosa comigo e isso estremecer a nossa relação.
Vera: Tá entendendo? O negócio é pior do que eu pensava. Se tem o
Mateus, tem essa tal de Vânia aí, quase certeza que tem a Bárbara e o Bruno.
Iná: Estou falando que é tudo nojento.
Manoel: Eu não sei nem por onde começar.
Iná: Olha, eu não sei se a minha ideia é boa, mas assim, sabemos o
motivo do Mateus e da Bárbara para nos atrapalharem de chegarem a nossa filha,
se realmente é a Lívia. A Vânia deve ter agido por ganância. Agora, quero saber
o que moveu o Bruno.
Manoel: Vamos atrás dele!
O celular de
Vera toca e ela pede licença para atender.
Vera: Alô.
Tatiana: Mãe.
Vera: Oi, filha. Tudo bem? Que número é esse do qual você me
ligou.
Tatiana: Mãe, o Manoel está aí? Posso falar com ele.
Vera: Sim, só um momento. Manoel, a Tatiana quer falar com você.
Manoel: Comigo?
Vera: Toma o telefone.
Manoel: Alô, Tatiana.
Tatiana: Manoel, você poderia me ajudar e me acompanhar num
depoimento? Eu ainda não estou acreditando.
Manoel: Claro que posso, mas pelo amor dos céus, o que está
acontecendo? Onde você está?
Tatiana: Estou na delegacia de homicídios. Encontraram o corpo do
Bruno carbonizado. Ele foi assassinado e estão tomando o meu depoimento.
Manoel: Já estou indo pra aí. Não fale nada antes de eu chegar.
Vera: O que aconteceu? O que a minha filha queria com você?
Manoel: Vamos ter que descobrir de outra forma a ligação do Bruno
com toda esta história. Ele foi assassinado e estão tomando esperando um
advogado para tomar o depoimento da Tatiana.
-----------------------
GANCHO: FÉ CEGA, FACA AMOLADA (Emmerson Nogueira) ------------------
0 Comentários