Capítulo 1
A NOITE POR AQUI
EM UM LUXUOSO HOTEL Há um homem bem vestido sentado em uma sala à espera
de alguém. Ao abrir das portas com detalhes em ouro vemos apenas o caminhar
de uma pessoa elegante. Ligeiramente passamos os olhos em seus também
luxuosos sapatos, sapatos estes que poderiam ser de um homem ou de uma
mulher.
Seis anos antes
TERMINAL RODOVIÁRIO DE ARRAIAL DO
CABO – PARANÁ/DIA
No setor de embarque D. Ivone abençoa o filho que está de
partida para São Paulo:
Ivone – Boa sorte meu filho, que Deus te dê tudo nessa vida.
As estrelas do céu e o
infinito de todo esse mundão.
Jean, abraça a mãe emocionado:
Jean – D. Ivone, D. Ivone. Eu juro que eu vou ser o teu orgulho.
E eu volto, tá? Eu volto para buscar a senhora.
Olhando para, Ritinha, doce amiga do colegial,
e diz:
Jean – E você também, minha menina. Eu também vou te levar comigo.
Um terno abraço e as lembranças tomam conta de suas memórias.
EM UMA RUA DE CHÃO BATIDO/DIA
Com os sapatos empoeirados, ainda crianças, Jean, e Ritinha,
enfrentam o sol do verão paranaense para chegar à escola.
Um pouco mais velho que ela tem obrigação de ser seu protetor
e porque não também seu professor? – e em frases quase
cantadas:
Jean – duas vezes três?
Ritinha – Seis.
Jean – Duas vezes sete?
Ritinha – Quatorze.
Jean – Duas vezes nove?
Ritinha – Dezoito.
TERMINAL RODOVIÁRIO DE ARRAIAL DO
CABO/DIA
Já no ônibus, Jean, não consegue segurar as
lágrimas ao ver a mãe e sua amada, Ritinha, ficarem para trás. Ritinha, sente
talvez, a maior dor que já sentira em toda sua vida.
Ritinha –
Agora não tem mais volta, D. Ivone.
Ritinha,
desmaia, caindo no chão como uma fruta madura cai do pé:
Ivone –
Menina, o que é isso?
A NOITE PAULISTA/NOITE
São Paulo não dorme. Aqui tem de tudo, baladas,
restaurantes, casas de shows, drogas, meninas, meninos, trans… Mas se você está
a fim de tudo isso numa só noite “Hot Hot 33” é o seu lugar.
Carlos, visivelmente sob o efeito da cocaína,
empurra algum dinheiro sobre o balcão. Silas segura sua mão:
Silas – Já chega, Carlos! Hoje não tem
mais… vai embora. Vai!
Carlos – Merda! você é um desgraçado também.
Carlos,
olha para as pessoas na pista e grita:
Carlos – Vocês todos são uns desgraçados, vão pro inferno!
E sai esbravejando
mais elogios porta a fora.
Carlos –
Infelizes, desgraçados.
NO ÔNIBUS/NOITE
O ônibus para e Jean, acorda com o motorista anunciado a chegada:
Motorista – São Paulo.
Pega a mochila e entra na fila,
já fora do ônibus assustado, observa as pessoas, o movimento dos
ônibus, dos taxistas no terminal rodoviário da cidade mais populosa do
Hemisfério Sul.
NA ESCOLA PRIMÁRIA/DIA
Na classe, a professora pergunta:
Professora – Jean, você.
Jean – Sim
“profe”.
Professora – Me diga o que você quer ser quando crescer?
Jean – Quero ser gente grande, professora, quero
morar em São Paulo, uma cidade com muita gente e oportunidades. Há e eu vou ter
muito dinheiro também, dinheiro que se eu quiser posso comprar até as estrelas
do céu.
Um colega retruca:
Colega – Para de ser bobo mané. As estrelas do céu ninguém nunca vai poder comprar.
Professora – Hein, meninos já chega.
TERMINAL RODOVIÁRIO SÃO PAULO/NOITE
Jean, pega um papel da mochila e se aproxima de um senhor da equipe de limpeza do terminal para pedir informações:
Jean – Senhor. Será que o Sr. saberia me dizer se esse lugar aqui fica perto?
Senhor – Esse lugar é bem longe, se não pegar um táxi não chega lá em
menos de duas horas. Tem dinheiro?
HOT HOT 33/NOITE
Carlos,
flerta com uma mulher em frente à casa de shows, enquanto
o taxista avisa, Jean, de seu destino final:
Motorista – É aqui rapaz.
Jean – Obrigado, senhor.
HOT HOT 33/NOITE
Carlos, avista uma camionete preta virando a esquina e
sem pensar duas vezes empurra, Jean, para dentro do táxi e fala com o motorista euforicamente:
Jean – Que é isso, cara?
Carlos – Senhor, pelo amor de Deus me tira daqui e rápido!
Motorista – Tudo bem, vamos!
O taxista, liga o carro e sai do local.
HOT HOT 33 /NOITE
A camionete para em frente à boate e três homens
armados entram no local, algumas pessoas são empurradas,
e alguns homens são puxados por um dos capangas que procuram identificar seu alvo, Carlos.
Dentro da Hot Hot, Silas quase sob a mira de Marcel,
diz:
Silas – Meu senhor, eu juro que estou falando a verdade, esse rapaz, Carlos,tem uns dias que não aparece por aqui.
NO ESCRITÓRIO DA HOT HOT/NOITE
Rose, uma das donas da casa de shows avista a movimentação no balcão:
Rose – Epa! Que que tá pegando?
Andreia – Que?
Sai rapidamente da sala entregando um copo de bebida a sócia que fica
observado tudo pela vidraça do escritório.
BALCÃO HOT HOT/NOITE
Rose, vai
até o balcão da boate, e questiona:
Rose – O que está acontecendo, Silas?
Silas – Estes senhores estão procurando um cliente da Hot, senhora.
Rose encara Marcel e diz a Silas.
Rose – E quem seria?
Silas – Carlos Cassell.
Rose – Pois, tem alguns dias que esse senhor não
aparece por aqui, não solicita nenhum de nossos serviços, tenho achado um tanto
estranho esse sumiço. Mas que bom que não somos só nós que ficamos preocupados
com ele.
Após a saída dos homens, Rose e Silas respiram aliviados:
Rose – Ufa! Que medo,
Silas.
Silas – Será que esse rapaz se meteu em confusão, patroa?
Rose – Não sei, mas acho que ele deve tomar muito cuidado.
APARTAMENTO
SECRETO DE CARLOS/NOITE
Carlos, paga o taxista,
e Jean, tenta voltar para Hot Hot.
Carlos – Aqui senhor.
Taxista – E tome cuidado rapaz, mulher quando enfurece é capaz de tudo.
Surpreendido pelo motorista, Jean,
fica sem saber o que fazer:
Taxista – E você? Cara eu já andei mais de 10 horas hoje eu não vou voltar naquela boate por dinheiro nenhum.
Jean – Mas senhor, aonde eu vou achar…
Carlos – Hein, desce eu te ajudo.
Vem!Pode confiar.
INÍCIO DE UMA AMIZADE/NOITE
O taxista, vai embora e Jean e Carlos se apresentam,
com um sincero aperto de mãos:
Carlos – Carlos Cassell, o mimado em pessoa.
Jean –
Jean Ribeiro, o cara que quase chegou aonde queria, mas por culpa de um mimado
[...]
Carlos – Pô cara! Foi mal aí. Mas vem cá você vai pra uma boate
assim de mala e cuia?
Jean – É, eu tô indo trabalhar lá.
Carlos – Mas então o destino quis que a gente se conhecesse.
Aqui o cliente número um da Hot 33. Ou pelo menos era.
Jean – Era?
Carlos – Depois de hoje vai ser bem difícil eu pôr os pés lá de
novo.
Jean – Ah, por causa da mulher?
Olhando para todos os lados,
preocupado, nervoso, responde:
Carlos – Que bom se fosse meu amigo.
NOS PORÕES DO TRÁFICO/NOITE
Em são Paulo, o mais poderoso dos traficantes chamado Fera,
está atrás de uma só pessoa no momento, Carlos. –
Furioso bate na mesa:
Fera – Droga, Marcel. Maldito viadinho cheirador. Mas
hoje eu queria ele aqui, a gente ainda ia negociar, mas amanhã não tem choro.
As gargalhas com Marcel, Fera cheira de seu próprio produto.
APARTAMENTO SECRETO/NOITE
Na sala do apartamento que Carlos, mantém em
segredo, Jean, questiona o que até então é um desconhecido:
Jean – Cara você tá metido com droga?
Carlos,
engasga com as palavras, e Jean, deduz:
Jean - Puta que pariu onde eu fui me meter?!
Carlos – Calma, Jean. Calma cara, você não se meteu em nada a única
pessoa literalmente fodida aqui sou eu.
Carlos, segura a cabeça de Jean, que encosta-se na
parede:
Carlos – Eu só te coloquei na minha casa por uma
noite, ninguém sabe desse lugar. Ninguém vai se meter contigo, Jean.
Jean – preocupado - Mas e você?
Caminhando pela sala,
assustado:
Carlos – Eu vou ter de dá um tempo fora do país,
questão de alguns meses, anos talvez. Eu não tinha o que fazer, meu brother deu
azar comprou uma coca dos caras, e não teve como pagar, e eu não tenho como
arrancar essa grana dos meus pais.
Jean – E
esse seu amigo fugiu?
Carlos –
O mataram.
Jean, joga-se no sofá quase que ofegante.
Jean –
Caralho!
TERMINAL RODOVIÁRIO DE ARRAIAL DO
CABO – PARANÁ/DIA
Jean, abraça a mãe emocionado:
Jean – D. Ivone, D. Ivone. Eu juro que eu vou ser o teu orgulho. E eu volto, tá? Eu volto para buscar a senhora.
Olhando para, Ritinha, doce amiga do colegial, e diz:
Jean – E você também, minha menina. Eu também vou te levar comigo.
Jean – duas vezes três?
Ritinha – Seis.
Jean – Duas vezes sete?
Ritinha – Quatorze.
Jean – Duas vezes nove?
Ritinha – Dezoito.
Ritinha – Agora não tem mais volta, D. Ivone.
Ritinha, desmaia, caindo no chão como uma fruta madura cai do pé:
Ivone – Menina, o que é isso?
Carlos, visivelmente sob o efeito da cocaína, empurra algum dinheiro sobre o balcão. Silas segura sua mão:
Silas – Já chega, Carlos! Hoje não tem mais… vai embora. Vai!
Carlos – Merda! você é um desgraçado também.
Carlos, olha para as pessoas na pista e grita:
Carlos – Vocês todos são uns desgraçados, vão pro inferno!
E sai esbravejando mais elogios porta a fora.
Carlos – Infelizes, desgraçados.
Motorista – São Paulo.
Pega a mochila e entra na fila, já fora do ônibus assustado, observa as pessoas, o movimento dos ônibus, dos taxistas no terminal rodoviário da cidade mais populosa do Hemisfério Sul.
Na classe, a professora pergunta:
Professora – Jean, você.
Jean – Sim “profe”.
Professora – Me diga o que você quer ser quando crescer?
Jean – Quero ser gente grande, professora, quero morar em São Paulo, uma cidade com muita gente e oportunidades. Há e eu vou ter muito dinheiro também, dinheiro que se eu quiser posso comprar até as estrelas do céu.
Um colega retruca:
Colega – Para de ser bobo mané. As estrelas do céu ninguém nunca vai poder comprar.
Professora – Hein, meninos já chega.
Jean – Senhor. Será que o Sr. saberia me dizer se esse lugar aqui fica perto?
Senhor – Esse lugar é bem longe, se não pegar um táxi não chega lá em menos de duas horas. Tem dinheiro?
HOT HOT 33/NOITE
Motorista – É aqui rapaz.
Jean – Obrigado, senhor.
Jean – Que é isso, cara?
Carlos – Senhor, pelo amor de Deus me tira daqui e rápido!
Motorista – Tudo bem, vamos!
O taxista, liga o carro e sai do local.
A camionete para em frente à boate e três homens armados entram no local, algumas pessoas são empurradas, e alguns homens são puxados por um dos capangas que procuram identificar seu alvo, Carlos.
Dentro da Hot Hot, Silas quase sob a mira de Marcel, diz:
Silas – Meu senhor, eu juro que estou falando a verdade, esse rapaz, Carlos,tem uns dias que não aparece por aqui.
Rose, uma das donas da casa de shows avista a movimentação no balcão:
Rose – Epa! Que que tá pegando?
Andreia – Que?
Sai rapidamente da sala entregando um copo de bebida a sócia que fica observado tudo pela vidraça do escritório.
Rose – O que está acontecendo, Silas?
Silas – Estes senhores estão procurando um cliente da Hot, senhora.
Rose encara Marcel e diz a Silas.
Rose – E quem seria?
Silas – Carlos Cassell.
Rose – Pois, tem alguns dias que esse senhor não aparece por aqui, não solicita nenhum de nossos serviços, tenho achado um tanto estranho esse sumiço. Mas que bom que não somos só nós que ficamos preocupados com ele.
Após a saída dos homens, Rose e Silas respiram aliviados:
Rose – Ufa! Que medo, Silas.
Silas – Será que esse rapaz se meteu em confusão, patroa?
Rose – Não sei, mas acho que ele deve tomar muito cuidado.
Carlos – Aqui senhor.
Taxista – E tome cuidado rapaz, mulher quando enfurece é capaz de tudo.
Surpreendido pelo motorista, Jean, fica sem saber o que fazer:
Taxista – E você? Cara eu já andei mais de 10 horas hoje eu não vou voltar naquela boate por dinheiro nenhum.
Jean – Mas senhor, aonde eu vou achar…
Carlos – Hein, desce eu te ajudo. Vem!Pode confiar.
Carlos – Carlos Cassell, o mimado em pessoa.
Jean – Jean Ribeiro, o cara que quase chegou aonde queria, mas por culpa de um mimado [...]
Carlos – Pô cara! Foi mal aí. Mas vem cá você vai pra uma boate assim de mala e cuia?
Jean – É, eu tô indo trabalhar lá.
Carlos – Mas então o destino quis que a gente se conhecesse. Aqui o cliente número um da Hot 33. Ou pelo menos era.
Jean – Era?
Carlos – Depois de hoje vai ser bem difícil eu pôr os pés lá de novo.
Jean – Ah, por causa da mulher?
Olhando para todos os lados, preocupado, nervoso, responde:
Carlos – Que bom se fosse meu amigo.
Fera – Droga, Marcel. Maldito viadinho cheirador. Mas hoje eu queria ele aqui, a gente ainda ia negociar, mas amanhã não tem choro.
As gargalhas com Marcel, Fera cheira de seu próprio produto.
Na sala do apartamento que Carlos, mantém em segredo, Jean, questiona o que até então é um desconhecido:
Jean – Cara você tá metido com droga?
Carlos, engasga com as palavras, e Jean, deduz:
Jean - Puta que pariu onde eu fui me meter?!
Carlos – Calma, Jean. Calma cara, você não se meteu em nada a única pessoa literalmente fodida aqui sou eu.
Carlos, segura a cabeça de Jean, que encosta-se na parede:
Carlos – Eu só te coloquei na minha casa por uma noite, ninguém sabe desse lugar. Ninguém vai se meter contigo, Jean.
Jean – preocupado - Mas e você?
Caminhando pela sala, assustado:
Carlos – Eu vou ter de dá um tempo fora do país, questão de alguns meses, anos talvez. Eu não tinha o que fazer, meu brother deu azar comprou uma coca dos caras, e não teve como pagar, e eu não tenho como arrancar essa grana dos meus pais.
Jean – E esse seu amigo fugiu?
Carlos – O mataram.
Jean, joga-se no sofá quase que ofegante.
Jean – Caralho!
HOT HOT 33/DIA
Silas, limpa o balcão da boate, organiza bebidas, lava copos. Jean,
entra:
Jean – Olá,
tudo bem?
Silas – Só abrimos as seis.
Jean – Eu me chamo, Jean,
e estou procurando, Andreia Lago.
Silas – Sim! Você é o rapaz que vem trabalhar aqui, não é?
Jean – Isso.
Silas – Senta, eu vou chamá-la.
HOT HOT 33/DIA
Andreia estende a mão a Jean, que fica um pouco nervoso:
Andreia – Andreia Lago.
Jean – Jean Ribeiro.
Andreia – Senta Jean, me diga você tem alguma
experiência? Já trabalhou em algum lugar? Tem noção do trabalho de um garçom?
Jean – Bom, eu trabalhei em algumas lanchonetes na minha cidade
no Paraná, uns bicos como dizem.
Andreia – Então seja bem-vindo, espero que a pessoa
que te indicou pro serviço não tenha se equivocado. Pegue seu uniforme com
Silas, no balcão. Ele vai te explicar também como será seu trabalho, seus
horários e folgas.
Com um
olhar o examina dos pés à cabeça, fala e sai em seguida:
Andreia – Vão aparecer inúmeros convites de pessoas
com muito dinheiro, Jean, e por muito dinheiro. Saiba aproveitar!
CONTINUA ...
Jean – Olá, tudo bem?
Silas – Só abrimos as seis.
Jean – Eu me chamo, Jean, e estou procurando, Andreia Lago.
Silas – Sim! Você é o rapaz que vem trabalhar aqui, não é?
Jean – Isso.
Silas – Senta, eu vou chamá-la.
Andreia – Andreia Lago.
Jean – Jean Ribeiro.
Andreia – Senta Jean, me diga você tem alguma experiência? Já trabalhou em algum lugar? Tem noção do trabalho de um garçom?
Jean – Bom, eu trabalhei em algumas lanchonetes na minha cidade no Paraná, uns bicos como dizem.
Andreia – Então seja bem-vindo, espero que a pessoa que te indicou pro serviço não tenha se equivocado. Pegue seu uniforme com Silas, no balcão. Ele vai te explicar também como será seu trabalho, seus horários e folgas.
Com um olhar o examina dos pés à cabeça, fala e sai em seguida:
Andreia – Vão aparecer inúmeros convites de pessoas com muito dinheiro, Jean, e por muito dinheiro. Saiba aproveitar!
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