

Manoel: É isso mesmo que
você ouviu. Eu não aguento mais o quanto o nosso relacionamento me faz mal.
Bárbara: Você, novamente,
está colocando a culpa em mim?
Manoel: Bárbara, não se
trata de culpado ou vítima, nós, está me entendendo? Nós dois deixamos as
coisas chegarem a este patamar. Eu não quero te culpar, eu só quero seguir meu
caminho sozinho.
Bárbara: Sozinho ou ao lado
de uma vadia qualquer?
Manoel: Chega, Bárbara!
Para de achar que o inferno são os outros!
Bárbara: Você não vai se
ver livre de mim, Manoel Pierini! Não vai!
Manoel: Já que você quer
que as coisas sejam assim, então elas serão. Eu vou arrumar uma mala e outro
dia venho buscar o restante das coisas. Te encontro na presença de um advogado
seu.
Manoel
sobe para o quarto e é seguido por Bárbara que não acreditava que, finalmente,
o marido estava tomando aquela atitude drástica.
Bárbara: Manoel, volta
aqui!
Manoel
desce com a mala e Bárbara num surto de humilhação acaba se ajoelhando e
suplicando para Manoel que ele não vá embora.
Bárbara: Por favor, Manoel.
Eu juro que melhorarei se você ficar. Eu te amo, apesar de tudo.
Manoel: Ama? Você ama me
possuir, Bárbara! E para com essa cena que tá me dando vergonha.
Bárbara: A gente tem uma
história juntos! Casa e filha, além de tantos momentos bons.
Manoel: Uma casa que você
não valoriza, uma filha que você desdenha e momentos bons que já fazem anos que
não temos. Vai ser melhor pra gente, Bárbara. No futuro você vai me agradecer.
Bárbara: Volta aqui!
Manoel! Voltaaaaaaaaaaaaaa....
Gritando
já na calçada e com Manoel saindo com o carro, Bárbara se vê cercada de pessoas
que passavam pela rua na hora.
Bárbara: Estão olhando o
que? Bando de maria fofoqueira!
Humilhada,
ela grita com as pessoas e volta para casa chorando e se descabelando de raiva,
prometendo acabar com um possível relacionamento entre Manoel e Iná e jurando
que eles nunca saberiam da existência de Lívia.
No
hospital Ângela Veríssimo Tatiana se preparava para bater seu ponto e sair do
hospital. Quando estava saindo da sala dos funcionários ela dá de cara com
Bruno.
Bruno: Indo embora já,
Tatiana?
Tatiana: Está na hora, né,
senhor Bruno?
Bruno: Não acredito quer
você me chamou de senhor! Quantos anos você tem?
Tatiana: 23 quase 24.
Bruno: E eu tenho 28. Até
parece que sou um ancião.
Tatiana: Desculpa, falo
mais por respeito mesmo.
Bruno: Que bom, achei que
você me via como um velho mal cuidado.
Tatiana: Não, longe disso.
(diz Tatiana com voz e olhar provocante)
Bruno: Aproveitando, quero
uma opinião feminina. Acha que eu estou bem? (diz Bruno levantando parte da
camisa e mostrando o abdominal e peitoral para Tatiana).
Tatiana: Acho que está
perfeito. Mas, pra dar um parecer mais preciso eu precisaria averiguar o
conteúdo inteiro, se é que me entende.
Bruno: No momento em que
você quiser.
Tatiana: Olha... isso não
poderia parecer assédio sexual?
Bruno: Não se você aceitar
também.
Tatiana: Bom, mas pra isso
precisaríamos de tempo e lugar, então, até uma próxima, Bruno.
Bruno
pega Tatiana pelo braço, a prensa contra a parede e olhando fixamente fala:
Tatiana, agora na minha
sala para uma hora extra remunerada.
Tatiana: Sim, senhor Bruno.
Dizendo
estas palavras, Tatiana e Bruno entram na sala dele e começam a tirar a roupa.
Tatiana: Não vai acender a
luz?
Bruno: Não se preocupe,
dona Tatiana, para onde eu preciso chegar eu conheço bem o caminho, posso ir
pelo escuro mesmo.
Dizendo
isso os dois, ali mesmo na sala de Bruno, transam por mais de uma hora. Tatiana
recebe várias mensagens de sua mãe no whatsapp, pois estava demorando a chegar
em casa, mas com o tesão momentâneo ela acaba por ignorá-las.
Ao
chegar em casa, depois de ser levada por Bruno, recebe um puxão de orelha de
Vera.
Vera: Adianta ter um
celular se não usa? Por que não me respondeu?
Tatiana: Desculpa, mãe.
Estava fazendo hora extra a pedido do Bruno.
Vera: E custava ter me
respondido assim que saiu do hospital? Eu estava super preocupada. Liguei pro
seu irmão e ele me disse que não tinha te encontrado hoje no hospital.
Tatiana: Claro, eu fiquei
atualizando tabelas para o Bruno a maior parte da tarde, trancada na sala dele.
Dona Vera, a senhora está com raiva?
Tiago: Ela brigou com o
namorado.
Vera: Ele não era meu
namorado, caramba!
Tatiana: Namorado? Conta o
babado que eu não estou sabendo!
Tiago: Sabe o pai da Ellen,
aquela minha amiga da faculdade?
Tatiana: Sim, a sapatão.
Mas a sapatão pobre ou a bem de vida?
Tiago: Não gosto desses
termos que você usa, mas é a bem de vida. Pois então, o pai dela conheceu a mãe
por acaso no Centro e os dois se tornaram amigos e estavam quase namorando, mas
foi só a mãe descobrir que ele era casado no civil com a mãe da Ellen, aquela
que me humilhou no jantar, que ela rompeu com ele. Mas, eu já disse que o
Manoel é gente boa e não tem nada a ver com a Bárbara.
Tatiana: Gente boa e com
grana, certo? Mãe, depois de anos encalhada a senhora encontra um marido legal
e com dinheiro e vai desistir por causa de uma perua histérica? Por favor, dona
Vera.
Vera: Tatiana, não sou como
você e o Mateus, eu tenho princípios e não vou voltar a falar com o Manoel até
ele se resolver com aquela mulher.
Tatiana: Pois utilize os
seus princípios e lute pela sua felicidade! Poxa, uma mulher que criou três
filhos sozinha depois que o marido foi preso injustamente e morreu na cadeia
vai desistir de um cara que vale a pena na primeira dificuldade? Cadê aquela
mulher batalhadora, dona Vera? Pensa bem, mãe.
Dizendo
isso, Tatiana vai para o quarto enquanto Vera fica pensativa mais uma vez.
Quem
também estava pensativa, mas do outro lado da cidade, era Bárbara que resolve
acelerar o plano e dá sinal verde para Vânia se colocar no caminho de Lívia.
Bárbara: Alô, Mateus?
Mateus: Bárbara, você sabe
que horas são? Até a Lívia que dorme mais tarde já está dormindo e a sua sorte
é que eu estava vendo jogo da libertadores. O que você quer?
Bárbara: Amanhã mesmo a
Vânia entra em ação.
Mateus: E me diz como será
o encontro tocante entre mãe e filha.
Bárbara: Eu averiguei que o
hospital contrata as copeiras por meio de uma terceirizada.
Mateus: Sim, e daí? Tá
resolvendo começar a trabalhar de verdade já que a arquitetura não é o seu
forte?
Bárbara: Não, trabalho
assim mais braçal eu deixo pra gente da sua estirpe. Agora, pare de gracinha e
me escuta, garotão! Já está tudo esquematizado e indiquei a Vânia para esta
empresa, claro, com os documentos falsos. Gente que conheço a encaixou lá, como
ela tem experiência como empregada, mostrou ter domínio do serviço. Amanha
mesmo ela será remanejada para o Ângela Veríssimo. O resto você já imagina.
Mateus: Muito bem, Babinha.
Ótimo trabalho.
Bárbara: Babinha? Você acha que eu sou tuas amigas, é?
Mateus: Mais do que minha
amiga, você é minha cumplice. E agora desliga o telefone e vá dormir porque o
jogo aqui na TV acabou e eu não tenho mais desculpa pra ficar fora do quarto.
Bárbara: Tchau e não se
esqueça de me contar as novidades.
No
dia seguinte, Vânia chega como Maria do Socorro e se apresenta a Bruno e
Mateus.
Vânia: Bom dia, sou Maria
do Socorro e fui enviada pela terceirizada pra trabalhar aqui.
Bruno: Claro, dona Maria.
Vou lhe apresentar o hospital. Este é o Mateus, diretor geral do hospital.
Vânia: Olá, senhor Mateus.
O seu rosto me é familiar.
Mateus: E o seu também é,
deve ter me visto por aí.
Bruno: Bom, vou levar você
para onde nossos funcionários tem armário. Depois, lhe passo as instruções.
Vânia: Tudo bem. Até Mais,
senhor Mateus. (Diz Vânia, dando uma risadinha de leve).
Pouco
tempo depois, Lívia, com a barriga já grande, grávida de seis meses, encontra
Mateus.
Mateus: Amor, temos
funcionários novos no hospital.
Lívia: É? Mas em quais
setores?
Mateus: Na copa e na
segurança. Na segurança entraram dois seguranças a mais que pedi por conta do assalto
ao hipermercado que fica na quadra de cima. Estou achando que a região aqui tem
ficado perigosa. Na copa entrou uma senhora no lugar da dona Carmem que faleceu
semana passada.
Lívia: Nem me lembre.
Fiquei arrasada. Ela era a última funcionária não terceirizada do hospital.
Começou a trabalhar aqui quando eu ainda era bebê. Que Deus a tenha. Depois eu
vou conversar com os novos funcionários.
Mateus: Você sempre
querendo conhecer de perto todos daqui, né? Por isso que eu te amo.
Mateus
beija Lívia e os dois se despedem, sendo que cada um vai para alas diferentes
do hospital.
Algumas
horas depois Vânia adentra a sala de Mateus.
Vânia: Olá, doutorzinho.
Quer uma xícara de café?
Mateus: O uniforme que a
terceirizada te deu é bem melhor do que as roupas que você veste.
Vânia: Depois que eu tiver
recebido a grana de dois amigos meus que me devem um favor, vou poder comprar
roupas melhores, patrãozinho.
Mateus: Vamos ao que
interessa. Primeiro a xícara de café, sem açúcar.
Vânia: Está na mão.
Mateus: Nossa, teu café é
bem forte. Gosto disso. Bom, falando o que realmente importa, você vai agora na
sala da Lívia e vai oferecer café ou chá. Ela gosta mais de chá, mas foda-se, o
que interessa é que do jeito que ela ama uma periferia, ela vai querer saber da
sua vida. É aí que você se apresenta, Maria do Socorro.
Vânia: Gosta tanto de uma
periferia que foi casar justamente com o bolsista da faculdade. Bom, pode
deixar, já estou indo lá, apenas vou deixar essas bolachas na sala do Bruno.
Vânia
passa na sala de Bruno e sem bater, entra levando as bolachas.
Vânia: Boa tarde, senhor
Bruno. Aqui estão as bolachas maizena que o senhor pediu. Meu Deus!!!
Bruno
estava beijando Tatiana e ela estava no colo dele. Os dois rapidamente se
recompõem e Bruno todo sem jeito fala.
Bruno: Pode deixar em cima
da minha mesa, dona Maria.
Tatiana: Com licença,
Bruno. Vou levar estes papéis para a sala do Mateus.
Vânia: E eu vou levar café
e chá pra dona Lívia.
Bruno: Por favor, não
comente nada disso com ninguém, especialmente com o Mateus e a Lívia.
Vânia: Olha, doutor, aqui
eu só trabalho, não vejo nada além das minhas tarefas. Pode ficar
despreocupado. Com licença.
Finalmente
Vânia chega à sala de Lívia, mas dessa vez ela bate e recebe o aval de Lívia
para entrar em sua sala.
Vânia: Com licença, dona
Lívia. Vim trazer um café ou chá pra senhora.
Lívia: Muito obrigada,
quero um chá com adoçante. Tem sucralose?
Vânia: Tem sim. Quantas
gotas?
Lívia: Duas está ótima, não
gosto de perder o gosto dos alimentos com muito sal ou açúcar.
Vânia: Eu também não, gosto
de sentir o sabor dos meus temperos. Aqui está seu chá.
Lívia: Você deve ser a nova
copeira, né? A que entrou no lugar da dona Carmem.
Vânia: Eu mesma, prazer.
Lívia: Prazer. Qual é o seu
nome?
Vânia: Maria do Socorro.
Lívia
fica atordoada e boquiaberta com o nome da nova copeira.
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