Capítulo 20
Má Sorte
CENA 1/ PONTE INTERDITADA/ EXTERIOR/ DIA
Jean,
caminha pela ponte interditada. Uma expressão de cansaço mental e
espiritual lhe consome, e somos apenas os espectadores passivos desse
sofrimento, dessa sua angústia que o acompanha por anos, desde o que
dia em que mataram Carlos.
Jean
- Seis anos meu Carlos, há seis anos que vivi o melhor dos meus dias
ao seu lado, e há seis anos que vivo o pior deles sem você e por
você. Já deixei tantos mortos pelo caminho que nem me atrevo a
sonhar, ou planejar se quer o amanhã.
Encostando-se
no parapeito observa o longe, o nada, o vazio, e dói, é pesado, é
desolador.
CENA
2/ ESCRITÓRIO DEA/ INTERIOR/ DIA
Jonas
Gaspar, fala ao telefone, Armando Cardona, o observa sentado à mesa
sem dizer uma palavra:
Jonas
- Não se preocupe com isso, eu sei bem como proceder, só preciso
mesmo do seu apoio, garanto que não vai se arrepender […] o que?
Tem minha palavra, até breve.
Desliga
o telefone e olhando para, Armando, diz:
Jonas
- O que foi?
Armando
- Es un cerdo!
Jonas
- (irônico) Acha mesmo que sou isso? Quer que eu diga realmente quem
é o porco aqui, Dom Armando Cardona? Quem fez aliança com pessoas
muito poderosas do tráfico de drogas deste país, inclusive com o
governo pra desmantelar sua própria máfia? Foi você, você é um
cerdo desgraciado, que foi capaz de enganar a todos forjando a
própria morte, e o que é pior colocando um inocente para pagar por
seus crimes.
Afasta
a cadeira, coloca os pés sobre a ponta da mesa, e diz:
Jonas
- Pena que as coisas não saíram como o senhor queria, eu te peguei,
e agora vou pegar um por um da sua corja.
CENA
3/ DELEGACIA DA POLÍCIA FEDERAL/ INTERIOR/ DIA
Irlana,
ocupa a sala do delegado, Luís, que a surpreende:
Luís
- O que está havendo aqui?
Irlanda
- Veja por você mesmo - Entregando-lhe
a ordem. Eu
estou no comando agora.
Luís
- Não, isso é só pode ser uma brincadeirinha de muito mal gosto -
caminha
pela sala, revira algumas caixas -
Cadê a câmera escondida?
Irlana
– (firme) Não é brincadeira, Luís, eu estou no comando
agora. Acabam de me informar que será aberto um processo de
investigação do seu trabalho como delegado, e eu sei assim como
você também sabe que há muitas coisas escondidos, ou não?
Luís
- Tá se achando, né? Tá pensando o que? que acertou na loteria,
delegada? Quero ver como vai reagir quando surgirem propostas de
suborno de todos os lados, ameaças a você e a tua família.
Irlana
- Eu não sou como você. Garanto que a mim ninguém vai investigar,
tão pouco ameaçar ou subornar, eu sei muito bem em que terreno
estou pisando e me escuta bem, eu vou acabar com a farra.
Luís
- Que ótimo ouvir isso, pois eu vou estar de camarote assistindo a
tua derrocada - Sai
da sala, caminhando de costa de dizendo
pausadamente
-
De-le-ga-da.
CENA
4/ SALA DE IRLANA/ INTERIOR/ DIA
Bruna
Vitória, entra na sala, assustada.
Bruna
- O que foi isso?
Irlana
- Ele só mostrou quem realmente é. (dá uma volta pela sala)
Bruna, eu preciso de você inteira pra Operação Arthur.
Bruna
- Pode contar comigo para o que for.
Irlana,
olha para o quadro da operação Arthur.
Irlana
- Não vai ser fácil, mas eu vou conseguir - olhando
para Bruna
-
Nós vamos conseguir.
CENA 5/ PORÕES DO TRÁFICO/ INTERIOR/ DIA
Sentado a uma mesa com, Walter, Augusto acende um cigarro e solta fumaça na sua cara, olhando em seus olhos.
Augusto – Esse desgraçado me deve um balaço no peito […] Há seis anos que espero o momento de acabar com a vida dele.
Walter – Marla Mendonça pode esmagar, Jean Ribeiro, com um único dedo.
Augusto – Não espere que ela faça isso, ele sempre foi seu protegido, a velha realmente gosta do Jean, como um filho. Mas vamos me diga onde eu o encontro, e seus problemas estarão acabados.
CENA 6/ESCRITÓRIO DE AROLDO/ INTERIOR/ DIA
Aroldo, recebe de Luís a notícia de que Irlana está afrente da Polícia Federal:
Aroldo – Isso é ruim, muito ruim.
Luís – Ela fez tudo por baixo dos panos, e eu não desconfiei de nada – com as mãos na cabeça – Como pude ser tão tonto?
Aroldo – O que pensa fazer agora?
Luís – Estou de mãos atadas, estou sendo investigado, e o que é pior ainda, hoje me inteirei de que um agente da DEA acaba de desembarcar no Brasil, e a operação Arthur, vai caçar Jean Ribeiro, até debaixo das pedras.
CENA7/ DEA/ INTERIOR/ DIA
Jonas Gaspar, recebe um telefonema de seu superior dos EUA, e em seguida conta a novidade a Armando Cardona:
Jonas – Thank you, you will not regret entrusting me with this operation. See you later.
E sorrindo a Armando, diz:
Jonas – Sabe qual é a novidade do dia? Acabam autorizar a minha entrada na operação Arthur, o pegamos Armando Cardona, o pegamos, e se quer um conselho grátis é melhor que abra o bico, e sairá quase que ileso dessa sujeirada toda, ou passe seus últimos dias de vida na cadeia.
Armando – Vamos ver!
Jonas, faz sinal para o agente que os acompanha na sala para levar Armando para a cela. Armando levanta-se algemado e segue com o agente.
CENA 8/ CELA DE ARMANDO CARDONA/ INTERIOR/ DIA
O agente penitenciário, desalgema Armando que segura no seu braço.
Armando – Me consiga um telefone, garanto que será bem recompensado.
Dom Armando, entra na cela, e o agente lhe confirma com um aceno.
CENA 9/ DELEGACIA DA POLÍCIA FEDERAL/ INTERIOR/ DIA
Irlana
e Bruna desocupam a antiga sala de subdelegada.
Irlana
– Acabo de receber a confirmação da DEA, um agente se instalará
aqui em uma semana, a partir de hoje você ficará comigo na minha
sala.
Bruna
– Pode confiar em mim delegada.
Irlana
– Vou precisar muito de você minha querida. Estive pensando, temos
que dar um jeito de te infiltrar nas empresas do Jean Ribeiro.
Bruna
– Mas como assim?
Irlana
– Não se preocupe com isso pode levar um tempo ainda, temos que
preparar uma estratégia para que você não corra riscos, e eu acho
que eu já encontrei a pessoa certa para fazer isso pra nós.
Em
frente ao computador, Irlana, mostra a Bruna, uma foto de Bartô:
Irlana
– Este é Bartô Galeno, há quem diga que é filho legítimo de
Armando Cardona. Há seis anos ele se mudou de São Paulo para
Cuiabá, o que este senhor quer aqui só mesmo ele sabe.
Bruna
– Acha que consigo ganhar a confiança dele?
Irlana
– Creio que não será difícil, tem que se aproximar aos poucos,
tentar ganhar a simpatia dele, amizade, confiança.
Bruna
– E qual é a participação dele nos negócios do Jean?
Irlana
– Nenhuma. Ele não é nem um empregado do Jean Ribeiro, é muito
mais que isso, é seu companheiro, há quase seis anos que Bartô
Galeno, roubou o coraçãozinho do nosso rei. Consegue perceber agora
em que terreno você estará pisando? Vou deixá-la.
Irlana,
sai da sala, e Bruna fica olhando a foto de Bartô.
CENA
9/ RESTAURANTE/ EXTERIOR/ DIA
Na
área de fumantes do restaurante, Bartô acende um cigarro. Jean,
chega:
Jean
– Oi!
Bartô
– Finalmente consigo uma hora para almoçar com meu namorado. Onde
esteve?
Jean
– Pensando em tudo que aconteceu, em tudo que pode acontecer. Vamos
pedir?
Bartô,
faz sinal para o garçom que traz o cardápio.
Garçom
– Boa tarde! - entrega lhes o cardápio, e se afasta.
Jean
– Obrigado!
Bartô
– Quanto tempo temos?
Jean
– Não muito, nos vemos a noite, sim?
Bartô,
chama novamente o garçom e diz:
Bartô
– O prato que fica pronto mais rápido, por favor, meu marido não
tem muito tempo pra almoçar comigo.
Garçom
– Sim, como queiram. - Garçom sai.
Jean,
pega na mão de Bartô, que recua:
Jean
– Bartô, não faz isso!
Bartô
– O que você quer que eu faça Jean? Eu sou um objeto nas suas
mãos, eu não faço nada a não ser correr atrás de você, e o que
eu recebo? Migalhas, sexo nada mais que isso, e só quando você está
a fim, não é?
Jean
– Bartô, não é isso, você sabe mais que ninguém o quanto os
últimos meses estão sendo difíceis, eu só peço um pouco mais de
paciência, as coisas vão mudar confia em mim. Não me trate assim,
coloca um sorriso nesse rosto vai, eu te prometo que hoje a noite
ninguém vai nos incomodar.
Bartô,
se anima.
Bartô
– Eu juro que se você não tivesse uma reunião com Aroldo, daqui
a pouco, eu te levaria pro banheiro desse restaurante e rasgava sua
roupa todinha, Jean Ribeiro.
Jean,
sorri, e diz baixinho:
Jean
– Te amo, Bartô, mais que a minha própria vida.
CENA
10/ ESCRITÓRIO DE AROLDO/INTERIOR/ DIA
Jean,
entra no escritório de Aroldo, que o recebe com más notícias:
Aroldo
– As notícias não são boas, meu rei.
Jean
– O que houve?
Aroldo
– Walter Pernas, está morto.
Jean
– Morto – surpreso – Mas isso é uma ótima notícia.
Obrigado, Aroldo.
Aroldo
– Não, Jean, eu não tenho nada a ver com a morte dele.
Jean
– Mas então como que ele está morto?
Aroldo
– O encontraram morto está manhã em São Paulo. - Aroldo,
mostra a notícia a Jean, em um site. Veja!
Jean
– Mas o que ele estaria fazendo em São Paulo?
Aroldo
– Investigando seu passado! Tem ideia de quem pode ter feito isso?
Jean
– Não, é claro que não, a única pessoa com quem tive ligação
em São Paulo não seria capaz de fazer isso. - Pensativo -
Não, definitivamente, Marla Mendonça, não.
CENA
11/RESTAURANTE/ EXTERIOR/ DIA
Bartô,
paga a conta ao garçom.
Bartô
– Obrigado, rapaz. É excelente garçom.
Garçom
– E seu marido?
Bartô
– O que tem ele?
Garçom
– É um excelente marido?
Bartô
– É, mas ele não precisa ficar sabendo disso.
Garçom
– Encerro meu expediente todos os dias às 15 horas, e espero a
minha condução no ponto aqui em frente.
Bartô
– olha para o ponto de ônibus, e levantando-se da mesa.
Bartô
– É bom saber!
CENA
12/ NOS PORÕES DO TRÁFICO/ INTERIOR/ NOITE
Marla,
entra na sala de Fera, furiosa, joga o jornal da tarde com a notícia
da morte de Walter, sobre a mesa.
Marla
– Posso saber o que foi isso?
Olhando
o jornal.
Fera
– Augusto!
Marla
– Eu tenho cara de palhaça, porra? Quem é que manda nessa merda?
Desde quando eu autorizei algum de vocês decidir quem vive e quem
morre?
Fera
– Marla, eu nem sabia disso. O Augusto agiu por conta própria.
Marla
– Por conta própria?- Marla, segura o rosto de Fera, com força
– Me escuta bem que esse é único aviso que eu vou te dar, ou
você mostra pra esse comédia do Augusto que você está no comando,
ou eu arrumo rapidinho alguém que faça isso por você. - o
empurra com força.
Marla
– Maldito, Jean Ribeiro, que não matou esse desgraçado naquela
noite.
Ajeita
a roupa, e sai.
Fera
– Maldita, Marla Mendonça.
CENA
13/ NOS PORÕES DO TRÁFICO/ INTERIOR/NOITE
Numa
roda de conversa com Marcel, e outros do bando de Marla, Augusto bebe
e fuma quando, Fera, chega, e o joga no chão e esfrega sua cara no
chão:
Fera
– Me escuta aqui companheiro, quem é que manda nessa porra aqui?
Fala desgraçado, fala!
Augusto
– Que é isso, Fera? Nós somos parceiros não somos?
Fera
– Fala infeliz! Fala quem é que manda nessa porra? Por acaso eu te
disse pra estourar os miolos do velho?
Marcel,
se levanta, e tenta ajudar, Augusto.
Marcel
– Calma cara você vai matar o parça!
Fera
– Grita – Fala desgraçado,
fala!
Augusto
– Você, Fera, quem manda aqui é você cara! Eu fiz merda, sim, me
desculpa, caralho, me desculpa.
Fera,
levanta de cima de Augusto, e avisa:
Fera
– E que isso sirva de lição pra cada um de vocês, quem manda
aqui sou eu, me entenderam?!
CENA
14/ REI DO FUMO/ INTERIOR/ NOITE
Jean,
se reúne com, Aroldo, Nathan, e Luís, para planejar a primeira
operação com aviões de pequeno porte.
Jean
– Bem senhores, hoje começa uma nova era nas nossas organizações,
operações com aviões de pequeno porte. Isso significa mais
agilidade na distribuição da mercadoria, porém mais cuidados.
Luís, confio em você no comando dos pilotos nas lanchas, e no ar.
Luís
– Tudo sob controle, Jean, tenho contatos de confiança, nada de
errado pode acontecer.
Jean
– Perfeito. Aproveito o momento para anunciar aos senhores que
Nathan, meu advogado e contador, dedica-se exclusivamente a Rei do
fumo a partir de hoje.
Nathan
– Eu farei um ótimo trabalho, Jean, contem comigo para o que der e
vier.
CENA
15/CELA DE ARMANDO CARDONA/ INTERIOR/ NOITE
A
movimentação nos corredores cessa. Em sua cela deitado, Armando,
abre os olhos, se levanta, pega uma pequena faca escondida embaixo do
colchão, apoia-se na parede e encontra coragem para cortar a própria garganta.
Continua...
congelamento final de capítulo marca deixada por Armando Cardona.
0 Comentários