

Vânia começa a ficar tremula
com a arma de Bárbara apontada para ela.
Bárbara: O que foi, Vânia? Está tremendo por que? Está com frio?
Vânia: Sua imbecil, larga esta arma. Você vai acabar fazendo uma
burrada.
Bárbara: A burra aqui é você. Achou o que? Que seria mais esperta
do que a Lívia se passando por mãe dela? Não se contentou com o que tínhamos
combinado? Você poderia estar em alguma cidade do interior do Paraná ou até
mesmo em outro estado com este dinheiro que eu e o Mateus combinamos, mas a sua
ambição falou mais alto.
Vânia: Baixa esta arma e vamos conversar.
Bárbara: Conversar? Com você não tem conversa! Você é do tipo que
nunca está satisfeita, não é? Bem que o ditado é certo: quem nunca comeu melado
quando come se lambuza. Mas agora chega de conversa e vá embora daqui antes que
eu acabe com a sua raça.
Tá esperando o que, heim? Vai embora daqui sua miserável!
Vânia sai correndo desesperada
e sem rumo, quando Bárbara mira e dispara o primeiro tiro em direção à
empregada.
Terezinha: O que é, comadre, fala logo.
Vera: Posso entrar?
Terezinha: Entre.
Vera senta-se no sofá de
Terezinha.
Terezinha: E então?
Vera: Vou ser direta. Eu acho que sei quem é a filha desaparecida
do Manoel e da Iná.
Terezinha: Sabe? Como assim? Como você descobriu?
Vera: Na verdade eu não tenho certeza. Estou encaixando algumas
peças. Lembra que o Mateus me disse que a Lívia descobriu ser adotada?
Terezinha: Claro. Me lembro inclusive que o Mateus tinha ficado
possesso por ela, mesmo sem ser filha do Eugênio, ter recebido uma criação a
pão de ló.
Vera: Pois é, ela nasceu em junho de 1992 no hospital Ângela
Veríssimo.
Terezinha: Sim. Depois ela foi abandonada pela mãe e foi aí que a
mãe dela, a dona Helena, a adotou.
Vera: Sim, esta é a versão que sabemos. Mas, a filha do Manoel e
da Iná nasceu no mesmo dia que a Lívia e no mesmo hospital. A mãe da Lívia
tinha ficado grávida antes, mas parece que perdeu a criança. Lembra que a Iná
tinha me dito que a criança que seria supostamente a filha dela tinha nascido
morta?
Terezinha: Vera do céu, então você acha que...
Vera: Eu tenho quase certeza que a Lívia é filha do Manoel e da
Iná e que o Mateus está junto com a Bárbara dando um jeito de evitar a
reaproximação dos pais com a filha.
Terezinha: Mas, não faz sentido. O que o Mateus ganha com isso?
Vera: Ele tem ódio da família do Eugênio! Ele ficou mais
enfurecido ainda ao saber que a Lívia não era filha biológica daquele demônio,
mas mesmo assim teve todas as regalias na vida. Ele também quer continuar
exercendo um controle na Lívia. Ele ficou obcecado com a vida de luxo. Eu não
reconheço mais o meu filho. Eu estou desesperada. Eu não sei o que eu faço.
Terezinha: Conte aos três o que você sabe ou imagina.
Vera: Mas eu não tenho certeza.
Terezinha: Não interessa. Você já tem suspeitas fortes o
suficiente.
Vera: Só que tem uma coisa que eu descobri estes dias que não faz
sentido algum.
Terezinha: O que?
Vera: Eu vi o Bruno, namorado da Tatiana, na casa da Bárbara.
Terezinha: Como é que é?
Vera: Isso mesmo. Ele trabalha lá no hospital e é amigo do Mateus
a anos. Mas o que ele tem a ver com esta história eu não sei.
Terezinha: Muito estranho mesmo. Mas de qualquer maneira, conte
tudo o que você sabe ao Manoel, Iná e Lívia. E de preferência com os três
juntos. Eu entendo o seu lado, mas você mesma já admitiu que não reconhece mais
o seu filho. O que o Mateus está fazendo não está correto. Já se colocou no
lugar da Iná? Imagina se você estivesse procurando um filho desaparecido e
soubesse que estão fazendo de tudo pra você não o encontrar? Se coloque no
lugar dos outros, comadre. O Mateus vai ter que pagar caso esteja fazendo algo
errado.
Vera leva as mãos à cabeça e
chorando ela admite que Terezinha está certa e que vai cuidar disso.
Vera: Você tem razão, Tere. Bom, eu vou pra casa. Amanhã vou
pensar em como reunir os três.
Terezinha: Durma bem, Vera. Se precisar de mim é só chamar.
Já tendo voltado para casa no
meio da madrugada, Mateus recebe uma ligação de Tatiana.
Tatiana: Alô, “Teus”?
Mateus: Tatiana?
Tatiana: Sim. Desculpa te ligar a esta hora, mas você não sabe
nada do Bruno mesmo? Ele simplesmente não voltou pra casa.
Mateus: Não, não sei de nada. Olha, estou super cansado, a Lívia
caiu, ficamos assustados e pensando que podia ter ocorrido algo com o bebê.
Amanhã nos falamos, tudo bem.
Tatiana: Está tudo bem com o meu sobrinho?
Mateus: Agora sim, só precisamos descansar.
Tatiana: Ok, meu irmão. Boa noite.
Mateus: Boa noite.
Ao levar o primeiro tiro na
perna direta, Vânia cai e começa a gritar de dor.
Vânia: Sua vagabunda, olha o que você fez!
Vânia continua se rastejando,
tentando sair do campo de visão de Bárbara.
Bárbara: Olha lá, parece uma minhoca se rastejando na terra. Esse
primeiro foi por todos os deboches que você já me fez.
Bárbara aponta e atira mais
uma vez, desta vez acertando no braço esquerdo de Vânia.
Bárbara: Este segundo é por você não ter cumprido o nosso acordo.
Vânia: Para, Bárbara! Eu te imploro. Eu não estou mais aguentando
me mexer, para!
Bárbara: Suas palavras são comoventes. Atendendo ao seu pedido eu
vou acabar logo com isso.
Bárbara dispara um terceiro
tiro que atinge as costas de Vânia.
Sem conseguir se mexer de
maneira alguma, Vânia fica jogada ao lado da estrada, enquanto Bárbara vem em
sua direção, Vânia fala com a voz já embargada:
- Acaba logo com isso. Me mata logo. Eu sei que você não vai me
deixar sair viva daqui.
Bárbara: Olha, até queria acabar logo com você, mas eu só tinha
três balas. Espero que você consiga morrer sozinha. Tchau, bebê e não se esquece
de cumprir seus combinados, pelo menos no inferno pra onde você vai, filhote do
demônio!
Bárbara entra no carro, vai
embora e deixa Vânia morrendo de hemorragia em meio à beira de estrada de terra
coberta com matagal ao lado. Em seu carro, Bárbara coloca em alto som a música
Highway to hell do AC/DC. Vânia ainda demoraria mais uma hora e meia para
morrer pela falta de sangue.
No dia seguinte, Lívia toma
café na companhia de Mateus e assistem o noticiário local.
Em evidência estavam notícias
sobre mortes na Região Metropolitana de Curitiba na madrugada anterior.
Jornalista na TV: Madrugada violenta na RMC. Ao todo foram três assassinatos. Um
rapaz foi morto em um assalto quando chegava da casa da namorada no bairro
Cidade Jardim em São José dos Pinhais. Os suspeitos já foram capturados e
levados à delegacia da cidade. Em Tunas do Paraná uma mulher aparentando ter
entre 40 e 50 anos foi encontrada por agricultores da região, morta com três
tiros e sua identidade ainda está sendo levantada. Já em Campo Magro uma cena
macabra: foi encontrado um corpo carbonizado próximo a uma pedreira desativada.
Turistas que passavam hoje pela manhã na região disseram ter desconfiado do
cheiro e da fumaça que vinha da área em que o corpo foi encontrado. Não foi
divulgado ainda se o corpo era de um homem ou de uma mulher. Mais informações
na nossa segunda edição do dia.
Lívia: Que horror! Olha, Curitiba está cada dia mais violenta, não
é, amor?
Mateus (visivelmente incomodado com a notícia na TV): Está sim.
Bem, vamos ao hospital?
Lívia: Ainda estou muito cansada. Acho que vou ficar em casa hoje.
Mateus: Tudo bem, eu dou conta de tudo sozinho. Descanse, Lívia,
você está precisando.
Enquanto isso, Tatiana não
tinha conseguido dormir com o sumiço de Bruno.
Tatiana: Alô, polícia?
Policial: Sim, no que posso ajudar?
Tatiana: Meu marido desapareceu. Desde ontem à tarde não tenho
informações sobre ele.
Policial: Tem certeza? Se ele desapareceu a menos de 24 horas não
podemos abrir investigação. Já conversou com pessoas próximas a ele?
Tatiana: Sim, já até liguei pra família dele no interior de Santa
Catarina e eles não sabem de nada. Olha, ele nunca foi de sumir.
Policial: Faça o seguinte, espere dar 24 horas e depois ligue para
cá novamente ou melhor: vá pessoalmente a uma delegacia fazer boletim de
ocorrência, certo?
Tatiana: Tudo bem, farei isso. Obrigada.
Policial: De nada.
Vera aproveita uma hora de
tranquilidade após o almoço para ligar para Iná.
Vera: Alô, Iná? Está podendo falar?
Iná: Sim, mas tem que ser rápido, estou de serviço na casa de uma
patroa muito enjoada.
Vera: Então, gostaria de conversar com você hoje a noite. Você
poderia ir na minha casa?
Iná: Claro. Aconteceu algo grave?
Vera: Não, nada de mais, só quero ter uma conversa com você.
Iná: Tudo bem. Que horas estaria bom pra você? Eu saio às 17h do
serviço.
Vera: Pode ser às 20h.
Iná: Combinado. Beijos.
Vera desliga o telefone e liga
para Manoel que estava no trabalho.
Vera: Manoel? Pode falar?
Manoel: Posso.
Vera: Bem, sei que geralmente você chega antes das 19h, mas quero
que sem falta você esteja aqui em casa até às 20h. quero conversar com você.
Manoel: Nossa, mas pra que esse tom sério?
Vera: Você vai saber.
Manoel: É sobre ontem, não é? Olha, amor, eu já te pedi desculpas,
eu sei que sou muito fraco pra bebida e...
Vera: Manoel, fica quieto que não tem nada a ver com isso. Eu
achei absurdo tudo o que eu vi ontem, mas não é sobre isso que eu quero falar,
tem coisas muito maiores do que a sua fraqueza pra bebida, que na minha opinião
você já deveria ter se encarregado de cuidar disso, porque a Ellen mesmo uma
vez comentou que você já passou vexame outras vezes.
Manoel: Nossa, não precisa humilhar também.
Vera: Não é humilhação, é a verdade. Esteja aqui até 20h e pronto.
Tchau e até depois.
Manoel: Até.
Vera desliga o telefone,
relativamente irritada com Manoel, pois ainda estava sentida pela cena que
tinha visto na noite anterior.
Mesmo assim ela resolve
esquecer por um instante, já que precisava ligar para Lívia.
Lívia: Oi, Vera?
Vera: Tudo bem, Lívia?
Lívia: Tudo e com a
senhora?
Vera: Estou bem. E o bebê?
Lívia: Tive um susto ontem com um tombo que tive, mas está tudo
certo, não aconteceu nada demais.
Vera: Meu Deus, toma cuidado, minha filha. Eu já perdi uma filha
do Marcos por uma queda que tive. Foi antes do Mateus nascer. Era pro Mateus
ter uma irmã um ano mais velha que ele.
Lívia: Que horror, dona Vera. Pode deixar, vou me cuidar sim. Mas,
qual o motivo da ligação.
Vera: Bom, você sabe que daqui algumas semanas o Mateus fará
aniversário, não sabe?
Lívia: Claro, dia 23 de novembro está aí já.
Vera: Ótimo. Queria organizar uma festa surpresa para ele, mas,
preciso que você me ajude a organizar. O que acha?
Lívia: Com maior prazer! Pode contar comigo.
Vera: Certo. Você pode vir a minha casa hoje? Quero combinar
pessoalmente com você, meus filhos e o Manoel, meu namorado.
Lívia: Claro, irei sim. Que horas?
Vera: Esteja aqui umas 19h30. Mas, não conte nada ao Mateus, por
favor! É surpresa.
Lívia: De jeito algum, não contarei nada, pode deixar.
Vera: Que bom, amada. Então até mais tarde.
Lívia: Até, Vera. Beijos.
Vera: Beijos.
Vera ficava com a respiração
ofegante só de saber o que aguardava o fim daquele dia, mas ao mesmo tempo
estava tendo uma leveza no coração em saber que estava a fazer a coisa certa.
Mateus recebe uma ligação de
Bárbara.
Bárbara: Garotão, preciso falar rápido com você. Estou no meu
escritório e em breve recebo um cliente, mas não posso deixar de te alertar uma
coisa.
Mateus: Fale, Bárbara.
Bárbara: Nossa, que voz de sono. Foi dormir tarde ontem?
Mateus: Fui, “né”? A Vânia empurrou a Lívia e eu tive que correr
com ela pro hospital. Aliás, o que você fez com a Vânia?
Bárbara: Nada, dei um dinheiro pra ela e mandei ela pra fora da
cidade. Não tinha mais o que fazer.
Mateus: E se ela voltar?
Bárbara: Ela não vai voltar. Se voltar vai ser presa.
Mateus: E pode ferrar a gente.
Bárbara: Ela não vai voltar, já falei. Mas, tem algo bem mais
preocupante que a Vânia.
Mateus: E o que seria?
Bárbara: A sua mãe.
Mateus: Já disse que não deixei nada escapar e...
Bárbara: Só te digo uma coisa, sua mãe não é tão tapada quanto eu
pensei. Fica esperto com ela ou então ela pode ser a chave dos nossos
problemas. Esqueça a Vânia, dela cuido eu, cuide de afastar sua mãe dos nossos
planos ou então...
Mateus: Ou então o que?
Bárbara: Eu serei capaz de agir no seu lugar e pode ter certeza de
que eu não serei generosa, até porque eu já tenho um ranço dela suficiente pra
não ter dó.
Mateus: Desculpa, Bárbara, mas primeiro que ninguém ameaça a minha
mãe. Experimente fazer um “ai” contra ela que eu acabo com a sua raça. Segundo
que você perdeu seu marido pra você mesma. Ele já não gostava de você anos
antes de conhecer minha mãe. Menos, Bárbara. Bem menos. Minha mãe me ama o
suficiente para não me ferrar. Vamos nos focar na Lívia e pronto. Preciso ver o
que ela fará agora que sabe que a Vânia não é mãe dela.
Bárbara: Vou ignorar suas palavras de filho protetor. Está
avisado, tome conta da dona Vera enquanto é possível. Tchau, Mateus.
Mateus: Tchau, Bárbara.
Vera está em casa aguardando
Iná chegar, uma vez que Manoel já havia chegado em casa. Iná chega e entra pela
porta da sala de Vera.
Iná: Oi, Vera. Tudo bem?
Vera: Tudo sim, vamos entrando.
Manoel: Iná? O que você faz aqui?
Iná: A Vera não te contou?
Vera: Sentem-se. Logo vamos conversar, preciso esperar mais alguém
chegar.
Manoel: Está esperando o Tiago?
Vera: Não, o Tiago saiu com a Ellen, Vitor e Priscila. Voltam só
mais tarde.
Manoel: Então não estou entendendo.
Iná: Nem eu.
Vera: Logo vão entender.
Enquanto isso, Lívia manda
mensagem para Vera dizendo que possivelmente vai chegar atrasada porque o
transito perto do Colégio Militar estava horrível. Ao terminar de mandar a
mensagem ela começa a sentir contrações fortes em meio ao transito.
Lívia: Que doooor! Meu senhor, amado! Não acredito que vai ser
agora!
O sinal já tinha aberto, mas
ela não havia saído do lugar. Os carros atrás dela na pista começavam a
buzinar, deixando-a mais desesperada ainda.
Lívia: Será que não dá pra esperar!
Passados alguns segundos a
motorista do carro de trás resolveu sair e ver o porquê da motorista do carro
da frente não ter saído também.
Priscila: “Ooh” minha filha, o que está acontecendo que tu não arranca
com este carro? Olha a fila nesta pista!
Lívia: Moça, me ajuda.
Priscila: O que foi?
Lívia: Eu acho que minha bolsa estourou. Eu acho que meu filho vai
nascer!
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GANCHO: DON’T LOOK BACK IN ANGER (OASIS) -------------------------
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